Tive um professor na faculdade que contou que foi ao Brasil e não percebia nada do que se dizia na rua. Para mim isso é toleima, mas para ele “galera” não era senão aquele velho barco.
Pelo menos era um bom professor universitário, punha-nos a pensar primeiro pela nossa cabeça e só depois exibia a sua teoria. Mandava-nos ler os textos A e advertia-nos contra as ideias feitas dos textos B. Confrontava-nos com os poemas e depois discutiam-se as “teorias” de cada um que quisesse entrar no debate. Mas de português do Brasil não sabia nada, ou fingia que não sabia, por sua conveniência.
Claro que quando contava a história ele sabia muito bem de que galera se falava, a história era apenas um exempla para desconsiderar a língua popular e a cultura do Brasil. Os professores de teoria da literatura deviam ser menos virados para as literaturas europeias e conhecer um pouco mais as literaturas latino-hispano-americanas. E se estão a dar aulas a alunos dos Estudos Portugueses deviam obrigatoriamente ter um bom conhecimento de Literaturas Africanas. Mas o que lá vai, lá vai. Até se compreende, já que a sua formação era nitidamente nos anglo-saxónicos e na literatura norte-americana. Quanto à literatura portuguesa era dos cheios de gostos exclusivos e de preconceitos: não me lembro de ter dito claramente que apreciava este ou outro autor português, mas havia uma catrefada deles (a maior parte) que eram desqualificados até mais não. Importa dizer que Jorge de Sena foi discutido, e também matéria de teste um poema, complicado de saber quem diz o quê, como e de que género, do Ricardo Reis. Este foi uma pedra no sapato de muito boa gente… Provavelmente se tivesse prosseguido os estudos tentaria um mestrado em Teoria da Literatura para continuar com este professor, mas achei que não precisava assim tanto de buscar desesperadamente uma teoria para a Literatura. E ainda para mais ele afirmava que nenhum livro alguma vez pôde mudar o mundo. Eu não concordo.
Preferi deixar rolar a língua e não ocultar saber de que galera se fala.