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segunda-feira, abril 20, 2009

preciosa ausência...

Foto de Lia Costa Carvalho (daqui)


Ontem vim aqui tarde e a boas horas apenas para colocar uma música do José Mário Branco nas Músicas de Abril: “Ser solidário”. Assim se completou o círculo do dia: à tarde o debate do PASSA PALAVRA sobre a luta dos professores e a defesa da escola pública; à noite uma irrepetível actuação de José Mário Branco, Camané e Dead Combo, no MusicBox. Vinha sem palavras. Talvez ainda continue sem palavras… preciosa ausência.

quarta-feira, abril 08, 2009

O novo «senso comum» da educação capitalista


O novo «senso comum» da educação capitalista

A educação escolar nos dias que correm já não é considerada uma forma de ampliar as oportunidades, desenvolver programas de educação intercultural, melhorar as oportunidades de vida das mulheres e dos jovens, mas antes uma maneira de organizar a educação escolar com o fim de promover a competitividade, de tornar rentável o investimento na formação dos futuros recursos humanos. Tanto os socialistas, como os sociais-democratas, liberais e conservadores uniram-se para fazer vencer estas novas regras de jogo, condicionando e estreitando os objectivos políticos do que deveria ser um verdadeira educação, como um direito igual para todos.

O aparecimento simultâneo de reformas educativas em diferentes continentes e países, apesar de se materializar em distintos tempos, lugares e formas, leva-nos a concluir que as actuais reestruturações na educação devem entender-se como um fenómeno global e coerente, plenamente sintonizado com a ideologia neoliberal dominante, e que parece vir a configurar-se como um novo «senso comum», tão poderoso que é capaz de condicionar toda a discussão sobre a matéria.

O esquema é semelhante por todo o lado. Começa com a fabricação de uma imagen catastrofista da educação ( fracasso escolar, indisciplina, etc) para, de seguida, se desfraldar a bandeira de «modernização», da «eficácia» e assim se lançar todo um programa de reestruturação que leva invariavelmente a um enviesamento dos objectivos da educação no sentido de a colocar ao serviço das necessidades e das regras dos mercados e não tanto com vista à formação integral dos indivíduos e dos jovens em idade escolar.

Não é por acaso que o abortado Tratado da Constituição Europeia designa os serviços públicos, tais como o da educação, como Serviços Económicos de Interesse Geral (SEIG), evitando assim definir a educação como um direito, ao mesmo tempo que dilui a responsabilidade do Estado por outros agentes sociais. Ou seja, deixa-se aos provedores privados a iniciativa de desenvolver as suas actividades lucrativas no novo mercado da educação, e só os sectores ou segmentos que não sejam rentáveis serão entregues ao sector público.

Este novo discurso vêm sempre acompanhado pelo chavão da «liberdade de escolha» que se tornou, pelos vistos, a nova base da igualdade entre todos os cidadãos! E já nem sequer se fala que as diferenciações entre os estabelecimentos escolares devam ser minimizadas, proporcionando os recursos necessários àqueles que mais os carecem para poderem melhorar. E isto verifica-se quando precisamente a investigação e análise em educação nos mostra que o sistema de cheques e créditos escolares, e a escolha e o reforço das escolas privadas não favorecem uma melhor educação nem garantem um igual acesso ao bem essencial que é a educação. Uma tal tendência tem mesmo provocado a redefinição e restrição dos fins do que deve ser a matéria própria para a educação, bem como a segregação e o aumento da estratificação social, a drenagem dos recursos das escolas públicas para as privadas, e a transformação da educação num promissor negócio, com óbvias consequências negativas para os jovens dos grupos sociais mais cadenciados.

Aceitar ou não os alunos, com maus resultados nos exames, que provoquem uma consequente descida da posição de uma certa escola no Ranking nacional do mercado da educação, passa a ser uma decisão da gestão das escolas, que conduz à deslocação da atenção sobre as necessidade dos alunos para as necessidades da escola, que passa então a ser o centro da política educativa. No fundo, trata-se de pura gestão empresarial… das escolas, eliminando-se num golpe toda a abordagem personalizada dos jovens educandos e a sua formação integral como objectivo último do sistema educativo.

A introdução dos sistemas e métodos de gestão e funcionamento empresariais nas escolas gera todo um novo ecossistema organizacional que leva à diferenciação dos funcionários docentes( funcionalização do pessoal docente), onde os «ex-professores» se «proletarizam» em tarefas burocrático-funcionais ao serviço da melhor perfomance da escola-empresa. Um fenómeno a que alguns chamam de McDonaldização e que remetem para um gerencialismo e empresarialização das organizações escolares à imagem e ao estilo do que acontece com os conhecidos estabelecimentos de Fast-food espalhados por todo o mundo.

Não se duvida que a escola deva ter uma ligação com as necessidades do mercado laboral. O que já é fortemente questionável é sujeitar as escolas aos diktats do todo-poderoso mercado e fixar metas e objectivos em função das necessidades educativas que não são das próprias pessoas, transformando-as muito simplesmente em puros recursos humanos e mão-de-obra descartável.

A educação deixa então de ser um bem público, uma responsabilidade colectiva, um direito das pessoas, para se transformar em objecto gestionável destinado a servir os objectivos da economia e do mercado, onde a competição individual e as necessidades lucrativas das empresas determinarão as orientações em matéria de política educativa.

Este novo «senso comum» explica, em grande medida, porque é que cada vez mais, muitos jovens, e respectivas famílias, não se preocupam tanto com a qualidade de educação que recebem, e com a igualdade no acesso à educação, preferindo fixarem-se obsessivamente com as boas classificações, custe o que custar, e a simples aquisição de certas competências que possam ser trocadas (ou permutadas) por empregos ( muitas vezes, precários e mal pagos) existentes no mercado laboral.

Eis o que nos espera o refinado negócio da educação do admirável mundo novo do capitalismo global e das suas divindades: a competitividade (a concorrência, a competição e a guerra entre indivíduos e empresas) e o sacrossanto mercado ( transformado agora em deus secularizado que tudo explica e a todos escraviza)



Adaptação de um texto publicado no quinzenário madrileno Diagonal

viriato

AQUI

terça-feira, dezembro 02, 2008

Carta aberta aos encarregados de educação

Esta carta aberta foi elaborada numa reunião de professores, educadores e encarregados de educação, realizada por iniciativa da Comissão de Defesa da Escola Pública, no ano lectivo passado, em Algés. O seu objectivo era ser entregue aos pais nas reuniões de avaliação do final do 2º. período. No entanto, por motivos vários, na altura não chegou a acontecer.
Julgo que em alguns aspectos, se não todos, continua a ser pertinente a sua divulgação, mais que não seja para ajudar os professores no dia da greve (3 de Dezembro) a colocarem correctamente as questões, advertindo os pais e ee para a situação que se coloca aos professores e à escola pública.


Carta aberta aos encarregados de educação

Os professores e educadores estão em luta pela defesa da Escola Pública ! Neste momento delicado do ano escolar, quando a actividade lectiva está em pleno, quando decorre um processo de avaliação dos alunos em que a máxima serenidade deveria pontuar, os professores e educadores estão profundamente inquietos com o futuro da Escola Pública. O Governo e os meios de Comunicação Social querem fazer crer à opinião pública que as recentes manifestações de professores e educadores visam reivindicações laborais egoístas e, muito concretamente, que os professores se recusam a ser avaliados. TAL NÃO CORRESPONDE À VERDADE ! Efectivamente, os professores sempre têm sido avaliados: avaliados pelas provas prestadas, pelo trabalho diariamente desenvolvido e pelos resultados obtidos ; avaliados pelas acções de formação permanente que frequentam e as provas a que aí se sujeitam ; avaliados pelos colegas, pelos funcionários, pelas direcções das escolas e pelos serviços de inspecção do Ministério da Educação ; avaliados, ainda, pelos encarregados de educação que, em permanência, podem acompanhar a actividade desenvolvida pela escola junto dos seus educandos. Para compreendermos a actual situação é necessário perceber que, mais do que um direito à educação e à instrução, a Escola Pública é um dever que envolve o Estado e os cidadãos. O Estado tem, por esse motivo, a pesada obrigação de promover e manter uma Escola Pública com o máximo de ambição e qualidade. Por sua vez, os cidadãos – obrigados que são a frequentar a escola – têm todo o direito de exigir do Estado uma Escola onde as novas gerações possam beneficiar de uma vasta e segura formação que as capacite para o exercício pleno de uma vida adulta em sociedade. Como profissionais do ensino – além de encarregados de educação e de cidadãos atentos que também são – os professores apercebem-se, em primeira linha, dos principais problemas que afectam a Escola e, desde sempre, têm vindo a alertar o Ministério para o tipo de mudanças que julgam ser as mais necessárias. O Ministério da Educação, para além de não ouvir os professores, tem vindo a pôr em prática, desde há muito, reformas que, apesar de terem alterado substancialmente a vida das escolas, nunca foram devidamente avaliadas. Além disso, de há três anos para cá, o Ministério da Educação, confrontado com os fracos resultados obtidos pelos alunos, em comparação com os de outros países – e numa lógica baseada no cumprimento da agenda de Lisboa e dos prazos impostos pela União Europeia (2013) – achou por bem atribuir aos professores a responsabilidade pelo grave estado da educação em Portugal. É nesta linha que se insere uma avaliação do desempenho burocrática, penalizadora e hipócrita que apenas impede a progressão na carreira. O seu objectivo não é o verdadeiro sucesso escolar dos alunos, mas apenas produzir boas estatísticas em termos internacionais. Estas medidas integram-se ainda num plano de contenção de despesas (encerramento de escolas, transferências de responsabilidades de gestão para os Municípios, medidas contra o ensino especial, etc.) de que só pode resultar a degradação da Escola Pública. As leis aprovadas (o Estatuto da Carreira Docente, o novo Estatuto do Aluno, as alterações ao regime do Ensino Especial, a alteração do modelo de gestão das escolas, o recurso a empresas para o fornecimento, em regime de trabalho precário, de monitores das Actividades de Enriquecimento Curricular no 1º Ciclo, a Escola a Tempo Inteiro, o programa Novas Oportunidades) apontam para a preparação de indivíduos para o mercado de trabalho precário, submissos e conformados a uma sociedade não democrática. Os professores estão hoje unidos em defesa da Escola Pública, a única escola que, efectivamente, pode formar cidadãos emancipados e à qual todos, ricos ou pobres, têm garantido o acesso. Apelamos assim aos encarregados de educação que juntem a sua voz à nossa para que, conjuntamente, saibamos definir os caminhos que levem à concretização de uma melhor escola para todos.

Esta carta aberta foi elaborada numa reunião de professores, educadores e encarregados de educação,
realizada por iniciativa da Comissão de Defesa da Escola Pública, no passado dia 15 de Março (2008), em Algés.

terça-feira, novembro 04, 2008

Reciclagem poética de conteúdo muito sério

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Libertação


Ai que satisfação não cumprir uma imposição,
ter grelhas e grelhas para preencher e não o fazer!
Tudo isso é maçada
Que não vai levar a nada.
O sol brilha lá fora
E apetece ir para lá agora!
A vida corre, bem ou mal,
sem tudo aquilo, afinal.
E a brisa, essa,de tão naturalmente matinal,
como tem tempo, não tem pressa…
Decretos são papéis pintados com tinta.
Obedecer à sinistra é uma coisa em que está indistinta
distinção entre nada e coisa nenhuma.´
Quanto é melhor, quando há sol,
Gozar cada minuto que passa,
Porque não é isso que maça!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as nossas crianças,
E para contrariar isto e peca
Está a sinistra sempre a dar seca.
O mais do que isto é Jesus Cristo
que não sabia nada de sociologia
nem consta que tivesse biblioteca…

Adaptação a partir do poema “Liberdade” de Fernando Pessoa

Por Hurtiga in http://sinistraministra.blogspot.com/2008/11/libertao.html

Joâo Gobern sobre a avaliação dos professores e não só

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Opinião de João Gobern na Antena 1

Abram, ou melhor, ouçam este link da rubrica «Pano para Mangas» de João
Gobern na Antena 1.

http://195.245.168.21/rtpfiles/audio/wavrss/at1/227514_35441-0810300924.wma



quinta-feira, outubro 30, 2008

O GRANDE CILINDRAMENTO SISTÉMICO DO DOCENTE

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Em 2007 reformaram-se cerca de 3300 professores.

Este ano já vamos em mais de 5000 e o ritmo parece estar a acelerar.

É só ver as longas listas do Diário da República. Os testemunhos, chapados na imprensa, de docentes que aceitam penalizações gravosas de 30 e 40 por cento sobre pensões de reforma para toda vida, ao mesmo tempo que reiteram o amor a uma profissão que, garantem, abraçaram por vocação e só abandonam por coacção, transformam um processo de reforma num processo de excomunhão.

Um país maduro estaria hoje a reflectir aturadamente sobre o que Fernando Savater escreveu: "A primeira credencial requerida para se poder ensinar, formal ou informalmente e em qualquer tipo de sociedade, é ter-se vivido: a veterania é sempre uma graduação."

A vida dos professores nas escolas tem-se vindo a transformar num inferno.

A missão dos professores, que é promover o saber e o bem colectivo, está hoje drasticamente prejudicada por uma burocracia louca e improdutiva, que os afoga em papéis e reuniões e os deixa sem tempo para ensinar.

A carga e a natureza do trabalho a que se obrigam os professores são uma violentação e um retrocesso a tempos e a processos que a simples sensatez reprova liminarmente.

Ocorre, então, a pergunta: como é possível a generalização da loucura?

A resposta radica no uso do modelo publicitário (cortejo ridículo de 23 governantes para entregar o Magalhães e 35 páginas de publicidade paga e redigida sob forma de artigos são exemplos bem recentes) e das técnicas populistas.

O Governo tem conduzido a sua campanha de subjugação dos professores repetindo até à exaustão os mesmos paradigmas falsos e os mesmos slogans facilmente memorizáveis pelos justiceiros dos "privilégios" dos docentes.

As ideias (a escola a tempo inteiro, por exemplo) são tão elementares como as que promovem os produtos de uso generalizado (o Tide lava mais branco). Mas tal como os consumidores se tornam fiéis ao produto cujo slogan melhor memorizam, embora sabendo que a concorrência faz exactamente o mesmo,

assim se têm cativado apoiantes com a solução de problemas imediatos, que nada têm a ver com o ensino.

E a dissolução sociológica dos professores pela via populista tem procurado ainda, com êxito, identificar e premiar uma nova vaga de servidores menores

- tiranetes deslumbrados ou adesivos - que responderam ao apelo e massacram agora os colegas, inflados com os pequenos poderes que o novo modelo de gestão das escolas lhes proporciona.

A experiência mostrou-me que o problema do ensino é demasiado sério e vital para o abandonarmos ao livre arbítrio dos políticos.

"Bolonha", a que este Governo aderiu, ou a flexibilização das formações, que este Governo promoveu através do escândalo das "novas oportunidades", não se afastam, nos objectivos, dos tempos da submissão ao evangelho marxista, ou seja, os interesses das crianças e dos jovens cedem ante a ideologia dominante e o resto só conta na medida em que seja eleitoralmente gratificante.

Assim, contra a instauração de um regime de burocracia e terror, para salvaguardar a sanidade mental e intelectual dos professores, encaro o protesto e a resistência como um exercício a que ninguém tem actualmente o direito de se furtar.»

Santana Castilho, Professor do ensino superior, in Público

domingo, outubro 05, 2008

Dia do Professor

Dedicado a todos os professores que continuam a resistir e a lutar pela dignidade da sua profissão e pela Escola Pública Democrática...



Video KAOS


quinta-feira, setembro 18, 2008

Carta de um reformado aos colegas professores

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Testemunho de um professor reformado
Retirado do blog Matemática e Jogos Estratégicos Matemáticos por Sinistra Ministra

Testemunho do colega J. Moedas Duarte que merece aqui completa transcrição.

Fui professor durante 37 anos na Escola P. Francisco Soares de Torres Vedras e reformei-me em Janeiro passado.
Hoje, dia 1 de Setembro, senti necessidade de voltar à escola para dar um abraço solidário aos meus colegas.
Num expositor da Sala de Professores deixei este texto, que partilho agora com o grupo mais alargado dos leitores deste blogue, cujo mérito tenho divulgado sempre que posso.

CARTA ABERTA AOS MEUS COLEGAS PROFESSORES

Pela primeira vez em muitos anos não retomo a actividade docente no início do ano lectivo. Mas não o lamento e é isso que me dói. Sempre disse que queria ficar na escola mais alguns anos para além do tempo da reforma, desde que tivesse condições de saúde para tal. Contudo, vi-me “obrigado” a sair mais cedo, inclusive aceitando uma penalização de 4,5% sobre o vencimento.
Não sou protagonista de nada: o meu caso é apenas mais um no meio de milhares de professores a quem este Governo afrontou. Só quem não conhece as escolas e tem uma ideia errada da função docente é que não entende isto.
É doloroso ouvir pessoas que sempre deram o máximo pela sua profissão, que amam o ensino e têm uma ligação profunda com os alunos, a dizerem que estão exaustas e que lamentam não serem mais velhas para poderem reformar-se já. Vejo com enorme tristeza estes colegas a entrarem no ano lectivo como quem vai para um exílio. Compreendo-os bem…
Este estado de coisas tem responsáveis: são a equipa do Ministério da Educação e o Primeiro-ministro.
A eles se deve a criação de um enorme factor de desestabilização e conflito nas escolas que é a divisão artificial da carreira docente entre “professores titulares” e os outros que o não são. Todos fazem o mesmo, a todos são pedidas as mesmas responsabilidades, mas estão em patamares diferentes, definidos segundo critérios arbitrários.
A eles se deve um sistema de avaliação de desempenho que não é mais do que a extensão administrativa daquele erro colossal.
A eles se deve a legislação que não reforça a autoridade dos professores na escola, antes os transforma em burocratas ao serviço de encarregados de educação a quem não se pedem responsabilidades e de alunos a quem não se exige que estudem e tenham sucesso por mérito próprio.
No ano passado 100 000 mil professores na rua mostraram que não se conformavam com este estado de coisas. O Governo tremeu. Mas os Sindicatos de professores não souberam gerir esta revolta legítima. Ocupados por gente que não dá aulas, funcionalizados e alienados pelo sistema, apressaram-se a assinar um acordo que nada resolveu, antes adiou um problema que vai inquinar o ano lectivo que hoje começa.
Todos os que podem estão a vir-se embora das escolas, é a debandada geral. Gente com a experiência e a formação profissional de muitos anos, que ainda podiam dar tanto ao ensino, retiram-se desgostosos, desiludidos, magoados. Deixaram de acreditar que a sua presença era importante e bateram com a porta. O Governo não se importa, nada faz para os segurar: eram gente que tinha espírito crítico e resistia. «Que se vão embora, não fazem cá falta nenhuma!»Não, não tenho pena de não voltar à escola. Pelo contrário: entro em Setembro com um enorme alívio. Mas não me sinto bem. Estou profundamente solidário com os meus colegas de profissão e tenho a estranha sensação de que os abandonei, embora saiba quanto isso é pretensioso da minha parte. Vejo com apreensão e desgosto que, trinta e sete anos depois de começar a ser professor, a escola não está melhor.
Sim, regressarei hoje à escola. Mas só para dar um imenso abraço àqueles que, corajosamente, como professores no activo, enfrentam um novo ano lectivo.

Torres Vedras, 1 de Setembro de 2008
Joaquim Moedas Duarte

segunda-feira, setembro 15, 2008

Esquerdas enviezadas

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Como sei que vocês não vão ler por ser muito extenso, aqui vai uma notícia comentada por um professor do ensino secundário que tenho o prazer de conhecer pessoalmente e a quem pedi para colocar aqui n' O Pafúncio.


Dos noticiários:

[Vital Moreira, conhecido professor univeristário, constitucionalista, ex-membro e deputado do PCP, actualmente um destacado apoiante do governo do PS]

"A esquerda da esquerda, a esquerda 'de protesto' segue uma bizarra narrativa, em que ela própria não acredita, dizendo que se assiste à destruição do Estado social. Este Governo pede meças em defesa da escola pública", declarou o docente universitário.

Antes de lamentar que a oposição de esquerda confunda a defesa da escola pública com a recusa de mudanças, Vital Moreira sublinhou a importância da avaliação para que a escola pública não abandone para os privados "a dimensão da excelência".

"Não se trata apenas de tirar boas notas. A escola pública em relação aos privados tem a vocação da universalidade", frisou.

Vital Moreira sustentou também que as diferenças políticas entre a esquerda e a direita são "incontornáveis" ao nível da educação.

Depois de caracterizar a direita como portadora de valores como a responsabilidade individual e a favor da redução do Estado social, o constitucionalista frisou que a esquerda para ser fiel aos seus valores "tem de dar primazia à educação.

"O direito universal ao ensino continua a ser uma luta inacabada para combater a exclusão", considerou

Comentário: A defesa da escola pública era durante o século passado uma bandeira dos socialistas reformistas, quer estivessem no PS, quer noutras forças, que se designam como mais «radicais» mas sem o serem, além do discurso. O século XXI assistiu ao desmantelar da escola pública, tal como outras componentes do chamado «estado social», por aqueles mesmos que se proclamavam os seus lídimos defensores. O facto é por demais conhecido, não restando no «povo de esquerda» uma capacidade de resposta à altura do desafio, por causa da traição das elites (mais uma vez) às causas populares).

O facto da escola pública ser destruída tem a ver com a necessidade de criar mercado para o ensino privado. A escola pública passa a ser impedida de concorrenciar os privados. Tem apenas um papel supletivo, conforme está consignado nos acordos ao nível dos serviços (GATS) assinados em 99 pelos governos de todos os países da OMC (portanto todos os da UE de então). Nestes, incluía-se uma série de governos com «socialistas» e mesmo com «comunistas» (governo Jospin, em França).

Tudo que que Vital Moreira pode afirmar que a direita não esconde sob roupagens demagógicas a sua ansiedade em oferecer à gula dos privados os sectores rentáveis da escola pública; enquanto a esquerda à ele qual pertence actualmente tem «pudor» de o proclamar embora seu currículo no desmantelamento desta escola pública seja impressionante (vide os mais de mil e quinhentos estabelecimentos do ensino básico já extintos em dois anos, com enorme percentagem do interior norte) . Certamente, ela dispõe de arautos «muito encartados» para afirmar em juras solenes exactamente o contrário dos próprios factos!

Quanto ao PCP e BE, nem um nem outro são excessivamente alarmistas, mas o contrário; têm-se pautado por uma política tão moderada (nos actos, não verbalmente) que mais pareece conivência objectiva. Evidências? Os sindicatos da FENPROF do continente são dominados por estas duas correntes. Os sindicatos não fizeram mais do que desbaratar o potencial de luta, traindo a própria greve geral em 2005. Não fizeram nem fazem a união com as forças dos outros sindicatos de professores ou da função pública, para pressionar o governo, mas para apresentar um «ramalhete» de dirigentes a negociações, onde nada de importante o governo aceita negociar, mas os sindicatos continuam a fazer o frete. São simulacros de «negociação». O teatro assumiu foros de escândalo com a reviravolta pós- manifestação histórica de 8 de Março de 2008, em que os mesmos que a organizaram e foram porta-vozes da posição dos manifestantes na tribuna do Terreiro do Paço, vieram desdizer o compromisso solene aí assumido por eles perante o país e não apenas os 135 mil manifestantes. Estes senhores serviram o governo PS, no intuito de destruir a carreira docente, com tanto ou mais eficácia quanto a própria ministra!!

Agora continua a ficção de cenários de «luta» (infelizmente, entre aspas!) porque estão com olho nas eleições e sabem que não podem assustar o centrão, o eleitor PS que está descontente com o governo e está tentado a votar mais à esquerda.

É assim que esses senhores, da escola ideológica de Vital Moreira, quase todos, estão a oferecer a escola pública, para transformação numa negociata entre autarquias e privados, para poderem depois vir chorar lágrimas de crocodilo (autêntico!) enquanto abocanham nos seus respectivos «baluartes» municipais com os despojos do que já foi um sistema nacional e unificado de saberes, práticas, currícula, dispositivos institucionais.

TRISTISSIMO VERIFICAR AS PALHAÇADAS E CAMBALHOTAS DE UNS DE OUTROS E A AUSÊNCIA DE ESPÍRITO CRÍTICO DE MUITAS BOA GENTE, QUE AINDA SE DEIXA REALMENTE ENGANAR COM OS CANTOS DE SEREIA DAS «ESQUERDAS»... AFINAL O QUE FALTA É DAR-SE ATENÇÃO ÀS PROPOSTAS DE ALTERNATIVAS E DE LUTA CONCRETA.

CREIO QUE SOMENTE UMA ESQUERDA ANTI-CAPITALISTA E ANTI-AUTORITÁRIA, NESTE PAÍS, TEM CONDIÇÕES PARA O FAZER.


Manuel Baptista


(recebido por mail)

quarta-feira, setembro 03, 2008

Pode o ensino em Portugal sobreviver à trafulhice reinante?

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«estabilidade» não permite mais colocações"???

http://diario.iol.pt/sociedade/educacao-ministra-lurdes-rodrigues-desemprego-professores-colocacoes/986930-4071.html


Fonte: IOL Diário

Tanto faz rir como chorar ... A Ministra da Educação diz que a «estabilidade» não permite mais colocações e pior ainda: "Lurdes Rodrigues acredita que os professores desempregados «terão a sua oportunidade», mas fora do sistema de ensino" (IOL Diário)

(recebido por mail)


Bem, das duas uma: ou andaram a estudar para serem professores e afinal vão ter que acabar a trabalhar numa caixa de supermercado, a ganhar miseravelmente; ou então vão mesmo conseguir dar umas aulinhas fora do sistema, contratados por uma empresa manhosa que lhes arranjará umas horas nas escolas a assegurar as Actividades de Enriquecimento Curricular e a ganhar miseravelmente, claro.


Trapaceiros!!!


" Os Meandros Do Destacamento por Doença


Passo a publicar o testemunho e os resultados da curiosidade de um leitor e comentador deste blogue, que por razões óbvias pediu para ser reservada a sua identidade, acerca dos truques que estão a caracterizar o Destacamento por Doença, aqueles que só são detectáveis por quem anda nisto há muito tempo e sabe que é necessário estar sempre à espera do pior. (...)" (Paulo Guinote, A Educação do meu Umbigo)

Leia na íntegra e distraia-se com a actividade de expressão dramática:

Fonte: Paulo Guinote, A Educação do meu Umbigo



Casos de sucesso do esforço do governo

Diz a Ministra à TSF:

"O esforço do governo, tem sido compensado pelos resultados dos alunos."

Já o "Expresso" (apud J.P.C.) noticia:

"o caso de Luís, 15 anos, que passou para o 7.º com oito negativas e uma positiva (a Educação Física)".



Publicada por Moriae em 'a sinistra ministra' a 9/02/2008 09:35:00 AM




sexta-feira, maio 09, 2008

Felizmente para a senhora ministra há coisas mais importantes do que a saúde dos nossos filhos

‘‘Os pobres estão mais expostos aos riscos do amianto,
porque são os que utilizam telhas e caixas d’água de fibras de cimento’’
(veja aqui os riscos do Amianto)

Sim, infelizmente na escola dos meus filhos também existe um ginásio cujo tecto é feito de placas da Lusalite, contendo amianto. Sim, infelizmente fomos informados numa Assembleia de Agrupamento que a nossa escola é uma das 59% das escolas que o estudo do seu ministério refere. Sim, infelizmente a presidenta, que já se comporta como uma autêntica directora, lembrou-se que era o momento de abordar os representantes das associações de pais pedindo-lhes que levassem este problema para reuniões com a DREL e com a Divisão de Educação aqui do concelho. Infelizmente, chegou à conclusão que as associações de pais lhe serviam para alguma coisa: fazer pressão junto das entidades responsáveis para não ter que ser ela a tratar deste assunto pouco agradável. Infelizmente ia jurar que a senhora presidenta já sabia disto há muito tempo mas estava caladinha que nem um rato, pior: que nem uma ministra da educação. Infelizmente, comecei hoje logo pela manhã a ouvir a voz da ministra, num tom de voz absolutamente varrido pela estupidez. A tarada da sinistra, compenetrada do seu papel enquanto cúmplice participante da tramóia europeia, ficou uma fera de ser abordada com aquele assunto tão miserabilista, trazido para ali para um acontecimento tão importante em que um bando de paus mandados da União Europeia iam ouvir as instruções para aplicarem nas nossas escolas o plano diabólico da Cidadania. Por isso, tão convicta da sua missão, se abespinhou toda, esganiçando-se diante da jornalista que lhe perguntava o que tinha a dizer do relatório apresentado pelo seu ministério onde se referia a percentagem de estabelecimentos do ensino público onde as crianças são diariamente expostas aos efeitos cancerígenos do amianto. Mas, infelizmente, a ministra não quis comentar esta maleita. Infelizmente estava mais interessada em acompanhar os trabalhos da importantíssima conferência onde se ia tratar da introdução da disciplina da Cidadania nas escolas portuguesas de acordo com as exigências da União Europeia. Por isso não pude deixar de trazer para aqui a experiência dos espanhóis, nuestros hermanos para o bem e para o mal, o testemunho de um grupo de professores preocupados com a substituição no seu país da disciplina de Ética pela nova disciplina de Educação para a Cidadania, por directiva da União Europeia. Infelizmente é esta União Europeia que nos querem impingir! E ainda para mais com a agravante de sinistras placas de amianto dos anos 70 a pairar sobre a cabeça dos nossos filhos. Eis a vossa noção de futuro! Que ninharia é a saúde dos nossos filhos comparada com a vossa missão destrutiva! Em breve as nossas escolas também estarão minadas pelo cancro da vossa ideia de cidadania. O amianto dará cabo da saúde dos nossos filhos enquanto a vossa noção de cidadania lhes dará cabo da humanidade que ainda lhes resta.
(notícia da TSF para ler e ouvir aqui)

Noções de cidadania de acordo com a União Europeia


A Destruição da Educação em Espanha

Intervenção feita, por um delegado espanhol,

na Conferência Operária Europeia

pelo “Não” ao Tratado de Lisboa

(realizada em Paris, a 2 e 3 de Fevereiro de 2008)

Companheiros de toda a Europa, o colectivo de professores de

Trabalhadores e Jovens pela República (TJR), constituído em

Madrid, decidiu contribuir com esta comunicação à

Conferência Operária Europeia para dar a conhecer aos

companheiros a situação específica da educação em Espanha,

reflexo das directivas rumo à privatização que nos chegam de

Bruxelas.

A principal consequência da adaptação do ensino, a todos os

níveis, às necessidades imediatas do mercado (necessidades da

sociedade, como lhes chamam, eufemisticamente) tem sido a

sua destruturação, também a todos os níveis, cujos detalhes

passaremos a expor.

A privatização dos ensinos infantil, primário e secundário

(quer dizer, os ciclos da educação obrigatória em Espanha)

surge determinada por um modelo de acordos, que consiste no

financiamento público de centros privados, quer sejam

creches, colégios ou institutos. A recentemente aprovada Lei

Orgânica da Educação (LOE), que regula estes subsídios,

possibilita e incentiva o desvio de fundos públicos para centros

privados, ao entender que o Ensino já não é um serviço

público, mas um serviço de interesse geral, cuja

responsabilidade já não recai exclusiva nem principalmente

sobre o Estado. É tão grave e alargado o processo de

privatização da escolaridade obrigatória no nosso país que,

para dar apenas um exemplo, na Comunidade de Madrid,

governada pelo sector mais reaccionário do Partido Popular,

das novas vagas oferecidas no ensino secundário para o ano

lectivo de 2007/2008, só uma quarta parte corresponde a

centros públicos, e os outros três quartos pertencem a centros

privados e semi-privados (quer dizer, privados financiados

com fundos públicos). O colectivo de professores de TJR

iniciou diversas campanhas em defesa da Educação pública,

científica, laica e de qualidade, e entre elas encontra-se, como

eixo central, a exigência da revogação da LOE, que se focaliza

na privatização do ensino e permite aberrações como a que

ocorre na Comunidade de Madrid que acabámos de expor.

Submeter o Ensino secundário às necessidades mais imediatas

de um mercado em contínua flutuação leva à destruição da sua

estrutura e à redução dos seus conteúdos. Deste modo, as

disciplinas tradicionalmente fortes (Física, Química, Biologia,

Geologia, Matemática, Geografia, História, Língua, Literatura,

Filosofia) vêem os seus conteúdos limitados, reduzem-se

sistematicamente os seus horários lectivos e a sua importância

dentro do plano de estudos. Assim, por exemplo, as disciplinas

de Língua e Literatura, tradicionalmente separadas, convertem-

se numa só disciplina, o que implica necessariamente a

redução dos seus conteúdos. O caso da Física e da Química

ainda é mais dramático, pois convertem-se em matérias

facultativas da opção científico-tecnológica do bacharelato.

Em troca, surge uma nova disciplina, obrigatória para todos os

ramos do bacharelato, denominada “Ciências para o Mundo

Contemporâneo”, na qual se ensinará aos alunos,

entre outras coisas, “o uso racional dos

medicamentos”, “os estilos de vida saudáveis”,

“as catástrofes naturais”, Internet, ADSL,

telefones portáteis, GPS, etc., em detrimento dos

conteúdos próprios de duas ciências fortes como

são a Física e a Química.

Igualmente, perante a insistência da União

Europeia, aparece no Ensino secundário uma

nova disciplina denominada “Educação para a

Cidadania”, cujo único objectivo é a doutrinação

ideológica dos alunos pois, como se se tratasse

de um catecismo laico, pretende exaltar os

supostos valores da Constituição Espanhola e da

União Europeia, afastando toda a possibilidade

de analisar criticamente esses ditos valores.

Como exemplo, e de acordo com o objectivo

desta disciplina, há a acrescentar que

recentemente os institutos receberam, do

Ministério da Defesa, CD-Roms nos quais se

incentiva os departamentos a incluir no

programa da referida disciplina um tema onde se

fale das bondades do nosso exército nas suas

missões de paz no estrangeiro, sob as ordens do

mandato dos EUA, camuflados por detrás da

ONU ou da NATO. Nesta nova disciplina, como

na novela de Orwell (1984), a guerra é a paz. É a

forma crua encontrada pelo governo de obter

novos soldados que morram ou que matem – no

Líbano, no Afeganistão ou no Kosovo – para

fazer frente às graves dificuldades de

recrutamento que enfrenta a profissionalização

do Exército. O aparecimento desta nova

disciplina surgiu em detrimento da antiga

disciplina de Ética, cujo papel no ensino

secundário será meramente testemunhal, e da

antiga disciplina de Filosofia que, por um lado,

vai ver reduzido o número de horas dentro do

bacharelato e, por outro lado, vai ver os seus

conteúdos seriamente reduzidos, pois

desaparecem todos os temas relacionados com a

metafísica e a filosofia da ciência, ficando

apenas aqueles temas que se referem à filosofia

política, e – mais a mais – orientando-se para

uma possível legitimação acrítica da ordem

existente. O colectivo de professores de TJR

iniciou uma campanha em defesa da Filosofia e

da Ética, considerando estas disciplinas como

necessárias para a formação crítica dos alunos

enquanto cidadãos independentes e autónomos.

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