Mostrar mensagens com a etiqueta estudantes. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta estudantes. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, novembro 13, 2008

Dilemas de uma educadora

Image Hosted by ImageShack.us

"Pus todos os ovos na educação"

Sr. Presidente da Câmara de Fafe

Confesso que ontem, quando ouvi a notícia ao fim da tarde na TSF tive a seguir grandes dificuldades em manter uma postura digna enquanto educadora. Tivesse o caso ocorrido com uma professora anónima que fosse agredida numa escola por alunos munidos de ovos, eu teria feito um discurso de desaprovação aproveitando o incidente para ensinar aos meus filhos que o desrespeito por quem merece o nosso respeito é desprezível. Só que desta vez o caso era diferente: tratava-se de Maria de Lurdes, a tenebrosa ministra da educação, que a longo prazo irá comprometer com as suas políticas educativas o futuro dos jovens e que, começou por tramar toda uma classe profissional, dividindo-a e esgotando-a, ao querer aplicar aos professores - habituados a trabalhar em equipas - o mesmo modelo de estatuto da carreira que foi aplicado à função pública. Esta, já mais habituada a lidar com burocracias, não estranhou tanto, nem rabiou o suficiente, muito embora esteja em silêncio a enfrentar terríveis injustiças. A seu tempo voltarão à carga, unindo a sua luta à luta dos professores. Só que entretanto fecham a porta e vão para casa e os mais estóicos não pensam mais nisso até ao dia seguinte, enquanto que no caso dos professores depois de tantas leis absurdas, burocracias e reuniões, para além das desgastantes aulas, ainda os espera pela frente em casa, para além das famílias, preparar aulas, ver testes e pensar nas estratégias educativas a usar no caso da turma a ou b continuar a ter insucesso ou a portar-se mal. Quanto ao futuro dos alunos, Maria de Lurdes Rodrigues, de joelhos, para chegar a cumprir as taxas de sucesso esperadas pela União Europeia, não hesita em vir agora pedir desculpa aos professores, propondo-lhes que anuam em promover e usar o facilitismo a seu favor, falseando os dados se quiserem progredir na carreira. Ao mesmo tempo que lhes diz: temos pena mas o buraco da agulha é estreito e só alguns de entre vós poderão progredir, os outros são para ficar na cepa torta, embora um pouco melhor que os novos contratados: agora amanhem-se lá entre vós que o que é preciso é fazer, seja lá o que for, e de que forma for: simplifiquem, disse ela.
Quanto aos alunos não é realmente preciso avisá-los (embora fosse de louvar), para quê vir dizer-lhes que a escola se converteu numa balbúrdia do salve-se quem puder que atinge os próprios professores: eles já o sabem, estão lá dentro. Apercebem-se do facilitismo que converte a escola pública num local para êpater les enfants e, como eles não gostam de ser tratados como mentecaptos, acabam por se revoltar. Encerram-nos dias inteiros da sua juventude em escolas que não são pensadas para eles, muitas nem de uma sala de alunos dispõem; oferecem-lhes como espaços de permanência locais de betão, desabrigados e desconfortáveis, convidativos à violência e dizem-lhes: se mesmo assim tiveres insucesso ainda cá passas mais tempo.(aos papás albinos dá-lhes geito!). Retiram-lhes a liberdade de não ter uma aula quando os professores da turma faltam e impigem-lhes professores deslocados no meio de uma turma que lhes é estranha: mandam os professores substitutos para a cabeça do touro, encarados pelos alunos como intrusos gozáveis. A ministra veio hoje dizer que ao nível das contestadas aulas de substituição está tudo bem, afinal todos se adaptaram às novas circunstâncias. Mas é mais uma mentira. Ela nunca deu aulas de substituição e agora nem sequer pode sair mais à rua. Os miúdos não lhe perdoam. Os jovens não perdoam a mentira.
Por isso quando ouvi que lhe mandaram com ovos tive que me rir, porque tudo começa a ser risível de tão ridículo que se tornou este apego à mentira, esta obstinada teimosia dos nossos governates, que se contagia entre eles como uma praga que os há-de dizimar. E afirmei perante os meus filhos que de facto foi pena não se terem sabido conter: não terem esperado mais uns segundos para dar tempo a ela sair do carro e se aproximar de forma a atingirem em cheio o seu ridículo alvo.
Como educadora preocupada que sou, não posso deixar de condenar que se desperdissem ovos bons, com a fome que vai pelo mundo. Para a próxima atirem-lhe com tomates dos podres, porque ela é merecedora de toda a vossa indignação mas, como disse um dos estudantes: tivemos que usar o que estava ao nosso alcance.
Menos esperança tenho nos pais, e falo com conhecimento de causa pois tive oportunidade de constatar no terreno que existem mais Albinos do que se possa supor. Talvez, face à instabilidade instalada, ainda venham a compreender o que se passa na escola pública, nem que para tal seja mesmo preciso os professores tomarem a iniciativa de começar a alertá-los dando-lhes exemplos práticos, tão reais quanto ridículos e absurdos. E que sejam os seus próprios filhos a darem o primeiro passo na revolta contra um modelo de escola que abominam. Não se espere que sejam eles, pais, a se informar, pois são mesmo (ou principalmente) os que se julgam mais informados que, em consequência, são os mais desinformados, ou seja são aqueles que lêem os jornais e vêem os noticiários que a comunicação social mais procura baralhar e desinformar, voltando tudo ao contrário, dando demasiado ênfase à avaliação (porque sabem que eles pensam daquela forma bem portuguesinha: se eu lá no meu serviço estou a ser lixado com a avaliação, por que não hão-de os sacanas dos professores de ser também sacaneados?) e procurando esconder dos pais e dos cidadãos em geral que o que está verdadeiramente em causa é a destruição da escola pública e do futuro das novas gerações.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Estudantes na rua

Alunos de Caminha em protesto

[do JN de hoje]
Débora Felgueiras e Alexandra Cunha

Hoje, dia 5 de Novembro de 2008, os alunos de todo o país manifestaram-se contra o novo estatuto do aluno. Os alunos da capital puderam manifestar-se junto do Ministério, mas mesmo aqueles que se encontravam afastados geograficamente, uniram-se e lutaram também por um ensino que melhor os sirva.
Assim, no Norte, mais concretamente em Caminha, a Associação de Estudantes da Escola EB 2,3/S de Caminha, organizou uma manifestação. A escola foi encerrada pelos membros da Associação de Estudantes, e pelas 8 horas 30 minutos da manhã já se ouviam os protestos dos alunos indignados com as novas políticas implementadas pela Ministra da Educação, Drª Maria de Lurdes Rodrigues: “Ministra para a rua, a luta continua”, “Não à privatização do ensino” e “Queremos professores, não burocratas”.
Após uma incursão da GNR de Caminha algo imprópria, uma vez que esta força se revelou demasiado agressiva para aquele grupo de estudantes, a escola foi aberta. Contudo os alunos recusaram-se a entrar, de modo a continuarem o seu protesto. Desta forma, a adesão foi total por parte do secundário, e quase total quanto aos alunos do ensino básico.Justificar
Para que o protesto tivesse maior impacto e fosse ouvido, conduzidos pelo Presidente da Associação de Estudantes, Miguel Ramalhosa, o grupo dirigiu-se até à Câmara Municipal, entoando as suas reivindicações pelas ruas da vila. Foi com muito esforço que este protesto foi avante e, com muita esperança de que os seus apelos sejam ouvidos, pois, de facto, apenas lutam pelos seus interesses: uma educação digna, sem constantes obstáculos.
Deste modo, sendo a educação um factor de emancipação do ser humano e a base do desenvolvimento das sociedades, deveria hoje ser garantida pelo Estado, tal como prevê a Constituição da República, de forma pública, gratuita, de qualidade para todos e democrática. Porém, não é isto que os estudantes portugueses têm assistido: as medidas dos últimos Governos são gravosas e excluem os estudantes, constituindo um ataque feroz à democracia nas escolas e à escola pública desde o 25 de Abril.
Os alunos portugueses estão, portanto, unidos numa causa que lhes é comum: a demissão da MINISTRA DA EDUCAÇÃO!

(recebido por mail)

Image Hosted by ImageShack.us


"Faltar deixou de ser um direito" Disse o "merceeiro" a propósito da manifestação dos alunos...
Para este homem tudo foi ridículo na manifestação de estudantes e nas suas legítimas reclamações. Mas, se alguma coisa há nisto tudo que seja ridícula são as paletes e paletes de decretos que a equipa a que ele pertence tem mandado cá para fora, já para não falar dos próprios e das suas declarações!

2 comentários:
Bruno Taveira disse...

Boa Tarde!
Se os alunos se juntarem aos professores isto vai mesmo para frente...
Abraço.

Hurtiga disse...

Bruno,

E se os pais derem uma ajudinha ainda vai mais depressa!
:)


in A Sinistra Ministra

domingo, março 30, 2008

Quem ensinou os alunos a fazer abaixo-assinados?



Abaixo-Assinado (#11): queremos a professora de português fora da escola:

Destinatário: Estudantes

Nós queremos que a professora Maria Inês pare de dar aula na nossa escola(CEU CIDADE DUTRA),porque ja vai fazer 2 anos que ela ensina a mesma lição! Se ela não sair não entraremos mais na sala de aula, quando for aula dela!!! Obrigado(a)!

Dados adicionais:

Encontrei este abaixo-assinado por mero acaso no meio de tantos outros sob o tema da Educação. Fiquei a pensar que se fala muito pouco dos alunos quando se debate o Ensino e a Escola Pública. Chega-se a pensar que a escola só é feita de professores do Ministério da Educação. Chega um dia em que o ME apaga a luz e bate com a porta e o que restam são professores ao Deus-dará. Então e nos alunos, não se fala? Que opinião terão eles sobre as suas aulas? Que terão eles a dizer em relação aos professores, ao modo como funciona a escola, sobre as matérias que aprendem e da forma como querem que eles as aprendam. Já alguém se lembrou de perguntar aos alunos como quereriam eles que fosse a escola, o que gostariam de saber, de aprender a fazer, que interesses têm, se é que os têm.
Se o Pafúncio fosse um blogue muito visitados, já sei que teria aqui muitos professores dizendo em uníssono que o desinteresse é total e absoluto, que os pais são os que menos querem saber desde que os filhos vão passando, que já se matam a trabalhar e não querem ser amas secas nem palhaços de circo. Têm toda a razão, mas hoje, não sei porquê estou farta de professores. Farta de escutar sempre as mesmas queixas e depois vir a saber que toda a casta de decretos ministeriais ridículos e absurdos acabaram afinal por entrar nas escolas, sendo postos em prática por esses mesmos professores que sairam à rua justamente indignados a 8 de Março.
Desculpem, meus amigos, dizer que estou farta de professores. Estive a consultar a lista dos meus amigos e a maior parte deles são professores, não vi lá na lista um único ministro, um único deputado, nenhum provedor, nem bastonários. Mas tenho dois filhos na escola pública e estou habituada a deparar com as situações caricatas que de lá vêm. Por enquanto ainda os pais se vão dando conta mas já se anuncia o dia em que tudo estará sobre controlo. Os pais julgam que vão estar mais presentes mas como estão enganados. Na pior das hipóteses, terão lá representando-os algum Albino Almeida que lá estará para negociar a melhor forma de tirar proveito disso para si e para os seus. Se os pais não se organizarem em Associações de Pais que realmente se preocupem com a educação e com o estado do ensino, se não forem eles mesmos a se organizarem e a encontrar meios de poderem questionar os Conselhos Executivos do que se passa nas escolas, eles nunca vão saber realmente porque da parte dos professores ninguém virá alertá-los. O único veículo de comunicação ainda são os alunos. Não aqueles que nada dizem ou que sempre respondem que está tudo bem. Mas sim os chamados alunos problemáticos, aqueles que problematizam o ensino, que dizem que não gostam daquela escola, daquela professora, que sentem que estão a perder o seu tempo, que a escola é um lugar inóspito, que reclamam que os professores não os ouvem, que são caretas, que não se interessam por nada que venha da sua geração, dos seus gostos, dos seus interesses. Os pais pouco podem fazer em relação a isso, a não ser que se unam exigindo uma maior qualidade. Verdade seja dita que muitos professores já dão tudo por tudo mas, caros professores, quantos dos vossos colegas são assim, como essa professora que em dois anos deu sempre as mesmas aulas. Quantos conhecem assim, sem criatividade, sem empenho, sem psicologia, sem informação, sem conversa, sem capacidade de relacionar os acontecimentos, sem humor, sem capacidade crítica.
Que mau momento eu fui escolher para atacar os professores! Olhem que não é geral, é mesmo muito particular, como esse abaixo-assinado feito em relação a uma pessoa em particular, devidamente identificada. Não me levem a mal, mas de entre os meus amigos professores já ouvi tantos falar de gente assim que se move nas escolas. Coitados dos alunos!
Depois do video da miúda histérica que queria o telemóvel, andam todos a atacar alunos e pais (já antes os pais se tinham convertido na vítima preferencial, logo a seguir à Ministra e seus muchachos). Agora todos se voltam contra os alunos como se de um bando de delinquentes se tratasse. Todos virão defender que as crianças precisarão de ser contidas, disciplinadas, vigiadas e até mesmo policiadas. Adivinho que isso vai fazer um grande favor ao governo pois lhe dará os pretextos necessários para converter o que restar da escola pública (aquela que entretanto continuar sem ser total ou parcialmente privatizada), em grandes presídios de futuros trabalhadores precários instruídos de acordo com as exigências dos mercados económicos.
Blog Widget by LinkWithin