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sexta-feira, abril 20, 2007

O que cabe e o que não cabe num poema


NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás,
a luz, o telefone,
a sonegação
do leite
da carne,
do pão.


O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome,
sua vida fechada
em arquivos.

Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras.

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Porque o poema senhores,
está fechado:
"não há vagas".

Só cabe no poema
o homem sem estômago,
a mulher de nuvens,
a fruta sem preço.
O poema senhores,
não fede,
nem cheira.

Ferreira Gullar
(página oficial)

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