quarta-feira, setembro 27, 2006

Se uma mosca incomoda muita gente...

"MOSCA NA SOPA"
R.Seixas
Copyright Warner/Chappell Music Br

Eu sou a mosca que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar
Eu sou a mosca que perturba o seu sono
Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar

E não adianta vir me dedetizar
Pois nem o DDT pode assim me exterminar
Porque cê mata uma e vem outra em meu lugar

Atenção, eu sou a mosca
A grande mosca
A mosca que perturba o seu sono
Eu sou a mosca no seu quarto a zumzumzumzumbizar
Observando e abusando
Olhe pro lado agora! (texto falado)
Eu tô sempre junto de você
"água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura
"Quem lhe?
Quem lhe?
A mosca, meu irmão!

vale a pena revisitar
Raul Seixas

Operários somos nós todos

Operário, 1936, Francisco Rebolo
óleo s/tela, 73x64 cm
A Johnson Controls, um dos líderes mundiais no fornecimento de sistemas interiores de automóveis, electrónicos e baterias, justifica o encerramento de duas das três fábricas que possui em Portugal com «por haver um excesso de produção de espumas na Península Ibérica», contou António Branco. http://tsf.sapo.pt/online/economia/interior.asp?id_artigo=TSF173856

Chegámos ao momento em que um trabalhador é preso por ter cão e preso por não ter. Pedem-lhe uma maior produtividade e depois lançam-no no desemprego alegando excesso de produção. Continuo a achar que o mal não é do trabalhador mas sim da gestão. Se uma multinacional americana tem várias fábricas espalhadas pela Europa, tem que as gerir em conjunto para não permitir que situações destas possam acabar por acontecer. Uma empresa não devia poder fechar aqui para abrir ou ampliar noutro local; ou reduzia realmente a produtividade – e, implicitamente os lucros – ou não lhe devia ser permitido deixar atrás todo um rasto de destruição social, pessoas sem perspectiva de emprego, com graves problemas sociais e até mesmo de subsistência. A empresa propõe agora reutilizar os trabalhadores desempregados noutras fábricas fora de Portugal. E lá vai o Zé portuga de mala de cartão aviada ser outra vez emigrante. Para alguns será talvez uma sorte, verem-se livres deste país padrasto. Mas outros serão mesmo conduzidos ao desemprego vitalício, com as idades que apresentam depois de uma vida de trabalho dedicada a aumentar a produtividade da sua fábrica…
Um enredo de produtividade excessiva foi a história que a empresa contou. E António Branco veio contar-nos essa história. E é isso mesmo que este escândalo do encerramento de mais duas unidades fabris vai ser para quem ouve a notícia: mais uma história triste de aumento do desemprego que contamos uns aos outros, sem nos apercebermos realmente como a classe operária está em vias de extinção.
E pensar que ainda há partidos de esquerda que falam no poder da classe operária como se ela ainda existisse e pudesse constituir uma força. Ela é ainda uma força de trabalho que só se parasse totalmente é que ia mostrar o seu poder. Mas é apenas uma no meio de muitas outras que podem entrar em processo de extinção assim que deixarem de ser tão rentáveis como agradaria aos seus donos. Hoje em dia a classe operária são todos os trabalhadores que se sentem ameaçados pelo modelo neo-liberal do vale tudo para aumentar os lucros (não, como antes, para impedir que a empresa falisse). A classe operária são também os desempregados, todos estes desempregados sempre a aumentar, este lixo que o capital mastiga e cospe desenfreando-se em excessos de produtividade e desejos de maiores lucros.
E no entanto até eu acho que é preciso reduzir a produtividade e o consumo; mas creio que isso em nada resolve o problema global em que se colocou a economia se não se baixar também a fasquia do lucro. Mas alguém consegue imaginar uma economia cujo objectivo seja baixar os lucros?
Face a essa impossibilidade, o equilibrio só será restabelecido quando os trabalhadores, apoiados massivamente pelos desempregados que nada têm a perder, se recusarem massivamente a trabalhar para esses senhores sem que a sua força de trabalho seja revalorizada. Quando os trabalhadores compreenderem que sem trabalho não há produção, logo não há lucro, logo não há economia, o trabalho alcançará o seu justo valor e o sistema produtivo terá necessariamente que sofrer os devidos reajustamentos para que as relações produtivas se tornem um dia mais justas .

terça-feira, setembro 26, 2006

Adeus sabujo!

Espécies nacionais de Parasitas III

Pulga Mexia

Asnear no Balancé do Prós & Prós

Macaco velho
que por mais que se queira limpar
há-de ter sempre um passado muito triste

Baby Blues

Hoje descobri o motivo por que os veterinários são, regra geral, melhores médicos que os médicos. É que os veterinários amam de facto os seus pacientes, enquanto que um médico se limita a observar a doença do seu doente, desapaixonadamente, clinicamente, sem festas. E isto pode ser explicado a outro nível: é que enquanto que os animais são indefesos e amáveis, amorosos como crianças inocentes; os doentes humanos, esses são irascíveis e cobardes e tendem a piorar quando se sentem mal. Temem pela própria vida, têm medo de desaparecer, sofrem pelo seu umbigo e fazem por despertar nos outros a piedade pela sua doença. Os gatos rebeldemente acabam por confiar porque sentem que é para o seu bem que os espetam, sentem que estão a cuidar deles; os homens desesperam e chegam a desmaiar perante o espectáculo do seu próprio sangue. Subornam o senhor doutor para serem mais bem tratados do que os outros, recomendam que o senhor doutor se compadeça do seu caso. Mas o senhor doutor tem mais que fazer e segue jogo, entra outro paciente, o próximo…

Eu, que tenho gatos há tantos anos apercebi-me agora mais nitidamente que os gatos podem sofrer de sintomas patológicos causados pelo stress. Trata-se de uma gata muito nova (pouco menos de um ano) que à primeira escapadela ficou prenha. Teve os gatinhos à minha vista e portou-se sempre à altura da maternidade. Como diz o veterinário é uma gatinha “5 estrelas”. Já viu desaparecer um filho e neste momento vê-se confrontada com as tropelias dos outros 3 safadinhos… e eu também. Logo a seguir a ficar sem o filho que lhe foi tirado para dar, entrou em stress e desatou a fazer porcarias líquidas pela casa toda, enquanto os gatinhos frequentam há muito o caixote. A gata vê-se arredada da vida familiar, do tempo em que se abandonava por cima das mesas ou se espreguiçava nos sofás. Arredada desse tempo de boa vida, a mamã entrou em stress e agora está-se a cagar para tudo.

Tem sangue nas fezes, uma colite igualzinha à de certas pessoas que ficam a remoer lá por dentro até arranjarem uma colite, ou desenvolverem uma úlcera. A gata está ressentida e quer ser notada, deseja receber mimos e festas; ainda há pouco tempo lhe afagavam a barriga e lhe davam apaparicos. Agora está longe dos afagos, tem que ser ela a lavar as suas crias. Deixou há pouco tempo demais de ser a eleita, a rainha das festas. Mãe prematura está a passar pelo seu baby blues, como acontece a muitas mulheres que, apesar de terem filhos ainda lhes sobra tempo para pensar nos seus blues. Eu, felizmente, não sei o que isso é. Mas compreendi perfeitamente que a minha gata tenha entrado em algo semelhante ao stress, embora haja muita gente que não acredita que os animais se possam assemelhar aos humanos nessas coisas do espírito e da alma. Eu, pelo contrário, acredito que sejam os humanos a se lhes assemelhar, só que não o querem admitir por se sentirem de uma raça superior, inteligente.

segunda-feira, setembro 25, 2006

O efeito do absurdo

O Domingo sempre foi um dos dias mais absurdos do calendário. Mesmo aqueles Domingos em que tudo se repete como um filme muito visto em que nos vemos em família comemorando inadvertidamente o facto de ainda estarmos todos vivos, podem muito bem resultar em momentos absurdos. Muito bem, lidemos então com o absurdo, normalizêmo-lo como a todas as coisas que nos assustam e que acabam mais cedo ou mais tarde por fazer parte de uma rotina. Quando até mesmo o absurdo se converter numa rotina estamos prontos para a morte. Aos velhos, por exemplo, já nada surpreende realmente. São capazes de ouvir as coisas mais absurdas da boca de um político que já nada os espanta. Habituaram-se a conviver com o absurdo, faz parte integrante das suas vidas, na verdade já nem reparam, já não concedem ao absurdo a mesma importância que outras pessoas mais jovens de espírito; os velhos transportam consigo o longo rol de histórias absurdas que conheceram durante as suas vidas, como um lastro e, como o absurdo, por se repetir, se tornou normal, é como se já não tivessem a capacidade para se surpreender… Ah, e isso pode não ter nada a ver com idade. Há pessoas que já nascem envelhecidas, desprovidas de espanto, não há nada a fazer.E no entanto o absurdo existe e pode até mesmo converter-se num poderoso efeito capaz de nos envelhecer mais rapidamente. Ou melhor, é como o comboio que parece andar mais depressa quando há música a tocar mas que na verdade não anda, só que ao contrário… vou ver se explico. É assim: quando uma pessoa atenta ao que está a ouvir, por exemplo, num telejornal vê todos os dias tristes imagens de violência e guerra, ou atentados, ou derrocadas, ou mais desemprego e impostos, etc, etc, essa realidade banaliza-se, ou seja converte-se numa espécie de normalidade até nos afectar directamente a nós. Mas isto já é conhecido, já muita gente se apercebeu do risco que a informação corre de se tornar num mosaico de fugazes banalidades diárias com tendência a perderem o significado… não era esta problemática que eu queria observar! O comboio disfórico que eu queria para a minha analogia às avessas era de outra natureza. Ao se introduzir uma notícia completamente absurda no meio de um telejornal, produz-se o efeito do absurdo. Com o aumento da frequência das notícias absurdas no meio das outras, o absurdo tende a dissipar-se; o efeito de surpresa causado pelo absurdo deixa de produzir-se e o absurdo, ao deixar de ser um registo surpreendente, passa a ser uma coisa igual às outras; o comboio desacelera e já nem mesmo a música surpreendente do absurdo o faz mexer. O absurdo feito rotina desacelera a nossa capacidade de nos surpreendermos seja com aquilo que for. Com o passar do tempo, com o espectáculo diário do absurdo e com a sua proliferação, ficamos a saber que no mundo em que vivemos não há nada mais normal que o absurdo. O efeito anula-se e o comboio em que seguimos pára igual a si próprio, em silêncio. O absurdo iguala-se à normalidade. Já nada nos surpreende, nada nos faz mexer.
A não ser a história verdadeira do campeonato mundial dos sem-abrigo. Quem se lembrou de organizar tal coisa nunca se lembrou de usar o dinheiro que gastou para os abrigar. Não nos admiramos, é "normal"! Mas, por azar da organização, a nossa selecção nacional de sem-abrigo abandonou o hotel alegando falta de condições de alojamento dignas (!) Finalmente aquela gente estava perante uma situação em que podia reclamar por falta de condições. É que na rua onde vivem não há livro de reclamações, tinham que aproveitar o momento certo para poderem finalmente exercer esse direito; a possibilidade de exercerem qualquer direito que seja deve ser uma coisa importante para os sem-abrigo, que normalmente parece não terem quaisquer direitos. E reclamaram, não lhes pareceu absurdo! Ouvi a notícia com a maior das surpresas, como um total absurdo; ri-me a bandeiras despregadas da sucessão de absurdos da notícia… e no entanto agora analisando-a desmistifico o seu absurdo e considero-a "normal". É essa a natureza e a força do efeito do absurdo no meio de outras notícias: tornado normal, em comparação tudo se torna ainda mais normal e aceitável. Aprendemos a conviver com o absurdo como com a mais dura realidade e, mesmo se ainda nos rimos, pulamos e avançamos com a música surpreendente do absurdo, tal como o outro, nem por isso o nosso comboio anda mais depressa. Apeamo-nos e a realidade é que tudo continua igualmente sinistro à nossa volta. É essa a sua força. Com ou sem absurdo, nada se altera. Por isso eu gostei especialmente da atitude de revolta dos sem-abrigo que, apesar de normalmente viverem na rua, não acharam que seria um absurdo reclamar das más condições a que o hotel os sujeitava. Se fossem meros hóspedes, todos achariam "normal"… e sendo sem-abrigo portugueses, será mesmo um absurdo para alguém o facto de terem reclamado?

domingo, setembro 24, 2006

Santos da Casa...

Se você realmente acredita que isto da educação só lá vai com benzeduras
Se considera que é lícito recorrer a todos os expedientes
Se tem pressa porque para si, que está vivo, ou é agora ou nunca
Reze ao Santinho das Causas Urgentes
E, tal como a Pachacha Pereira, peça à sua razão para lhe dar
MUITA FÉ
mas olhe que para atravessar este deserto
vai precisar mesmo de
MUITA FÉ

Espécies nacionais de Parasitas II

Fatima iustitiae indrominosa (Vulgo "Sanguessuga felgueirense")

sexta-feira, setembro 22, 2006

Souto Moura ardido e mal pago

Deixai-o ir em paz! - Assim falou a pia bancada parlamentar do PS. E assim se esfumam altos representantes da nossa bela Justiça. Culpados são os jornalistas de divulgar a existência de pistas. O Envelope nº. 9 é uma das nossas coisas em forma de assim. Senão vejamos, a ver se faz algum sentido para alguém: os jornalistas não têm nada que divulgar as pistas que lhes vêm parar às mãos; há coisas que têm que ser mantidas no segredo dos deuses: então por que há-de o senhor presidente da república vir assim a saber pelos jornais que lhe andaram a escutar a mulher a encomendar pizzas? Existem coisas pelas quais ninguém pode responder. Quem pôs o telefone do Sampaio sob escuta? Quem se iria lembrar de escutar o Sampaio? Ou a Maria José? No nosso país eis o tipo de coisas que se havia de gostar de saber: ah, então a Maria José dá pizza a jantar ao presidente, ãh! Ah, g'anda m'lher!...
Entretanto o Envelope nº. 9 vale o que vale, ou seja, é o que menos importa. É como se tivesse ardido, como se esfumasse no ar, como vai agora acontecer ao procurador, o qual, na hora da sua morte será apenas recordado em prantos pela senhora a quem ele nomeou à última da hora, antes de expirar o prazo. Então o homem vai para casa e antes, à pressa ainda se permite nomear uma fulana para um cargo desocupado há 15 anos? Mas até onde vai a vileza deste senhor procurador a quem devemos deixar ir na paz dos anjos? Deixá-lo ir em paz... Jesuitas!
Estamos todos felizes porque há-de vir outro, já está na calha. Ninguém sabe exactamente quem é, nem importa que se saiba muito bem, mas todos sentem que pior não há-de ser. Continuamos optimistas ou simplesmente desleixados, relaxados?
Pior que isto é que no fim somos todos parvos, porque nos tomam descaradamente por parvos e porque ninguém se insurge a desmenti-los.

Não ao Compromisso Portugal: Sim à Insurreição Nacional!

Dizem que o ódio
é traiçoeiro
e que a raiva é
má conselheira
mas nós com o grande capital
damo-nos mesmo muito mal
...
O grande capital
está vivo em Portugal
e quem não o combate
é que dele faz parte
...
Faz sim senhor
E é evidente, pois claro!

(surripiado de memória a uma música do Sérgio Godinho, conforme as nossas conveniências e convicções)

Compromisso Portugal sob a égide de Bush: "Is there any oil in Beato?"

Os mais eminentes empresários da nossa praça reuniram-se para tornar públicas as suas estratégias de distribuir o milho pelos pardais. A ideia não é nova: privatizar o estatal. Afinal não havia petroil no Beato, Mr. Bush. Em Portugal há petroil no estatal, um mercado a conquistar. Que piada de mau gosto a daquele sindicalista a quem deixaram aparecer nos media a dizer que a estratégia de dispensar os tantos mil trabalhadores da função pública era absurda. Como se o absurdo não fosse o motor da economia liberal... e também a outra que ele disse, aquela do "a não ser que vão privatizar a saúde, o ensino, a justiça, ..."
Of course, my friend, in course, my friend
Contribuição Echelon: Terrorism; bomb; UEA

quinta-feira, setembro 21, 2006

Outono

Escolhe o Outono para te despojares do que te sobra tal como
as árvores fazem às folhas sem mostrar apêgo
deixa que o vento fresco do final do dia
venha varrer os teus preconceitos
é altura de deixar cair a parra
para que se possa então
colher o fruto
saborear
o sumo

quarta-feira, setembro 20, 2006

O Regresso do Pafúncio - Para quem não tiver nada pra perder


Cordão

by Chico Buarque

Ninguém
Ninguém vai me segurar
Ninguém há de me fechar
As portas do coração
Ninguém
Ninguém vai me sujeitar
A trancar no peito a minha paixão


Eu não
Eu não vou desesperar
Eu não vou renunciar
Fugir
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir


Ninguém
Ninguém vai me ver sofrer
Ninguém vai me surpreender
Na noite da solidão
Pois quem
Tiver nada pra perder
Vai formar comigo o imenso cordão


E então
Quero ver o vendaval
Quero ver o carnaval
Sair
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir
Enquanto eu puder cantar
Alguém vai ter que me ouvir
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder seguir
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir
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