João César das Neves – economista (in Revista Xis 06/05/2006):
“A pobreza corresponde sempre a uma questão estrutural que se resolve alterando o funcionamento da economia e ajudando directamente os mais necessitados.”
“O problema agrava-se quando, para dar demasiadas regalias a uns, se tiram as de outros tantos, que é o que está a acontecer com as nossas negociações salariais.”
“O desemprego é outro seríssimo problema, pois embora tenhamos uma taxa baixa, comparativamente com outros países ricos, existem demasiadas desigualdades em termos de condições laborais: muitos trabalhadores são contratados, com todas as regalias, desde sólidos contratos, direitos à segurança social, subsídios de desemprego, etc., e outros nada têm. Trabalham a prazo, com recibos verdes e, numa altura de crise, tornam-se facilmente dispensáveis.”
Não conhecia o economista João César das Neves mas parece ser o primeiro economista vivo a quem eu oiço dizer alguma coisa que faz sentido. É o primeiro que admite ser necessário alterar o funcionamento da economia, única forma possível de combater a pobreza. O primeiro que admite que acabar com a pobreza passa pela ajuda directa aos mais necessitados.
“A pobreza corresponde sempre a uma questão estrutural que se resolve alterando o funcionamento da economia e ajudando directamente os mais necessitados.”
“O problema agrava-se quando, para dar demasiadas regalias a uns, se tiram as de outros tantos, que é o que está a acontecer com as nossas negociações salariais.”
“O desemprego é outro seríssimo problema, pois embora tenhamos uma taxa baixa, comparativamente com outros países ricos, existem demasiadas desigualdades em termos de condições laborais: muitos trabalhadores são contratados, com todas as regalias, desde sólidos contratos, direitos à segurança social, subsídios de desemprego, etc., e outros nada têm. Trabalham a prazo, com recibos verdes e, numa altura de crise, tornam-se facilmente dispensáveis.”
Não conhecia o economista João César das Neves mas parece ser o primeiro economista vivo a quem eu oiço dizer alguma coisa que faz sentido. É o primeiro que admite ser necessário alterar o funcionamento da economia, única forma possível de combater a pobreza. O primeiro que admite que acabar com a pobreza passa pela ajuda directa aos mais necessitados.
Quem o poderá fazer senão o Estado?
É o primeiro que diz que se tira regalias a uns para dar a outros. Só não concordo com a proporção se tiram as de outros tantos, porque, na realidade, tiram-se regalias a muitos para dar regalias a muito poucos – os happy few ricos que acabam sempre se dando bem e para quem toda a crise á sinal de maiores lucros.
Espanta-me o optimismo recente dos nossos dirigentes: o Ministro das Finanças e o próprio Sócrates assumiram uma fachada de optimistas espantadores dos fantasmas das estatísticas que apontam o nosso país como o que terá o pior futuro dos países da UE nos anos mais próximos, e ambos sacodem a sombra negra do desemprego a aumentar descontroladamente, atingindo níveis nunca antes vistos. Quem serão os economistas que consultam? A Maya? Os nossos dirigentes, ao serviço das directivas comunitárias, parecem afinal negar os números resultantes dos estudos realizados pela própria UE… Nenhum desses dados é credível? O governo de Portugal não acredita que as estatísticas possam estar certas? Então por que insistir em pertencer a uma UE que se engana na nossa factura?
Ao contrário deles, João César das Neves considera o desemprego um seríssimo problema, embora me pareça que menospreza a nossa taxa de desemprego e insista em nos considerar um país rico (somos um país rico, senhor economista? Então qual é o problema? É só um problema de má distribuição da riqueza?)
É o primeiro que diz que se tira regalias a uns para dar a outros. Só não concordo com a proporção se tiram as de outros tantos, porque, na realidade, tiram-se regalias a muitos para dar regalias a muito poucos – os happy few ricos que acabam sempre se dando bem e para quem toda a crise á sinal de maiores lucros.
Espanta-me o optimismo recente dos nossos dirigentes: o Ministro das Finanças e o próprio Sócrates assumiram uma fachada de optimistas espantadores dos fantasmas das estatísticas que apontam o nosso país como o que terá o pior futuro dos países da UE nos anos mais próximos, e ambos sacodem a sombra negra do desemprego a aumentar descontroladamente, atingindo níveis nunca antes vistos. Quem serão os economistas que consultam? A Maya? Os nossos dirigentes, ao serviço das directivas comunitárias, parecem afinal negar os números resultantes dos estudos realizados pela própria UE… Nenhum desses dados é credível? O governo de Portugal não acredita que as estatísticas possam estar certas? Então por que insistir em pertencer a uma UE que se engana na nossa factura?
Ao contrário deles, João César das Neves considera o desemprego um seríssimo problema, embora me pareça que menospreza a nossa taxa de desemprego e insista em nos considerar um país rico (somos um país rico, senhor economista? Então qual é o problema? É só um problema de má distribuição da riqueza?)
Na verdade este também me parece um problema grave, mas talvez por outros motivos. A classe trabalhadora está hoje dividida, posta uma parte contra a outra – a dos trabalhadores seguros e a dos trabalhadores precários; há ainda a incluir os ex-trabalhadores, os desempregados, os excluídos. O sistema dividiu para reinar, ou seja: não são os trabalhadores (poucos) que têm uma situação privilegiada que vão sair para as ruas em defesa dos direitos dos outros (muitos) que têm poucas regalias. Passa a não haver uma classe trabalhadora coesa, unida pelos direitos do trabalho conquistados durante muitos anos e que vão sendo retirados mais ou menos subtil ou sorrateiramente. É por isso que não há luta reivindicativa e os sindicatos pendem para cá e para lá bandeados com o sistema.
João César das Neves é o primeiro economista que quase tem a coragem de desmascarar por inteiro a impotência deste sistema económico, quase apontando o erro que comete em fugir para a frente.
A economia mundial actual está simples de compreender como um cartão de crédito: quanto mais a usarmos mais vamos pagar por ela no presente e no futuro.
O nosso crédito enquanto país está a chegar ao fim, diz-nos a UE. Por este andar todos nos vão passar à frente. E nós vamos cantando e rindo, levados por dirigentes que não levam nada disto a sério porque fazem parte dos tais happy few a quem a bomba nunca estoira nas mãos (julgam eles!).
O nosso crédito enquanto país está a chegar ao fim, diz-nos a UE. Por este andar todos nos vão passar à frente. E nós vamos cantando e rindo, levados por dirigentes que não levam nada disto a sério porque fazem parte dos tais happy few a quem a bomba nunca estoira nas mãos (julgam eles!).
ver também o post de Claudia Girelli «Estatísticas … “ Portugal na cauda da Europa”» em http://wehavekaosinthegarden.blogspot.com/, 09/05/2006
4 comentários:
A autora Maria de São Pedro, a Papiro Editora e a Fnac têm o prazer de convidar V.Exas. a estarem presentes para o lançamento do livro GATO PEDRA no dia 19 de Maio, pelas 19.00h na Fnac - Cascais Shopping.
o césar das neves é muito mal amado por aí... as suas posições são frequentemente polémicas e discutíveis.
sobre este texto, critico sobretudo a associação demasiado forte entre "regalias" e "desemprego". Como se fossem as regalias que provocassem o desemprego ou mesmo a ineficiência.
é certo, que determinadas classes profissionais (advogados, juízes, farmacêuticos, médicos, etc) gozam de um patamar impossívelmente alto de privilégios que urge nivelar, e aí estou de acordo, mas generalizar... como faz césar das neves. é perigoso e algo demagógico...
Tem razão, Rui Martins: nem mesmo este economista é totalmente fiável, também dei por isso... mas pelo menos admite que é preciso mudar o rumo da economia, o que, nos tempos que correm, já é digno de admiração.
Kaotica
www.opafuncio.blogspot.com
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