O Pafúncio Em casa, limpezas de cima abaixo, tipo tirar tudo de um quarto, limpar e pôr tudo lá outra vez. Ontem tirei tudo, hoje a senhora que trabalha aqui em casa limpou e agora não consigo fazer a parte final de lá encafuar tudo o que ficou de fora. Olho o quarto quase vazio e desejo que assim continuasse. Tantas coisas que acumulamos e depois não nos conseguimos livrar delas, perseguem-nos pela vida fora como empecilhos que queremos conservar.
Tive necessidade de não o fazer hoje, apetecia-me estar aqui no computador, como quando não se pode e se tem outras coisas para fazer. O Inverno todo, e mesmo durante a Primavera, o caos foi-se instaurando aqui em casa: livros empilhados, papelada pelas cadeiras, coisas sem sentido que foram ficando por arrumar, enfim uma desorganização de todo o tamanho, pó e pelos de animais. É que as noites passadas sucessivamente no teclado traduzem-se em desordem aqui no espaço físico. E quando se olha à volta e se toma consciência disso, é que se mede as consequências.
De volta ao computador começo por ver os mails e o tempo vai passando de assunto em assunto. Há sempre coisas para fazer e o tempo nunca chega para tudo.
De repente, de um modo quase aleatório, intuitivo, resolvo arrumar com um assunto: a associação de pais entra declaradamente em férias. Durante as férias haverá no entanto muita informação a organizar, que se quer organizada.
Como bem diz uma amiga, sem organização não se faz nada.
Entretanto o Pafúncio foi-se reduzindo à sua inactividade burguesa. Está de mãos e pés atados, com a crise, resta-lhe ficar quietinho à espera que passe o mau tempo. Aquilo lá para os Estados Unidos não está nada bem. Como abana por todos os lados o grande pilar do capitalismo global… Se estoira vai chover merda em Moscovo! Como bom Pafúncio que é, de brandos costumes, o melhor é não dar muito nas vistas e, já que não pode assobiar para o lado fingindo que não é nada com ele, pelo menos não se mete em politiquices não vá isto ainda dar a volta e ele estar posicionado do lado dos vencidos. Ainda se lembra quando teve que arranjar um cravo à pressa. Quem lhe dera a ele que a política não se viesse meter com ele, que a crise não lhe fizesse resvalar o lucro para o abismo, poder sentir-se seguro, sem medo de violências, para se poder entregar aos prazeres da vida. Felizmente está quase a ir de férias, este Pafúncio, onde se poderá esquecer de todas as dificuldades e aliviar o stress acumulado. Haverá alguém que o mereça tanto como ele?