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terça-feira, setembro 16, 2008

Queremos a escola pública portuguesa convertida num antro?

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Imagem retirada da net

Hoje foi dia de recepção dos alunos e de reunião com os pais. A direcção da escola teve a coragem de enfiar os pais e encarregados de educação de todo o 1º. ciclo mais os das sete turmas do 5º. ano no refeitório da escola. Quando cheguei uma funcionária auxiliar tentou barrar-me o caminho dizendo que a reunião estava superlotada, e estava (!). Havia pais que apenas conseguiam enfiar a cabeça por uma das janelas a partir do exterior para tentar apanhar qualquer coisa que valesse a pena ser ouvido. Qual quê! A reunião durou mais de uma hora com os pais enchouriçados dentro da cantina a tentar ouvir o show-off da senhora presidenta. Para os que lá estavam pela a primeira vez aquilo foi uma seca apesar de ainda terem esboçado uns sorrisos nas partes mais penosamente hilariantes. Para os recorrentes o discurso foi o dejà-vu de todos os inícios do ano lectivo, com partes exactamente iguais, de uma má comediante que repete sempre todos os anos os mesmos gags, com os mesmos clichés. A seguir os pais foram dali para outra reunião com os directores de turma, onde estes procuravam encarecidamente não esquecer nenhuma das muitas informações a dar aos pais. Por amor de Deus que não esquecessem de justificar as faltas para jamais terem que pôr em prática os normativos absurdos do novo Estatuto do Aluno que os faz fazer provas de recuperação sucessivas das matérias dadas durante as aulas em falta. Que por favor dessem o pequeno-almoço aos meninos para a professora não ter que voltar a partilhar a sua banana com um menino a desfalecer ao fim da manhã. Resumindo: as reuniões terminaram já passava muito do meio-dia e o resultado certo é que a maior parte desses pais que ali perderam uma manhã de trabalho tão cedo não o poderá voltar a fazer. Eis a fórmula repetida que ao longo dos anos tem afastado com mestria e requintes de malvadez os pais da escola. A futura directora em tempos de avaliações tentou fazer passar a mensagem que a porta da escola é uma porta aberta. Mas os que já conhecem a realidade sabem que para os pais a porta está aberta para a saída. Os que o sabem, sabem-no; aos novos a escola há-de se encarregar de lhes ensinar que apenas uns poucos, muito poucos, serão bem vindos. Esta é a escola das falsas aparências onde as relações interpessoais são cada vez mais superficiais e mesmo inexistentes, a escola da dissimulação. Que conste que tudo correu bem é o que todos querem, pais e escola. Os professores esses estão acossados. Encerrados na instituição, a fazer um esforço suplementar por fazer aquilo em que não acreditam: a pôr em prática leis absurdas que se viram contra os próprios; a mostrarem serviço aos olhos de quem os avaliará. Não imagino como estará o ambiente nos bastidores das salas dos docentes; mas sei o ambiente que se intoxica cá fora: pequenos grupos de pais conspiram como abutres engendrando a melhor maneira de se apossarem dos lugares de um Conselho Geral ainda que transitório. A futura directora exalta e vai reunindo as suas hostes escolhendo a dedo quem a mantenha. A escola pública converteu-se num antro. Só as crianças ainda valem a pena.

sexta-feira, setembro 14, 2007

A Escola do sonho da vida da poesia

Outra Margem

E com um búzio nos olhos claros
Vinham do cais, da outra margem
Vinham do campo e da cidade
Qual a canção? Qual a viagem?

Vinham p’rá escola. Que desejavam?
De face suja, iluminada?
Traziam sonhos e pesadelos.
Eram a noite e a madrugada.

Vinham sozinhos com o seu destino.
Ali chegavam. Ali estavam.
Eram já velhos? Eram meninos?
Vinham p’rá escola. O que esperavam?

Vinham de longe. Vinham sozinhos.
Lá da planície. Lá da cidade.
Das casas pobres. Dos bairros tristes.
Vinham p’rá escola: a novidade.

E com uma estrela na mão direita
E os olhos grandes e voz macia
Ali chegaram para aprender
O sonho a vida a poesia.

Maria Rosa Colaço
(poema musicado pelos Trovante no álbum «Baile no Bosque», 1981)


Este foi o primeiro poema que dei aos meus alunos do 7º. ano, na minha primeira aula, no primeiro ano que dei aulas, há mais de uma década, algures nos Açores. Deixo aqui esta homenagem a todos os meninos que hoje começam o ano lectivo. Espero que encontrem lá uma réstea do sonho da vida da poesia... e não apenas computadores!
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