sexta-feira, março 31, 2006

Matéria Poética I: Cancioneiro Joco- Marcelino (1) de Natália Correia


Marcelo e as Tágides
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Marcelo, em cupidez municipal
de coroar-se com louros alfacinhas,
atira-se valoroso - ó bacanal! -
ao leito húmido das Tágides daninhas.
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Para conquistar as Musas de Camões
lança a este, Marcelo, um desafio:
jogou-se ao verso o épico? Ilusões!...
Bate-o o Marcelo que se joga ao rio.
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E em eleitorais estrofes destemidas,
do autárquico sonho, o nada dor
diz que curara as ninfas poluídas
com o milagre do seu corpo em flor.
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Outros prodígios - dizem - congemina:
ir aos bairros da lata e ali, sem medo,
dormir para os limpar da vil vérmina
e triunfal ficar cheio de pulguedo.
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Por fim, rumo ao céu, novo Gusmão
de asa delta a fazer de passarola
sobrevoa Lisboa o passarão
e perde a pena que é da galinhola.
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(1) In O Corvo, jornal de campanha eleitoral autárquica da Coligação por Lisboa. Nov/Dez de 1989.

Exorcismo para Expulsar os Demónios da Ignorância

Exorcismo para expulsar os diabos da ignorância, da estupidez e da trafulhice de que ficamos possuídos de cada vez que vemos televisão
«Eu vos arrenego e vos esconjuro, Anjos Maus que voais na companhia dos sons e das imagens e vindes até ao meu televisor, pretendendo, por artes diabólicas, introduzir-vos em mim e imbecilizar-me. Que Lúcifer vos leve para as profundezas dos infernos. Amém.»
Este exorcismo deve ser dito cada vez que se abre ou fecha um aparelho de televisão. (José Vilhena, Etiqueta e Magia Negra)

BARDAMERDA

Os Vencidos da Vida

VÁ... VÁ...
Letra e música de José Mário Branco

Quando estou sentado à mesa
deste café
sinto vocação de pensa-
dor "engagé"
Mas o peso da consciência...
... no peito!

Não consigo suportar este remorso
tenho que fazer um pequenino esforço
- Vou mudar de vida, ai isso é que vou!
Ponho escritos sobre a mesa
deste café
Ponho escritos na consciência
de boa fé
mas o peso da coerência...
... no peito
Não consigo suportar este remorso
tenho que fazer um pequenino esforço
- Vou mudar de vida, ai isso é que vou!
(Vá, vá...)
Amigo... sente-se à mesa
deste café
vou fazer-lhe uma surpresa
por ser quem é
Trago uma velinha acesa...
... no peito!
Não consigo suportar este remorso
tenho que fazer um pequenino esforço
- Vou mudar de vida, ai isso é que vou!
(Vá, vá...)
Mas nem tudo são desgraças
neste café
eu vou-me ligar às massas
deste café
P'ra ver se esta dor me passa...
... no peito!
Não consigo suportar este remorso
tenho que fazer um pequenino esforço
- Vou mudar de vida, ai isso é que vou!
(Vá, vá...)
Nota do Autor
"Vá, vá...": também composta em Paris. "É uma reacção radical minha, no exílio, ao que se poderia chamar os defeitos dos intelectuais de esquerda de café." (Público, 14/02/1996) Vá-Vá, nome de um célebre café da Avenida de Roma, dá o mote e o título.

Cafés de Lisboa

Vá-Vá
(Av.EUA)
O Vá-Vá, conhecido nos anos 60 por «ninho de lacraus» era o café onde se reuniam os realizadores do novo cinema português, como João César Monteiro, Fernando Lopes, Paulo Rocha, Cunha Telles, Pedro Vasconcelos ou Alberto Seixas Santos.

O crítico Lauro António, morador no mesmo edifício e outro dos seus assíduos frequentadores tem um sonho: encher as suas paredes de fotografias dos mitos da 7ª. arte.

A verdade é que cineatas, artistas, intelectuais pontificavam no Vá-Vá nos aos 60 e 70. Quem ainda o frequenta, quando passa por Lisboa é o filósofo Eduardo Lourenço e a escritora Lídia Jorge (antiga professora da Escola Secundária Rainha Dona Leonor).

Da sua decoração original resta apenas um magnifico conjunto de azulejos da pintora Menez, datados de 1958, mas em adiantado estado de degradação. Ainda há bem poucos anos um deles foi salvo da destruição por um cliente, que se indignou com um empregado que nele tencionava pendurar um pindérico relógio vermelho.

É hoje difícil de imaginar que o Vá-Vá foi em tempos um dos mais requintados cafés de Lisboa. Impressão que agora está longe de provocar. O que nele actualmente predomina é o mau gosto e o abandono generalizado, comum aliás a todo o Bairro de Alvalade.

O Vá-Vá do Sr.Petrónio

quinta-feira, março 30, 2006

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