quarta-feira, novembro 29, 2006

Errro de Português

Retrato de Oswald de Andrade. Tarsila do Amaral 1922


Errro de Português [Oswald de Andrade]

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

Um cheirinho do Pafúncio (BD)

A origem do Pafúncio


PAFÚNCIO E MAROCAS


1884 – 1954


Pafúncio e Marocas foi o nome destes personagens no Brasil, no original "Bringing Up Father", os quadrinhos e tiras, contam a história de um casal classe operária que da noite para o dia se tornam multi-milionários, ganhando sua fortuna em corridas de cavalos. A maior parte do humor contido nestas histórias do início do século, se atém às tentativas de Pafúncio e Marocas de atingir uma posição na Alta Sociedade. Além do contexto e das histórias, as tiras de Pafúncio e Marocas são um exemplo magnífico do período da arte moderna na ilustração.

A clássicas tiras de George McManus - Pafúncio e Marocas - foram inspiradas na peça teatral de William Gill - "The Rising Generation" (algo como Geração Emergente) de 1893. Pafúncio e Marocas foi a primeira história em quadrinhos a atingir repercussão mundial, só tendo sido ultrapassada em longevidade pelos "Sobrinhos do Capitão"; foi adaptada às telas, aos palcos e aos desenhos animados por seis vezes; inclusive teve a imagem de seus personagens eternizada em selos comemorativos nos Estados Unidos. Pafúncio era o melhor dos melhores, descendente de Irlandeses, que sempre tentava agradar sua sarcástica esposa Marocas, usando fraque e cartola e esforçando-se para viver de acordo com a sua nova condição social. Pafúncio tinha olhos voltados sempre para as belas mulheres e adorava programas de "baixo nível" tais como sair à noite com os amigos, freqüentar "pubs" e cassinos. Os seus hábitos sempre o colocavam em conflito com a escalada social de Marocas. A filha do casal, Nora, era belíssima porém insípida, uma verdadeira "patricinha" do início do século, muito popular entre os rapazes.

O cartunista George McManus aplicava detalhes pictóricos altamente detalhados aos quadrinhos, resultando disto, um chistoso retrato de época com seus interiores, cenários e vestuário. Enquanto a maioria dos cartunistas faziam suas histórias com traços rudimentares, George McManus - um mestre da ilustração - era detalhista e requintado; até sua assinatura era elaborada. Seu estilo fino e delicado distinguia as tiras do Pafúncio por cenários com ornamentos e rococós; elementos gráficos eram uma constante, desde as texturas nos vestidos de Marocas até o uso com maestria do recurso de silhuetas. Apreciar os quadrinhos de George McManus, é voltar aos anos 20 e 30. Alguns quadrinhos do início, eram ilustrados com temas e costumes da Era Eduardiana e todo o seu luxo. As tiras do Pafúncio atravessaram diversas épocas e estilos, adentrando a era da Arte Moderna e McManus foi se adaptando aos tempos, como pode ser constatado, observado-se a sua obra. Pafúncio tornou-se extremamente popular, para se ter uma idéia de sua importância para a cultura Norte Americana, no 25º. aniversário do personagem, foi oferecido um jantar em homenagem a George McManus na sede do congresso em Washington. Mc Manus nasceu em St. Louis - Missouri em 23 de janeiro de 1884. Depois de uma rápida passagem pela editoria de moda do jornal St. Louis Republic, McManus foi trabalhar para o Pulitzer's New York World em 1904 e posteriormente foi atraído para o Hearst's New York American em 1912. McManus trabalhou em diversos personagens antes de criar O Pafúncio & Marocas, sua primeira tira - Alma & Oliver - foi impressa quando tinha 16 anos no St. Louis Republic.

Pafúncio & Marocas apareceu em 1913 e era publicado esporadicamente até 1916, quando começou a ser periodicamente apresentado, apesar de McManus ser conhecido pela sua dificuldade em cumprir prazos. Em 1918, as tiras ganham cor na seção de quadrinhos do jornal aos domingos. No início dos anos 20, McManus publicou uma série de livros de quadrinhos pela Leon Publishing Company.

McManus parou de desenhar o Pafúncio em 1940, passando a pena para outros artistas, e inexplicavelmente a tira continua a ser desenhada e publicada até hoje, apesar da imensa diminuição de estilo e substância perpetrada por outros artistas.

George McManus morreu em sua casa em Santa Monica em 22 de outubro de 1954.

in http://www.bricabrac.com.br/pafuncio_historia.htm

segunda-feira, novembro 27, 2006

É minha convicção que...


1. A múmia devia lavar a boca antes de falar de Cesariny;
2. Quando chegasse então a vez de falar de Cesariny e no surrealismo devia calar-se de vez, em vez de dizer no dia da sua morte que o viu a semana passada na televisão;
3. Como mesmo calado tem aquele ar aparvalhado não devia sequer sair à rua;
4. Como enquanto presidente de todos os portugueses, menos meu, insistem em mostrá-lo nas televisões, deviam estas exibir uma bola vermelha no canto superior direito cada vez que a avantesma fizesse a sua aparição para dar tempo a carregar imediatamente no OFF;
5. A múmia teria dado um belo cadáver exquis se os surrealistas gostassem de representar o que já existe na realidade e a faz voltar a ser triste e cinzenta;
6. Temos que fazer nossas as palavras de Cesariny e pintar o país antes que a múmia murche o último cravo de Abril.

Últimas palavras

(de Cesariny há uma semana a um amigo)

Temos que pintar o país!VOU!


Retrato do país de Sol-e-dó que Cesariny queria pintar

Manuscrito de Cesariny

Revisitar Cesariny

Porta de entrada para o mundo paralelo

Autor: Mário Cesariny
Título: Porta de entrada para o mundo paralelo
Técnica: Técnica Mista s/ madeira
Dim: 32x50 cm
Ano: 2004
Ref: CSY19

Visite a Exposição

"Cesariny|Cruzeiro Seixas| Fernando José Francisco e o passeio do cadáver esquisito"

na

Perve Galeria

Patente até 20 de Dezembro de 2006

São apresentadas obras individuais (pintura, desenho, escultura, pinturas-objecto) e Cadávres-Exquis, datados de 2006, realizados em conjunto pelos três autores, fundadores de "Os Surrealistas" em Portugal (1ª exposição realizada em 1949, Lisboa). Estes artistas separaram-se após a 2ª exposição do grupo, em 1951 e, até à presente data, jamais haviam realizado trabalhos colectivos.



Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006)

domingo, novembro 26, 2006

Homenagem a Cesariny, o poeta pintor surrealista


ver Homenagem









Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006)

Queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma

Poema (Mário Cesariny de Vasconcelos)


Faz-se luz pelo processo

de eliminação de sombras

Ora as sombras existem

as sombras têm exaustiva vida própria

não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela

intensamente amantes loucamente amadas

e espalham pelo chão braços de luz cinzenta

que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz

não ilumina realmente os objectos

os objectos vivem às escuras

numa perpétua aurora surrealista

com a qual não podemos contactar

senão como amantes

de olhos fechados

e lâmpadas nos dedos e na boca

sábado, novembro 25, 2006

25 de Novembro de 1975: o princípio do fim?

Se o 25 de Abril não tivesse acabado no próprio dia em que aconteceu,
no momento em que Salgueiro Maia caiu na esparrela do Otelo
e entregou a revolução nas mãos do facínora Spínola,
eu diria que faz hoje, dia 25 de Novembro,
anos que a Revolução dos Cravos irremediavelmente
murchou(ainda guardo renitente um velho cravo para mim)

Prazer da chuva

Ontem senti um enorme prazer em andar à chuva. Olhando lá para fora, pela manhã, vi logo que seria ridículo tentar levar um guarda-chuva. Para isso valeu-me a experiência de viver dez anos numa ilha dos Açores, onde havia dias que era impensável sair de guarda-chuva porque o vento era tanto que esse objecto se tornava um empecilho. Munida de botas e de impermeável com capuz, saí várias vezes à rua sentindo um enorme prazer em caminhar à chuva. Pelas ruas vi incontáveis guarda-chuvas despedaçados e atirados para o chão em gestos de raiva e desespero. O mesmo mal-estar se via nas caras das pessoas por quem passava. Gente de sobrolho franzido, a correr para se abrigar ou chegar ao seu destino, pessoas lutando contra a inevitabilidade do vento ganhar ao mecanismo do guarda-chuva chinês, outros encolhendo-se tentando em vão passar pelos intervalos da chuva. E eu avançando calmamente, sem me molhar, sentindo apenas deliciosos salpicos no rosto, nas pestanas, nas mãos livres de guarda-chuvas impotentes. Pensei em Santa Maria, não na santa que de nada me valeria, mas na ilha onde aprendi a ser feliz mesmo com ventos fortes e chuvas intensas. Aí me tornei mais forte para enfrentar esta e outras coisas que geralmente apoquentam os transeuntes mas que a mim me fazem agora sentir mais viva, o que já não é pouco.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Homenagem a Rómulo de Carvalho, o poeta António Gedeão

Furtada na Net


No centenário do seu nascimento presto aqui homenagem a um homem que, por ser grande, soube amar a Ciência e as Letras.

Impressão Digital [António Gedeão]

Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!

in "Movimento Perpétuo", 1956

Presa da teia que teces

Gaiola de Vidro [Jorge de Sena]

Como paredes através das quais
o mundo vemos pelo ser dos outros
quem vamos conhecendo nos
rodeia
multiplicando as faces da gaiola
de que se tece em volta a nossa vida.

No espaço dentro (mas que não depende
do número de faces ou distância entre
elas)

nós somos quem somos: só
distintos
de cada um dos outros, para quem
apenas somos a face em muitas,
pelo que em nós se torna, além do espaço,

uma visão de espelhos transparentes.






Mas o que nos
distingue não existe

quinta-feira, novembro 23, 2006

Dedicatória

Adaptada de Abel Manta

Sophia, com todo o seu sentido de Justiça, dedicou este poema a Camões. Eu dedico-o a todos quantos insistem em lutar pela manutenção dos direitos adquiridos depois da Revolução de 25 de Abril de 1974. Dedico-o aos trabalhadores, aos desempregados que querem trabalhar, aos reformados traídos, aos militares que hoje irão ao Paço se os deixarem lá ir. Dedico este poema à Cultura que se quer como Cultura para todos e não como mero empreendimento lucrativo para alguns. E finalmente dedico-o, como Sophia, a Camões e a todos quantos este país vai matando lentamente...


Camões e a Tença

[Sophia de Mello Breyner]

Irás ao Paço, irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou mais ser que a outra gente

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no teu rosto

Irás ao Paço, irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência
Este país que te mata lentamente

quarta-feira, novembro 22, 2006

Tambor está velho de gritar

Quero Ser Tambor

(José Craveirinha)


Tambor está velho de gritar

Oh velho Deus dos homens

deixa-me ser tambor

corpo e alma só tambor

só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero

Nem rio correndo para o mar do desespero

Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero

Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra

Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra

Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu

Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala

Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra

Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens

eu quero ser tambor

e nem rio

e nem flor

e nem zagaia por enquanto

e nem mesmo poesia.

Só tambor ecoando como a canção da força e da vida

Só tambor noite e dia

dia e noite só tambor

até à consumação da grande festa do batuque!

Oh velho Deus dos homens

deixa-me ser tambor

só tambor!

terça-feira, novembro 21, 2006

Parábola dos cortes orçamentais ou Para quê ter um porco se com um chouriço pode ser MUITÍSSIMO mais feliz?

Hoje lembrei-me da música miserabilista da Floribela , ao ouvir a ministra da cultura Isabel Pires de Lima, em dueto com António Mega Ferreira, esganiçando-se num esforço conjunto por nos convencer de o quanto nos devemos sentir felizes e aliviados por já não podermos contar com a edição de 2007 da Festa da Música, que afinal, segundo os próprios, não era grande coisa.

Declarou ela que, apesar do corte orçamental, «a programação que nós temos para o próximo ano é muitíssimo melhor do que aquela que tivemos para 2006», enquanto ele reafirmava em uníssono: «tomámos a decisão de suspender a edição de 2007 da Festa da Música, embora seja substituída por outro evento musical, entre 20 e 22 de Abril, que será proposto pelo CCB e com um orçamento muitíssimo inferior».

Este novo evento, chamado «Dias da Música», talvez inspirado nos anúncios dos “dias difíceis”, terá a sua 1ª. edição dedicada ao piano, ou seja, se antes com a Festa da Música nos tínhamos habituado às orquestras, ou seja, à fartura do porco, agora prometem-nos gozar muito mais só com um chouriço, o que mostra que este ministério, tal como os outros, não faz senão dançar a música que o orçamento de Estado lhe toca.

Sempre ali esteve, a música


A MÚSICA

Sempre ali esteve, a música,

o mar, e as ondas

de pássaros caindo como chuva ao fim

da tarde,

o piano tão líquido ou batendo

em acordes sobre o aço, uma

ilusão transformando

o som sem som, em tudo semelhante

ao silêncio,

a orquestra expandindo-se ou o refluxo

limpo dos pianíssimos,

ali estava

o silêncio, equivalente

ao som do mar e da cortina

de oliveiras defendidas do crepúsculo

por um muro de branco a escuro

passando, adolescente

música

como um corpo rolando nu na areia do

dia

quando na outra margem

a nota alucinada da fábrica o enchia,

o silvo que erigia em dor

o sexo,

as ondas desse mar orquestrado por

braços que nadavam

Gastão Cruz, Rua de Portugal (1941)

sábado, novembro 18, 2006

Mania de ser diferente!

Imagem furtada em blogs.ya.com/pindiar1889/

"Cada blogger participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloggers para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."

Por mim lancei o desafio a

Oficina Cultural

Apanha Moscas

Braganzónia

Espreitador

Em resposta ao desafio do Kaos, aqui vão umas maniazitas minhas para animar a malta:

  1. Mesmo quando olho à minha volta e vejo cada vez mais egoísmo, tenho a mania de acreditar na possibilidade de uma revolução que torne os seres mais justos e o mundo melhor;
  2. Porque quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animais, tenho a mania dos gatos e dos cães e de que a amizade entre eles é possível. Às vezes engano-me e sofro as consequências;
  3. Apesar de estar sempre a praguejar e a achar que os blogs são uma perda de tempo, e de ter a certeza de que a acção no terreno, junto das pessoas é mais necessária do que nunca, tenho a mania de voltar sempre aqui, ao local do crime;
  4. Tenho a mania de estar sempre a ouvir música e, à medida a que me desloco pela casa, chego a ter uma música diferente a tocar em cada divisão;
  5. Tenho a mania de gostar do Kaos e por isso, eu que não sou pessoa de ter manias, que devia estar a ler “Os Comités de defesa da revolução”, ou a ouvir música, ou a preguiçar no sofá com a minha gata mais preguiçosa, estou aqui nesta treta dos blogs a perder tempo a escrever disparates, só para não o decepcionar!

segunda-feira, novembro 13, 2006

Estava que não me aguentava para desancar este senhor!

Não sei quem é Alberto Gonçalves e isso nem sequer importa para nada. Serve apenas como exemplo. Mau exemplo!

Nunca leio a revista Sábado e só a li por trazer uma reportagem sobre o Chico Buarque. E foi assim que calhou eu ler as cretinices que esse senhor escreveu na coluna “Homem-a-dias”. Este sociólogo – hoje em dia tem cada um desses! – idealista de uma suposta “nova direita” com "objectivos cristalinos”, leia-se: «partido declaradamente de direita que deseja aplicar as políticas capitalistas neo-liberais de uma forma ainda mais puramente associal e radical». Um idealista de direita é ou não é alguém que sonha com um mundo melhor para a sua bolsa, um mundo cristalinamente ainda mais lucrativo para alguns, lucro preferencialmente conseguido por via do trabalho mal pago dos outros .

Ora um tipo destes, inchado afinal de ser o sociólogo de serviço da Sábado, faz aqui uma espécie de balanço diário de temas, passando então no dia seguinte a debater-se por aquilo que, de forma tão empenhada, parece ser a sua grande causa: qual bicha de rabiar, rebela-se contra a possibilidade do orgulho gay ser “assim jogado e pisado no chão” à laia de «ai pisa, pisa que é barata», por parte desses malandros do Museu de História Natural da Noruega. Mostra esquecer-se que há gays masoquistas que até podem gostar de ser assim tratados e isso é lá com eles. Aliás a este senhor sociólogo parece não lhe interessar muito o outro, quase tudo parece apenas girar em torno do seu umbigo. É típico dos idealistas de direita.

Mas o que mais me impressionou mesmo, e que me levou a perder tempo com um ruidor destes (ruidor=emissor de ruído), foi as barbaridades que ele diz dos que como eu amam as palavras e as músicas de Chico Buarque. Pelos vistos na adolescência o Alberto Gonçalves já tinha as suas taras, como aquela de chamar Chico Buarque de Hollanda a um cão, a quem já depois de morto, se limita a arrumar na categoria de meros "bichos" de companhia. E pensar que gente desta, desprovida de sensibilidade, chegou a considerar o Chico como um génio! Claro que depois cresceu e tornou-se em mais um provinciano (ver Fernando Pessoa sobre o provincianismo português) capaz só de admirar coisas como Gershwin e Sondheim. Caso típico, tudo o que fale a língua portuguesa é para o provinciano de menosprezar: nem Chico, nem Mia Couto e muito menos os Gaiteiros de Lisboa!

O anormal aqui jorra imbecilidades sem fim. Refere-se aos “sujeitos adultos, e abundantes em Portugal, que se lhe referem [ao Chico!] sempre como “o Chico” e que veneram gente como Caetano ou Drummond (!) e, claro, desanca a obra de Chico Buarque desde os concertos, aos livros, passando pelas músicas.

Como ele Alberto não se deixa impressionar nada por coisas destas, resta-lhe louvar a Democracia que lhe abriu o mundo. Infelizmente para ele, essa abertura levou também à possibilidade de se ler por cá autores como Mia Couto o que, a ele Alberto, “não traz nada de bom”. E arremata com mais esta arrogante bacorada que mostra um espírito cristalinamente sujo, ou talvez antes uma total ausência de espírito: “Já suportar, sem ameaça de arma, os Gaiteiros de Lisboa entra nos domínios da desordem neurológica.”

É extraordinário, as opiniões que hoje em dia se emitem e se publicam nos jornais e revistas! Pergunto, ao modo do título deste seu artigo:

Porque [!] é que um esfregão destes escreve artigos numa rubrica chamada “Homem-a-dias”?

Porque [!] é que há quem publique enormidades provincianas deste calibre, como se fossem o espelho do bom gosto, quando não fazem senão renegar gratuitamente a própria língua, a arte e a cultura de expressão portuguesa?

Porque [!] é que o artigo de Alberto Gonçalves o converte em mais uma bandeira nacional – uma bandeirola, neste caso – do provincianismo embasbacado que se permite apenas a admirar o que fale estrangeiro, desprezando toda a forma artística da lusofonia?

domingo, novembro 12, 2006

No São Martinho...

homenagem ao meu avô paterno a quem ouvi tantas vezes recitar Omar Kayan:

Vinho vinho em catadupas
vinho em taças sempre cheias

que ele me suba à cabeça
e me circule nas veias!
Desejo a todos os que aqui vêm um São Martinho muito lúcido!

sábado, novembro 11, 2006

Congresso do PS: O princípio da Indignidade

O Congresso do PS começou da forma mais indigna que se poderia imaginar. Com a entrada da José Sócrates na arena ao som do Coro da Pramavera do Zeca Afonso. Na minha improvável mediuntidade senti nitidamente que o Zeca se revoltou lá donde está: «Filho da Política», chamou ele lá bem do alto da sua eterna dignidade. Isto tudo enquanto eu cá na terra me revoltava também: Políticos filhos duma grande puta! O Zeca deve estar se rebelando contra tudo isto e eles a usar a sua voz num coio destes com a maior cara de pau!

Estes nossos políticos que não têm nenhuma vergonha na cara, afrontam assim as forças da eternidade mas há um dia em que se lixam! Olha lá o Isaltino que num destes dias de temporal voltou a prometer numa assembleia municipal que ia construir o centro médico de Algés e, foi ele a acabar de o dizer, e o deus do trovão a atirar com um raio que, infelizmente, falhou mas que passou perto.

Mas então não se vê logo que esta música do Zeca vai mesmo ao encontro do figurão? Posta assim como som de fundo na entrada do cretino em cena tudo faz sentido e soa claro como na música Cuidado com as Imitações do Sérgio Godinho: "de cada vez que sorria à plateia/lá se lhe viam os dentes de vampiro".

Aqui neste congresso o rei vai nitidamente nu, mas ele não esconde as vergonhas porque desconhece o que seja a vergonha. E vai a ministra da educação e mostra as suas, e vai o das Finanças e mostra as suas, e vai o da Economia e mostra as suas e no Congresso do PS não há um só menino inteligente que desmascare aquela fantochada toda.

Para isso só podemos contar com as palavras do Zeca. Nem com o raio do Zeus. Só com as palavras certeiras do Zeca, mas essas são aquelas que mesmo descontextualizadas, como é o caso, ainda assim fazem todo o sentido. São elas afinal que lançam uma luz dura sobre a triste realidade que é ver toda uma manada de supostos "socialistas" agregados e congregados insistindo ainda hoje em suportar uma mesma mentira que apenas se personifica em mais e mais arrogância.

A quem julgará José Sócrates enganar na sua impostura de fachada subitamente de esquerda, portando-se como uma senhora na mesa (do congresso) e uma puta na cama (do governo) de pernas sempre abertas para as directivas europeias, sendo ainda mais papista que o papa na prontidão com que as aplica? Vá-se esconder! Não há cu que aguente!

Música da Abertura do Congresso do PS

CORO DA PRIMAVERA - José Afonso

Cobre-te canalha

Na mortalha
Hoje o rei vai nu
Os velhos tiranos
De há mil anos
Morrem como tu
Abre uma trincheira
Companheira
Deita-te no chão
Sempre à tua frente
Viste gente
Doutra condição
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
Livra-te do medo
Que bem cedo
Há-de o Sol queimar
E tu camarada
Põe-te em guarda
Que te vão matar
Venham lavradeiras
Mondadeiras
Deste campo em flor
Venham enlaçadas
De mãos dadas
Semear o amor
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
Venha a maré cheia
Duma ideia
P'ra nos empurrar
Só um pensamento
No momento
P'ra nos despertar
Eia mais um braço
E outro braço
Nos conduz irmão
Sempre a nossa fome
Nos consome
Dá-me a tua mão
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores

O Rei vai Nu

Pensamento da meia noite:
Aquilo que realmente me encanta nas histórias populares
é que elas são sempre actualizáveis!
Vejam esta:


«Algumas das estórias de Hans Christian Andersen estão cheias de humor e ironia, como aquela do rei vaidoso que gostava de se vestir elegantemente. Vou recontar esta estória com dois finais: o dele e o meu.

“Havia um rei muito tolo que adorava roupas bonitas. Os tolos, geralmente, gostam de roupas bonitas. Pois esse rei enviava emissários por todo o país com a missão de comprar roupas diferentes. Era o melhor cliente da Daslu. Os seus guarda-roupas estavam entulhados com ternos, sapatos, gravatas de todas as cores e estilos. Eram tantas as suas roupas que ele estava muito triste porque seus emissários já não encontravam novidades.

Dois espertalhões ouviram falar do gosto do rei pelas roupas e viram nisso uma oportunidade de se enriquecerem às custas da vaidade da Majestade. A vaidade torna bobas as pessoas: elas passam a acreditar nos elogios dos bajuladores... Foi isso que aconteceu com um corvo vaidoso que estava pousado no galho de uma árvore com um queijo na boca: por acreditar nos elogios da raposa ficou sem queijo...

Pois os dois espertalhões-raposa foram até o palácio real e anunciaram-se na portaria, apresentando o seu cartão de visitas: “Doutor Severino e Doutor Valério, especialistas em tecidos mágicos.”

O rei já havia ouvido falar de tecidos de todos os tipos mas nunca ouvira falar de tecidos mágicos. Ficou curioso. Ordenou que os dois fossem trazidos à sua presença. Diante do rei fizeram uma profunda barretada, tirando seus chapéus.

“Falem-me sobre o tecido mágico”, ordenou o rei.

Um dos espertalhões, o mais loquaz, se pôs a falar.

“Majestade, diferente de todos os tecidos comuns, o tecido que nós tecemos é mágico porque somente as pessoas inteligentes podem vê-lo. Vestindo um terno feito com esse tecido Vossa Majestade será cercado apenas por pessoas inteligentes, pois somente elas o verão...”

O rei ficou encantado e imediatamente contratou os dois espertalhões, oferecendo-lhes um amplo aposento onde poderiam montar os seus teares e e tecer o tecido que só os inteligentes poderiam ver..

Passados alguns dias o rei mandou chamar o ministro da educação e ordenou-lhe que fosse examinar o tecido. O ministro dirigiu-se ao aposento onde os tecelões estavam trabalhando.

“Veja, excelência, a beleza do tecido”, disseram eles com a mãos estendidas. O ministro da educação não viu coisa alguma e entrou em pânico. “Meu Deus, eu não vejo o tecido, logo sou burro...” Resolveu, então, fazer de contas que era inteligente e começou a elogiar o tecido como sendo o mais belo que havia visto.

“Majestade”, relatou o ministro da educação ao rei, “o tecido é incomparável, maravilhoso. De fato os tecelões são verdadeiras magos!” O rei ficou muito feliz.

Passados mais dois dias ele convocou o ministro da guerra e ordenou-lhe que examinasse o tecido. Aconteceu a mesma coisa. Ele não viu coisa alguma. “ Meu Deus”, ele disse, “ não sou inteligente. O ministro da educação viu e eu não estou vendo...” Resolveu adotar a mesma tática do ministro da educação e fez de contas que estava vendo. O rei ficou muito feliz com a seu relatório. E assim aconteceu com todos os outros ministros. Até que o rei resolveu pessoalmente ver o tecido maravilhoso. Mas, como os ministros, ele não viu coisa alguma porque nada havia para ser visto. Aí ele pensou: “Os ministros da educação, da guerra, das finanças, da cultura, das comunicações viram. São inteligentes. Mas eu não vejo nada! Sou burro. Não posso deixar que eles saibam da minha burrice porque pode ser que tal conhecimento venha a desestabilizar o meu governo...” O rei, então, entregou-se a elogios entusiasmados ao tecido que não havia.

O cerimonial do palácio determinou então que deveria haver uma grande festa para que todos vissem o rei em suas novas roupas. E todos ficaram sabendo que somente os inteligentes as veriam. A mídia, televisão e jornais, convidaram todos os cidadãos inteligentes a que comparecessem à solenidade.

No Dia da Pátria, a cidade engalanada, bandeiras por todos os lados, bandas de música, as ruas cheias, tocaram os clarins e ouviu-se uma voz pelos alto-falantes:

“Cidadãos do nosso país! Dentro de poucos instantes a sua inteligência será colocada à prova. O rei vai desfilar usando a roupa que só os inteligentes podem ver.”

Canhões dispararam uma salva de seis tiros. Ruflaram os tambores. Abriram-se os portões do palácio e o rei marchou vestido com a sua roupa nova.

Foi aquele oh! de espanto. Todos ficaram maravilhados. Como era linda a roupa do rei! Todos eram inteligentes.

No alto de uma árvore estava encarapitado um menino a quem não haviam explicado as propriedades mágicas da roupa do rei. Ele olhou, não viu roupa nenhuma, viu o rei pelado exibindo sua enorme barriga, suas nádegas murchas e vergonhas dependuradas. Ficou horrorizado e não se conteve. Deu um grito que a multidão inteira ouviu:

“O rei está pelado!”

Foi aquele espanto. Um silêncio profundo. E uma gargalhada mais ruidosa que a salva de artilharia. Todos gritavam enquanto riam: “ O rei está nu, o rei está nu...”

O rei tratou de tapar as vergonhas com as mãos e voltou correndo para dentro do palácio.

Quanto aos espertalhões, já estavam longe e haviam transferido os milhões que haviam ganho para um paraíso fiscal...”

Não foi bem assim que Hans Christian Andersen contou a estória. Eu introduzi uns floreados para torná-la mais atual. Agora vou contar a mesma estória com um fim diferente. Ela é em tudo igual à versão de Andersen, até o momento do grito do menino.

“O rei está pelado!

Foi aquele espanto. Um silêncio profundo. Seguido pelo grito enfurecido da multidão.

Menino louco! Menino burro! Não vê a roupa nova do rei! Está querendo desestabilizar o governo! É um subversivo, a serviço das elites!”

Com estas palavras agarraram o menino, colocaram-no numa camisa de força e o internaram num manicômio.

Moral da estória: Em terra de cego quem tem um olho não é rei. É doido.»


(Correio Popular, 11/09/2005)

http://www.rubemalves.com.br/oreinu.htm

quarta-feira, novembro 08, 2006

Congratulations America!

Parabéns América!
Finalmente abriste os olhos.
Mais vale tarde do que nunca!

terça-feira, novembro 07, 2006

Passou? Não passou, ficou! Passou mas ficou!

Pois foi. O concerto do Chico Buarque já passou. E como passou! Como tudo que é bom acaba rápido: um sorriso, uma volúpia, o Verão, a própria vida. Mas tudo isso fica a marcar o coração do mundo. Não faz mal que já tenha passado, mais haverá. Todos estes dias eu tenho ouvido o Chico, todos estes anos… e não é só uma questão de música. É também toda a poesia, toda a capacidade de dizer palavras que fazem todo o sentido, mesmo se o fogo gelou, mesmo se a neve ardia e que tudo não passasse de um outro sonho. Que pena não ter podido conhecer a pessoa na intimidade. Que bom teria sido ter conhecido de perto aquela pessoa! Como se pode ter tanta certeza que isso teria sido uma coisa boa? (Ai! Como eu confio na minha intuição!) Poder ouvir de perto o pulsar daquela voz cantando e escutar o sopro dos seus poemas…

As letras não são só letras, são poemas. Para mim, letras de músicas são poemas musicais.

Na verdade as minhas influências são principalmente poemas de músicas… poemas músicas, músicas poemas, sei lá. Para mim não há como os poemas do Chico, os poemas do Carlos Tê, os poemas do Zeca Afonso, do Vinicius, dos Pink Floyd, do Tom Waits e de outros tantos que não dá para referir aqui neste fragmento. Esses é que me formaram e ainda bem que toda a vida os posso escutar mesmo se alguns já partiram. Ah, e ainda bem que não me quero ver livre deles como se de mestres se tratassem. Aquilo ali não são mestres, aquilo ali são as palavras que eu sempre amarei ouvir, não tem passagem à História! Posso vir sempre a gostar de muitas outras, mas as palavras destes vou amar sempre. O meu coração é grande e o imaginário maior ainda.

Não, não sou o Kaos, sou a Kaótica, do género feminino, mas tenho a sorte de o conhecer de perto. O Kaos não merece isto de ser confundido comigo. O Kaos é o Kaos, inconfundivelmente melhor que qualquer kaotica que apareça por aqui!

A quem aconteceu gostar sempre da pessoa mesmo se ela está à distância? Mesmo sem saber mais dela, mesmo ficando o resto da vida sem a ver. Tem-se a certeza de que, se por acaso a voltamos a encontrar, nunca é por mero acaso, é sempre um encontro apenas adiado que estava para se dar a qualquer momento. Tanto que podia ser de ontem, como de há anos, no encontro beija-se e abraça-se essas pessoas como se sempre ali tivessem estado. Talvez mais ainda do que isso. Como se essas pessoas fossem as certas que passaram pela vida e que mesmo longe sempre estarão a ocupar um lugar muito importante, habitando uma espécie de lugar imaginário onde fosse possível viver com todas elas em simultâneo. Mas não é, e isso nota-se.

Mesmo nos blogs se criam afinidades e imagina-se como serão aquelas pessoas, qual o grau de afinidade que se procura estabelecer, até onde? Mantê-la real ou imaginária? Hoje em dia há a necessidade de uma espécie de protecção que vem ao encontro destas couraças que são os nossos blogs, pelo menos alguns deles. É possível amar toda a vida as palavras de alguém que as escreve, mesmo sem nunca conhecer esse alguém? Ou será que mais cedo ou mais tarde desponta mesmo uma vontade de conhecer e não bastam as palavras?

Casos há em que não adianta querer muito: por mais que gostasse de conhecer o Chico pessoalmente, jamais me jogaria aos seus pés para me dar a conhecer. Há coisas que têm que acontecer sem ninguém forçar, só acontecer, ou não.

Blog Widget by LinkWithin