O que Apareceu Primeiro? - O Ovo ou o Coelho?
A festa tradicional associa a imagem do coelho, um símbolo de fertilidade, e ovos pintados com cores brilhantes, representando a luz solar, dados como presentes. A origem do símbolo do coelho vem do facto de que os coelhos são notáveis por sua capacidade de reprodução. Como a Páscoa é ressurreição, é renascimento, nada melhor do que coelhos, para simbolizar a fertilidade!
E o coelho?
A tradição do coelho da Páscoa foi trazida à América por imigrantes alemães em meados de 1700. O coelhinho visitava as crianças, escondendo os ovos coloridos que elas teriam de encontrar na manhã de Páscoa.
Uma outra lenda conta que uma mulher pobre coloriu alguns ovos e os escondeu em um ninho para dá-los a seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram o ninho, um grande coelho passou correndo. Espalhou-se então a história de que o coelho é que trouxe os ovos. A mais pura verdade, alguém duvida?
No antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antigüidade o consideravam o símbolo da Lua. É possível que ele se tenha tornado símbolo pascal devido ao fato de a Lua determinar a data da Páscoa.
Mas o certo mesmo é que a origem da imagem do coelho na Páscoa está na fertililidade que os coelhos possuem. Geram grandes ninhadas!
Esta é a época da Primavera. Toda a natureza se manifesta renovando-se. Não existem casos de roseiras em botão crucificadas. A crucificação é em si um acto contra natura. O sistema democrático dos romanos é hoje compreensível e funcionou, como a pena de morte ainda hoje funciona em certas partes do mundo: Cristo era um agitador que arrastava atrás de si uma minoria. Mas Cristo começou a ousar e a usar a sua liberdade de expressão para levar os outros a pensar consigo. Usou-a contra os poderes estabelecidos, contra os vendilhões do templo e pôs os valores vigentes em causa. Foi apanhado numa traição que, para aqueles que acreditam em Deus, continua difícil de entender: terá sido a traição de Judas parte dos planos que Deus tinha para o seu filho? Mas as trinta moedas, se existiram, eram reais e palpáveis, não pertenciam ao reino dos céus, ou pertenciam? A não ser que essa parte toda depois tivesse resultado das histórias que os apóstolos vieram depois contar? Mas recuemos um pouco, voltemos à democracia de Pilatos: eis um dirigente que confiava na vontade das maiorias. Ele sabia que podia lavar dali as suas mão – entre escolher um ladrão já conhecido Barrabás e entre um ser diferente, dito como elemento perigoso e desordeiro, capaz de abalar os poderes estabelecidos, antes votar no ladrão, que com esse tipo de gente sabiam eles lidar. Cristo deve ter experimentado um sofrimento atroz ao ver-se ser o escolhido – pelo seu pai ou pelo povo a quem queria mudar a mentalidade? – para uma tarefa inglória, ou seja, tanto amor ao próximo, tantas horas a falar com as pessoas, tanta demonstração de que querer é poder para depois acontecer aquilo, escolherem-no para a morte em vez do ladrão. Cristo não morreu para nos salvar. Cristo morreu para salvar Barrabás. Também por isso perguntou ao seu Deus “porquê eu?” – Cristo era um crente, tinha lá o seu Deus e falava com ele em voz alta, como aliás devia ser uma prática comum. Cristo dizia que obtinha respostas e podia assim prever o futuro, mas talvez ele só tivesse uma apurada psicologia dos indivíduos e das massas. Tinha consciência de que estava lixado. Cristo foi traído por Judas mas também pela maioria que o condenou. Eis a falácia da democracia mais pura, mesmo consultando o povo, a maioria faz as piores escolhas. Pilatos não precisou de ser um tirano, sabia que a ignorância do povo cumpriria os seus objectivos e ele podia ser visto como um dirigente justo, mesmo crucificando Cristo. A igreja que se foi instituindo a partir deste episódio encarregou-se de fazer o resto, aproveitando o sentimento de culpa das pessoas de consciência e a predisposição para a alucinação que os santos sempre foram ditos ter. Quando um santo tem uma alucinação ao pé de ti tu não a podes ver, pois não? Mas parece que eles tinham desenvolvido nesse tempo a capacidade de alucinar em conjunto, o que continua a nada dizer porque um pode nunca ter visto a mesma alucinação que o outro dizia ver e vice-versa. Cada um contou o que contou como quis e, sabemos hoje, a realidade tem sempre muitas maneiras de ser contada. Eu admito que Jesus Cristo tenha existido e que tenha deixado em algumas pessoas que o conheceram de perto uma marca bem forte, capaz de os fazer alucinar que eram por ele revisitados no post-mortem, porque realmente, com muita pena minha, nunca vi nenhum acontecer e não posso acreditar em milagres.
A verdade é que antes de Cristo (a.C.), não havia o peso dessa morte, ainda por cima dita como sendo por nossa causa, para nos salvar. Sem o episódio da morte de Cristo podíamos ter continuado alegremente a celebrar a chegada da Primavera e a irrupção da vida, obedecendo a um ciclo cósmico. A religião cristã, pelo contrário, obriga-nos a celebrar eternamente uma das muitas mortes que o poder tem ceifado, carregando nós uma culpa que pessoalmente não tivemos.
É por isso que prefiro o Coelho da Páscoa. Esse, comércios à parte, pelo menos simboliza a renovação da vida, a reprodução. Quanto ao absurdo dos ovos, andei a investigar e tudo não passou de uma história contada às crianças, como a fada dos dentes que troca dentes por prendas e essas lendas que maravilham o imaginário infantil de todos os tempos. Além disso uma galinha não ficava tão bem. Quando surgiu essa lenda do coelho que passou e colocou ovos coloridos num ninho ainda estávamos longe da atracção que hoje em dia provoca o Chicken Little, o coelho estava mais na moda. Além disso o ovo é o princípio da vida, da reprodução, da renovação que se dá na Primavera.
Eu não celebro a Páscoa, prefiro a natureza, a próxima a ser crucificada pelos podres poderes.
2 comentários:
Já está o resto da história no Braganza :-)
Então foi assim que começou a humilhação dos pobres coelhinhos a que me refiro no meu texto! Obrigada pela informação.
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