
Fernando Pessoa
"Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão."
22 | 01 | 2008
(…)
Confesso que entrei em estado de choque por alturas do artigo 14.º, em que o Estado, zeloso, frisa que o acolhimento deve ser preferencialmente exercido a título de actividade profissional exclusiva. Ou seja, a mãe de acolhimento não pode trabalhar como uma mãe «normal», porque tratar daquelas crianças não é uma missão, um prazer, mas um emprego. Ao estilo daqueles que vemos em autocolantes nas caixas Multibanco, e que dizem, «Ganhe dinheiro sem sair de casa!».
(…)
Tendo em conta que há 6 mil crianças em situação de acolhimento, e que em média permanecem seis anos na família, talvez entenda porque fiquei com os cabelos eriçados quando cheguei ao artigo 33.º, intitulado «Preparação para a saída». Esta preparação, diz a lei, deve «efectuar-se com a antecedência adequada, em regra, não inferior a um mês». Depois de ali estar toda, metade ou um terço da sua vida (divisões em base 18, idade da maioridade), considera-se perfeitamente «adequado» obrigá-la a saltar dali, no espaço de um mês, ou menos.
(…)
A loucura continua. Após termo da medida», diz a lei, a família de acolhimento poderá «continuar a relacionar-se com a criança, sempre que a equipa técnica o tiver por conveniente e a família natural a tal não se oponha!». É como se nada tivesse acontecido entre acolhedores e acolhidos, que todas as partes estavam avisadas que «aquilo» não passava de um serviço. Decididamente, a moral desta lei só pode ser uma: «Se foi apurado, é a última pessoa a quem uma criança deve ser entregue». Quanto ao decreto em si, proponho a incineração imediata. (ler tudo)
Isabel Stilwell | editorial@destak.pt
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Subordinada a | | |
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| Assim temos políticos servis desde a esquerda “progre” até à direita “conservadora” |
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Poderes do Estado:
- Legislativo -Judicial |
| - Gerenciador de interesses sectários
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Madalena Barbosa
Público, 2007-06-09
À Luísa só lhe ocorre uma solução: ou morre trabalhando, ou suicida-se quando passar à reforma. Que o diga Luísa. Ingénua, crente na bondade das gentes, dedicou-se de alma e coração a ser uma mulher como se dizia que as mulheres devem ser. Casou, procriou. Muito nova, juntou sete lindas crianças que tratou o melhor que sabia.
E tentou saber muito - leu os livros de puericultura, os tratados dos psicólogos, os artigos das revistas.
O 25 de Abril deu-lhe uma alma nova. Num ímpeto, juntou-se às multidões que gritavam por liberdade e igualdade. Só então notou que essa igualdade era para todos, não para todos e todas. Por isso fez da sua causa a causa das mulheres. Até 1978 esperou, com pouca paciência, que as leis da família mudassem. Mas mudaram. Foi-lhe então possível libertar-se de um casamento que a impedia de trabalhar. As crianças já iam à escola. Finalmente podia fazer algo mais que trabalhar em casa, ser uma pessoa autónoma, uma cidadã participativa. E conseguia dormir algumas noites seguidas, depois dos anos das amamentações, gravidezes, viroses, pesadelos das crianças.
Então teve a sorte (?) de arranjar um emprego no Estado. Como era espertinha (diziam), fez tudo como diz a cartilha: criou as crianças sozinha e, ao mesmo tempo, trabalhou, fez uma licenciatura, um mestrado, formação contínua. Não me perguntem como, mas ainda fazia militância política e social. Milagres de quem esteve muito tempo presa. Correu, subiu, sobe Luísa, sobe a calçada.
Claro que nesse tempo tinha pelo menos uma garantia: um emprego. Um futuro: uma reforma. Protecção nas doenças, suas e das crianças: ADSE. Nem lhe passaram pela cabeça estas coisas modernas de seguros de saúde ou poupanças-reforma (quem dera que o dinheiro chegasse ao fim do mês!). Confiava no seu contrato com o Estado, pessoa de bem, que lhe garantiria o futuro.
Competente, rápida, assumiu cargos de responsabilidade, serviu o seu país. Fez-se gente, com um certo orgulho de o ter conseguido. Agora é cidadã sénior. De repente, sente-se culpada - por sua causa, e de mais uns milhares, Portugal tem "uma população envelhecida". Por isso terá de trabalhar mais e receber menos, dizem-lhe. Se viver muito tempo, vai fazer com que as reformas sejam ainda menores. Provavelmente morrerá a trabalhar. Nunca comprou uma casa, o que quer dizer que corre o risco de acabar sem abrigo. A sua reforma nunca pagará uma renda em Lisboa.
Luísa faz parte do odiado funcionalismo público. Bode expiatório, vómito onde se despeja o fel e o ódio. A minha última consulta à blogoesfera deixou-me pasmada. Sim, despeçam-nos, tirem-lhes "regalias", tirem-lhes promoções - queimem-nos? A função pública passou a ser o boneco que se queima, a bandeira que se espezinha.
Será que estamos a assistir ao "dumping social"? Fazem-se previsões a 50 anos. E Luísa olha para 50 anos atrás, e será que se podia prever o que se passa hoje? Quantas variáveis na evolução social, política, científica? Mas isto digo eu, que vejo os economistas reverem as suas previsões quase todos os meses.
À Luísa só lhe ocorre uma solução: ou morre trabalhando, ou suicida-se quando passar à reforma. Só assim poderá ser uma boa cidadã. De qualquer forma, nem com os netos poderá brincar, pois estará trabalhando. E se se reformar, ficará mais pobre, mais doente e a contribuir para as estatísticas do "envelhecimento da população". Definitivamente o suicídio. O "pessoa de bem" de certeza que agradece, pois a vida das pessoas agora são números. E quem não produz nem consome não é gente.
Como se chama à entidade que faz um contrato e não o cumpre? Especialista em questões de género.
Enviado por um amigo
A nação já não serve para servir a comunidade. O Estado prepara-se sim para sacar a propriedade que era de todos, passando esta a ser propriedade privada de uma empresa que, mesmo estatal, não deixa de ter a sua filosofia empresarial detentora dos bens que eram da comunidade. O encerramento de urgências e escolas é uma expropriação dissimulada da propriedade colectiva, que servia a todos e que o Estado vai convertendo em propriedade de empresas. É do conhecimento geral que uma empresa tem a função última de produzir lucro. A sua finalidade não será mais servir a comunidade, mas sim produzir lucro e, se um dia essas empresas estatais não cumprirem o objectivo do lucro, quem impedirá o governo de as vender a privados? Quando isso acontecer – e os acontecimentos agora sucedem-se muito rapidamente como nas novelas – , as pessoas do estatuto sócio-económico desta comentadora de serviço, continuarão a pagar do seu bolso os seus bons médicos e as suas boas escolas. E nem sequer darão grande importância a serem um cada vez menor número de happy few no meio de tanto povo descontente. Para elas esse status é um dado adquirido, uma questão de classe. Eles são especiais, têm um olho para constatar que o poder decisivo está nos detentores do pilim e a cegueira dessa maioria, de que não fazem parte, não os afecta nem um pouco porque eles são os iluminados e não se confundem com a ralé. É desta matéria que se constrói o que alguns consideram a grande inteligência das suas opiniões. E digam lá se isto não é cada vez mais uma luta de classes?
Uma utopia é uma possibilidade que pode efectivar-se no momento em que forem removidas as circunstâncias provisórias que obstam à sua realização. (Robert Musil)
Não ao novo Tratado europeu!
Revogação de todos os tratados!
Revogação do Tratado de Maastricht-Amesterdão,
Defesa e reconquista dos direitos e garantias
contidos nas legislações de cada um dos nossos países!