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terça-feira, março 03, 2009

Poderá uma grande crise retirar as pessoas da apatia?


Apatia, México (imagem daqui)
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A vida nas sociedades contemporâneas é doravante governada por uma nova estratégia. Ela destrona o primado das relações de produção em proveito das relações de sedução.
A indiferença cresce. Em lado algum é tão visível como no ensino. Aqui, em poucos anos, com a velocidade de um relâmpago, o prestígio e a autoridade dos docentes desapareceram quase por completo.
Hoje, o discursos do Mestre encontra-se banalizado, dessacralizado, em pé de igualdade com o dos média. O ensino é uma máquina neutralizada pela apatia escolar, feita de atenção dispersa e de cepticismo desenvolto face ao saber.
Grande desapontamento dos Mestres. É esta desafectação do saber que é significativa. Muito mais do que o tédio, de resto variável, que tomou conta dos alunos das escolas.
Agora a escola é menos parecida com uma caserna e mais parecida com um deserto (ressalvando-se o facto de toda a caserna ser um deserto), onde os jovens vegetam sem grande motivação ou interesse. Perante este desinteresse as autoridades reagem propondo mais do mesmo. Dizem ser necessário inovar a todo o custo: mais liberalismo, participação, investigação pedagógica… E o escândalo está nisso mesmo, porque, quanto mais a escola se põe a ouvir os pais e os alunos mais estes últimos desabitam sem ruído nem convulsões esse lugar vazio.
As lutas, os movimentos, o associativismo pujante e as greves estudantis do pós-68 desapareceram. Os estudantes são agora seres inertes. Vivem a moda, o efémero, o absolutamente transitório, a imitação. Mais do que agir só importa macaquear os «produtos» vendidos pelos media. O debate e a contestação social e política extinguiu-se. A escola é um corpo mumificado e os docentes corpos fatigados, incapazes de lhe devolver a vida.
Não se trata, para falar com propriedade, de «despolitização». Os partidos, as eleições, continuam a «interessar» a maioria dos cidadãos. Mas interessam-lhe do mesmo modo (e até em menor medida) que as apostas no totoloto ou no euromilhões, a meteorologia, a vida dos «famosos» ou os resultados desportivos. A política entrou na era do espectáculo…
Nos noticiários passa-se, com naturalidade, da política às variedades. O relevo e o tempo dado a cada notícia é determinado pela capacidade de entretenimento que esta tem. A sociedade actual não conhece a hierarquia, as codificações definitivas, o centro e a periferia. Nada mais lhe interessa do que estimulações e opções equivalentes em cadeia… Daqui resulta a indiferença pós-moderna. Indiferença por excesso, não por defeito, por hiper socialização, não por privação.
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Gilles Lipovetsky
(José Paulo Serralheiro; Jornal "a Página" , ano 14, nº 149, Outubro 2005, p. 48)
in A Página da Educação (todo o artigo para ler AQUI)

quinta-feira, outubro 30, 2008

Se tudo correr bem aqui estarei mais logo!




José Mário Branco incita público a 'Mudar de Vida'


Música. Cantor/compositor apresenta pela primeira vez em Lisboa a canção que estreou no Porto em 2007. Os Gaiteiros de Lisboa são os convidados especiais de um espectáculo assumidamente político, que não deixará de oferecer a restrospectiva de uma carreira única

Músico tentou trazer canção a Lisboa há um ano

No dia 30 de Abril de 2007, o Porto ouviu pela primeira vez Mudar de Vida, a composição que José Mário Branco apresenta hoje e amanhã na capital. "Eu quis fazer este espectáculo em Lisboa há mais de um ano, mas não consegui financiamento", explicou. "Este convite da Culturgest permite-me apresentar cá esse tema, mesmo que o programa não seja exactamente igual ao que levei ao Porto".

Não obstante, a ideia central do espectáculo continua a ser a mesma. "Há uma critica ao que nós chamamos democracia parlamentar representativa, que não resolve os verdadeiros problemas das pessoas, limitando-se a redistribuir a riqueza em função de estratos, classes sociais, e elites que existem na política e na economia e se apoderam da riqueza produzida".

O cantor/compositor não quer, porém, "impingir uma receita política a ninguém", desejando apenas incitar as pessoas. "Se não gostam da vida que estão a viver têm que a mudar, que ela não muda sozinha se as pessoas não fizerem nada", lembra. "Começa-se nas pequenas coisas, pois tem que haver uma progressiva acumulação de forças para haver uma mudança geral na sociedade".

O músico não crê, porém, que seja possível alterar o actual sistema político, sem a movimentação das "grandes massas", descontentes com o actual estado do mundo. "Quando se fala em criar movimento político, em colocar em marcha as energias que há nas pessoas para mudar de vida, música como esta não resolve nada, a não ser do ponto de vista afectivo", continua. "É um oxigénio moral que se dá às pessoas".

No seu entender, esta atitude distingue o artista dos falsos "cantores de intervenção" que "dão um oxigénio contaminado para as pessoas se esquecerem dos seus problemas. É uma droga como outra qualquer, como todos os outros vícios desviantes da realidade". As suas canções, por outro lado, tentam "mobilizar as pessoas para serem sujeitos na sociedade, e não objectos".

É por isso que considera que "tudo é político, mesmo quando diz que não é". Este domínio da política sobre o quotidiano também está presente na canção apresentada hoje na Culturgest. "Um dos temas abordados no Mudar de Vida, é precisamente esse", concorda, referindo uma das frases mais marcantes do tema: "bem tentais não vos ocupar de política, mas a política ocupa-se de vós". Uma citação a Charles Montalembert - "um daqueles neoclássicos franceses" - incluída na canção.

"O Mudar de Vida é apresentado em três partes", refere. "Ouve-se no início - apesar de começar com um tema inédito que escrevi para Lisboa, intitulado Vamos Embora - depois no meio aparece outra vez, antes de fechar o espectáculo com o Mudar de Vida final". Pelo meio vão soar diversas canções retiradas do mais recente Resistir é Vencer (2004), mas também de outros registos, gravados desde a década de 70, e variando entre momentos abertamente políticos e outros mais intimistas.

"Gosto de revisitar os temas, porque os músicos, as condições e os estados de espírito nunca são os mesmos", reitera. Entre os temas reformulados será possível ouvir A Cantiga de Trabalho ou A Engrenagem, de 1973, ou mesmo Remendos e Côdeas, que se ouviu pela primeira vez no Disco da Mãe, corria o ano 1978. Para interpretar estes temas, o artista socorreu-se de um quinteto que o acompanha há vários anos, e inclui Carlos Bica, José Peixoto, Rui Júnior, Filipe Raposo e Guto Lucena.

De entre os músicos que actuaram na Casa da Música, em 2007, este são os únicos que visitam Lisboa, por limitações de orçamento. Agora, o cantor volta a colaborar com o quarteto de cortas que o acompanhou "nos Coliseus de há 4 anos", quando editou o último disco. As percussões tradicionais e os suportes corais cabem aos Gaiteiros de Lisboa, um grupo ao qual José Mário Branco chegou a pertencer. Os bilhetes já estão esgotados, mas a actuação será gravada, e a edição de um disco com a actuação não está posta de parte. (DN)
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