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quinta-feira, novembro 06, 2008

Estudantes na rua

Alunos de Caminha em protesto

[do JN de hoje]
Débora Felgueiras e Alexandra Cunha

Hoje, dia 5 de Novembro de 2008, os alunos de todo o país manifestaram-se contra o novo estatuto do aluno. Os alunos da capital puderam manifestar-se junto do Ministério, mas mesmo aqueles que se encontravam afastados geograficamente, uniram-se e lutaram também por um ensino que melhor os sirva.
Assim, no Norte, mais concretamente em Caminha, a Associação de Estudantes da Escola EB 2,3/S de Caminha, organizou uma manifestação. A escola foi encerrada pelos membros da Associação de Estudantes, e pelas 8 horas 30 minutos da manhã já se ouviam os protestos dos alunos indignados com as novas políticas implementadas pela Ministra da Educação, Drª Maria de Lurdes Rodrigues: “Ministra para a rua, a luta continua”, “Não à privatização do ensino” e “Queremos professores, não burocratas”.
Após uma incursão da GNR de Caminha algo imprópria, uma vez que esta força se revelou demasiado agressiva para aquele grupo de estudantes, a escola foi aberta. Contudo os alunos recusaram-se a entrar, de modo a continuarem o seu protesto. Desta forma, a adesão foi total por parte do secundário, e quase total quanto aos alunos do ensino básico.Justificar
Para que o protesto tivesse maior impacto e fosse ouvido, conduzidos pelo Presidente da Associação de Estudantes, Miguel Ramalhosa, o grupo dirigiu-se até à Câmara Municipal, entoando as suas reivindicações pelas ruas da vila. Foi com muito esforço que este protesto foi avante e, com muita esperança de que os seus apelos sejam ouvidos, pois, de facto, apenas lutam pelos seus interesses: uma educação digna, sem constantes obstáculos.
Deste modo, sendo a educação um factor de emancipação do ser humano e a base do desenvolvimento das sociedades, deveria hoje ser garantida pelo Estado, tal como prevê a Constituição da República, de forma pública, gratuita, de qualidade para todos e democrática. Porém, não é isto que os estudantes portugueses têm assistido: as medidas dos últimos Governos são gravosas e excluem os estudantes, constituindo um ataque feroz à democracia nas escolas e à escola pública desde o 25 de Abril.
Os alunos portugueses estão, portanto, unidos numa causa que lhes é comum: a demissão da MINISTRA DA EDUCAÇÃO!

(recebido por mail)

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"Faltar deixou de ser um direito" Disse o "merceeiro" a propósito da manifestação dos alunos...
Para este homem tudo foi ridículo na manifestação de estudantes e nas suas legítimas reclamações. Mas, se alguma coisa há nisto tudo que seja ridícula são as paletes e paletes de decretos que a equipa a que ele pertence tem mandado cá para fora, já para não falar dos próprios e das suas declarações!

2 comentários:
Bruno Taveira disse...

Boa Tarde!
Se os alunos se juntarem aos professores isto vai mesmo para frente...
Abraço.

Hurtiga disse...

Bruno,

E se os pais derem uma ajudinha ainda vai mais depressa!
:)


in A Sinistra Ministra

terça-feira, outubro 28, 2008

Parece que a Mariastella Gelmini é um Obama de saias

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Ministra da Educação da Itália diz que sua política parece com propostas de Obama

Plantão | Publicada em 27/10/2008 às 14h47m
O Globo

RIO - A ministra da Educação da Itália, Mariastella Gelmini, declarou que "aqueles que protestam" contra sua reforma de ensino, são "alguns milhares", enquanto "os estudantes na Itália somam nove milhões" e "as faculdades ocupadas são pouquíssimas". Em entrevista ao jornal "Corriere della Sera", a ministra disse que na educação seu modelo é o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama. "Ele está propondo para a escola americana medidas semelhantes às nossas. Destaco ainda os incentivos por mérito para os professores", disse Gelmini.

(ANSA)

terça-feira, outubro 14, 2008

In Memoriam


Numa altura em que, mais do que nunca, é preciso alertar pais, alunos e população para o estado de coisas que se vive na educação, alguém atento lembrou este excerto da entrevista de Medina Carreira à Sic em Julho passado:

JGF - Mas na educação há, pelo menos, a avaliação dos professores…

MC – Mas você acredita nisso?

JGF – Pelo menos, oficialmente, está aprovada….

MC - Oiça, eu nem quero falar da educação, porque as crianças, os jovens de hoje, eles não perceberam que se deviam revoltar contra os políticos. Os políticos estão a hipotecar o futuro deles.

(…) A ministra não percebeu o que estava a fazer, porque ela quis pôr os professores na ordem mantendo os alunos indisciplinados (…) A primeira coisa era pôr ordem nas aulas.

Se os pais tivessem a noção do mal que estão a fazer aos filhos e se os filhos tivessem a noção da hipoteca que os políticos estão a lançar sobre eles no futuro - vão ficar uns ignorantes a maior parte dos casos - eles já tinham vindo para a rua protestar. Não eram os sindicatos, eram os meninos.

GF - O que o Sr. está a referir já não é um problema de governação ou de relação entre governados e governantes.

MC – É sobre quê?

GF - É mais vasto, é civilizacional… é da organização do país e da relação de civilidade entre as pessoas.

MC - Se você disser aos pais e aos meninos: "Bom, isto é civilizacional, somos todos uns selvagenzitos, não é para aprendermos coisa nenhuma, nem saber contar, nem escrever, nem falar, nem pensar , mas isto vai-lhes sair muito caro". Agora era dizer-lhes isso, não era dizer: eles são todos uns ignorantes mas os exames estão a dar melhores resultados com progressos brutais de um ano para o outro. Isto é tudo uma mentira, ninguém acredita. (...)

O problema é este: aqueles que precisavam de ser objecto de exigência e aprendizagem – que são aqueles das classes mais baixas – eles vão ficar tão preparados que serão de classes mais baixas amanhã e os seus filhos (de [GF] serão de uma classe média, como a minha filha é. É que nós estamos a manter esta estratificação exactamente não ensinando àqueles aos quais precisaríamos de exigir – porque aqueles que estão em baixo é que precisam de ser trazidos para cima. Não é dizer "Coitadinhos, não aprendam nada, vocês não têm culpa de nada, são uns desgraçadinhos…" Não, não, esses é que têm de ser puxados, não são os seus filhos.

GF – E esses fariam o país progredir?

MC – Exactamente, esses é que precisam...

GF – E o sistema como está não os ajuda?

MC - Você não me obrigue a ser eu a interrogá-lo. Eu deixei de ensinar porque estava farto de ignorantes. Eles não sabiam falar, não sabiam escrever, erros uns a seguir aos outros… Aliás hoje alguns ministros têm dificuldade em articular, o vocabulário é escasso, a gaguez é imensa, há uns « supônhamos» que saem assim um bocadinho descuidados…Ninguém quer denunciar porque isto não é simpático, é melhor andarmo-nos a abraçar uns aos outros. Não vamos longe com esta falta de qualidade!

(recebido por mail)

domingo, maio 18, 2008

Onde se foram esconder os 100 000?

Foto daqui

Vejam aqui com os vossos próprios olhos o resultado da assinatura do memorando. Tão cedo sindicatos não poderão contar com o apoio dos que antes se manifestaram massivamente. Uns não vão porque estão demasiado ocupados a cumprir as leis contra as quais lutavam; outros porque não vêm nesta mobilização mais do que um cumprimento do calendário de festas dos sindicatos; outros porque, se já antes não contavam com os sindicatos para levar a sua luta até ao fim, agora vêm neles mais um aliado do ministério. Que sentido têm agora as palavras de ordem se foram eles que viabilizaram que o sinistro puzzle das políticas educativas continuasse inexoravelmente a ser construído peça por peça?

quarta-feira, maio 07, 2008

Há sempre alguém que resiste. Há sempre alguém que diz NÃO!


Pedido de demissão entregue ao Presidente da
Assembleia do Agrupamento Vertical de Escolas de Azeitão

Vai para três anos que, culminando um processo
democrático amplamente participado, tomou posse este
Conselho Executivo.
Assumimos, então, o compromisso de 'cumprir com
lealdade' as funções que nos eram confiadas, funções
que decorriam de um quadro legislativo bem diverso do
actual.
Neste exercício, democratizámos as relações
inter-pares, gerámos expectativas e esperanças,
fomentámos a iniciativa e a criatividade, quisemos
aprofundar a
relação pedagógica, libertando os professores de
tarefas menores, para benefício dos alunos.
Respeitando as pessoas e dignificando a Escola.
Porém, as regras mudaram a meio do jogo. É agora bem
diferente enquadramento legal que regula a nossa
acção.
Uma incontinência legislativa inexplicável minou e
desvirtuou os compromissos que assumíramos: não nos
propusemos asfixiar os professores em tarefas
burocráticas sem sentido, alheias ao objecto da sua
missão; não nos propusemos fragilizar o estatuto dos
profissionais da educação; não nos propusemos
submergir os docentes em relatórios, planos,
projectos, registos, sem que daí resultassem vantagens
ou benefícios para os alunos; nem nos propusemos
liquidar o espaço de participação democrática na
escola.
Com a actual publicação do Dec. Lei nº 75/2008
suprime-se tudo o que de
dinâmico, criativo e participado existia na gestão das
escolas.
A opção por um órgão unipessoal - o director, a sua
selecção num colégio eleitoral restrito, as nomeações
dos responsáveis pelos cargos de gestão intermédia
pelo director, são medidas que não têm em conta os
princípios de uma gestão assente na separação de
poderes entre os vários órgãos. Este diploma potencia
riscos de autocracia e não reconhece o primado da
pedagogia e do científico face ao administrativo.
Encerra uma lógica economicista e empresarial adversa
à verdadeira missão da escola.
Não valoriza nem reconhece a diversidade de opiniões e
a consequente construção de consensos como motores
privilegiados da mudança e da promoção de uma escola
de qualidade.
Não permite que a instituição escolar se constitua
como um espaço privilegiado de experiências de
cidadania.
Em suma, passados 34 anos sobre o 25 de Abril, o
modelo democrático de gestão chegou ao fim.
E aos órgãos democraticamente eleitos, convertidos em
comissão liquidatária, é 'encomendada' a tarefa de,
negando a sua própria
natureza, abrirem caminho a um ciclo de autoridade não
sufragada, de centralismo, e até de
governamentalização da vida das escolas.
Por considerar que o novo modelo de gestão atenta
contra valores e princípios que sempre defendi, e por
não querer associar-me à sua implementação, eu, Maria
Leonor Caldeira Duarte, apresento o pedido de
demissão do cargo de Vice-presidente do Conselho
Executivo do Agrupamento Vertical de Escolas de
Azeitão.

Com os melhores cumprimentos


Azeitão, 28 de Abril de 2008


Maria Leonor Duarte

sexta-feira, abril 04, 2008

Hoje estive aqui


Não sei se alguém se apercebeu mas ontem era impossível colocar imagens no meu blogue. De vez em quando lá surgem estas macacoas informáticas e não há nada a fazer senão esperar que tudo volte à normalidade. Hoje não estive por cá. Fui até Setúbal, a uma Assembleia pela Escola Pública. Os oradores eram uma sindicalista do SPGL, um sindicalista da FNE, a Cecília Honório do Movimento Escola Pública (organizador) e o António Castela da Ferlap (Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais), que nada tem a ver com "o pai dos pais", que esse é o senhor Albino Almeida que deve ter passado o dia mais ocupado a lamber as botas do PGR, outro tarado que se passou e que desatou hoje por aí a dizer que nas escolas há crianças de seis anos que levam armas para a escola a conselho dos papás. Ao que chegou a campanha para denegrir a Escola Pública. Cá em Portugal, como o povo é crédulo e emprenha pelos ouvidos bastará ouvir essas enormidades para dizer "Jesu, Jesu, ao que isto chegou, a Escola Pública está pejadinha de criminosos!" e então será fácil convencê-los a aceitar de bom grado o chequezinho que lhes permitirá com mais alguns sacrifícios, pôr o petiz na escola privada ou, caso ainda assim não tenham posses, a aceitar que a escola dos filhos seja vigiada, policiada e cadastrada, a bem do mesmo Deus, da mesma Pátria e da Nova Autoridade.
Hoje já é tarde para contar mais em pormenor o que por lá se disse na reunião, mas foi positivo ouvir a voz dos professores que falaram a partir do público. Saber que dentro das escolas ainda há muito quem resista e que fora delas os professores encontraram nos meios tecnológicos ao dispor, novos modos de estarem em contacto, o que lhes tem permitido uma certa rapidez de resposta às ofensivas e principalmente que os tem ajudado a se organizarem sem precisarem de ficar à espera que os sindicatos lhes dêem as respostas atempadas para reagirem nas escolas. Quanto à sindicalista, ainda me ri a bom rir, pois para o final só lhe vinham à ideia imagens do diabo. Compreende-se, visto que estas políticas parecem obra do demo, mas para mim que não acredito nem em Deus nem no Diabo a não ser enquanto criações da imaginação do ser humano, atribuo-as a causas mais terrenas: as políticas educativas que estão a destruir as bases da Escola Pública (e não só) são da responsabilidade da União Europeia e das políticas económicas do capitalismo global. Este governo, esta ministra, este ministério são apenas uns paus mandados. Outros que lá estivessem haveriam de obedecer às mesmas ordens. Mas isto nunca se ouve ninguém a dizer. Ou quase ninguém.

quarta-feira, março 26, 2008

Termitofagias


Pobres sociedade em que as térmitas
se têm de pôr eternamente na ponta dos pés,
para mostrarem trabalho à sua insaciável Rainha.

Arrebenta

Uma associação de pais normalmente é constituída por pessoas que decidem intervir mais activamente na escola dos seus filhos. Quando não há problemas de maior, normalmente colabora com os orgãos escolares no sentido de organizar festas, angariar patrocínios e manter os pais informados sobre o que se passa na escola.

Mas uma associação de pais não se deve limitar a estas funções, também tem a função de participar mais activamente no projecto escolar, participando nos conselhos de escola/agrupamento e no conselho pedagógico, prestando depois aos pais as informações decorrentes.

Outras associações levam ainda mais longe o seu papel, sentindo a necessidade de se organizar no Movimento Associativo de Pais (MAP), no sentido de se manterem mais atentos e informados, podendo recorrer às estruturas do MAP para se esclarecerem sobre as leis, os direitos e os deveres.

Hoje em dia é difícil para os pais encontrarem tempo para se reunirem e tornou-se quase impossível os pais terem tempo para desenvolverem este tipo de actividades. Por isso nem sempre é possível formar uma associação de pais.

Com as novas legislações resultantes das políticas educativas, e com as mudanças que estas se propõem a causar na escola pública, torna-se impensável as associações de pais não esclarecerem os seus associados sobre o que se está a passar no ensino. Não o fazer é enfiar a cabeça na areia e ficar à espera que nada disto venha a trazer problemas num futuro muito próximo.

Quando uma associação de pais toma a iniciativa de informar os pais das novas leis e das suas consequências, logo surgem vozes que a acusam de estar a usar a associação de pais para fazer política. Mas nunca ninguém se queixa que o governo está a usar o Ministério da Educação para fazer política.

As pessoas fogem da política como o diabo da cruz. Provavelmente adquiriram tal asco aos políticos e à forma como estes fazem política que este termo adquiriu para a generalidade das pessoas um sentido sujo. As pessoas afastam-se naturalmente de tudo o que lhes cheire a política. E nem se apercebem que têm os pés enfiados nela e que lhes chega até ao pescoço, como um lodo do qual não podem escapar. Como Édipo fugindo do seu destino, quanto mais as pessoas se arredam da política mais a política vai no seu encalço.

As pessoas em geral fazem por ser cumpridoras e não se sentem atraídas por nada que as leve a pôr em causa. As pessoas gostam de confiar que tudo está em ordem e detestam tudo o que vier pôr em causa seja lá o que for. Desconfiam de tudo o que as possa transtornar. Por isso preferem não levantar ondas e aceitar a ordem vigente, comportando-se o mais possível como o resto do grupo, para não sairem fora do padrão.

Se alguém tenta alertar as pessoas para os perigos decorrentes de uma lei, as pessoas tendem a afastar-se e jamais acreditam na sua possibilidade de fazer cair uma por terra uma lei por mais absurda que seja. Para elas, as causas (aquelas que conhecem a palavra e o seu significado) estão fora de moda, são assunto de perdedores e hoje em dia as pessoas querem ser eternos vencedores, o que as leva a não porem nada em causa. Antes preferem adaptar-se e sobreviverem do que revoltar-se e lutar por aquilo em que acreditam.

Os dirigentes sabem disto e mostram-se confiantes: basta-lhes publicar as leis e esperar que sejam postas em prática sem reacções contra elas. Para isso contam com o apoio de todo um séquito que compactua com as ordens que vêm de cima sem as pôr jamais em causa. As pessoas são avaliadas de cima para baixo e para tal basta-lhes cumprirem as ordens que vêm de cima. Quanto mais prontamente as aplicarem sem fazerem perguntas e às vezes até mesmo dando-lhes o seu cunho pessoal ainda mais refinado, no caso de serem mais papistas que o Papa, melhor os seus superiores as avaliarão.

É por isso que corremos o risco de muitos dos Conselhos Executivos (que também serão avaliados, pelo ministério?) executarem prontamente as ordens da ministra, que por sua vez aplicará prontamente as ordens do primeiro-ministro, que por seu turno aplicará prontamente as directivas da união europeia, que por sua vez...

O que pode fazer uma associação de pais convicta de que sem a unidade dos pais e dos professores contra estas políticas a escola pública tem o seu fim anunciado? Como pode uma associação de pais dizer isto aos pais se eles não querem ouvir este tipo de discurso do desassossego, taxando-o imediatamente de "política"? Se mesmo os professores dos Conselhos Executivos cumprem e fazem os outros cumprir? E se no final os poucos que resistem ainda são olhados de lado, como gente que não se quer dar ao trabalho, como um bando de incumpridores que pagarão por não obedecerem à sinistra rainha?

Como serão olhados pelos outros pais os pais que ousem alertar, que se aliem aos professores em luta, que publicamente acusem estas políticas de serem responsáveis pela falta de interesse que os seus filhos mostram por esta escola que os desqualifica?




sábado, março 22, 2008

Novo modelo de gestão, algures, num futuro demasiado próximo...

Gabinete da senhora Directora do Agrupamento de Escolas de Piafino
(ex-presidenta do CE)

(Com um dos tentáculos pegando num telemóvel)
- Sim, senhora ministra, com certeza que está tudo a andar, senhora ministra.
(Com outro tentáculo prime uma campainha chamando a esfregona sua adjunta)
TRIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Ouve-se soar a campainha na porta do lado. Logo aparece uma professora de lenço ao pescoço batendo à porta antes de entrar.
- Posso, senhora directora?
- (ainda ao telefone) Também desejo uma boa Páscoa, senhora ministra, e pode ficar descansada que por aqui vai tudo de vento em popa. Estimo as melhoras do seu caniche.
- (Desligando) Ó fulana de tal vê lá se já vieram todas para darmos início à reunião. Temos que ter estas coisas todas a funcionar quando os delinquen..., digo, os alunos voltarem de férias! Ah, anota aí uma ideia que eu tive para eu levar à próxima reunião com a senhora ministra: esta coisa dos miúdos irem de férias na Páscoa é para acabar. Vamos propôr que fiquem na escola a fazer a limpeza das matas por causa de os sensibilizar para os incêndios do Verão, o nosso espaço está uma selva, temos que aproveitar, assim poupamos dinheiro no jardineiro e a nossa escola será melhor avaliada do que nunca.
- A professora de música não pode vir hoje, telefonou a dizer que está de cama por ter ido desentupir o algeroz da sala 23. Diz que tem uma forte dor na bacia e que vai ao hospital.
- Essa é uma lerda... quando for a avaliação é que ela vai ver como lhe doem...
Com outro tentáculo procura desesperadamente na mala uma barrita energética mas, sem êxito, atira com outro tentáculo um murro bem assente na secretária.
- Rai's parta a isto, agora como vou ter genica suficiente para convencer toda a gente que está a avaliar por baixo e que é preciso avaliar por cima: aqui a avalição dos alunos tem que ser exemplar, preciso de números que encham o olho do Ministério. Não venha lá aquele poltrão do Braga dizer que fez o que podia e que o insucesso das turmas já está nos mínimos. Vais ter que me ajudar a convencê-lo que é melhor para ele que desça o insucesso das turmas em pelo menos mais 10% do que ele traz. Esse tipo é sempre o mesmo, tem a mania que é professor, o professorzeco, que nem titular é! Já convocaste as bestas dos pais para as reuniões com os directores de turma? Lá temos nós que gramar essa cambada aqui dentro da escola a meter o nariz em tudo!
- Acalma-te, olha, queres que te humedessa os tentáculos? Costumas ficar mais relaxada.
- Não! Mas podes deitar-te no chão para eu passar. E fico contente que te tenhas hoje vestido de vermelho pois é um dia importante! Marche prá reunião!



quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Dia dedicado à educação...

Não se se foi ontem a senhora ministra que me inspirou. Sei que hoje dediquei todo o meu dia à educação:

De manhã um encontro dentro da escola com uma professora para combinarmos em conjunto articular os conteúdos sobre sexualidade com uma sessão para os pais. Claro que a conversa depressa seguiu rumo livre para outros assuntos muito menos naturais: as palavras são como as cerejas e, quando se começa a falar das coisas uma mão lava a outra. Uma professora atenta, que também é mãe a falar com uma mãe atenta que também já deu aulas. Fizemos como a ministra aconselhou: simplificámos ou seja, descomplicámos o que se queria complicado. Quando duas pessoas dentro destes assuntos das novas políticas educativas se põem a conversar, depressa chegam às mesmas conclusões: estão a destruir a escola, os professores não estão a aguentar aplicar as normas absurdas que chegam às escolas em catadupas a meio do ano lectivo, os alunos estão a ser prejudicados. E isto diz respeito aos professores e diz respeito aos pais porque é sem respeito pelos alunos. Os conselhos executivos de algumas escolas já estão a aplicar as directivas, se forem dos cumpridores. Os representantes dos pais não foram convocados para um Conselho Pedagógico sobre avaliação do desempenho e atribuição de competências e, no Conselho Pedagógico seguinte já tudo mudou: o conselho está diferente; sairam uns, entraram outros: as competências foram atribuídas; a futura directora já tem tudo na mão: ali não haverá avaliação feita pelos pais, nenhum professor irá autorizar. A professora tenta pôr paninhos quentes: deve ter sido por esquecimento os pais não terem sido convocados, desculpa. É uma boa pessoa, conciliadora, disse que tinha compreendido muito bem as posições assumidas por quem representa os pais.

Tenho tanto receio de quem se diz "representante dos pais". Hoje comprei um livro, cujo título vai mal-impressionar muito boa gente: Pais Contra Professores, de Maurice T. Maschino. É muito útil, porque começa logo por definir gente da laia do Albino Almeida, para quem ainda não está advertido contra esta praga de malfeitores que se apossaram de uma estrutura democrática como era a CONFAP: «A escola será doravante um lugar em que são os pais a fazer a lei? Na maioria dos casos, sem dúvida não, mesmo que muitos deles, no ambiente actual, se sintam cada vez mais tentados a intervir ao arrepio de quaisquer normas, e de forma anárquica. O que seria certamente desagradável, e perfeitamente inadmissível, mas não traria grandes danos à instituição, se estas reacções individuais não fossem encorajadas, retomadas e amplificadas por grupos que se arrogam o direito de falar e de agir em nome de todas as famílias. Esta impostura -- de que a maioria dos pais nem sequer suspeita, mas que os poderes públicos encorajam -- contribui em grande medida para desqualificar a escola enquanto lugar de estudo e de aprendizagem de saberes. Na verdade é um abuso de linguagem falar dos pais. E abuso de poder ao pretender manifestar-se em seu nome."

Confesso que mais lá para a tarde só me apetecia ser feliz. Por isso lá fui eu participar num colóquio sob o tema "Educação para a felicidade" e não é que lá fui encontrar uma sala cheia de professores, perdão, professoras, que a quota masculina só se reduzia a um -- será que os homens não acreditam na felicidade? E os professores ainda acreditam ou são levados a acreditar? Pensei: bela acção esta, mesmo a propósito, logo no dia a seguir à entrevista da ministra... vamos lá a contar as boas experiências, ajustemos o foco de mineiro e iluminemos apenas o que bem que queremos ver. Mas não será uma visão tubular, redutora? E o que está mesmo mal? Não nos devemos centrar no que está mal, devemos pensar no que está pior para nos sentirmos felizes com o mal que temos. Aleluia, meu irmão. Até havia umas rezas para o dia a dia ( e contra a ministra, nada?). No final terapia do riso para aliviar tensões e partir para casa bem disposto, expurgado de todo o mal, pronto para enfrentar a burocracia da escola com um sorriso nos lábios (Sorria, está a ser avaliado!). Mas quem disse que queremos nos livrar das tensões agora? Para isso já bastam certas manifestações que só servem para tirar a pressão da panela... Vim embora antes da terapia: agora queremos estar em tensão, reunir toda a tensão para gritar bem alto, unidos, nas manifestações que aí vêm e não deixar que a pressão se escape da panela. Cerrar fileiras e só parar depois da retirada absoluta das políticas educativas mais absurdas que o capitalismo internacional em desespero alguma vez forjou. Não queremos esta ministra porque não queremos estas políticas porque não queremos obedecer aos prazos da união europeia para destruir a escola pública, porque não queremos este sistema. Cumprir é pactuar com a estratégia internacional capitalista de destruir a escola pública. Portugal romper com esse sistema: isso sim me deixaria muito feliz, senhores psicólogos educacionais.

À noite, reunião política, para discutir... política e educação, pois, meus caros amigos, quer queiramos quer não isto anda tudo ligado.
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