É um facto que eu nunca vou escrever “facto” como se de um fato se tratasse. De facto não é porque de repente um grupo de mentecaptos de fato se lembre de alterar a grafia da Língua Portuguesa que faz com que milhões de pessoas no mundo passem a escrever como eles querem que se passe a escrever. Claro que têm a faca e o queijo na mão para impor a norma: criem-se correctores ortográficos informáticos, espalhem-se pelo mundo lusófono professores amestrados no novo acordo, mandem-se escrever em todos os jornais a Novilíngua. Encontrarão ainda a resistência dos que sabem escrever
No próximo ano "letivo" quem irá leccionar?
Em breve vamos ter aí uma geração de engenheiros que saberá escrever correctamente em Novipretoguês, apta a comunicar com os seus parceiros e a negociar com eles, para bom entendedor meia palavra basta. Educados nesse suporte linguístico basicamente artificial (e artificioso), terão cada vez menos ligação com a língua dos seus avós. Despojados do ensino, os clássicos da literatura serão em breve antepassados dos dinossauros escolásticos que já são para a maioria dos alunos portugueses. E já não estou a falar das Cantigas nem do Gil Vicente, refiro-me a obras de há um, dois séculos, Eça, Pessoa, todos os que foram mestres a usar a língua para exprimirem o seu pensamento. Este último viria mesmo a recusar-se a abandonar a grafia do “y”, imposta por um outro acordo, por lhe lembrar o pescoço do cysne. Por isso continuou a escrever como bem lhe apeteceu.
Pergunto-me se alguma vez o Saramago e o Lobo Antunes vão permitir em vida que editem a sua obra em Novipretoguês… Pergunto-me se os Estados vão dar subsídios aos lobbies editoriais que para aí se vão fortalecendo para “traduzirem” as suas obras para Novipretoguês…
O processo de formação dos crioulos é em tudo semelhante, excepto que nasceu da oralidade. Com a necessidade de os colonialistas negociarem com os povos colonizados, simplificaram a sua língua, tipo: eu branco, eu mandar. Tu obedecer. Isto para mais facilmente se fazerem entender. Com o advento da Globalização é agora a língua de origem, o Português que mais se deverá modificar e adaptar às mudanças.
Esta nova língua que querem engendrar é um crioulo artificialmente criado para facilitar negociatas. Mudaram-nos o dinheiro, mudaram-nos os hábitos, querem-nos agora mudar a Língua. Somos um povo cada vez mais aculturado pelas exigências da globalização. A verdadeira globalização não é este desrespeito pelas características que definem os povos. Esta globalização é o capitalismo a minar tudo, a destruir tudo à sua volta.