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sábado, junho 16, 2007

O Juiz Dura Lex Sed Lex - Da Natureza das Coisas


Já que trouxe para aqui este assunto, quero dar-lhe continuidade:

“É da natureza das coisas que a simples existência de uma manifestação de militares põe em causa a disciplina castrense”, lê-se ainda no texto, que considera igualmente que os militares desrespeitaram o disposto no Regulamento de Disciplina Militar (RDM) por não cumprirem uma ordem das “autoridades policiais e da administração pública”.

“Bastaria a sua participação fardada numa manifestação para o seu comportamento integrar a previsão legal”, de desrespeito da lei, considera a sentença.

O juiz justificou a recusa da providência cautelar com o risco da “perda da disciplina militar”, se se esgotarem “todos os meios contenciosos de impugnação” antes de “a questão ser decidida” pelos tribunais.

“A pena nunca poderia ser cumprida porque haveria sempre a hipótese de a impugnar invocando uma qualquer nulidade”, argumentou, considerando que essa seria “uma solução inaceitável”.

“Se a aplicação da pena disciplinar tiver de esperar pela decisão de uma acção que ainda não foi interposta, é a disciplina que fica posta em causa”, defende ainda o juiz.

Ler mais aqui e aqui.


Conforme eu já tinha dito, estes militares, por serem militares -- o mesmo aconteceu há pouco com as duras penas aplicadas ao sargento Luís Gomes (ver números da petição online
aqui)-- mas dizia eu, estes militares cumprem penas, os seus actos são punidos por Lei para que sirvam de exemplo. Os militares, a polícia e outras forças de autoridade, devem, segundo a lei castreense, acatar as leis, e calar o seu protesto contra a perda de direitos profissionais, o seu castigo serve de exemplo ao resto do povo; mas estes têm dirigentes sindicais que dão a cara por eles e se revoltam publicamente; outros camaradas mobilizam-se para os defender. O juiz recusou a providência cautelar em nome da disciplina e constitui Lei a sua interpretação de o que é uma "manifestação" e de o que é um "passeio de descontentamento". A partir de agora, quem organize uma passeata com os amigos está a fazer uma manifestação. Manifestações e passeatas, tudo no mesmo saco porque o senhor juiz assim o diz. E militares não estão autorizados a participar em manifestações, logo as passeatas são proibidas. Os militares são assalariados, e como tal têm que poder lutar pelos seus direitos; mais que não seja, devem ter o direito à livre circulação pela cidade e a exercer a sua liberdade de expressão. Afinal os militares vivem ou não numa democracia? Não foi a democracia o rumo que o 25 de Abril tomou? Que democracia é esta que usa a lei para punir os que pacificamente protestam enquanto deixa à solta os pedófilos, os corruptos e os bandidos? Que democracia é esta em que quanto mais bandido mais poder se alcança? Em que os militares, alguns que até participaram na revolução, não se podem unir, nem passear o seu descontentamento -- e nós, podemos?
É sabido que a democracia feneceu no próprio dia em que foi conquistada por causa dessa mesma diciplina militar. Porque não desobedeceu Salgueiro Maia quando viu que o poder era entregue a Spínola? Em vez de a deixar nas mãos do povo, foi ali mesmo entregue a um outro ditador, ao nosso coroné marcelento e colonislista, o cabecilha da maioria silenciosa (não vos dá arrepios, todo esse clima fascizante?). Em 1975 já andava tudo a segurar a revolução com unhas e dentes e os rastejantes a minar, a minar, a estender os tentáculos, para agora tomarem tudo. No jogo sujo da democracia, vejam quantas regras do jogo foram entretanto alteradas, observem hoje a que batotas estamos todos sujeitos por lei neste país de marinheiros detidos, neste país de pedófilos à solta. Como podemos não manifestar o nosso descontentamento?

quinta-feira, junho 14, 2007

As punições do nosso descontentamento


20:57 / 14 de Junho 07 TSF Online:

DEFESA
Mais um sargento detido por participar em protesto

Um sargento da Marinha começou, esta quinta-feira, a cumprir uma pena de cinco dias por ter participado num protesto, em Novembro de 2006. No entanto, a Associação Nacional de Sargentos interpôs uma providência cautelar pela sua libertação.

António Lima Coelho, presidente da ANS, disse à Agência Lusa que o sargento António Dias, membro da direcção da associação, começou hoje a cumprir a punição e está detido na Base Naval do Alfeite, em Almada. Esta manhã, a ANS accionou os serviços jurídicos para interpor uma providência cautelar no Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada, com vista à libertação do militar, e Lima Coelho espera que produza efeitos «ainda hoje» ou «no máximo» sexta-feira de manhã. O sargento António Dias é o 12º militar a ser punido pelas chefias militares por participar no «passeio do descontentamento», realizado a 23 de Novembro de 2006, em Lisboa, contra os cortes na defesa e no sistema de saúde, considerado ilegal pelo Governo. Lima Coelho explicou à Lusa que o sargento Dias foi punido «por ter assistido, num local privado, a esplanada do Café Martinho da Arcada, à conferência de imprensa que se seguiu ao passeio». Ainda segundo o dirigente associativo, António Dias aparece numa «reportagem fotográfica» alegadamente fornecida pelo Ministério da Defesa Nacional às chefias militares e que já foi objecto de uma queixa no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP).

Mais uma notícia que vem confirmar que a liberdade está em risco com este governo. Os militares não se podem manifestar mas até há pouco podiam sair à rua, podiam sentar-se numa esplanada e andar pelas ruas sem o temor de serem fotografados, podiam expressar a sua opinião sem temerem a prisão. Foi pela defesa dos seus direitos de classe profissional, e para garantirem a todo o povo português -- eles também são o povo português -- o fim da ditadura e a reposição da liberdade, que fizeram o 25 de Abril. Agora voltam a cair em situações de clandestinidade, e os que ousam ainda assim encontrar estratégias para protestar pacificamente pela manutenção seus direitos que estão a perder - que todos estamos a perder - são punidos, presos para servirem de exemplo. Porque eles são militares têm que dar o exemplo da obediência civil e por isso, têm que ser penalizados, presos como exemplo, castigados como meros tropas em tempos de recruta. Felizmente existe entre os militares o espírito de camaradagem. A solidariedade de que nem todos somos capazes, por isso dizemos apenas que são militares: militar e militante têm uma mesma raiz. Outros militares se mobilizam prontamente para o tirar dali, e formam um muro, uma muralha de aço que a lei terá que destruir. Chegaram ao ponto de recolher e utilizar como prova imagens, fotografias de uma pessoa que está sentada numa esplanada, ouvindo a conferência de imprensa dos seus camaradas.
Toda a relevância que o Estado dá a este caso, levando os seus intervenientes às últimas consequências de uma prisão militar, mostra como o poder teme esta força, este espírito de união que tanto nos tem faltado.
Proponho que se organizem mais passeios do descontentamento. O que faria o poder se todos os descontentes começassem a organizar entre si passeios do descontentamento. Quem poderá impedir que nos passeemos por aí demonstrando o nosso descontentamento?

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