segunda-feira, março 31, 2008

Puro veneno

Dedicado ao dito presidente da república que está com sintomas gripais


Se você está constipado

E ficou mal de repente

Porque não teve cuidado

Porque foi imprevidente

Para o mal cujo motivo

Está na chuva frio ou sol

Qual o melhor preventivo?

Formitrol! Formitrol! Formitrol!

Conselho à senhora sua esposa: Vá buscar a velha embalagem de Formitrol e traga o Racomin finja que fez confusão (todos vão acreditar!) e administre, adpresida, neste caso, o pozinho dissolvido em água. Vai ver que se livra da múmia com pompa e circunstância e nós mais depressa nos podíamos congratular. Assim não ficávamos todos outra vez à espera que o chefe de estado caísse de uma cadeira abensonhada. É que a história não tem que se repetir tal e qual. Já nos basta ver Portugal a acinzentar.

Ficamos à espera do último espirro.

domingo, março 30, 2008

Faz hoje 2 anos...

A pedido do amigo Marreta, e à laia de comemoração íntima, aqui vai (mais uma vez?) a história verídica do surgimento de O Pafúncio:

Numa das muitas manhãs em que bebia café com o meu pai, recebi um telefonema de alguém muito querido que me dizia: “Estou a criar-te um blogue. Como é que queres chamar-lhe?”

E eu assim meio à toa, de manhã estou sempre à toa no que respeita a imaginação, disse que sabia lá… Mas do outro lado a voz insistiu apressando-me.

A solução que encontrei foi pedir ao meu pai um nome para o blogue, ao que ele respondeu de imediato, “olha, chama-lhe Pafúncio!”

Pafúncio? Aquilo pareceu-me bem estranho, pensei até que era uma palavra inventada ali na altura, como às vezes acontecia. Que é isso de Pafúncio?

O Pafúncio, mais do que uma figura de Banda Desenhada, é na verdade este figurão, um novo rico mulherengo como tantos da nossa praça (ver aqui o post onde já se explicou quem é este Pafúncio). Na altura o meu pai explicou-me quem era O Pafúncio das bandas desenhadas do seu tempo, mas nunca nenhum de nós soube explicar porque surgiu ali aquela ideia na ponta da língua, nem por que foi logo tão bem acolhida por mim.

Nesse dia foi criado O Pafúncio, um blogue pessoal, caótico, livre-pensador, sem pretenções intelectualóides, um espaço onde todos são bem vindos e onde todas as opiniões são tomadas em consideração. Certo é que O Pafúncio não passa de uma figura menor no meio da alta blogosfera, mas isso para mim é o que menos importa porque o que conta é que têm vindo aqui poucos mas bons.

Já estive para desistir de O Pafúncio vezes sem conta. Mas agora então, depois que o meu pai faleceu, ele tornou-se para mim um elo de ligação difícil de quebrar. É como se fosse também um pouco dele, embora seja muito meu. Por isso O Pafúncio vai continuar a fazer por incomodar os pafúncios nossos contemporâneos que se enganarem na porta.

Quanto aos outros que aqui vêm frequentemente, nada têm de Pafúncio. Sabem que nem precisam de bater à porta, entram, comem, bebem, levam textos e imagens, partilham músicas, utopias possíveis e ânsias de mudar o mundo, a começar por este governo! A eles tenho dedicado as minhas madrugadas, mas nem por isso espero que me visitem assiduamente porque não lhes poderia garantir a retribuição. Na verdade O Pafúncio é um bicho muito ingrato, muito egoísta e pouco de fiar. Tem dias em que se perde de tal maneira por essa blogosfera fora que nem se lembra de si próprio, quanto mais de cumprir as suas obrigações sociais. Mas depois, como é coração mole, chega um dia em que se lembra de visitar os amigos e então lá vai ele batendo de porta em porta abraçando e beijando todo o mundo. Nesses dias desmedidos o pior são os comentários espatafúrdios que se lembra às vezes de deixar por aí! É que este Pafúncio é mesmo um desbocado!

DESABAFO, Ana Carolina

Dedicado ao Watchdog e à Pli

Quem ensinou os alunos a fazer abaixo-assinados?



Abaixo-Assinado (#11): queremos a professora de português fora da escola:

Destinatário: Estudantes

Nós queremos que a professora Maria Inês pare de dar aula na nossa escola(CEU CIDADE DUTRA),porque ja vai fazer 2 anos que ela ensina a mesma lição! Se ela não sair não entraremos mais na sala de aula, quando for aula dela!!! Obrigado(a)!

Dados adicionais:

Encontrei este abaixo-assinado por mero acaso no meio de tantos outros sob o tema da Educação. Fiquei a pensar que se fala muito pouco dos alunos quando se debate o Ensino e a Escola Pública. Chega-se a pensar que a escola só é feita de professores do Ministério da Educação. Chega um dia em que o ME apaga a luz e bate com a porta e o que restam são professores ao Deus-dará. Então e nos alunos, não se fala? Que opinião terão eles sobre as suas aulas? Que terão eles a dizer em relação aos professores, ao modo como funciona a escola, sobre as matérias que aprendem e da forma como querem que eles as aprendam. Já alguém se lembrou de perguntar aos alunos como quereriam eles que fosse a escola, o que gostariam de saber, de aprender a fazer, que interesses têm, se é que os têm.
Se o Pafúncio fosse um blogue muito visitados, já sei que teria aqui muitos professores dizendo em uníssono que o desinteresse é total e absoluto, que os pais são os que menos querem saber desde que os filhos vão passando, que já se matam a trabalhar e não querem ser amas secas nem palhaços de circo. Têm toda a razão, mas hoje, não sei porquê estou farta de professores. Farta de escutar sempre as mesmas queixas e depois vir a saber que toda a casta de decretos ministeriais ridículos e absurdos acabaram afinal por entrar nas escolas, sendo postos em prática por esses mesmos professores que sairam à rua justamente indignados a 8 de Março.
Desculpem, meus amigos, dizer que estou farta de professores. Estive a consultar a lista dos meus amigos e a maior parte deles são professores, não vi lá na lista um único ministro, um único deputado, nenhum provedor, nem bastonários. Mas tenho dois filhos na escola pública e estou habituada a deparar com as situações caricatas que de lá vêm. Por enquanto ainda os pais se vão dando conta mas já se anuncia o dia em que tudo estará sobre controlo. Os pais julgam que vão estar mais presentes mas como estão enganados. Na pior das hipóteses, terão lá representando-os algum Albino Almeida que lá estará para negociar a melhor forma de tirar proveito disso para si e para os seus. Se os pais não se organizarem em Associações de Pais que realmente se preocupem com a educação e com o estado do ensino, se não forem eles mesmos a se organizarem e a encontrar meios de poderem questionar os Conselhos Executivos do que se passa nas escolas, eles nunca vão saber realmente porque da parte dos professores ninguém virá alertá-los. O único veículo de comunicação ainda são os alunos. Não aqueles que nada dizem ou que sempre respondem que está tudo bem. Mas sim os chamados alunos problemáticos, aqueles que problematizam o ensino, que dizem que não gostam daquela escola, daquela professora, que sentem que estão a perder o seu tempo, que a escola é um lugar inóspito, que reclamam que os professores não os ouvem, que são caretas, que não se interessam por nada que venha da sua geração, dos seus gostos, dos seus interesses. Os pais pouco podem fazer em relação a isso, a não ser que se unam exigindo uma maior qualidade. Verdade seja dita que muitos professores já dão tudo por tudo mas, caros professores, quantos dos vossos colegas são assim, como essa professora que em dois anos deu sempre as mesmas aulas. Quantos conhecem assim, sem criatividade, sem empenho, sem psicologia, sem informação, sem conversa, sem capacidade de relacionar os acontecimentos, sem humor, sem capacidade crítica.
Que mau momento eu fui escolher para atacar os professores! Olhem que não é geral, é mesmo muito particular, como esse abaixo-assinado feito em relação a uma pessoa em particular, devidamente identificada. Não me levem a mal, mas de entre os meus amigos professores já ouvi tantos falar de gente assim que se move nas escolas. Coitados dos alunos!
Depois do video da miúda histérica que queria o telemóvel, andam todos a atacar alunos e pais (já antes os pais se tinham convertido na vítima preferencial, logo a seguir à Ministra e seus muchachos). Agora todos se voltam contra os alunos como se de um bando de delinquentes se tratasse. Todos virão defender que as crianças precisarão de ser contidas, disciplinadas, vigiadas e até mesmo policiadas. Adivinho que isso vai fazer um grande favor ao governo pois lhe dará os pretextos necessários para converter o que restar da escola pública (aquela que entretanto continuar sem ser total ou parcialmente privatizada), em grandes presídios de futuros trabalhadores precários instruídos de acordo com as exigências dos mercados económicos.

sábado, março 29, 2008

É ISSO AÍ

Uma versão magnífica de ANA CAROLINA E SEU JORGE

Fantástica esta campanha francesa contra a SIDA

virus da sida

Clique aqui para ver a campanha do governo francês contra a SIDA

Brilhante, sensual e com fotografia belíssima

Possivelmente impróprio para menores


sexta-feira, março 28, 2008

quarta-feira, março 26, 2008

181 anos sobre a data da morte de Beethoven


Recebido por mail


" (...) Beethoven viveu com grandes dificuldades, houve um momento em que pensou em suicídio, tentou sempre escapar às amarras da igreja, da aristocracia e dos (tantos, tantos) costumes, hábitos, preconceitos e tradições. Arriscou, arriscou tudo… para tentar perceber quem era… e para aí encontrar algo que pudesse dar, que pudesse levar «aos outros». Dizem que por vezes era rude, áspero, … como não poderia deixar de o ser?

Com um enorme coração e uma mente luminosa, viveu sem grandes condições, morreu pobre, incompreendido, quase surdo e só… mas, só aparentemente.

(lembrei-me… passam, amanhã, dia 26 de Março, 181 anos sobre a data da sua morte)

(...) " (Escrito por Abílio Oliveira em Aniversário )

E recomendo a leitura na íntegra do post supra citado. E deixo ... uma reunião poderosa, Glenn Gould interpretando o 1º andamento da Tempestade (para contrastar com a sugestão do meu querido amigo Abílio Oliveira)


Fonte: http://unconfined.wordpress.com/2008/03/25/aniversario/#comment-26


Termitofagias


Pobres sociedade em que as térmitas
se têm de pôr eternamente na ponta dos pés,
para mostrarem trabalho à sua insaciável Rainha.

Arrebenta

Uma associação de pais normalmente é constituída por pessoas que decidem intervir mais activamente na escola dos seus filhos. Quando não há problemas de maior, normalmente colabora com os orgãos escolares no sentido de organizar festas, angariar patrocínios e manter os pais informados sobre o que se passa na escola.

Mas uma associação de pais não se deve limitar a estas funções, também tem a função de participar mais activamente no projecto escolar, participando nos conselhos de escola/agrupamento e no conselho pedagógico, prestando depois aos pais as informações decorrentes.

Outras associações levam ainda mais longe o seu papel, sentindo a necessidade de se organizar no Movimento Associativo de Pais (MAP), no sentido de se manterem mais atentos e informados, podendo recorrer às estruturas do MAP para se esclarecerem sobre as leis, os direitos e os deveres.

Hoje em dia é difícil para os pais encontrarem tempo para se reunirem e tornou-se quase impossível os pais terem tempo para desenvolverem este tipo de actividades. Por isso nem sempre é possível formar uma associação de pais.

Com as novas legislações resultantes das políticas educativas, e com as mudanças que estas se propõem a causar na escola pública, torna-se impensável as associações de pais não esclarecerem os seus associados sobre o que se está a passar no ensino. Não o fazer é enfiar a cabeça na areia e ficar à espera que nada disto venha a trazer problemas num futuro muito próximo.

Quando uma associação de pais toma a iniciativa de informar os pais das novas leis e das suas consequências, logo surgem vozes que a acusam de estar a usar a associação de pais para fazer política. Mas nunca ninguém se queixa que o governo está a usar o Ministério da Educação para fazer política.

As pessoas fogem da política como o diabo da cruz. Provavelmente adquiriram tal asco aos políticos e à forma como estes fazem política que este termo adquiriu para a generalidade das pessoas um sentido sujo. As pessoas afastam-se naturalmente de tudo o que lhes cheire a política. E nem se apercebem que têm os pés enfiados nela e que lhes chega até ao pescoço, como um lodo do qual não podem escapar. Como Édipo fugindo do seu destino, quanto mais as pessoas se arredam da política mais a política vai no seu encalço.

As pessoas em geral fazem por ser cumpridoras e não se sentem atraídas por nada que as leve a pôr em causa. As pessoas gostam de confiar que tudo está em ordem e detestam tudo o que vier pôr em causa seja lá o que for. Desconfiam de tudo o que as possa transtornar. Por isso preferem não levantar ondas e aceitar a ordem vigente, comportando-se o mais possível como o resto do grupo, para não sairem fora do padrão.

Se alguém tenta alertar as pessoas para os perigos decorrentes de uma lei, as pessoas tendem a afastar-se e jamais acreditam na sua possibilidade de fazer cair uma por terra uma lei por mais absurda que seja. Para elas, as causas (aquelas que conhecem a palavra e o seu significado) estão fora de moda, são assunto de perdedores e hoje em dia as pessoas querem ser eternos vencedores, o que as leva a não porem nada em causa. Antes preferem adaptar-se e sobreviverem do que revoltar-se e lutar por aquilo em que acreditam.

Os dirigentes sabem disto e mostram-se confiantes: basta-lhes publicar as leis e esperar que sejam postas em prática sem reacções contra elas. Para isso contam com o apoio de todo um séquito que compactua com as ordens que vêm de cima sem as pôr jamais em causa. As pessoas são avaliadas de cima para baixo e para tal basta-lhes cumprirem as ordens que vêm de cima. Quanto mais prontamente as aplicarem sem fazerem perguntas e às vezes até mesmo dando-lhes o seu cunho pessoal ainda mais refinado, no caso de serem mais papistas que o Papa, melhor os seus superiores as avaliarão.

É por isso que corremos o risco de muitos dos Conselhos Executivos (que também serão avaliados, pelo ministério?) executarem prontamente as ordens da ministra, que por sua vez aplicará prontamente as ordens do primeiro-ministro, que por seu turno aplicará prontamente as directivas da união europeia, que por sua vez...

O que pode fazer uma associação de pais convicta de que sem a unidade dos pais e dos professores contra estas políticas a escola pública tem o seu fim anunciado? Como pode uma associação de pais dizer isto aos pais se eles não querem ouvir este tipo de discurso do desassossego, taxando-o imediatamente de "política"? Se mesmo os professores dos Conselhos Executivos cumprem e fazem os outros cumprir? E se no final os poucos que resistem ainda são olhados de lado, como gente que não se quer dar ao trabalho, como um bando de incumpridores que pagarão por não obedecerem à sinistra rainha?

Como serão olhados pelos outros pais os pais que ousem alertar, que se aliem aos professores em luta, que publicamente acusem estas políticas de serem responsáveis pela falta de interesse que os seus filhos mostram por esta escola que os desqualifica?




terça-feira, março 25, 2008

Abandono escolar dos pais não abona a favor dos filhos


Na escola dos meus filhos existe um professor que vai ser avaliado porque ele é contratado e a senhora ministra determinou que os contratados começariam este ano logo a ser sujeitos ao novo modelo de avaliação, aquela coisa complicada que para aí apareceu cuja estrutura já foi comparada aos mapas das linhas dos metropolitanos.

O professor é ainda novo e empenhado em apresentar um bom trabalho, além de que este projecto que ele fez, é o projecto em que ele está a trabalhar no seu seminário lá da faculdade.

O tema do projecto tem a ver com segurança na Internet e procura chegar a resultados partindo de inquéritos feitos aos alunos das turmas e aos seus encarregados de educação. Imagine-se um professor que para saber o que os jovens hoje procuram na Internet e também o que eles lá encontram, se traveste virtualmente numa menininha pré-adolescente. Criando uma nova identidade verosímil ele entra nos chats, nos Hi5s, estabelecendo contactos com outras pessoas. Logo o professor chega à conclusão que uma menina daquelas é uma presa fácil, recebendo convites para encontros nada virtuais e sendo assediada por meio de linguagens ou mesmo imagens obscenas.

Entretanto, o mesmo professor ouve um seu aluno falar-lhe de sites onde se ensina a fazer todo o tipo de explosivos caseiros e de um outro onde se ensina a cometer suicídio. O professor fica inseguro, alarmado, receando pelo equílibrio desse seu aluno, porque se preocupa com ele.

No seu projecto está previsto fazer também inquéritos aos pais. Afinal o resultado do estudo é para eles, são eles os principais interessados em salvaguardar e orientar os seus filhos. Mas o que acontece na realidade é que os pais não aparecem para preencher os inquéritos: estes estão disponíveis até na Internet ou mesmo na escola, mas os pais não os solicitam. O resultado é que agora o professor tem mais inquéritos de alunos do que de encarregados de educação. O interessante seria ter a correspondência entre o que uns fazem e entre o que os outros pensam que os seus filhos fazem, quando estão na Internet. Os dados saem pois desequilibrados, sobrando filhos para tão poucos pais. No entanto o professor prossegue o seu trabalho, adaptando-o às circunstâncias: em cada 5 alunos inquiridos, 1 admite já ter tido encontros com pessoas que conheceu através da Internet. Resultados dos pais: nenhum pai ou encarregado de educação tem conhecimento que os seus filhos já se tenham encontrado com pessoas que conheceram via Internet!

Estamos nitidamente perante um grave caso de falta de comunicação entre as gerações. O que é incentivado pelo local onde são colocados em casa os computadores: muitos destes jovens usam a Internet dentro dos seus quartos, sozinhos, sem a presença ou o interesse de qualquer familiar.

Também os professores se sentem sozinhos, abandonados à sua sorte nesta difícil tarefa de ensinar. Procuram a ajuda dos pais mas estes estão alheados, demasiado ocupados pelas suas próprias vidas, com muito pouco tempo para disponibilizar com educação dos seus filhos, com diminuta disponibilidade, grande cansaço e muita falta de atenção e de paciência. O facto dos filhos passarem tempo ocupados na Internet é para eles um descanso: como eles estão em casa, no quarto, pensam que estão quietos, a salvo, e que ali nada lhes poderá acontecer.

Entretanto o professor não sabe mais como alertar os pais para os perigos da Internet. Faz sessões de esclarecimento, apresenta os resultados mas ninguém o ouve, ou apenas muito poucos. Esses lhe agradecem o seu empenho e louvam o seu desempenho, mas são demasiadamente poucos os que o fazem. A maioria nem quer saber. Alguns preferem mesmo nem saber.

domingo, março 23, 2008

Ode Pagã (Dedicada à Renda)

                                         

Viver! - O corpo nu, a saltar, a correr
Numa praia deserta, ou rolando na areia,
Rolando, até ao mar… (que importa o que a alma anseia?)
Isto sim, é viver!

O Paraíso é nosso e está na terra. Nós
É que temos o olhar velado de incerteza;
E julgamos ouvir a voz da Natureza
Ouvindo a nossa voz.

Ilusões! O triunfo, o amor, a poesia…
Não merecem, sequer, um dia à beira-mar
Vivido plenamente, - a sorver, a beijar
O vento e a maresia.

Viver é estar assim, a fronte ao céu erguida,
Os membros livres, as narinas dilatadas;
Com toda a Natureza, em espírito, as mãos dadas
- O resto não é vida.

Que venha, pois, a brisa e me trespasse a pele,
Para melhor poder compreendê-Ia e amá-Ia!
Que a voz do mar me chame e ouvindo a sua fala,
Eu vá e seja dele!

Que o Sol penetre bem na minha carne e a deixe
Queimada para sempre! As ondas, uma a uma,
Rebentem no meu corpo e eu fique, ébrio de espuma,
Contente como um peixe!


Carlos Queiroz
in Desaparecido
Breve Tratado de Não-Versificação
Edições Ática
1984

O ovo de Páscoa ou a ressurreição?

A Páscoa é uma coisa velha e nós podemos hesitar entre o ovo gigante e a pequena caixa de bombons sem nos lembrarmos do verdadeiro significado desta festa religiosa. Senão vejamos: Cristo foi crucificado pelos romanos e morreu numa sexta-feira a que chamamos de Paixão. Que paixão seria esta? A paixão de Cristo pelos homens? Dizem que morreu na cruz para nos salvar… mas para nos salvar de quê? Dos nossos pecados?

Quem contou depois a história decidiu que a morte deste homem, auto-proclamado “filho de Deus”, não era só por si suficiente para fundar uma religião. Por isso ele teve que ser ressuscitado, ou seja, o seu corpo desapareceu, segundo consta, e houve depois disso quem o visse, tendo os apóstolos decidido espalhar a notícia. Este prodígio foi considerado por todos os que tomaram conhecimentos dele um verdadeiro milagre, o milagre da ressurreição. Dá ideia que foi aliás este episódio que verdadeiramente fundou esta religião porque até ao momento da ressurreição só uma pequena minoria que o conheceu de perto considerava Cristo um ser divino, por aquilo que ele dizia e também pela forma como se dizia que multiplicava e dividia o pão. Foi preciso que se espalhasse a ideia de que Cristo tinha ressuscitado para que surgissem mais crentes na sua palavra, o que é uma coisa extraordinária, pois se tivessem acreditado logo que ele era filho de Deus, não lhe teriam exigido passar antes por toda essa provação até finalmente acreditarem nele. Ou seja, houve mais pessoas a acreditar num fantasma do que num homem, o que para a época não era de estranhar. Quem já alguma vez leu hagiografias sabe que os santos andavam sempre a alucinar: tinham visões e viam aparições. Nesses tempos a vida não era fácil, não havia televisão mas os homens já eram dotados de imaginação e, dizem que a barriga vazia e o sofrimento físico podem potenciar perturbações psíquicas.

Quando Cristo perguntou no auge do seu sofrimento “Pai, porquê eu?”, não sabia já de antemão que tinha sido o eleito e com que finalidade? Terá sido esta pergunta realmente ouvida sair da boca de Cristo pelos que assistiam ao sacrifício ou terá sido algo mais que acrescentaram depois à história, para dar apenas mais um toque ao lado humano de Cristo? Ou terão estas palavras escapado às sucessivas censuras eclesiásticas, não se tendo nenhuma delas apercebido o quanto esta interrogação feita por Cristo (serão talvez estas as suas últimas palavras!) pudesse vir a pôr em causa a sua fé incondicional de que aquela seria a melhor forma de fazer passar a mensagem divina aos homens de boa vontade.

Quando ainda hoje repetimos “Porquê eu?” estamos a dizer qualquer coisa como: “porra, por que é que hei-de ser eu a fazer este papel?” ou “epá, escolham outro!”. E não saímos por aí a dar a outra face e, por muito que nos prometam vida eterna, não saímos por aí a provocar desacatos para nos arranjarem uma cruz qualquer para carregarmos, nem morrermos de paixão pela humanidade. Na verdade nunca houve cristãos porque os que dizem que o são, não se comportam como Cristo, longe deles imitarem o modelo. Cristo deve ter existido. E se por ventura ressuscitou e pode ainda hoje ver a sua obra, a cristandade que se gerou a partir dele, deve estar muito decepcionado com a interpretação que fizeram da sua história. Se, como homem que era, sofreu os horrores da cruz deve lamentar ainda ter julgado que o exemplo do seu sofrimento serviria para melhorar os homens, ainda que se lhe acrescentasse a ideia de uma recompensa no momento da ressurreição.

Até hoje nunca mais ninguém viu ninguém ressuscitando, a não ser aquele episódio que me contaram no outro dia de uma velha que acordou quando a família a velava. Uma complicação. A certidão já passada, o filho sem posses gastou uma dinheirama para vir de França assistir ao velório e no fim de contas a mulher acorda e logo ali, dentro do caixão já pago, para deixar toda a gente encavacada. Não se faz. A modernidade não lida bem com a ressurreição.

Contra tudo e contra todos, o melhor é permanecer vivo e poder escolher um metafísico ovo de Páscoa.

sábado, março 22, 2008

Novo modelo de gestão, algures, num futuro demasiado próximo...

Gabinete da senhora Directora do Agrupamento de Escolas de Piafino
(ex-presidenta do CE)

(Com um dos tentáculos pegando num telemóvel)
- Sim, senhora ministra, com certeza que está tudo a andar, senhora ministra.
(Com outro tentáculo prime uma campainha chamando a esfregona sua adjunta)
TRIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Ouve-se soar a campainha na porta do lado. Logo aparece uma professora de lenço ao pescoço batendo à porta antes de entrar.
- Posso, senhora directora?
- (ainda ao telefone) Também desejo uma boa Páscoa, senhora ministra, e pode ficar descansada que por aqui vai tudo de vento em popa. Estimo as melhoras do seu caniche.
- (Desligando) Ó fulana de tal vê lá se já vieram todas para darmos início à reunião. Temos que ter estas coisas todas a funcionar quando os delinquen..., digo, os alunos voltarem de férias! Ah, anota aí uma ideia que eu tive para eu levar à próxima reunião com a senhora ministra: esta coisa dos miúdos irem de férias na Páscoa é para acabar. Vamos propôr que fiquem na escola a fazer a limpeza das matas por causa de os sensibilizar para os incêndios do Verão, o nosso espaço está uma selva, temos que aproveitar, assim poupamos dinheiro no jardineiro e a nossa escola será melhor avaliada do que nunca.
- A professora de música não pode vir hoje, telefonou a dizer que está de cama por ter ido desentupir o algeroz da sala 23. Diz que tem uma forte dor na bacia e que vai ao hospital.
- Essa é uma lerda... quando for a avaliação é que ela vai ver como lhe doem...
Com outro tentáculo procura desesperadamente na mala uma barrita energética mas, sem êxito, atira com outro tentáculo um murro bem assente na secretária.
- Rai's parta a isto, agora como vou ter genica suficiente para convencer toda a gente que está a avaliar por baixo e que é preciso avaliar por cima: aqui a avalição dos alunos tem que ser exemplar, preciso de números que encham o olho do Ministério. Não venha lá aquele poltrão do Braga dizer que fez o que podia e que o insucesso das turmas já está nos mínimos. Vais ter que me ajudar a convencê-lo que é melhor para ele que desça o insucesso das turmas em pelo menos mais 10% do que ele traz. Esse tipo é sempre o mesmo, tem a mania que é professor, o professorzeco, que nem titular é! Já convocaste as bestas dos pais para as reuniões com os directores de turma? Lá temos nós que gramar essa cambada aqui dentro da escola a meter o nariz em tudo!
- Acalma-te, olha, queres que te humedessa os tentáculos? Costumas ficar mais relaxada.
- Não! Mas podes deitar-te no chão para eu passar. E fico contente que te tenhas hoje vestido de vermelho pois é um dia importante! Marche prá reunião!



sexta-feira, março 21, 2008

Sexta-feira de Paixão!


«Na rua, muitos cavalheiros com gravatas pretas fuzilam com olhares coléricos a minha herética gravata encarnada.»
(pai)

A Escola dos famosos I

Hoje em dia o que está a dar é ser famoso. Ora como pode um aluno comum da Escola Pública, um entre muitos, todos em busca da fama, tornar-se famoso, ser digno da admiração dos colegas, fazer-se respeitar? Para tal ele recorrerá a todos os métodos, observando primeiro atentamente o que se passa à sua volta, quem vai às televisões, de quem se fala, quem são as figuras que geram maior polémica, quais os colunáveis. Copiando os modelos, ele começa então a dizer asneiras como os políticos, seus "actores" favoritos (Alberto João Jardim, Berlusconni, Sarkozy); a desprezar os professores ao modo do Miguel Sousa Tavares, do Emídio Rangel e da própria ministra; a mentir à descarada como um Bush, um Paulo Portas ou um Sócrates; a dar-se ares do que não se é como um Paulo Pedroso, um Albino Almeida ou um Cavaco Silva e a aproveitar a ocasião (a ocasião faz o ladrão) como uma Fátima Felgueiras, um Valentim Loureiro ou um Isaltino Morais. Reunido todo este manancial, resta-lhe encontrar um estilo próprio, de gingão mal-educado, enfiar um carapuço e não falar com ninguém para não deixar escapar entre dentes tamanha ignorância, a não ser para dizer asneiras. O telemóvel é-lhe um objecto indispensável pois só por aí se poderá expressar dando erros deliberados, filmando cenas porcas, usando e abusando da calculadora e escondendo a sua pobreza franciscana atrás da marca e do visual.
Os professores destes meninos tendem a culpar os pais e nunca todo o sistema da sociedade. Chamam-lhes destruturados, referindo-se à falta de estruturas da família. E não se apercebem que eles próprios estão destruturados, fragilizados por esse mesmo sistema que preferem ignorar.
Senhores professores: para quando uma aula que nos venha elucidar que tudo isto não passam de efeitos? Quando veremos esta classe de gente informada, mostrando que é realmente informada, lúcida e consciente, apontar o dedo às verdadeiras causas do caos em que se vem tornando a educação?

Video edificante de uma sala de aula nossa contemporânea

Isto que vou dizer, vindo de quem vem,uma mãe, soa muito mal, mas aqui vai: a cena é absolutamente lamentável: a miúda às tantas está com um ataque de parvoeira adolescente e entra em histeria, mas a professora não é melhor, que me perdoem os fanáticos defensores incondicionais - se havia de manter a sua postura, entra na onda da pequena e começam as duas a puxar pelo TM - triste ícone desta tragicomédia. Se a prof. tivesse um pingo de bom senso, largava o telelé e ia lá fora tratar de chamar os pais da princesa. Para a turma, claro aquilo foi só cortir. A mãe da piquena também entrou a matar (a histeria não é hereditária?) e os media hão-de acabar por fazer o resto: amanhã já um pasquim foi falar com a moça que se vai sentir uma espécie de Zé Maria da sala de aula, vai ser famosa que é o que eles hoje querem, graças aos edificantes programas da TV. Ruído, só ruído para abafar o essencial que é a luta que os professores continuam a travar. Videos destes deve haver milhentos: até a minha filha de 11 anos contou logo que lá na sala já se assistiu a algo parecido! (ver aqui o video)

quinta-feira, março 20, 2008

Primavera

Cézanne, Printemps

«A Primavera chegou (...)! Fui esperá-la ao cais e ofereci-lhe um poema.»

(pai)

Podemos acreditar no elogio da sobriedade de um bêbado?

Timeline (1865 - 1939)

William Butler Yeats

A Drunken Man's Praise of Sobriety

Come swish around, my pretty punk,
And keep me dancing still
That I may stay a sober man
Although I drink my fill.

Sobriety is a jewel
That I do much adore;
And therefore keep me dancing
Though drunkards lie and snore.
O mind your feet, O mind your feet,
Keep dancing like a wave,
And under every dancer
A dead man in his grave.
No ups and downs, my pretty,
A mermaid, not a punk;
A drunkard is a dead man,
And all dead men are drunk.

terça-feira, março 18, 2008

Marc Chagal - Birthday

segunda-feira, março 17, 2008

Carta aberta aos encarregados de educação

Esta Carta Aberta aos Encarregados de Educação resultou da reunião de 15/03/2008 organizada por iniciativa da Comissão de Defesa da Escola Pública (CDEP) em Algés e tem por finalidade ser entregue pelos professores aos pais, aproveitando o momento das reuniões da avaliação do 2º. período, devendo também ser divulgada por associações de pais junto dos seus associados, dos pais e dos encarregados de educação. A sua atempada divulgação junto dos professores, educadores e cidadãos é extremamente importante pois quanto mais cedo chegar aos seus destinatários, mais depressa as consciências serão despertadas e alertadas para os perigos em que incorre hoje a Escola Pública. Só em unidade e em plena consciência será possível detê-los!


Carta aberta aos encarregados de educação

Os professores e educadores estão em luta pela defesa da Escola Pública!

Neste momento delicado do ano escolar, quando a actividade lectiva está em pleno, quando decorre um processo de avaliação dos alunos em que a máxima serenidade deveria pontuar, os professores e educadores estão profundamente inquietos com o futuro da Escola Pública.

O Governo e os meios de Comunicação Social querem fazer crer à opinião pública que as recentes manifestações de professores e educadores visam reivindicações laborais egoístas e, muito concretamente, que os professores se recusam a ser avaliados.

TAL NÃO CORRESPONDE À VERDADE!

Efectivamente, os professores sempre têm sido avaliados: avaliados pelas provas prestadas, pelo trabalho diariamente desenvolvido e pelos resultados obtidos ; avaliados pelas acções de formação permanente que frequentam e as provas a que aí se sujeitam ; avaliados pelos colegas, pelos funcionários, pelas direcções das escolas e pelos serviços de inspecção do Ministério da Educação ; avaliados, ainda, pelos encarregados de educação que, em permanência, podem acompanhar a actividade desenvolvida pela escola junto dos seus educandos.

Para compreendermos a actual situação é necessário perceber que, mais do que um direito à educação e à instrução, a Escola Pública é um dever que envolve o Estado e os cidadãos.

O Estado tem, por esse motivo, a pesada obrigação de promover e manter uma Escola Pública com o máximo de ambição e qualidade. Por sua vez, os cidadãos – obrigados que são a frequentar a escola – têm todo o direito de exigir do Estado uma Escola onde as novas gerações possam beneficiar de uma vasta e segura formação que as capacite para o exercício pleno de uma vida adulta em sociedade.

Como profissionais do ensino – além de encarregados de educação e de cidadãos atentos que também são – os professores apercebem-se, em primeira linha, dos principais problemas que afectam a Escola e, desde sempre, têm vindo a alertar o Ministério para o tipo de mudanças que julgam ser as mais necessárias. O Ministério da Educação, para além de não ouvir os professores, tem vindo a pôr em prática, desde há muito, reformas que, apesar de terem alterado substancialmente a vida das escolas, nunca foram devidamente avaliadas.

Além disso, de há três anos para cá, o Ministério da Educação, confrontado com os fracos resultados obtidos pelos alunos, em comparação com os de outros países – e numa lógica baseada no cumprimento da agenda de Lisboa e dos prazos impostos pela União Europeia (2013) – achou por bem atribuir aos professores a responsabilidade pelo grave estado da educação em Portugal. É nesta linha que se insere uma avaliação do desempenho burocrática, penalizadora e hipócrita que apenas impede a progressão na carreira. O seu objectivo não é o verdadeiro sucesso escolar dos alunos, mas apenas produzir boas estatísticas em termos internacionais.

Estas medidas integram-se ainda num plano de contenção de despesas (encerramento de escolas, transferências de responsabilidades de gestão para os Municípios, medidas contra o ensino especial, etc.) de que só pode resultar a degradação da escola pública. As leis aprovadas (o Estatuto da Carreira Docente, o novo Estatuto do Aluno, as alterações ao regime do Ensino Especial, a alteração do modelo de gestão das escolas, o recurso a empresas para o fornecimento, em regime de trabalho precário, de monitores das Actividades de Enriquecimento Curricular no 1º Ciclo, a Escola a Tempo Inteiro, o programa Novas Oportunidades) apontam para a preparação de indivíduos para o mercado de trabalho precário, submissos e conformados a uma sociedade não democrática.

Os professores estão hoje unidos em defesa da Escola Pública, a única escola que, efectivamente, pode formar cidadãos emancipados e à qual todos, ricos ou pobres, têm garantido o acesso.

Apelamos assim aos encarregados de educação que juntem a sua voz à nossa para que, conjuntamente, saibamos definir os caminhos que levem à concretização de uma melhor escola para todos.


Esta carta aberta foi elaborada numa reunião de professores, educadores e encarregados de educação, realizada por iniciativa da Comissão de Defesa da Escola Pública, no passado dia 15 de Março, em Algés.


(retirado daqui)

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO É UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

"Até na educação o Brasil é o nosso país irmão"

sábado, março 15, 2008

125 anos da morte de Karl Marx, muito mais vivo que morto!

clicar na imagem para ler


Uma ideia torna-se uma força material
quando ganha as massas organizadas.

Karl Marx

quinta-feira, março 13, 2008

Escola de Pais - 2ª Sessão


A Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Agrupamento de Escolas de Mafra, no âmbito da acção de formação continuada para os Pais e Educadores – ESCOLA DE PAIS - vai promover a realização da 2ª Sessão com a temática:

"UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL PARA CRESCER…"

No próximo dia 14 de Março, pelas 21.00 horas, no Auditório D. Pedro V, junto à Biblioteca Municipal de Mafra, vamos contar com a presença dos seguintes oradores:

ü Eng.ª Liliana Lima, da empresa Eurest (empresa fornecedora de alimentação nos JI e EB1)

"A importância de uma alimentação saudável no meio escolar…"

ü Dr.ª Ana Perdigão, Nutricionista da Nestlé Portugal

"A "nova" roda dos alimentos e os "novos" valores nutricionais."

ü Prof. Dr. Paulo Oom, Pediatra no Hospital Stª Maria (Lisboa)

"Obesidade: Epidemia do Século XXI"

ü Dr.ª Elsa Feliciano, do Departamento de Saúde Pública da ARS–Lisboa

"Regras para uma alimentação saudável…"


A APaisMafra gostaria de poder contar novamente com v/ presença neste evento e agradece a máxima divulgação que possam ceder a esta iniciativa.



quarta-feira, março 12, 2008

Marcha da Indignação manifestação de professores

Por que será que ainda me sinto indignada?!

Lutamos com Monstros!

Imagem do KAOS

Avaliação de desempenho dos professores

Ministério da Educação aberto a recuar em casos pontuais

O secretário de Estado, Jorge Pedreira, diz que a reunião desta terça-feira, com a Fenprof, correu de forma «inesperada, mas positiva». À saída, Pedreira admitia o adiamento da avaliação de professores em algumas escolas, enquanto Mário Nogueira não escondia a satisfação por ter visto «uma luz ao fundo do túnel»

(ler tudo no
Sol)

«Quem luta com monstros deve velar por que , ao fazê-lo, se não transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para dentro de um abismo, o abismo também olha para dentro de ti."

Nietzsche, Para Além do Bem e do Mal

sábado, março 08, 2008

Mensagem de uma mãe para uma professora...


Olá A.

Claro que também vou lá estar, pelo futuro digno dos meus filhos, por uma escola pública gratuita e equitativa, por um ensino de qualidade, pelo crédito que me merecem muitos professores (outros não são verdadeiramente professores, como há pais que não são verdadeiramente pais), pela defesa da nação contra as políticas educativas e as leis economicistas e destruidoras da res publica, contra todos os ministros de todos os governos que queiram impor à força as directivas da União Europeia em nome do cumprimento obstinado do défice e do favorecimento da privatização em detrimento do bem comum.
Por tudo isto vou lá estar como mãe, pelos meus filhos e pelos professores dos meus filhos, contra Albinos e sinistras ministras, em unidade com os verdadeiros intervenientes no processo educativo: alunos e professores, em defesa da escola pública. Obrigada pelo apoio. Como representante dos pais levei o vosso documento aprovado em CP ao CP da escola dos meus filhos. Como presidente da associação de pais levei o vosso documento à Assembleia-geral para dar a conhecer aos pais as razões da vossa inquietação (razões que também são dos pais). Em ambos os lados acolhi fraca participação, mas fiz o que estava ao meu alcance e continuarei sempre a fazer. Amanhã vai ser a grande manifestação da nossa indignação comum.

Um abraço


(estarei junto ao monumento ao 25 de Abril no cimo do Parque Eduardo VII a partir das 14.00 ou, se houver desencontros, em frente à Livraria do DN, no Rossio, pelas 16h)

quarta-feira, março 05, 2008

terça-feira, março 04, 2008

Texto de Ana Benavente


1.
Não sou certamente a única socialista descontente com
os tempos que vivemos e com o actual governo. Não
pertenço a qualquer estrutura nacional e, na secção em
que estou inscrita, não reconheço competência à sua
presidência para aí debater, discutir, reflectir,
apresentar propostas. Seria um mero ritual.

Em política não há divórcios. Há afastamentos. Não me
revejo neste partido calado e reverente que não tem,
segundo os jornais, uma única pergunta a fazer ao
secretário-geral na última comissão política. Uma
parte dos seus actuais dirigentes são tão socialistas
como qualquer neoliberal; outra parte outrora ocupada
com o debate político e com a acção, ficou esmagada
por mais de um milhão de votos nas últimas
presidenciais e, sem saber que fazer com tal
abundância, continuou na sua individualidade
privilegiada. Outra parte, enfim, recebendo mais ou
menos migalhas do poder, sente que ganhou uma maioria
absoluta e considera, portanto, que só tem que ouvir
os cidadãos (perdão, os eleitores ou os consumidores,
como queiram) no final do mandato.

Umas raríssimas vozes (raras, mesmo) vão ocasionando
críticas ocasionais.

2.
Para resolver o défice das contas públicas teria sido
necessário adoptar as políticas económicas e sociais e
a atitude governativa fechada e arrogante que temos
vivido? Teria sido necessário pôr os professores de
joelhos num pelourinho? Impor um estatuto baseado
apenas nos últimos sete anos de carreira? Foi o que
aconteceu com os "titulares" e "não titulares", uma
nova casta que ainda não tinha sido inventada até
hoje. E premiar "o melhor" professor ou professora?
Não é verdade que "ninguém é professor sozinho" e que
são necessárias equipas de docentes coesas e
competentes, com metas claras, com estratégias bem
definidas para alcançar o sucesso (a saber, a
aprendizagem efectiva dos alunos)?

Teria sido necessário aumentar as diferenças entre
ricos e pobres? Criar mais desemprego? Enviar a GNR
contra grevistas no seu direito constitucional?
Penalizar as pequenas reformas com impostos? Criar
tanto desacerto na justiça? Confirmar aqueles velhos
mitos de que "quem paga é sempre o mais pequeno"?
Continuar a ser preciso "apanhar" uma consulta e, não,
"marcar" uma consulta? Ouvir o senhor ministro das
Finanças (os exemplos são tantos que é difícil
escolher um, de um homem reservado, aliás) afirmar que
"nós não entramos nesses jogos", sendo os tais "jogos"
as negociações salariais e de condições de trabalho
entre Governo e sindicatos. Um "jogo"? Pensava eu que
era um mecanismo de regulação que fazia parte dos
regimes democráticos.

3.
Na sua presidência europeia (são seis meses, não se
esqueça), o senhor primeiro-ministro mostra-se
eufórico e diz que somos um país feliz. Será? Será que
vivemos a Europa como um assunto para especialistas
europeus ou como uma questão que nos diz respeito a
todos? Que sabemos nós desta presidência? Que se fazem
muitas reuniões, conferências e declarações, cujos
vagos conteúdos escapam ao comum dos mortais. O que é
afinal o Tratado de Lisboa? Como se estrutura o poder
na Europa? Quais os centros de decisão? Que novas
cidadanias? Porque nos continuamos a afastar dos
recém-chegados e dos antigos membros da Europa? Porque
ocupamos sempre (nas estatísticas de salários, de
poder de compra, na qualidade das prestações dos
serviços públicos, no pessimismo quanto ao futuro,
etc., etc.) os piores lugares?

Porque temos tantos milhares de portugueses a viver no
limiar da pobreza? Que bom seria se o senhor
primeiro-ministro pudesse explicar, com palavras
simples, a importância do Tratado de Lisboa para o
bem-estar individual e colectivo dos cidadãos
portugueses, económica, social e civicamente.

4.
Quando os debates da Assembleia da República são
traduzidos em termos futebolísticos, fico muito
preocupada. A propósito do Orçamento do Estado para
2008, ouviu-se: "Quem ganha? Quem perde? que
espectáculo!". "No primeiro debate perdi", dizia o
actual líder do grupo parlamentar do PSD "mas no
segundo ganhei" (mais ou menos assim). "Devolvam os
bilhetes...", acrescentava outro líder, este de
esquerda. E o país, onde fica? Que informação
asseguram os deputados aos seus eleitores? De todos os
partidos, aliás. Obrigada à TV Parlamento; só é pena
ser tão maçadora. Órgão cujo presidente é eleito na
Assembleia, o Conselho Nacional de Educação festeja 20
anos de existência. Criado como um órgão de
participação crítica quanto às políticas educativas,
os seus pareceres têm-se tornado cada vez mais raros.
Para mim, que trabalho em educação, parece-me cada vez
mais o palácio da bela adormecida (a bela é a
participação democrática, claro). E que dizer do
orçamento para a cultura, que se torna ainda menos
relevante? É assim que se investe "nas pessoas" ou o
PS já não considera que "as pessoas estão primeiro"?

5.
Sinto-me num país tristonho e cabisbaixo, com o PS a
substituir as políticas eventuais do PSD (que não
sabe, por isso, para que lado se virar). Quanto mais
circo, menos pão. Diante dos espectáculos oficiais bem
orquestrados que a TV mostra, dos anúncios de um
bem-estar sem fim que um dia virá (quanto
sebastianismo!), apetece-me muitas vezes dizer: "Aqui
há palhaços". E os palhaços somos nós. As únicas
críticas sistemáticas às agressões quotidianas à
liberdade de expressão são as do Gato Fedorento. Já
agora, ficava tão bem a um governo do PS acabar com os
abusos da EDP, empresa pública, que manda o "homem do
alicate" cortar a luz se o cidadão se atrasa uns dias
no seu pagamento, consumidor regular e cumpridor...
Quando há avarias, nós cortamos-lhes o quê? Somos
cidadãos castigados!

O país cansa! Os partidos são necessários à democracia
mas temos que ser mais exigentes.

Movimentos cívicos...procuram-se (já há alguns, são
precisos mais). As anedotas e brincadeiras com o "olhe
que agora é perigoso criticar o primeiro-ministro" não
me fazem rir. Pela liberdade muitos deram a vida. Pela
liberdade muitos demos o nosso trabalho, a nossa
vontade, o nosso entusiasmo. Com certeza somos muitos
os que não gostamos de brincar com coisas tão sérias,
sobretudo com um governo do Partido Socialista.

Ana Benavente
Professora universitária, militante do PS
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