quinta-feira, outubro 30, 2008

Se tudo correr bem aqui estarei mais logo!




José Mário Branco incita público a 'Mudar de Vida'


Música. Cantor/compositor apresenta pela primeira vez em Lisboa a canção que estreou no Porto em 2007. Os Gaiteiros de Lisboa são os convidados especiais de um espectáculo assumidamente político, que não deixará de oferecer a restrospectiva de uma carreira única

Músico tentou trazer canção a Lisboa há um ano

No dia 30 de Abril de 2007, o Porto ouviu pela primeira vez Mudar de Vida, a composição que José Mário Branco apresenta hoje e amanhã na capital. "Eu quis fazer este espectáculo em Lisboa há mais de um ano, mas não consegui financiamento", explicou. "Este convite da Culturgest permite-me apresentar cá esse tema, mesmo que o programa não seja exactamente igual ao que levei ao Porto".

Não obstante, a ideia central do espectáculo continua a ser a mesma. "Há uma critica ao que nós chamamos democracia parlamentar representativa, que não resolve os verdadeiros problemas das pessoas, limitando-se a redistribuir a riqueza em função de estratos, classes sociais, e elites que existem na política e na economia e se apoderam da riqueza produzida".

O cantor/compositor não quer, porém, "impingir uma receita política a ninguém", desejando apenas incitar as pessoas. "Se não gostam da vida que estão a viver têm que a mudar, que ela não muda sozinha se as pessoas não fizerem nada", lembra. "Começa-se nas pequenas coisas, pois tem que haver uma progressiva acumulação de forças para haver uma mudança geral na sociedade".

O músico não crê, porém, que seja possível alterar o actual sistema político, sem a movimentação das "grandes massas", descontentes com o actual estado do mundo. "Quando se fala em criar movimento político, em colocar em marcha as energias que há nas pessoas para mudar de vida, música como esta não resolve nada, a não ser do ponto de vista afectivo", continua. "É um oxigénio moral que se dá às pessoas".

No seu entender, esta atitude distingue o artista dos falsos "cantores de intervenção" que "dão um oxigénio contaminado para as pessoas se esquecerem dos seus problemas. É uma droga como outra qualquer, como todos os outros vícios desviantes da realidade". As suas canções, por outro lado, tentam "mobilizar as pessoas para serem sujeitos na sociedade, e não objectos".

É por isso que considera que "tudo é político, mesmo quando diz que não é". Este domínio da política sobre o quotidiano também está presente na canção apresentada hoje na Culturgest. "Um dos temas abordados no Mudar de Vida, é precisamente esse", concorda, referindo uma das frases mais marcantes do tema: "bem tentais não vos ocupar de política, mas a política ocupa-se de vós". Uma citação a Charles Montalembert - "um daqueles neoclássicos franceses" - incluída na canção.

"O Mudar de Vida é apresentado em três partes", refere. "Ouve-se no início - apesar de começar com um tema inédito que escrevi para Lisboa, intitulado Vamos Embora - depois no meio aparece outra vez, antes de fechar o espectáculo com o Mudar de Vida final". Pelo meio vão soar diversas canções retiradas do mais recente Resistir é Vencer (2004), mas também de outros registos, gravados desde a década de 70, e variando entre momentos abertamente políticos e outros mais intimistas.

"Gosto de revisitar os temas, porque os músicos, as condições e os estados de espírito nunca são os mesmos", reitera. Entre os temas reformulados será possível ouvir A Cantiga de Trabalho ou A Engrenagem, de 1973, ou mesmo Remendos e Côdeas, que se ouviu pela primeira vez no Disco da Mãe, corria o ano 1978. Para interpretar estes temas, o artista socorreu-se de um quinteto que o acompanha há vários anos, e inclui Carlos Bica, José Peixoto, Rui Júnior, Filipe Raposo e Guto Lucena.

De entre os músicos que actuaram na Casa da Música, em 2007, este são os únicos que visitam Lisboa, por limitações de orçamento. Agora, o cantor volta a colaborar com o quarteto de cortas que o acompanhou "nos Coliseus de há 4 anos", quando editou o último disco. As percussões tradicionais e os suportes corais cabem aos Gaiteiros de Lisboa, um grupo ao qual José Mário Branco chegou a pertencer. Os bilhetes já estão esgotados, mas a actuação será gravada, e a edição de um disco com a actuação não está posta de parte. (DN)

O GRANDE CILINDRAMENTO SISTÉMICO DO DOCENTE

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Em 2007 reformaram-se cerca de 3300 professores.

Este ano já vamos em mais de 5000 e o ritmo parece estar a acelerar.

É só ver as longas listas do Diário da República. Os testemunhos, chapados na imprensa, de docentes que aceitam penalizações gravosas de 30 e 40 por cento sobre pensões de reforma para toda vida, ao mesmo tempo que reiteram o amor a uma profissão que, garantem, abraçaram por vocação e só abandonam por coacção, transformam um processo de reforma num processo de excomunhão.

Um país maduro estaria hoje a reflectir aturadamente sobre o que Fernando Savater escreveu: "A primeira credencial requerida para se poder ensinar, formal ou informalmente e em qualquer tipo de sociedade, é ter-se vivido: a veterania é sempre uma graduação."

A vida dos professores nas escolas tem-se vindo a transformar num inferno.

A missão dos professores, que é promover o saber e o bem colectivo, está hoje drasticamente prejudicada por uma burocracia louca e improdutiva, que os afoga em papéis e reuniões e os deixa sem tempo para ensinar.

A carga e a natureza do trabalho a que se obrigam os professores são uma violentação e um retrocesso a tempos e a processos que a simples sensatez reprova liminarmente.

Ocorre, então, a pergunta: como é possível a generalização da loucura?

A resposta radica no uso do modelo publicitário (cortejo ridículo de 23 governantes para entregar o Magalhães e 35 páginas de publicidade paga e redigida sob forma de artigos são exemplos bem recentes) e das técnicas populistas.

O Governo tem conduzido a sua campanha de subjugação dos professores repetindo até à exaustão os mesmos paradigmas falsos e os mesmos slogans facilmente memorizáveis pelos justiceiros dos "privilégios" dos docentes.

As ideias (a escola a tempo inteiro, por exemplo) são tão elementares como as que promovem os produtos de uso generalizado (o Tide lava mais branco). Mas tal como os consumidores se tornam fiéis ao produto cujo slogan melhor memorizam, embora sabendo que a concorrência faz exactamente o mesmo,

assim se têm cativado apoiantes com a solução de problemas imediatos, que nada têm a ver com o ensino.

E a dissolução sociológica dos professores pela via populista tem procurado ainda, com êxito, identificar e premiar uma nova vaga de servidores menores

- tiranetes deslumbrados ou adesivos - que responderam ao apelo e massacram agora os colegas, inflados com os pequenos poderes que o novo modelo de gestão das escolas lhes proporciona.

A experiência mostrou-me que o problema do ensino é demasiado sério e vital para o abandonarmos ao livre arbítrio dos políticos.

"Bolonha", a que este Governo aderiu, ou a flexibilização das formações, que este Governo promoveu através do escândalo das "novas oportunidades", não se afastam, nos objectivos, dos tempos da submissão ao evangelho marxista, ou seja, os interesses das crianças e dos jovens cedem ante a ideologia dominante e o resto só conta na medida em que seja eleitoralmente gratificante.

Assim, contra a instauração de um regime de burocracia e terror, para salvaguardar a sanidade mental e intelectual dos professores, encaro o protesto e a resistência como um exercício a que ninguém tem actualmente o direito de se furtar.»

Santana Castilho, Professor do ensino superior, in Público

terça-feira, outubro 28, 2008

Parece que a Mariastella Gelmini é um Obama de saias

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Ministra da Educação da Itália diz que sua política parece com propostas de Obama

Plantão | Publicada em 27/10/2008 às 14h47m
O Globo

RIO - A ministra da Educação da Itália, Mariastella Gelmini, declarou que "aqueles que protestam" contra sua reforma de ensino, são "alguns milhares", enquanto "os estudantes na Itália somam nove milhões" e "as faculdades ocupadas são pouquíssimas". Em entrevista ao jornal "Corriere della Sera", a ministra disse que na educação seu modelo é o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama. "Ele está propondo para a escola americana medidas semelhantes às nossas. Destaco ainda os incentivos por mérito para os professores", disse Gelmini.

(ANSA)

Dedicado à ministra da Educação

segunda-feira, outubro 27, 2008

Manifestações dos professores

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Os professores, descontentes, sentiram que era chegada a hora de se voltarem a manifestar na rua. Vai os movimentos dos professores e convocam uma manifestação. Os professores rejubilam, já têm o seu dia, já têm uma hora e um ponto de encontro, já têm um destino: a Assembleia da República. Há que tempos que eu digo que estas coisas têm que se dirigir para a Assembleia da República, pois é lá o lugar por excelência onde se revogam as leis absurdas e se determina se os rumos que a educação está a seguir são os melhores para o país. Ou pelo menos antes dos governo se determinarem mais pelas directivas europeias do que pelas decisões deste orgão da nossa democracia. Seja como for, pode ser que os deputados sentindo-me impelidos pelo povo trabalhador gritando-lhe à porta assumam mais a força do seu mandato ou tomem mais vergonha na cara.
Vai os sindicatos e dizem: não queremos brincar com a vossa bola. Temos a nossa própria bola e vamos jogar no dia 8 e não no dia 15 com vocês.
Vêm então os movimentos e dizem uns: para termos equipa é preciso jogarmos juntos, afinal gostamos mais da vossa bola.; e dizem outros: vocês não querem jogar com a nossa bola, também não jogamos com a vossa! O jogo é dia 15 com os que lá estiverem presentes.
Entretanto ainda ninguém sabe ao certo quem vai jogar com que bola, mas na minha opinião devia haver as duas manifestações. Ou seja, já que os sindicatos teimaram em convocar uma à parte, já se sabe que essa manifestação vai ter que existir e vai ser participada de acordo com a estrutura montada. Os movimentos e os professores contra a assinatura do Memorando de Entendimento e a favor da revogação do ECD e da lei de gestão das escolas devem ir até lá, para afirmar isso mesmo. Quem sabe não se decide mesmo ali pelos presentes que a retirada da assinatura é o primeiro passo para a unidade.
Mas mesmo se assim acontecesse, a manifestação de dia 15 deve manter-se e ser uma festa em que os professores se congratulam por estar finalmente unidos com as suas organizações numa mesma luta, ou, caso os sindicatos se mantivessem de costas voltadas para esta proposta, então a manifestação de dia 15 continuaria a ser uma afirmação de que há muitos professores que não se revêm nessa forma de negociar dos dirigentes dos sindicatos e que eles, professores, querem coisas diferentes das que os sindicatos se propõem a defender.
O somatório dos presentes nas duas manifestações mostram o quão grande é o descontentamento dos professores, podendo ainda mostrar outras realidades que a seu tempo se irão confirmar ou desmentir.

domingo, outubro 26, 2008

Hora de Inverno

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Imagem daqui

Sempre me fez uma enorme confusão este poder de os humanos alterarem o curso do tempo. São duas horas da manhã, e de repente, por magia já é outra vez uma da manhã. Para onde foi essa hora? Para o mesmo sítio para onde vai a água do mar na maré vaza? Não, certamente que não pois que isso é obra da Natureza. Mas a hora que alteramos artificialmente é irrelevante em relação ao tempo que inventámos para medir o quanto as nossas vidas duram. Só nos atrevemos contudo a alterar o relógio numa hora para trás e numa hora para a frente, porque assim até parece que é possível alterar o natural curso do tempo, num passe de mágica, ilusoriamente. Porque se de facto quiséssemos inverter o curso do tempo, depressa o tempo nos faria adivinhar o nosso embuste e a loucura da nossa ousadia.
Já outros cursos são mais possíveis de alterar, nesta época de artifícios, como a inevitável podridão do sistema capitalista. Por mais mil milhões de dinheiros que se injectem, nos bancos e nas empresas, são como silicone que apenas temporariamente preenche as rugas vincadas de um sistema económico decrépito e moribundo que agoniza não sem antes estrebuchar. Sorve sôfrego os fundos que os Estados lhes oferecem mas que não têm. É tudo uma questão de confiança porque todos os implicados no sistema sabem que real valor por detrás desses milhões de milhões na realidade não existe.
Como nós aceitamos que se alterem as horas porque sabemos que esse tempo é fictício e na realidade não existe. Mais hora menos hora, mais milhão menos milhão, tudo é ilusório menos o desemprego e a fome mundial a alastrar a cada momento que o capitalismo sobrevive.

As várias faces da crise americana

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sábado, outubro 25, 2008

História Exemplar

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Magritte, O homem do chapéu de coco

Entrei.
- Tire o chapéu - disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
- Sente-se - determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
- O que deseja? - investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.

Mário Henrique Leiria, Contos do Gin-Tonic

quinta-feira, outubro 23, 2008

terça-feira, outubro 21, 2008

Lição

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Sai desse livro, meu filho, e dá um pulo cá fora:
olha esta rua
onde boiada não passa
nem passa boi
mas moreninha do cabelo cacheado
passa e passa moreno e passa preta
e passa preto e passa branca e passa branco
numa lição de cores brasileira
humanizando o azul da tarde franca.
Agora vai naquele muro e caligrafa este exercício:

"Abaixo o Homem Sanguessuga do Homem!"

Depois, querendo, volta a ler teu livro.

GEIR CAMPOS TAREFA

segunda-feira, outubro 20, 2008

In Memoriam

Expresso, Acordo Plataforma/ME
(carregar sobre a imagem para ler)

A luta dos professores, a força que demonstraram na Marcha da Indignação em que desfilaram 100 000, era afinal o "restolho já seco" de que Carvalho da Silva falava quando o gritava nas manifestações da CGTP. Então por que seguraram este governo? Por que deitaram um balde de água fria sobre o movimento dos professores com a solução pífia da assinatura do Memorando do Entendimento? Por que não o ligaram aos outros sectores de trabalhadores em luta? Não é uma força cada vez maior que se pede às centrais sindicais para promover e apoiar os trabalhadores organizando a sua luta? Aqui o caso era bem sério e, como tal, tudo foi resolvido nas mais altas esferas. O próprio Carvalho da Silva foi chamado a interceder no sentido de apaziguar a revolta dos professores. E intercedeu. Lá deve ter dado um puxão de orelhas ao seu discípulo Mário Nogueira a conselho do senhor primeiro-ministro, em reunião promovida pelo ministro do trabalho, Vieira da Silva (será por serem todos "da Silva"?) e todo este cozinhado abençoado pelo presidente da república. Cada vez mais à distância, dá que pensar...

Razões que a razão desconhece...

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Comentário encontrado no KAOS, no post Manifestação Professores:


Luta Social disse...

A LUTA DOS PROFESSORES E OS EQUÍVOCOS DE LURDES RODRIGUES

O que à ministra Lurdes Rodrigues lembra, já aos Professores e à sua mais representativa organização sindical, a FENPROF, esqueceu, pelo que se torna necessário tecer alguns comentários face ao que afirmou a ministra em resposta a uma questão que lhe foi colocada em entrevista recentemente publicada. Diz a ministra, a propósito da manifestação nacional convocada para dia 8 de Novembro e das posições da FENPROF sobre a avaliação de desempenho, que espera da “FENPROF sentido de responsabilidade, coerência e também alguma lealdade. Eu não ponho a minha assinatura em qualquer papel, nem a ponho para a mandar apagar amanhã. Quando assumo compromissos, assumo mesmo compromissos.”

Pois bem, a Ministra da Educação desta vez não se enganou, a FENPROF, com sentido de responsabilidade, coerência e também muita lealdade, não deixará de fazer o que deve ser feito! Só que, penso que Lurdes Rodrigues sabe isso, a lealdade de que fala a FENPROF deve-a aos Professores e assumi-la-á. E se, de avaliação do desempenho se falar, coerência é o que a FENPROF não deixará de ter, pois não se limitará a defender a eventual suspensão da sua aplicação, uma vez que quer destruir o modelo imposto pelo ME. A Ministra da Educação sabe disto, ou não tivesse ouvido a declaração da Plataforma Sindical dos Professores, lida à sua frente, por mim, no dia 17 de Abril (data de assinatura do Memorando de Entendimento): “…os pressupostos base do desbloqueio da actual situação de profundo conflito em nada alteram as divergência de fundo que as organizações sindicais mantêm sobre…/…

o modelo de avaliação do desempenho que se considera injusto, burocrático, incoerente, desadequado e inaplicável…/… estas são razões para que, apesar do entendimento agora encontrado, os professores continuem a lutar…”.

Tal como a Senhora Ministra, que não coloca a sua assinatura em qualquer papel nem a manda apagar no dia seguinte, também os dirigentes da FENPROF assim agem. De facto, a assinatura foi colocada num papel que incluía o Memorando de Entendimento, por terem sido assumidas, pelos Sindicatos, e pela FENPROF em particular, as suas responsabilidades. Senão vejamos:

As escolas vivem, hoje, uma verdadeira tormenta com os primeiros procedimentos relativos à avaliação de desempenho a serem desencadeados. A maior parte apenas iniciou a aprovação dos instrumentos internos e, em algumas, está em curso a fixação dos objectivos individuais. Todavia, o ambiente que se sente é já de “sufoco”, de falta de tempo para o desempenho por causa da avaliação do dito, de conflitualidade, por vezes já perfeitamente instalada.

Mas, como diria o povo, ainda a procissão vai no adro… Na verdade, para além destes primeiros procedimentos, faltam, depois, as observações de aulas, a elaboração dos portefólios e/ou de outros instrumentos internos de avaliação, o preenchimento de fichas e grelhas, algumas infindáveis, a disparatada tabela de resultados escolares para que sejam comparados, as entrevistas com os avaliadores, as reuniões das comissões e departamentos, as classificações, a aplicação das quotas…. ou seja, se, neste ano lectivo, o processo for até ao fim, o bom desempenho dos docentes e o normal funcionamento das escolas serão duramente afectados com grande prejuízo para as aprendizagens dos alunos.

Se, ao longo de um ano inteiro, este processo seria muito complicado de levar até ao fim (o que confirma as previsões da FENPROF “… o modelo de avaliação preconizado pelo ME, a aplicar-se, introduzirá focos de instabilidade nas escolas, aumentando a sua instabilidade…”), imaginemos que teria de ser aplicado em apenas 3 meses (por exemplo, de Outubro a Dezembro…). Admitamos agora que, como pretendia o ME, esses três meses teriam sido Abril, Maio e Junho, isto, é, os últimos do ano lectivo transacto… Que teria acontecido aos professores? Como teria sido o final de ano dos alunos portugueses? O que teria acontecido à Escola Pública? Sim, à Escola Pública, pois é dessa que falamos…

A Escola Pública, que é frequentada pelos filhos dos trabalhadores e em que trabalha a esmagadora maioria dos docentes, teria entrado em colapso, os alunos teriam sido prejudicados, em alguns casos irremediavelmente, os professores teriam sido muito prejudicados.

Nestes, haveria despedimento de contratados e, este ano, no grande grupo dos docentes dos quadros, teríamos perdas de dois anos de serviço, devido aos efeitos previstos da avaliação… Quanto ao regime de avaliação, manter-se-ia em vigor sem que ficasse previsto qualquer período para a sua alteração.

É fácil perceber, e a FENPROF nunca o escondeu, que a assinatura do Memorando de Entendimento não visou caucionar o modelo de avaliação; só por má-fé se pode afirmar o contrário. A assinatura, em 17 de Abril, do Memorando de Entendimento, foi, talvez, a decisão mais difícil de tomar, eventualmente a menos simpática (apesar de legitimada por 82% dos professores que participaram no Dia D), mas a única que, responsavelmente, poderia ser tomada. É que os Sindicatos não podem deixar de assumir as suas responsabilidades perante os Professores, perante a Escola Pública e perante a Sociedade.

Fizeram-no e bem. Orgulho-me de ter sentido o peso de uma classe profissional naquele momento e de ter assumido, com responsabilidade, a sua representação. Se isso não tem acontecido em que situação estaríamos agora? Ninguém sabe e esse é o problema. Os professores perguntar-se-iam sobre a utilidade de organizações que se teriam revelado incapazes de parar o tremendo disparate que se abatia sobre as escolas. Mas admitamos, como alguns afirmam, que a Ministra teria caído (o que duvido; penso, mesmo, que estaria hoje reforçada…) que ganhavam os portugueses com isso?! Uma cara mais simpática?! Talvez, mas isso aconteceu na Saúde e que mudanças trouxe?! Quantos centros de saúde reabriram? Quantas maternidades voltaram a funcionar? Que vantagens tiveram os trabalhadores do sector no que respeita às suas carreiras, aos horários de trabalho, ao emprego ou condições trabalho?

Nenhumas!

A luta está aí de novo, e continua já em 8 de Novembro, com todos aqueles (e são a maioria) que ainda não desistiram! Alguns decidiram manifestar-se, também contra os Sindicatos e chegaram a marcar data.

Estão no seu direito, claro, mas o serviço que prestam não é, de forma alguma, aos Professores. Estou convencido que Lurdes Rodrigues agradecerá e continuará, nas entrevistas seguintes, a atacar os Sindicatos ou, também ela, a tentar denegrir a sua imagem.

Mário Nogueira
Secretário-Geral da FENPROF
.....
Comentário de Manuel Baptista
Outubro 17, 2008 às 7:41 pm
É patético… este gajo esquece-se de dizer (mas todos nós sabemos!)que as organizações que apelaram para a manif de 15 de Nov. o fizeram ANTES de que qualquer sindicato tivesse feito qualquer esboço de movimento de contestação!

Quando essas associações fizeram a tal convocatória, que não era dirigida CONTRA sindicatos (isso é uma pura calúnia, inclusive muitos dos seus mentores e apoiantes estimavam como positivo que as estruturas sindicais apoiassem a manifestação…), vem o Sr. Mário Nogueira atirar contra a referida manifestação e convocar à pressa um «plenário» de sindicatos seguido de manifestação para o sábado anterior!!!

Penso que está claro quem é apologista da divisão!
Não é a Fenprof, que congrega provavelmente muitas dezenas de milhar de membros que NÃO SE REVÊEM NAS DECLARAÇÕES DIVISIONISTAS e persecutórias do senhor Nogueira.

domingo, outubro 19, 2008

Professores: Unidos contra a assinatura do Memorando de Entendimento


CONTRA A ESPADA DE DÂMOCLES O MEU GRITO DE REVOLTA!

UNIDADE E LUTA É O CAMINHO!

João Vasconcelos (*)


Sou membro do Conselho Nacional da Fenprof e também faço parte do Movimento Escola Pública pela Igualdade e Democracia. Mas acima de tudo sou um modesto professor. Um professor que discordou – tal como todos os professores do meu Agrupamento que reuniram no Dia D - do Memorando de Entendimento assinado entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical de Professores. E porquê? As razões encontram-se expostas num artigo que escrevi no passado dia 14 de Abril (antes do Dia D, 15 de Abril e em que a Plataforma já anunciara que aceitava o Memorando). Este artigo, com o título “Vitória Pírrica?”, circulou pelos blogues e até motivou a criação do blogue http://fenixvermelha.blogspot.com/, (aqui se encontra como 1º artigo), perante o grande descontentamento e revolta face à previsível assinatura do memorando. Na reunião do Conselho Nacional da Fenprof, de Junho, continuei a discordar do acordo e, a realidade dos últimos desenvolvimentos – com apenas um mês de aulas – estão a provar a justeza das minhas posições (e de todos aqueles que não aceitaram o memorando, um pouco por todo o país).

Escrevi em “Vitória Pírrica?” que o «Memorando (…) se transformará numa grande vitória de Sócrates e da Ministra e numa profunda e dramática derrota dos professores, se estes não continuarem vigilantes e mobilizados. Afinal o que se conseguiu com o Memorando? Muito pouco, tendo em conta que vieram 100 mil professores para a rua. A Marcha da Indignação do passado dia 8 de Março é a prova provada do descontentamento e da revolta de uma classe profissional como nunca se viu neste país. E tudo levava a crer que os professores estavam dispostos a continuar uma luta que só agora a iniciaram em força. Ficamos com um sentimento de vazio e com uma sensação de que era possível ir muito mais além. Conseguiram os professores uma vitória pírrica? Se assim foi, vão ser, nos próximos tempos, inevitável e clamorosamente derrotados. E a Escola Pública vai ser, inexoravelmente destruída».

Efectivamente, digo e reafirmo hoje que os professores conseguiram “uma mão cheia de nada” e a questão central – esta avaliação de desempenho - apenas foi protelada no tempo. Com uma agravante: bem muito pior do que julgou a Plataforma Sindical. Passou apenas um mês de aulas e os docentes estão fartos, já não aguentam mais. Tal como no início do ano, a sua revolta surda sente-se e ouve-se nas escolas e vai explodir de novo. É por isso cedo para Sócrates e a Maria de Lurdes cantarem vitória, pois os professores vão mobilizar-se de novo e voltar à rua, não obstante ter sido assinado um Memorando de entendimento. A próxima vitória não poderá ser à moda de Pirro – as consequências para a classe docente seriam desastrosas.

Voltando ao artigo, sublinhava a dado passo: «Só nos meses de Junho e Julho de 2009 – como prevê o Memorando – é que haverá ‘um processo negocial com as organizações sindicais, com vista à introdução de eventuais modificações ou alterações’ do modelo. Mas então não se trata de um modelo de avaliação altamente burocrático, injusto, punitivo, subjectivo, arbitrário, economicista, quer vai manter as quotas e assente numa estrutura de carreira dividida em duas categorias? É este o cerne da questão – o Estatuto da Carreira Docente tem de ser revisto, alterado, revogado e os professores jamais poderão aceitar estarem divididos, de forma arbitrária, em duas categorias. O grito dos professores mais ouvido foi: ‘categoria só há uma, a de professor e mais nenhuma’. Disto não podemos abdicar».

Reafirmo que aqui reside o cerne da questão – trata-se de um modelo de avaliação que divide os docentes em duas categorias e que é economicista, punitivo, subjectivo, arbitrário, injusto e terrivelmente burocratizado. Veja-se o que está a acontecer nas nossas escolas – são reuniões e mais reuniões, grelhas para tudo e para nada, objectivos individuais que não têm ponta por onde se pegue, mais instrumentos para isto e para aquilo, são os inúmeros planos de aula, as aulas assistidas por titulares com formação científica diferente dos assistidos, é o receio da não obtenção de créditos e a penalização daí decorrente, é a conflitualidade nas escolas a aumentar (e infelizmente há sempre os mais papistas que o Papa). São medidas que não promovem a melhoria pedagógica e científica, antes pelo contrário e que visam o controlo administrativo dos professores e a proibição de ascenderem ao topo da carreira. É a Espada de Dâmocles que se encontra suspensa sobre a cabeça dos professores e educadores deste país. Nunca, em caso algum, a Plataforma Sindical –e em particular a Fenprof, como a estrutura sindical mais representativa da classe docente – devia ter assinado um acordo que contemplasse a manutenção do actual ECD. E os professores estavam dispostos a continuar com a luta.

Concluía em “Vitória Pírrica?” que os professores «terão de continuar a lutar (…), mostrando à Plataforma Sindical que é possível obter conquistas bem mais significativas (…). A Plataforma deverá continuar a manter a unidade e continuar a ser a porta-voz dos anseios e reivindicações dos professores. Um passo precipitado ou mal calculado poderá deitar tudo a perder, depois será tarde demais para voltar atrás. Por mim não assinava o acordo e continuava com a luta. Há razões muito fortes para tal. Temos a força de 100 mil professores na rua. Este é o nosso ponto forte e, simultaneamente, o ponto fraco de Sócrates, de Maria de Lurdes e do governo».

Os 100 mil professores que protagonizaram a Marcha da Indignação no passado dia 8 de Março nas ruas de Lisboa, responderam em uníssono aos apelos dos Sindicatos e dos Movimentos. A unidade foi a razão da nossa força e todos compreenderam isso. Cometeu-se um erro com a assinatura do Memorando. Mas tudo isto pode ser ultrapassável continuando a apostar na unidade e de novo na luta. Um novo passo errado acarretará, certamente, consequências desastrosas para o movimento docente e para a Escola Pública, que perdurará por largos anos. Respondendo aos anseios, aspirações e revolta dos professores alguns Movimentos convocaram uma manifestação nacional, para Lisboa, dia 15 de Novembro. Mais uma vez os Movimentos se anteciparam aos Sindicatos, não havendo nenhum mal nisto. Já não vivemos nos séculos XIX e XX, a vida mudou, os tempos são outros – só não mudou a exploração e a opressão dos poderosos sobre os mais fracos, antes agravou-se. E os Movimentos hoje fazem parte da vida e das lutas dos Povos. Assim como os Sindicatos continuam a ser imprescindíveis – quem não compreender isto não percebe a realidade onde se movimenta.

A divisão será o pior se acontecer no seio dos professores e em nada acrescentam as declarações anti-sindicais ou anti-movimentos. Todos fazemos falta, tal como aconteceu no passado dia 8 de Março. Quem protagonizar a divisão só irá dar mais força a um governo que despreza, massacra e procura destruir a classe docente e a Escola Pública e, será meio caminho andado para, mais cedo do que espera, ficar arredado da marcha inexorável da História.

O meu apelo é para que todos se entendam – Sindicatos e Movimentos de Professores – chegando a um consenso para a realização, em conjunto, de uma poderosa Manifestação Nacional no mês de Novembro. Condição indispensável para a obtenção da vitória. Os professores irão provar que têm voz e que têm força. Entendimento sim, mas desde que se aniquile o “monstro” (esta avaliação de desempenho e o ECD). Caso contrário, seremos devorados. Contra a “Espada de Dâmocles” o meu grito de revolta! Unidade e luta é o caminho!


(*) Membro do Conselho Nacional da Fenprof, do Movimento Escola Pública e Delegado Sindical na Escola E. B. 2, 3 D. Martinho de Castelo Branco – Portimão

Nota: Caso considerem útil, agradeço a divulgação pelos vossos contactos e blogues.

sábado, outubro 18, 2008

«Migalhães»

' MIGALHÃES '

Lá vem com o Avelar
O filho do Zé João
Vem do centro escolar
Cansado de palmilhar
A caminho da povoação

Não há médico na aldeia
E a antiga escola fechou
Não tem carne para a ceia
Nem pitróleo para a candeia
Porque o dinheiro acabou

O seu pai foi para França
Trabalhar na construção
E a mãe desta criança
Trabalha na vizinhança
Lavando pratos e chão

Mas o puto vem contente
Com o 'Migalhães' na mão
E passa por toda a gente
Em alegria aparente
De quem já sabe a lição

Um senhor muito invulgar
Que chegou com mais senhores
Veio para visitar
O novo centro escolar
E dar os computadores
E lá vem o Joãozinho
No seu contínuo vaivém
Calcorreando o caminho
Desesperando sozinho
À espera da sua mãe

Neste país de papões
A troco de dois vinténs
Agravam-se as disfunções
O rico ganha milhões
E o pobre, 'Migalhães'!


(autoria desconhecida, recebido por mail)

sexta-feira, outubro 17, 2008

Prémios Ideias Fixas 2008

A todos os meus visitantes que quiserem votar no Pafúncio, podem fazê-lo AQUI:

O amigo Sá Morais lançou a ideia no seu Ideias Fixas e muito me enterneceu ter-se lembrado de lá colocar o meu mui humilde blogue que tão desprezado anda nestes últimos dias.

Já agora explico por que anda o Pafúncio tão desleixado: a acção sobrepôs-se uma vez mais à imobilidade, e o Pafúncio não é homem de acção, ele é até meio aburguesado. Já sabem que sou de ondas. Ora passo horas diante do computador a teclar ninharias; ora saio para a rua para me meter em muitas coisas ao mesmo tempo: uma associação de pais em final de mandato, a ter que apresentar as papeladas em ordem; uma campanha para a eleição para um novo mandato; duas comissões, duas árduas tarefas - a defesa da escola pública/a ruptura com a União Europeia; uma passagem atribulada pelo Movimento Associativo dos Pais (MAP), reuniões atrás de reuniões, aulas de Tai Chi e Chi Kung (ainda muito insipiente, movendo-me em tentativas e imitações), blogues colectivos, filhos e cadilhos, panelas e fundilhos. E hoje surgiu um telefonema que promete que vem por aí muito trabalhinho pela frente, daquele de queimar as pestanas (não, não arranjei emprego, eu apenas sei meter-me em trabalhos!). Um dia eu crio um B.D.I. (Blogue Devidamente Identificado) e lá coloco a boca no trombone sobre todas estas coisas da esfera privada que só vou dizendo aqui por meias palavras.

Suspeito que o Pafúncio vai passar um mau bocado, deixado por sua própria conta e risco, sem assiduidade nem brio.

Altas horas passo por aqui e apenas vos deixo a todos um abraço sem prazo de validade e a partilha de um video daquele músico que me é muito querido e a quem sempre recorro quando fico sem palavras.

Até já!







terça-feira, outubro 14, 2008

In Memoriam


Numa altura em que, mais do que nunca, é preciso alertar pais, alunos e população para o estado de coisas que se vive na educação, alguém atento lembrou este excerto da entrevista de Medina Carreira à Sic em Julho passado:

JGF - Mas na educação há, pelo menos, a avaliação dos professores…

MC – Mas você acredita nisso?

JGF – Pelo menos, oficialmente, está aprovada….

MC - Oiça, eu nem quero falar da educação, porque as crianças, os jovens de hoje, eles não perceberam que se deviam revoltar contra os políticos. Os políticos estão a hipotecar o futuro deles.

(…) A ministra não percebeu o que estava a fazer, porque ela quis pôr os professores na ordem mantendo os alunos indisciplinados (…) A primeira coisa era pôr ordem nas aulas.

Se os pais tivessem a noção do mal que estão a fazer aos filhos e se os filhos tivessem a noção da hipoteca que os políticos estão a lançar sobre eles no futuro - vão ficar uns ignorantes a maior parte dos casos - eles já tinham vindo para a rua protestar. Não eram os sindicatos, eram os meninos.

GF - O que o Sr. está a referir já não é um problema de governação ou de relação entre governados e governantes.

MC – É sobre quê?

GF - É mais vasto, é civilizacional… é da organização do país e da relação de civilidade entre as pessoas.

MC - Se você disser aos pais e aos meninos: "Bom, isto é civilizacional, somos todos uns selvagenzitos, não é para aprendermos coisa nenhuma, nem saber contar, nem escrever, nem falar, nem pensar , mas isto vai-lhes sair muito caro". Agora era dizer-lhes isso, não era dizer: eles são todos uns ignorantes mas os exames estão a dar melhores resultados com progressos brutais de um ano para o outro. Isto é tudo uma mentira, ninguém acredita. (...)

O problema é este: aqueles que precisavam de ser objecto de exigência e aprendizagem – que são aqueles das classes mais baixas – eles vão ficar tão preparados que serão de classes mais baixas amanhã e os seus filhos (de [GF] serão de uma classe média, como a minha filha é. É que nós estamos a manter esta estratificação exactamente não ensinando àqueles aos quais precisaríamos de exigir – porque aqueles que estão em baixo é que precisam de ser trazidos para cima. Não é dizer "Coitadinhos, não aprendam nada, vocês não têm culpa de nada, são uns desgraçadinhos…" Não, não, esses é que têm de ser puxados, não são os seus filhos.

GF – E esses fariam o país progredir?

MC – Exactamente, esses é que precisam...

GF – E o sistema como está não os ajuda?

MC - Você não me obrigue a ser eu a interrogá-lo. Eu deixei de ensinar porque estava farto de ignorantes. Eles não sabiam falar, não sabiam escrever, erros uns a seguir aos outros… Aliás hoje alguns ministros têm dificuldade em articular, o vocabulário é escasso, a gaguez é imensa, há uns « supônhamos» que saem assim um bocadinho descuidados…Ninguém quer denunciar porque isto não é simpático, é melhor andarmo-nos a abraçar uns aos outros. Não vamos longe com esta falta de qualidade!

(recebido por mail)

Vamos para a frente com a organização popular!


(de um professor que tenho a sorte de conhecer)

Estou bastante céptico sobre a (verdadeira) vontade de lutar das pessoas, neste país. Tenho-me batido ao longo dos anos pela defesa da escola pública, por uma intervenção sindical eficaz e por um funcionamento democrático e cooperativo no meu local de trabalho. Estou cansado, vai-me faltando a paciência para aturar as poses; desconsolado com as pessoas que afirmam - pelos cantos das salas de professores ou pela blogo- esfera - uma falsa dissidência, para logo obedecer à voz do dono, em reuniões de departamento, etc. Essas pessoas «acham bem» que nós lutemos, mas não irão jamais «queimar-se» junto dos «chefes». É triste mas receio bem que na tal manif de 15 de Nov. irei encontrar várias pessoas oportunistas, que eu conheço bem como «colegas» de trabalho, no quotidiano. Essas pessoas recusam o óbvio. Para se lutar temos de nos organizar: temos de constituir comissões de base. Temos de agrupar as pessoas dentro de cada escola, temos de debater conjuntamente o que será mais apropriado fazer-se, temos de encontrar uma forma de auto-organização que nos defenda, em face da casta todo-poderosa dos «avaliadores». Estou decepcionado com as pessoas; dizem que sim, mas não fazem nada, não se dispõem realmente a lutar. Ir a uma manif, a 15 de Nov. sim, porque não, mais uma passeata, gasta-se um pouco de sola dos sapatos, mas é um bom exercício, a marcha; podemos encontrar algumas pessoas que estimamos; podemos gritar umas palavras de ordem, com piada, nem sempre as que as organizações promotoras previram, etc... Mas, «para mostrar ao poder» isso é que não, não precisamos de mostrar ao poder coisa nenhuma. Então «mostrar» ... a quem? Aos bonzos sindicais, mostrar-lhes que sabemos perfeitamente organizar uma manif, sem precisar deles para nada? Mostrar aos 'cobardolas' que somos 'corajosos'??? Mas, para quê?

Será necessário firmar o nosso espírito em duas ou três coisas:

A- Sem organização e luta no local de trabalho, nada feito.

B- Cada comissão local deverá encontrar as formas apropriadas de resistência

C- Temos de nos coordenar com os pais, que nos ajudem a encontrar soluções verdadeiras

Comunicado do POUS (Núcleo da Marinha Grande)



Partido Operário de Unidade Socialista

Secção portuguesa da IVª Internacional



Nem mais um cêntimo para os especuladores!

É urgente constituir um Governo que decrete a renacionalização da Banca

para a criação de emprego e um plano de urgência para salvar o país!


A recente injecção massiva de dólares e de euros, para procurar evitar o colapso dos bancos de investimento americanos, não foi bastante para parar a crise.

Assiste-se a uma crise económica generalizada, atingindo todos os sectores, a começar pela indústria, e em todos os países.

O mundo inteiro vê-se precipitado, por um sistema capitalista falido, numa crise de consequências incalculáveis para milhões de seres humanos.

«A situação na Europa é pior do que nos Estados Unidos», afirma o jornal inglês Finantial Times, de 2 de Outubro, que prossegue: «A Europa continental está na via de uma recessão ainda mais profunda do que a dos EUA».

E não é este o resultado da política da União Europeia, que – por exemplo, só nos últimos 15 dias – injectou nos circuitos financeiros 931 mil milhões de euros?

No nosso país, estão à vista as consequências da política de subserviência do governo de Sócrates, bem como dos governos dos últimos 22 anos, às instituições da União Europeia – instrumentos da aplicação desta política de especulação desenfreada do imperialismo americano.

Impuseram-nos a destruição da produção agrícola, obrigaram-nos a importar a maior parte do peixe, destruíram-nos a indústria, retiram-nos o poder de compra com o euro, impuseram-nos um Código do Trabalho que destrói todos os nossos direitos laborais – o Código de Durão Barroso / Bagão Félix.

Podemos, naturalmente, ter opiniões diferentes a este respeito, mas fácil será de constatar – pelas organizações e militantes políticos que se reclamam da defesa dos trabalhadores e dos seus direitos – que o governo de Sócrates, ao arrepio do voto popular que expressava a ruptura com esta política, não a tem senão refinado. Se o deixarem, não ficará pedra sobre pedra dos direitos sociais e democráticos arrancados com o 25 de Abril, na Saúde, na Segurança Social e na Educação.

No sector produtivo a situação é cada vez mais dramática.

Segundo dados da empresa de crédito bancário COFACE, no primeiro semestre deste ano, o número de falências de pequenas e médias empresas por mês desde foi cerca de 80, provocando um aumento brutal do número de desempregados. Além disso, encontravam-se igualmente a decorrer nos tribunais mais 475 acções de insolvência do que em igual período do ano passado.

Na região da Marinha Grande – zona de forte implantação industrial – vivem-se já momentos muito difíceis; mas, a continuação desta política e a aceleração da crise financeira, podem vir a varrer sectores inteiros das indústrias tradicionais, como o vidro, os moldes e os plásticos. No concelho contíguo de Alcobaça, o número de empresas cerâmicas, com projecção internacional, já encerradas e a ameaça que paira sobre toda uma série de outras, leva a prever que a breve trecho, podemos estar confrontados nesta área a uma verdadeira zona de “terra queimada”, com as consequências que se conhecem em termos de desemprego e de degradação das condições sociais de existência da maioria da população.

O encerramento, em pouco mais de um ano, de empresas do sector de Cristalaria manual – como a Dâmaso, a Marividros, a Canividro e a Vitroibérica, atirando para o desemprego directo largas centenas de trabalhadores e levando ao fecho de pequenas oficinas de decoração e acabamentos – reduziu este sector à sua expressão mais simples, ameaçando-o de extinção.

Mas será que a continuação desta situação terá que ser inevitável, na Marinha Grande e no resto do nosso país?

O P.O.U.S. pensa que, longe de ser irremediável, a situação pode ser invertida.

O P.O.U.S. dirige-se a todos os Partidos políticos que se reclamam da defesa dos direitos dos trabalhadores, a todos os Sindicatos: É necessário pormo-nos de acordo sobre UM PLANO DE URGÊNCIA PARA SALVAR O PAÍS!

- Um plano que em vez de entregar biliões de Euros aos mesmos especuladores, estipule a renacionalização do sector bancário, como aconteceu a seguir ao 25 de Abril.

Foi assim que, nessa época, foi possível evitar – com a ajuda do Sindicato dos Bancários e das C.Ts. da Banca – a fuga de capitais, organizada por alguns dos mesmos grupos económicos de hoje, e com essas verbas salvar da falência milhares de empresas.

- Um plano que ponha na ordem do dia a renacionalização dos sectores estratégicos da economia, tal como foi consignado na Constituição Portuguesa de 1976.

De facto, só o controlo dos combustíveis e do sector energético, por parte do Estado, permitirá criar condições de competitividade às pequenas e médias empresas das indústrias tradicionais – como a cerâmica, o vidro ou o têxtil.

- Um plano que a partir dos passos já dados no passado, na Marinha Grande, em defesa de um preço único do gás para a Garrafaria e para a Cristalaria manual que paga actualmente cerca de 40% mais caro – torne possível reanimar o sector, consolidando as empresas existentes e permitindo eventualmente a reabertura de outras.

Só esta orientação permitirá tirar o país da crise em que está a ficar mergulhado, implicando a existência de um Governo que ponha em prática políticas de cooperação solidária com os outros povos da Europa e do resto do mundo. Tal objectivo põe na ordem do dia a ruptura com a ditadura do Banco Central Europeu – ou seja, com a União Europeia e todas as suas instituições.

Estas são as propostas que o POUS, responsavelmente, desde já avança. Outras medidas poderão e deverão ser discutidas e integradas neste Plano de urgência para salvar Portugal.


Com o objectivo de dar início a este debate e para a constituição de uma Comissão de Iniciativa para a elaboração de um Plano de Urgência para salvar o nosso país, o P.O.U.S. – que não tem interesses distintos dos do conjunto da população trabalhadora – convida as organizações e os militantes que se situam no terreno da defesa dos interesses dos trabalhadores, a participarem na

Reunião/debate, a realizar na Rua Álvaro Duarte nº 2

na MARINHA GRANDE, no sábado 18 de Outubro, pelas 16 horas.


8 de Outubro de 2008


O núcleo da Marinha Grande do P.O.U.S.

domingo, outubro 12, 2008

Manifestação dos profes 15/Novembro em Lisboa: Marquês de Pombal, 14h

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Parece que... já é oficial!
Parece que... desta vez é mesmo para a Assembleia da República!
Parece que... desta vez ou vai ou racha!

Eu não sou prof
mas vou lá estar
porque tenho filhos na escola
porque confio que desta vez os profes não se vão deixar enganar
porque o Memorando do Entendimento foi um tiro no pé
porque o Albino Almeida não vai lá estar
porque não gosto destas políticas educativas
porque não suporto esta ministra
porque já chega de esfacelar a Escola Pública
porque a Lei de Gestão é anti-democrática


sábado, outubro 11, 2008

Retirada da assinatura do Memorando, já!

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Imagem Kaótica

Mário Nogueira à espera da última como o Bocage

(leia aqui)




Governo lembra compromissos

A Fenprof já tinha admitido, esta segunda-feira, voltar a convocar uma manifestação ainda este ano para "quebrar o actual clima de medo e de intimidação" que diz estar a viver-se nas escolas devido ao modelo que está a ser aplicado. O secretário-geral da estrutura, Mário Nogueira, lembrou que foi pedida há duas semanas uma reunião com a ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, e avisou que dependerá "das respostas que o Ministério nos der" o recurso ou não a formas de luta.
Uma posição que já motivou críticas da parte do secretário de Estado da Educação. Valter Lemos lembrou ontem, à margem de um encontro nacional de formadores, no Porto, que, ao abrigo do "memorando de entendimento" assinado em Abril e
ntre a ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, e a "plataforma" de sindicatos do sector, estes últimos concordaram com a aplicação do actual modelo até ao final do ano lectivo: "No final do ano escolar fazia-se a avaliação dos resultados", lembrou, acrescentando: "Estamos em Outubro e esta postura diz tudo."
Contactado pelo DN, o Ministério da Educação não quis reagir à proposta da Fenprof.

Entretanto o 15 de Novembro continua em debate... (e que debate!):


Aqui em:

quinta-feira, outubro 09, 2008

Homenagem

Jacques Brel - Tango Funèbre

Faz hoje 30 anos que partiu um dos melhores!

«A estupidez não escolhe entre cegos e não cegos»


Trailer do filme “Ensaio Sobre a Cegueira”


Quando um dia destes ouvi a notícia fiquei atónita, achei um enorme disparate: como pode um filme tornar-se polémico ao ponto de fazer uma quantidade de pessoas cegas se revoltarem contra ele? Mesmo no sentido físico da questão: como pode um filme levar cegos a ir “vê-lo” para depois se rebelarem contra o que… não viram (!)

Não li ainda o livro do José Saramago (e quem não lê é como quem não vê), mas pela actualidade da temática (ver sinopse), já está na calha para ser lido muito brevemente. Imagino-o altamente simbólico e altamente realista, a um tempo. Mais uma vez Saramago parte de uma situação imaginária, uma estranha doença, tão possível como tantas outras, como a morte sair à rua e não matar ninguém, outra situação simbólica e no entanto real enquanto remete para a possibilidade que a medicina tem cada vez mais de prolongar a vida às pessoas.

Voltando à questão dos protestos, a qual me inquieta por haver quem proteste por tomar esta doença por uma cegueira real, física, igual à sua própria, e não simbólica, como seria de esperar, dado que toda a Literatura Mundial está cheia de referências simbólicas, visão/cegueira, luz/trevas, de conhecimento/ ou de ignorância. O motivo dos protestos são neste caso uma “cegueira” semelhante à da Igreja Católica que insiste em tomar à letra o texto bíblico, em vez de o considerar um texto altamente simbólico, tendo esta sua obtusa obstinação atrasado em anos a concepção de ser a terra a girar em torno do sol e não o contrário e a sua teima queimado inocentes na fogueira.

Saramago é autor de obras construídas à volta de uma simples ideia genial pela originalidade e que a partir dela consegue desenvolver uma trama de implicações que dão corpo aos romances. Partindo de uma simples formulação do tipo: e se de repente as pessoas todas deixassem de ver claramente?; ou e se de repente a morte não cumprisse mais a sua função?; ou e se os eleitores votassem massivamente em branco?, Saramago constrói os seus romances com base na observação da natureza humana, dando-lhes assim uma dimensão universal e humanista (e desumanista?)

No Ensaio sobre a cegueira há contudo lugar para o ser excepcional, aquele que não é acometido pela mesma doença que os outros e que procurar reatar com a “normalidade” perdida.

Não são os cegos que são tratados como “monstros”, como afirma o presidente da Federação Nacional dos Invisuais, Marc Maurer, "O filme retrata as pessoas cegas como monstros e isso é mentira. A cegueira não transforma pessoas decentes em monstros", indignou-se Marc Maurer. Já na literatura clássica os humanos eram acometidos de uma cegueira súbita deixada cair sobre os seus olhos pelos deuses enganadores. Quem assim “vê” a intenção da obra, está apenas a ter uma visão tubular, identificando aquela cegueira alegórica com a verdadeira cegueira dos cegos (que nunca viram ou que a dado momento deixaram de ver por qualquer doença física ou mesmo psicológica). Saramago comentou a atitude dos que prometem continuar a protestar e a boicotar a apresentação do filme nas salas de cinema dos EUA impiedosamente à sua maneira:

"É uma associação, ou associações de cegos que decidem, em primeiro lugar, ter uma opinião sobre um filme que não viram - e isso infelizmente, sobretudo para eles, que não podem ver. Alguém lhes terá dito que o filme é violento, que os cegos se portam mal, e eles reagem de uma maneira absolutamente, enfim, não sei como chamar-lhe", continuou.

"A estupidez não escolhe entre cegos e não cegos. É uma manifestação de mal humor, assente sobre coisa nenhuma, e pronto, acabou, nada mais" (José Saramago)

Neste caso confirmam-se dois provérbios populares: o melhor cego é aquele que não quer ver e em terra de cegos quem tem um olho é rei. O primeiro dedico-o ao senhor Marc Maurer e a todos quantos insistirem em não ver o carácter alegórico d@ obra/filme; o segundo dedico-o ao José Saramago que, independente de se gostar ou não dos seus livros, é inegavelmente um grande escritor do nosso tempo.

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