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domingo, novembro 23, 2008

Uma carta fora do baralho

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"POLÍTICA DE EDUCAÇÃO"

Nos últimos dias recebi SMSs de diversos colegas alertando para a presença do Jorge Pedreira, secretário de estado da educação, numa palestra a realizar em Setúbal, no dia 16 de Novembro às 17h. A palestra era subordinado ao tema "Política de Educação", foi promovida pela distrital do PS mas era aberto a não-militantes. Eu lá apareci, pensando que ia encontrar vários colegas da nossa escola, mas fui o único. No auditório da Estalagem do Sado, estávamos oitenta pessoas, o que corresponde a cerca de metade dos lugares. Esperava ver lá mais gente. Quase todos os presentes eram militantes do PS e percebi mais tarde, pelas intervenções, que cerca de metade dos presentes eram, também, professores. Eu, que sou apartidário e feroz crítico de quase tudo o que seja políticos e seus comportamentos, e nada habituado a estas lides, ali fiquei sentado ao lado de um colega de outra escola, na última fila.
Na mesa estava o secretário de estado, ladeado pelo ex-deputado, actual presidente da distrital do PS (e também pintor) Vítor Ramalho, e por um indivíduo que nunca falou e que desconheço. Na plateia reconheci de imediato o Humberto Daniel, ex-presidente da junta de freguesia de S. Sebastião, e o Paulo Pedroso, deputado do PS.
A palestra foi um misto de operação de charme e de apalpar o pulso aos militantes sobre o assunto em causa. O secretário de estado falou durante 50m, ininterruptamente e sem recurso a qualquer tópico escrito. Trazia, natural e obviamente, a lição mais do que sabida. Disse essencialmente disparates, mentiras e até ofendeu os professores. Aquelas coisas que estamos fartos de ouvir: os professores trabalham poucas horas, nunca foram avaliados, não querem ser avaliados, os sindicatos assinaram e agora não cumprem com o que assinaram, os professores eram uns privilegiados porque progrediam automaticamente nas carreiras, o excessivo abandono escolar, a falta de hierarquias, o premiar do mérito, etc., etc., etc.
Depois houve inscrições para expor opiniões. 27 pessoas se inscreveram, entre as quais eu, que falei mais ou menos a meio. Pensei que a generalidade dos militantes aproveitasse a ocasião para tecer elogios às virtudes do ECD e do seu modelo de avaliação, mas não foi isso que aconteceu. Começou por falar o militante Chocolate Contradanças (é esse o seu nome) que foi professor e se disse desgostoso por ver o estado de desmotivação em que a sua mulher está, ela ainda professora, e referiu que o PS iria perder a maioria absoluta devido a esta ME; foi aplaudido. O Humberto Daniel teve uma intervenção bombástica ao começar por dizer que "por muito menos o Correia e Campos foi para a rua"; foi aplaudido. Outros militantes se seguiram. O Paulo Pedroso teceu críticas ferozes, também preocupado com os resultados eleitorais. Disse "a Escola está agora pior" e, referindo-se a uma passagem do discurso do secretário de estado em que este dizia que os últimos dez anos foram uma barafunda (não me lembro se a palavra foi esta ou outra idêntica) nas escolas, Pedroso lembrou que "o PS esteve 7 desses 10 anos no governo"; foi muito aplaudido. Seguiram-se outras intervenções, de professores, alguns membros de conselhos executivos, ex-professores e militantes do PS, cada uma apontando aspectos diferentes das fraquezas deste modelo de avaliação, raramente se apontando virtudes.
Chegou a minha vez e quis partir mais alguma loiça, pois estava revoltado sobretudo com uma frase dita pelo secretário de estado e que não havia sido ainda comentada por ninguém. No final do seu discurso ele havia dito, referindo-se às negociações com os sindicatos, que não estava na disposição de ceder nem de renegociar. Coroou o seu raciocínio com o provérbio chinês "Quando se dá uma bolacha a um rato, a seguir ele quer um copo de leite." Assim, sem tirar nem pôr! Depois de me apresentar, esclareci que sabia o que era uma metáfora mas que não podia ficar indiferente à contextualização dada àquele provérbio, onde os professores eram comparados aos ratos, e salientei:
– Um professor pode até aceitar uma bolacha e pode até beber um copo de leite, mas também sabe desmontar uma ratoeira.

Tensão na sala, com muitos olhos em cima de mim, de pé, com o microfone na mão. Mas não fraquejei e achei que devia ser ainda mais contundente. Depois de referir as fraquezas deste modelo, a má-fé e as reais intenções que estão por trás dele disse:
– Isto é uma palhaçada!
Continuei dizendo que o ME está sempre a passar à opinião pública que os professores trabalham poucas horas e que têm muito tempo de férias. Lembrei que:
– Em relação às horas, não sei como chegam a essa conclusão, pois eu nunca trabalho menos de 40h por semana, e é frequente trabalhar bem mais. Quanto às férias e às paragens, como nos podem atirar isso à cara se nos limitamos a cumprir o calendário estipulado pelo ministério? Até parece que os professores andam a roubar alguma coisa a alguém.
Sabia que estava a pisar terrenos argilosos, mas arrisquei de novo:
– Isto é uma palhaçada!
Às tantas o Vítor Ramalho interveio e disse que não podia admitir esta linguagem, que se tratava de um encontro de militantes do PS onde as pessoas se respeitavam. Eu, que vejo na generalidade dos políticos pessoas que são tudo menos sérias, estive-me nas tintas para os seus pruridos. Perguntei-lhe se os não-militantes não podiam intervir. Ele disse que sim. Perguntei-lhe se me deixava continuar e concluir a minha opinião. Disse de novo que sim, e eu continuei. Para concluir lembrei-me de uma série de ataques que o secretário de estado fez aos professores e às suas formações. A esses ataques respondi:
– Todos os professores têm formação média, superior ou equiparada, alguns têm mestrado, outros têm doutoramento. Fizeram profissionalização dentro dos moldes estipulados superiormente. Fazem acções de formação e actualização com regularidade. Como nos podem atirar também isso à cara? Lembro que mais de 90% dos professores têm habilitações académicas superiores às do primeiro-ministro.
– Aí é que foram elas! Não se podia falar mal do ai-jesus de todos eles, ali. Pateadas da mesa e de muitos dos presentes na plateia. Ainda perguntei, por duas vezes:
– Estou a dizer alguma mentira?
Ninguém me disse que não. Sentei-me; ninguém bateu palmas. Ouvi atentamente as intervenções seguintes. Um psicólogo referiu que a ministra tem, à partida, qualquer coisa contra os professores, e que isso é notório nas suas intervenções. O último a falar foi um colega que referiu conhecer como funcionam as coisas noutros países da Europa, onde esteve várias vezes em trabalho, e de não saber de nenhum onde os professores sejam divididos em duas carreiras. Questionava ele a que país, afinal, tinha ido o ME inspirar-se.
Para terminar, foi dada a palavra ao secretário de estado, que voltou a falar das virtudes deste modelo de avaliação e da importância de o levar à prática. Foi um discurso circular, onde muito pouco se reflectiram as preocupações colocadas pela plateia.
Foi assim a minha aventura de quatro horas numa palestra promovida pelo partido que suporta o governo que está a destruir o ensino público no nosso país.

António Galrinho

terça-feira, setembro 02, 2008

Sobe sobe balão sobe

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Imagem daqui


Sobe sobe balão sobe
Sobe sobe lá balão
Quanto maior a subida
Mais te estatelas no chão



Digo isto da Ministra
E digo da Educação
O povo mais ignorante
E ela sobe d’escalão



Quem estará a dar guita ao papagaio?
Os sindicatos? Os pais? Ou os senhores directores?
Andam por ali socretinos que devem ser assessores!

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Dia dedicado à educação...

Não se se foi ontem a senhora ministra que me inspirou. Sei que hoje dediquei todo o meu dia à educação:

De manhã um encontro dentro da escola com uma professora para combinarmos em conjunto articular os conteúdos sobre sexualidade com uma sessão para os pais. Claro que a conversa depressa seguiu rumo livre para outros assuntos muito menos naturais: as palavras são como as cerejas e, quando se começa a falar das coisas uma mão lava a outra. Uma professora atenta, que também é mãe a falar com uma mãe atenta que também já deu aulas. Fizemos como a ministra aconselhou: simplificámos ou seja, descomplicámos o que se queria complicado. Quando duas pessoas dentro destes assuntos das novas políticas educativas se põem a conversar, depressa chegam às mesmas conclusões: estão a destruir a escola, os professores não estão a aguentar aplicar as normas absurdas que chegam às escolas em catadupas a meio do ano lectivo, os alunos estão a ser prejudicados. E isto diz respeito aos professores e diz respeito aos pais porque é sem respeito pelos alunos. Os conselhos executivos de algumas escolas já estão a aplicar as directivas, se forem dos cumpridores. Os representantes dos pais não foram convocados para um Conselho Pedagógico sobre avaliação do desempenho e atribuição de competências e, no Conselho Pedagógico seguinte já tudo mudou: o conselho está diferente; sairam uns, entraram outros: as competências foram atribuídas; a futura directora já tem tudo na mão: ali não haverá avaliação feita pelos pais, nenhum professor irá autorizar. A professora tenta pôr paninhos quentes: deve ter sido por esquecimento os pais não terem sido convocados, desculpa. É uma boa pessoa, conciliadora, disse que tinha compreendido muito bem as posições assumidas por quem representa os pais.

Tenho tanto receio de quem se diz "representante dos pais". Hoje comprei um livro, cujo título vai mal-impressionar muito boa gente: Pais Contra Professores, de Maurice T. Maschino. É muito útil, porque começa logo por definir gente da laia do Albino Almeida, para quem ainda não está advertido contra esta praga de malfeitores que se apossaram de uma estrutura democrática como era a CONFAP: «A escola será doravante um lugar em que são os pais a fazer a lei? Na maioria dos casos, sem dúvida não, mesmo que muitos deles, no ambiente actual, se sintam cada vez mais tentados a intervir ao arrepio de quaisquer normas, e de forma anárquica. O que seria certamente desagradável, e perfeitamente inadmissível, mas não traria grandes danos à instituição, se estas reacções individuais não fossem encorajadas, retomadas e amplificadas por grupos que se arrogam o direito de falar e de agir em nome de todas as famílias. Esta impostura -- de que a maioria dos pais nem sequer suspeita, mas que os poderes públicos encorajam -- contribui em grande medida para desqualificar a escola enquanto lugar de estudo e de aprendizagem de saberes. Na verdade é um abuso de linguagem falar dos pais. E abuso de poder ao pretender manifestar-se em seu nome."

Confesso que mais lá para a tarde só me apetecia ser feliz. Por isso lá fui eu participar num colóquio sob o tema "Educação para a felicidade" e não é que lá fui encontrar uma sala cheia de professores, perdão, professoras, que a quota masculina só se reduzia a um -- será que os homens não acreditam na felicidade? E os professores ainda acreditam ou são levados a acreditar? Pensei: bela acção esta, mesmo a propósito, logo no dia a seguir à entrevista da ministra... vamos lá a contar as boas experiências, ajustemos o foco de mineiro e iluminemos apenas o que bem que queremos ver. Mas não será uma visão tubular, redutora? E o que está mesmo mal? Não nos devemos centrar no que está mal, devemos pensar no que está pior para nos sentirmos felizes com o mal que temos. Aleluia, meu irmão. Até havia umas rezas para o dia a dia ( e contra a ministra, nada?). No final terapia do riso para aliviar tensões e partir para casa bem disposto, expurgado de todo o mal, pronto para enfrentar a burocracia da escola com um sorriso nos lábios (Sorria, está a ser avaliado!). Mas quem disse que queremos nos livrar das tensões agora? Para isso já bastam certas manifestações que só servem para tirar a pressão da panela... Vim embora antes da terapia: agora queremos estar em tensão, reunir toda a tensão para gritar bem alto, unidos, nas manifestações que aí vêm e não deixar que a pressão se escape da panela. Cerrar fileiras e só parar depois da retirada absoluta das políticas educativas mais absurdas que o capitalismo internacional em desespero alguma vez forjou. Não queremos esta ministra porque não queremos estas políticas porque não queremos obedecer aos prazos da união europeia para destruir a escola pública, porque não queremos este sistema. Cumprir é pactuar com a estratégia internacional capitalista de destruir a escola pública. Portugal romper com esse sistema: isso sim me deixaria muito feliz, senhores psicólogos educacionais.

À noite, reunião política, para discutir... política e educação, pois, meus caros amigos, quer queiramos quer não isto anda tudo ligado.

sábado, fevereiro 16, 2008

Des(informação) em Directo: Uma bota e três capachos

Todas as semanas, a SIC Notícias mostra o que vai ser a edição semanal do Expresso. A excelência do jornalismo, em antecipação, com Ricardo Costa, Nicolau Santos e alguns convidados semanais.

Expresso da Meia-noite, SIC NOTÍCIAS

Imagem (genericamente modificada) retirada do Kaos (ler texto)

Lamentavelmente esta semana só lá estava o Nicolau no país das maravilhas; tivemos pena, fez-nos falta o mano Costa pois apreciamos sempre confirmar as nossa suspeitas de que a informação anda manipulada e gera-se no seio da mais completa fraternidade com os governantes.

Que melhor exemplo de fraternidade deste conluio a que hoje assistimos? Falou a senhora ministra e logo uma chusma de oportunistas se lança no atropelo da apropriação mais vil da representatividade que se podia imaginar num debate que, por ser sobre o Ensino, devia dar bons exemplos: vem o presidente do Conselho das Escolas, Álvaro Almeida dos Santos, e diz: “nós, escolas”. Claro que este chamado “Conselho das Escolas" foi escolhido a dedo e formado às pressas pelo Ministério da Educação para ter um conselho-fantoche a falar pelas escolas do país; e o Nicolau continua a dar as deixas: “deixe-nos ouvir a voz dos pais”:

Entra o Albino, the Voice, na discussão (que discussão? ali não há discussão, estão todos formatados para dizer a mesma coisa e defender as mesmas políticas do ensino) e nós pais coramos de vergonha por estarem a usar a nossa qualidade de sermos pais para dizer tanta enormidade, para descer tão baixo e se pôr perfeitamente de cócoras diante da ministra. Tanto yes, minister sem o toque british, embora evoque o modelo inglês (sim, já sabemos que estas leis fazem parte de um plano maior, que imitam o modelo inglês que por sua vez imita o americano, já sabemos que o ataque é global e vem em pílulas da união europeia para destruir o próprio conceito de escola pública em nome das leis do mercado e que o objectivo último é a privatização do ensino. Quem sabe nessa altura alguns pais não poderão comprar escolas e ser donos do ensino. Talvez até possam depois dispensar os professores e tomar o seu lugar na atribuição das notas). Apenas lhe reconhecemos a esperteza saloia naquelas falas, num atropelo de palavras decoradas dos programas do ministério da educação. Um crápula que usa o bom nome de uma estrutura associativa, a CONFAP, tomada de assalto por estes pulhas, que usurpam os apoios financeiros não os distribuindo por toda a organização que encabeçam, como é sua obrigação, deixando sucumbir a estrutura que suporta a CONFAP (sem essa estrutura a CONFAP simplesmente não existe, é a voz de falsete do senhor Albino). Corta-se assim as ligações ao verdadeiro movimento associativo que ainda existe, ignorando-o e ousando falar em nome dessa estrutura de pais organizados e conscientes que só podem repudiar esta falsa representação: diz sem vergonha que tem sob a sua alçada "1800 federações" mas não as consulta, antes recruta entre os seus contactos pais da sua laia, oportunistas, que não se encontram organizados, acenando-lhes falsas promessas de cargos: “muitos pais estão já a ser contactados para vir a ser os futuros presidentes dos Conselhos Gerais”. Uma vergonha!

Além disso o Albino veio reafirmar que o que os pais querem é ver resultados: os alunos mesmo maus devem ter a oportunidade do sucesso. Diz o próprio Albino que os professores estão afogados em trabalho e por isso podem muito bem deixar para os pais essa tarefa de avaliar os alunos. É que, segundo o Albino há esta incompatibilidade de os professores verem alunos onde os pais vêm filhos. Por isso é tão importante serem estes a garantirem-lhes o sucesso, participando activamente na avaliação, ou seja, dê lá por onde der os filhos têm é que passar de ano, sejam bons ou maus alunos, para tal bastará que os pais tomem os órgãos de decisão da escola de assalto.

O jornalismo hoje é tão reles, que não nos admirámos nem um pouco da vileza dos convidados para o debate, nem que a FENPROF não estivesse presente. Que os media andam manipulados não é novidade, mas realmente é escandaloso. A FENPROF tem questionado activamente todas a contra-reforma do Ministério da Educação usando os meios legais ao seu alcance para deter o processo de destruição a que está a ser submetida a escola pública (4 providências cautelares), o que no mínimo é um assunto quente. Mas afinal quem aparece é a FNE, a chamada UGT dos sindicatos dos professores, que não deseja senão fazer pequenos ajustes no processo em curso. Não diz que o ataque não pode ser feito mas que o ataque deve ser bem feito, devendo-se “reforçar a autonomia”. Para este senhor a autonomia deve efectivar-se e não ficar pela retórica dos políticos. Vem vender o seu peixe miúdo: “para haver autonomia tem que haver condições: tem que haver meios humanos” (mão de obra) “e financeiros” (ó Abreu, dá cá o meu!) e toca para a frente que a educação é o que aqui menos importa. Chama-se a isto negociação sindical e, claro, teve que fazer o seu papel para enganar a classe que se deixa enganar por estes discursos, dizendo que os professores são centrais nas escolas e que a gestão colegial que lá está instalada já tem as suas lideranças fortes, para quê vir outra gente tomar o poder? Afinal o que todos mais precisam as escolas é de lideranças fortes, aqui não se trata de educação, trata-se de gestão. Aqui também estão todos estão de acordo, até o Secretário-Geral da FNE, João Dias da Silva, professor (em que escola?) em representação dos professores (lembro que quem não se sentir retratado pode sempre mudar de sindicato, nem que seja para outro que esteja a fingir melhor defender direitos dos professores em vez apenas dos seus interesses de negociata!), leu a mesma cartilha. Para ele desde que se façam uns pequenos ajustes, uns joguinhos de tira daqui para dar acolá, tudo faz sentido. Deve ser um dos que vieram agora defender que os alunos 11 horas na escola é uma coisa boa, desde que dê emprego a mais professores...

Para a sinistra Ministra, com a presença radiosa a que sempre nos habituou, tudo isto é muito simplex de resolver, os professores é que complicam, são um entrave, quem lhe dera poder fazer uma escola sem professores. Mas não faz mal, reúne uns tantos presidentes de conselhos executivos, dá uma geral, dita as suas normas, rígidas, claro, “o exercício é difícil, é exigente, é preciso simplificar” e toca a despachar paletes de normativos, tudo para simplificar, “com sistemas e processos iguais em todas as escolas”, para reforçar a autonomia (!) e é vê-las melhorar, sem stresses, os professores complicam muito, “é necessário descomplicar, vamos trabalhar no sentido de simplificar”, faz parte da rotina, os professores têm que “desdramatizar, não trabalhar sob o medo e as angústias” (aqui só gostava que a televisão fosse mesmo interactiva e que fosse passando em rodapé todos os nomes feios chamados em simultâneo a tamanha aberração). A ministra ocultou o pormenor que vai ter o queijo e a faca na mão: se os directores não dançarem conforme o Ministério toca ele reserva-se o direito de os exonerar. Só disse que eles vão ser avaliados e que podem estar tranquilos que o Ministério vai “distinguir e premiar as boas práticas”. Claro que para a ministra “a excelência não se distribui” (aliás estava de férias quando os pais fizeram a criatura) , pelo que “não podemos admitir que haja 70% de pessoas excelentes e 30% não excelentes, o contrário é que é o normal”. Ou seja, a excelência vai ser como as quotas: se numa escola mais de 30% dos professores forem excelentes, isso não é normal, logo se impõe arranjar alguns bodes expiatórios e mandar que se lhes baixe a excelência. Para isso será útil contar com os professores avaliadores, que por sua vez também serão avaliados pelo(a) senhor(a) Director(a) que se limitará a fazer aplicar as normas ministeriais. Será por estar a formar toda uma equipa de paus mandados que qualificou publicamente os professores de “professorzecos”? Realmente correm o risco de se tornar desprezíveis os seres que aceitam não serem excelentes em troca de serem meros cumpridores de ordens e de normas. Como pode esta bruxa continuar à frente da Educação depois disto? Que tacto tem ela para lidar com a classe dos docentes? Esta bota só se pode debater mesmo é com capachos destes a fazer-lhe frente. Mas qual fazer-lhe frente? Neste debate ninguém fez frente a ninguém, todos trocaram os seus sorrisos cúmplices. Como tantos outros a que temos assistido, este debate não foi feito para discutir os problemas do ensino, este debate foi só para num momento de grande contestação um simulacro das várias partes implicadas no processo educativo virem dizer em uníssono “yes, minister”! E que coincidência jornalística tudo isto se passar nas vésperas do senhor engenheiro ir encontrar-se com os senhores do seu partido para os convencer que o Ensino está no bom caminho!



segunda-feira, janeiro 07, 2008

A Arte de Escolher Intervir



“Não sei por onde vou / Não sei para onde vou / Sei que não vou por aí.”

Com o grito rasgado do poema de José Régio começo o meu manifesto convivencial ou a arte de resistir.

Chegou também a minha hora de dizer: Basta!!! E irei assim intervir civicamente na vida pública deste país.

Prometo resistir de forma pacífica, mas muito activa, a este permanente, sistemático e ardiloso ataque ao Sistema Educativo Português. Atenção que ainda estou a chamá-lo Sistema Educativo e não Sistema Produtivo que é aquilo em que o querem transformar. O triste é que o Ministério da Educação se tenha convertido num Ministério de Produção. O paradigma que preside e orienta as novas reformas educativas é sem dúvida o paradigma industrial, empresarial e produtivo. A transformação da escola numa empresa e do processo ensino e apren

dizagem num processo produtivo pressupõe a metamorfose do aluno em matéria prima e do professor num fabricante de objectos.

Pensava eu que o aluno era um ser humano único e irrepetível, um tesouro incomensurável que nunca poderia ser reduzido à dimensão de um objecto, pela sua transcendência e grandeza. Afinal estava enganado!

Pensava eu que a relação pedagógica se revestia de um carácter extraordinário, quase miraculoso. Julgava que o professor era muito mais que um mero executante ou manipulador de objectos. Concebia o professor como um ser especial com a mais digna e nobre missão: ajudar a formar pessoas. Confesso que estava errado nos meus pressupostos.

No inicio da legislatura, a Sra. Ministra utilizou um argumento absolutamente definidor da sua concepção de Educação. O investimento no ensino cresceu – dizia – nos últimos vinte anos tanto por cento (não me lembro quanto!) e o sucesso escolar não acompanhou esse crescimento; retirava daí o seguinte corolário: os professores são culpados e devemos fazer com que os professores produzam mais sucesso.

Para que os professores se tornem mais produtivos devem passar mais tempo nas escolas e em paralelo é necessário que os alunos também passem mais tempo a aprender. Este é o pensamento da regra de três simples ou da proporcionalidade directa. Mais tempo a produzir maior produção, maior espaço temporal a aprender maior volume de aprendizagens adquirido. Fabuloso!!! Uma ideia genial. Como é possível que não tenha sido pensada antes? Será talvez porque os alunos não são pregos, nem parafusos, nem salsichas... nem outro objecto qualquer e os professores não são produtores de pregos, nem parafusos... nem de outra coisa qualquer? Será talvez porque uma criança não é equiparável a nenhum objecto por mais precioso que este seja?

Esta ideia de que mais tempo nas escolas por parte dos alunos equivale a mais e melhores aprendizagens corresponderá à realidade? Bom se é assim tão simples, eu proponho que os alunos portugueses comecem a pernoitar nas escolas e passem também os fins de semana e férias nas instituições escolares. E desde já auguro que em vez de 22% na diminuição do insucesso escolar em dois anos, como aconteceu até aqui – segundo a ministra – atingiremos, estou certo disso, nos próximos dois anos um país repleto de jovens sábios!!!

A fórmula mágica que a Sra. Ministra encontrou pode ser a solução para as finanças públicas a curto prazo, mas tenho a certeza absoluta que não é o bom caminho para uma educação integral, saudável e digna. No imediato poupou milhões de euros e publicitou que tornou o ensino mais eficaz. Posso afiançar-lhe que, a longo prazo, destruiu um sistema de escola pública, que podia ter muitos defeitos mas tinha grandes potencialidades que acabou por arrasar e delapidar de forma irreversível.

Transferiu os problemas imediatos para o futuro. Os alunos actuais crescerão e irão ser adultos pouco equilibrados e pouco saudáveis mentalmente, e a Sra Ministra contribuiu em muito para que tal acontecesse.

Os milhões que poupou na educação, posso assegurar-lhe, que irão ser investidos no futuro, na construção de novos hospitais psiquiátricos e prisões, e esses recursos que poupou não chegarão.

A ministra tocou de forma muito imprudente e precipitada num mecanismo muito complexo que é a educação e formação das pessoas. Fez contas de merceeiro e simplificou de forma irresponsável aquilo que é enigmático e problemático por natureza. Foi uma opção!!! A Sra. Ministra é a prova provada de como uma única pessoa determinada mas imprudente pode fazer tanto mal a tanta gente no imediato e no futuro, pois as seqüelas destas decisões arrastar-se-ão por gerações.


António Duarte Morais

Escola Básica Integrada de Eixo

D' O Cartel (recebido por mail)


sábado, janeiro 05, 2008

Albino de Almeida: um caso grave de usurpação de representatividade

Albino Pinto de Almeida é o actual presidente do conselho executivo da CONFAP. Esta confederação nacional de federações de associações de pais assume hoje a voz única dos pais e dos encarregados de educação do país inteiro, pretensamente tomando posição "em nome das crianças, jovens e das famílias portuguesas". Sempre que algum tema educativo envolve a opinião dos os pais, lá vem o senhor Albino proclamando-se senhor da voz destes intervenientes no processo educativo. Mas cada vez que o oiço falar não posso acreditar que aquela seja a opinião generalizada dos pais. Tanta subserviência aos decretos-lei de um ministério que está a destruir a escola pública: a destruição metódica todas as conquistas da escola construídas a partir de Abril, até ao momento da chegada a ministro da educação de Roberto Carneiro (Governo Cavaco Silva), quando as políticas educativas começaram a ser medidas não em termos pedagógicos, formadores e culturais mas economicistas, as quais se regem hoje mais do que nunca pelas leis do capitalismo global. A escola não é para ser lucrativa, nem pode ser elitista e violentamente competitiva. A escola serve para ensinar as regras de cidadania e os saberes, incentivando o aluno a querer entender o mundo que o rodeia e a reflecti-lo. Nessa área haveria muito a fazer com os professores em vez de os tornar uma classe acossada e dividida, desautorizada e exausta de tanta burocracia que lhes retira a disponibilidade e a capacidade de reflectir no seu trabalho pedagógico e no relacionamento com os alunos da várias turmas, que no fundo é o seu trabalho.

Aparentemente já me desviei um pouco, mas o que é um facto é que estamos num momento crucial em que uma maioria “socialista” comete as mesmas políticas lançando ofensivas à escola pública, numa fase ainda mais desenvolvida do sistema capitalista e pactuando com ele. Actualmente lançam-se tentáculos em direcção aos serviços públicos, na educação, na saúde, destruindo o que estava construído, encerrando o que funcionava, lançando um rasto de mais desemprego. Basta dizer-se que deliberadamente se considera “melhor ranking” ter menos professores por maior número de alunos. Por estas e por outras não é possível aceitar pactuar com este estado de coisas e aparecer publicamente em aliança com a actual ministra da educação, responsável pela maior devastação na educação alguma vez conseguida em sucessivos ministérios. A sua estratégia é tenebrosa, difamar o valor dos professores, partir a sua classe ao meio: os que avaliam e os que são avaliados (embora haja também alguém que avalia o avaliador), em vez do trabalho de equipa que existia. Desigualdade social entre os os que trabalham numa escola e os que agarram vários horários precários para conseguir tirar um ordenado, saltitando de escola em escola, sem nenhuma hipótese de ligação ao projecto educativo de cada uma dessas escolas, impossibilitados pela falta de tempo de se integrar em todas. Quando a gestão financeira passar para a escola e for esta a contratar os professores, muitas escolas limitadas financeiramente serão obrigadas a escolher estes professores por saírem mais baratos. Como podem esses professores educar? Como se pode concordar com as AEC’s, que funcionam hoje nestes moldes, com professores contratados por empresas contratadas por câmaras municipais que contratam as mais baratas por vezes estabelecendo protocolos com organizações de Associações de Pais.

Cinicamente parte-se do falso princípio que as AEC’s funcionam bem. No site da Confap lê-se a esse respeito que no ano passado (2007) funcionaram na “normalidade”, na qual seguidamente se incluem as “anormalidades” que são muitas e graves; como se para a Confap a normalidade pudesse coabitar com as “anormalidade” e isso ser o “normal”.

Não é essa certamente a opinião dos pais e encarregados de educação, por mais alheados que andem da vida escolar dos filhos (os que andam); competia à Confap informar e sensibilizar os pais para os danos que essas chamadas “anormalidades” podem prejudicar os alunos, quando muitos o desconhecem.

Não é normal que uma criança entre os 6 e os 10 anos se sinta presa dentro das salas de aula a partir de um determinado tempo do dia? Com regras, cadernos e exigências, dentro de salas de aula, como durante o tempo que já teve das aulas curriculares. Crianças pequenas que precisam de brincar, correr, saltar, desgastar energias, criar, dar largas à imaginação, encerradas oito horas por dia dentro de salas de aula, com regras e normas como funcionários. E muitos desses professores não têm a experiência pedagógica necessária para serem sensíveis aos limites dessas crianças saturadas de tanto tempo passado na escola. Traduzem-nos por “mau comportamento” e “desatenção”, o ambiente das aulas torna-se inóspito e pesado.

Os municípios podiam ajudar a resolver este impasse se usasse as infra-estruturas em benefício das AEC’s: a música aprendida na banda local; a actividade física na piscina municipal (ou nos clubes e estádios locais); as actividades lúdicas nas bibliotecas municipais, nas colectividades. Mas cada vez as autarquias têm menos infra-estruturas suas que não tenham sido colocadas à guarda dos privados, que praticam o moderno conceito do utilizador-pagador e as estratégias do lucro em vez do serviço social.

Já me afastei outra vez do assunto: a voz da Confap, que actualmente se intitula representante dos pais e dos encarregados de educação mas que se coloca em parceria com o ministério da educação e outros órgãos igualmente sinistros e dá o feed-back positivo e mediático às novas políticas educativas, legitimando-as por parte dos pais.

Como mãe, encarregada de educação e presidente de uma Associação de Pais, estive ontem presente numa reunião onde vim a confirmar a má impressão que me têm causado ultimamente as posições da Confap. E por isso quero deixar bem claro que me destaco absolutamente das enormidades que esse senhor Albino Pinto de Almeida, eleito afinal por apenas oitenta votos, vem constantemente dizer publicamente. O senhor Albino de Almeida não é como diz o representante de todos os pais, há muitos pais que não estão nem um pouco de acordo com as suas opiniões sobre educação. Como tenho conhecimento sobre a conduta desse senhor, considero execrável o modo como ignora e se vem apropriando do papel das federações distritais e das concelhias, as quais estão mais perto das associações de pais, monopolizando e usurpando a seu exclusivo favor apoios em vez de os distribuir pelas suas delegações regionais, para que a voz concordante e subserviente da Confap seja mediaticamente a única voz a representar os pais e os encarregados de educação do país. Isto em conluio com o Ministério da Educação, obviamente, a quem muito convêm as opiniões emitidas por este senhor. Uma vergonha e uma falta de escrúpulos que é preciso denunciar publicamente.

Ler artigo de Paulo Guinote sobre Escola a Tempo Inteiro

sexta-feira, setembro 21, 2007

Prós e Contras: O Estado do Ensino

Imagem retirada deste pasto

Exmos Senhores


Não posso deixar de referir que já dei aulas e sou encarregada de educação. É aliás nesta dupla qualidade que reflicto o estado do Ensino em Portugal.

No programa Prós e Contras em que participou a ministra da educação compreendi que o seu objectivo foi aproveitar o direito de antena que lhe foi concedido para lançar mais uma manobra de propaganda. A ministra procurou transmitir a ideia à população portuguesa de que tudo está a ser bem encaminhado no que respeita ao Ensino em Portugal, menosprezando todos os dados que vão contra essa euforia. Um estado de espírito bem contrário é o que se manifesta entre as pessoas que hoje em dia frequentam os blogs, e são muitas, espaço privilegiado onde os professores, os pais e outros cidadãos, em nome próprio ou por detrás de um nome fictício, não têm medo de expressar as suas opiniões sobre o actual estado da educação. Comentários a notícias, relatos, informações, documentos, debate de ideias em blogs e fóruns, sondagens, este é o espaço por excelência onde as questões educativas são hoje livremente debatidas, sem temor de castigos e penalizações.


Sugiro que, nem que seja por mera curiosidade jornalística, o vosso programa passe a estar mais atento a este manancial informativo que circula na blogosfera. Talvez fosse aconselhável proceder a uma leitura do modo como foi comentado o programa onde interveio Maria de Lurdes Rodrigues.


Já agora gostava de ver se têm essa coragem e isenção.


Com os melhores cumprimentos

Maria Paula Montez

(roubado de O Cartel )


Mandem também a vossa missiva para

pros.contras@rtp.pt

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