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segunda-feira, abril 06, 2009

De volta à luta


Foto daqui

Como já alguns se hão-de ter apercebido, a ausência não foi total. Sempre ia deixando por cá música nova para animar o espaço.
Já com o mês de Abril a rolar, e à semelhança de outros blogues que o têm feito, o Pafúncio incluirá durante este mês as músicas de Abril no seu repertório (e às vezes também nos outros meses!).

quinta-feira, outubro 30, 2008

Se tudo correr bem aqui estarei mais logo!




José Mário Branco incita público a 'Mudar de Vida'


Música. Cantor/compositor apresenta pela primeira vez em Lisboa a canção que estreou no Porto em 2007. Os Gaiteiros de Lisboa são os convidados especiais de um espectáculo assumidamente político, que não deixará de oferecer a restrospectiva de uma carreira única

Músico tentou trazer canção a Lisboa há um ano

No dia 30 de Abril de 2007, o Porto ouviu pela primeira vez Mudar de Vida, a composição que José Mário Branco apresenta hoje e amanhã na capital. "Eu quis fazer este espectáculo em Lisboa há mais de um ano, mas não consegui financiamento", explicou. "Este convite da Culturgest permite-me apresentar cá esse tema, mesmo que o programa não seja exactamente igual ao que levei ao Porto".

Não obstante, a ideia central do espectáculo continua a ser a mesma. "Há uma critica ao que nós chamamos democracia parlamentar representativa, que não resolve os verdadeiros problemas das pessoas, limitando-se a redistribuir a riqueza em função de estratos, classes sociais, e elites que existem na política e na economia e se apoderam da riqueza produzida".

O cantor/compositor não quer, porém, "impingir uma receita política a ninguém", desejando apenas incitar as pessoas. "Se não gostam da vida que estão a viver têm que a mudar, que ela não muda sozinha se as pessoas não fizerem nada", lembra. "Começa-se nas pequenas coisas, pois tem que haver uma progressiva acumulação de forças para haver uma mudança geral na sociedade".

O músico não crê, porém, que seja possível alterar o actual sistema político, sem a movimentação das "grandes massas", descontentes com o actual estado do mundo. "Quando se fala em criar movimento político, em colocar em marcha as energias que há nas pessoas para mudar de vida, música como esta não resolve nada, a não ser do ponto de vista afectivo", continua. "É um oxigénio moral que se dá às pessoas".

No seu entender, esta atitude distingue o artista dos falsos "cantores de intervenção" que "dão um oxigénio contaminado para as pessoas se esquecerem dos seus problemas. É uma droga como outra qualquer, como todos os outros vícios desviantes da realidade". As suas canções, por outro lado, tentam "mobilizar as pessoas para serem sujeitos na sociedade, e não objectos".

É por isso que considera que "tudo é político, mesmo quando diz que não é". Este domínio da política sobre o quotidiano também está presente na canção apresentada hoje na Culturgest. "Um dos temas abordados no Mudar de Vida, é precisamente esse", concorda, referindo uma das frases mais marcantes do tema: "bem tentais não vos ocupar de política, mas a política ocupa-se de vós". Uma citação a Charles Montalembert - "um daqueles neoclássicos franceses" - incluída na canção.

"O Mudar de Vida é apresentado em três partes", refere. "Ouve-se no início - apesar de começar com um tema inédito que escrevi para Lisboa, intitulado Vamos Embora - depois no meio aparece outra vez, antes de fechar o espectáculo com o Mudar de Vida final". Pelo meio vão soar diversas canções retiradas do mais recente Resistir é Vencer (2004), mas também de outros registos, gravados desde a década de 70, e variando entre momentos abertamente políticos e outros mais intimistas.

"Gosto de revisitar os temas, porque os músicos, as condições e os estados de espírito nunca são os mesmos", reitera. Entre os temas reformulados será possível ouvir A Cantiga de Trabalho ou A Engrenagem, de 1973, ou mesmo Remendos e Côdeas, que se ouviu pela primeira vez no Disco da Mãe, corria o ano 1978. Para interpretar estes temas, o artista socorreu-se de um quinteto que o acompanha há vários anos, e inclui Carlos Bica, José Peixoto, Rui Júnior, Filipe Raposo e Guto Lucena.

De entre os músicos que actuaram na Casa da Música, em 2007, este são os únicos que visitam Lisboa, por limitações de orçamento. Agora, o cantor volta a colaborar com o quarteto de cortas que o acompanhou "nos Coliseus de há 4 anos", quando editou o último disco. As percussões tradicionais e os suportes corais cabem aos Gaiteiros de Lisboa, um grupo ao qual José Mário Branco chegou a pertencer. Os bilhetes já estão esgotados, mas a actuação será gravada, e a edição de um disco com a actuação não está posta de parte. (DN)

quarta-feira, abril 23, 2008

boa noite, amigos, companheiros, camaradas



Sérgio Godinho
A Vida É Feita de Pequenos Nadas
(Segunda-feira
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira
vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)

Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores
e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas
que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas

Somos tantos a não ter quase nada
porque há uns poucos que têm quase tudo
mas nada vale protestar
o melhor ainda é ser mudo
isto diz de um gabinete
quem acha que o casse-tête
é a melhor das soluções
para resolver situações
delicadas
a vida é feita de pequenos nadas

E o que é certo
é que os que têm quase tudo
devem tudo aos que têm muito pouco
mas fechem bem esses ouvidos
que o melhor ainda é ser mouco
isto diz paternalmente
quem acha que é ponto assente
que isto nunca vai mudar
e que o melhor é começar a apanhar
umas chapadas
a vida é feita de pequenos nadas

(Segunda-feira
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira
vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)

Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores
e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas
que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas

Ouvi dizer que quase tudo vale pouco
quem o diz não vale mesmo nada
porque não julguem que a gente
vai ficar aqui especada
à espera que a solução
seja servida em boião
com um rótulo: Veneno!
é para tomar desde pequeno
às colheradas
a vida é feita de pequenos nadas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A Malta das Cantigas

Sessão de canto livre, Coliseu dos Recreios, 1974

«Eu sei que não é fácil falar de tudo isto a esta distância, porque passou muito tempo e vocês nem sequer tinham nascido quando a parte mais empolgante desta história aconteceu. Ainda assim, eu tentei, por achar que valia a pena e por entender que, para além da qualidade mais ou menos discutível do que fizemos e cantámos, havia os valores que nos uniam e mobilizavam e que são universais e intemporais. Era um tempo em que as pessoas não valiam por aquilo que tinham e sim por aquilo que eram e pensavam, era um tempo em que não se era avaliado pelos sinais exteriores de riqueza e de poder e sim pela força dos ideais por que cada um se batia. Havia causas e sonhos, havia princípios e afectos. E eu achei que, mesmo tendo passado já tanto tempo, devia contar-vos ou recontar-vos esta história, num tempo fugaz e competitivo em que a memória parece valer cada vez menos, empobrecendo-nos assim a cidadania e a própria democracia. Talvez vocês encontrem alguém que queira ouvir esta história, de preferência ao som da música desse tempo e das vozes que lhe deram vitalidade e alegria. Zeca Afonso e a malta das cantigas talvez mereçam essa atenção e esse interesse, já que, num tempo ainda não globalizado, ajudaram, à sua maneira, a História a acontecer, com a confiança partilhada e generosa de quem canta de olhos postos num tempo melhor.»

Assim termina este pequeno livro de José Jorge Letria, Zeca Afonso e a Malta das Cantigas, da Terramar (2004), escrito em 2002. Embora tenha apenas 70 e poucas páginas e se leia rapidamente, ele é um "testemunho vivo de um tempo em que Portugal e os Portugueses viviam privados das liberdades fundamentais". José Jorge Letria não só viveu nesse tempo como foi um dos da "malta das cantigas". Aconselho vivamente a sua leitura e a sua divulgação junto das novas gerações, nas escolas e aos nossos filhos pois bem precisados estão de ouvir estas experiências que temos a responsabilidade de lhes transmitir.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Dia Mundial da Liberdade

Liberdade - Sérgio Godinho

Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente

e a sede de uma espera só se estanca na torrente

e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão

habitação

saúde, educação

Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir

quando pertencer ao povo o que o povo produzir

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Castigos...

A flóber

Música: Fausto; A. P. Braga
Letra: Mário Henrique Leiria

In: "Fausto - atrás dos tempos vêm tempos", 1996



Ainda me lembro. O melhor presente
que tive foi sem dúvida aquela flóber.
Toda a garotada da terra colaborou no meu
entusiasmo. Íamos para o campo,
pam pam, pardal aqui, pam pam, pardal ali.

A única arrelia que tive com ela foi
quando um dia, sem querer, pam,
acertei em cheio na tia Albertina.

Para castigo não me deixaram ir ao enterro

terça-feira, dezembro 04, 2007

Para quem julga já não tanto faz


Coro dos Tribunais

(Letra de B. Brecht/adap. José Afonso/ Versão de Luís Francisco Rebello/ Música de José Afonso)

Foram-se os bandos dos chacais
Chegou a vez dos tribunais
Vão reunir o bom e o mau ladrão
Para votar sobre um caixão
Quando o inocente se abateu
Inda o morto não morreu
Quando o inocente se abateu
Inda o morto não morreu

A decisão do tribunal
É como a sombra do punhal
Vamos matar o justo que ali jaz
Para quem julga tanto faz
Já que o punhal não mata bem
A lei matemos também
Já que o punhal não mata bem
A lei matemos também

Soa o clarim soa o tambor
O morto já não sente a dor
Quando o deserto nada tem a dar
Vêm as águias almoçar
O tribunal dá de comer
Venham assassinos ver
O tribunal dá de comer
Venham assassinos ver

Se o criminoso se escondeu
Nada de novo aconteceu
A recompensa ao punho que matou
Uma fortuna a quem roubou
Guarda o teu roubo guarda-o bem
Dentro de um papel a lei

quarta-feira, outubro 17, 2007

Pobreza/Riqueza Extremas e Tratados assinados em papeis molhados

Tratado simplificado
(Texto de Arquivo)

O Meu Compadre



O meu compadre

Que é rico, disse-me:

Tira os olhos do chão

Aceita o meu concelho

Não aceites derrotas

Tira os olhos do chão

Tira os olhos do chão


E eu respondi

Ó meu amigo, ó meu palerma

Se eu tenho os olhos no chão

Não é por estar derrotado

É pra ver o caminho

E é pra ver o que calco

Que eu não ando nas nuvens

A pisar pó de talco

A pisar pó de talco.


Vamos, vamos, vamos

Tomar cuidado

Com promessas assinadas

Em papel molhado


O meu compadre

Que é rico, disse-me:

Eu cá sou democrata

Cumprimento as vizinhas

Como pão e sardinhas

Até as como da lata

Que eu cá sou democrata.


E eu respondi:

Ó meu amigo, ó meu cretino

Democratas assim

Tem a gente de sobra

A vender a banha de cobra

E a afinar o latim

Pela nota corrente

E pela nota de mil

Democratas assim

Até há dois no Brasil

Até há dois no Brasil


Vamos, vamos, vamos

Tomar cuidado

Com promessas assinadas

Em papel molhado


O meu compadre

Que é rico disse-me:

Somos todos irmãos

Que é que interessa eu ser rico

Não faz mal tu seres pobre

Somos todos irmãos


E eu respondi:

Ó meu amigo, ó meu hipócrita

Se somos todos irmãos

Diz-me então onde andavas

Quando, algemas nas mãos

A gente pagava as favas

Por só querermos ser gente

E como gente falar

Diz-me de que lado estavas

Antes disto mudar

Antes disto mudar


Vamos, vamos, vamos

Tomar cuidado

Com promessas assinadas

Em papel molhado.


terça-feira, outubro 16, 2007

ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA sempre!


...A VOZ DA LIBERDADE


Mesmo na noite mais triste


em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.


O Pafúncio junta-se à homenagem lançada por As Vozes Silenciadas

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Homenagem a José Afonso (1929-1987...)


Zeca Afonso : Utopia

Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?
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