terça-feira, maio 16, 2006

Truque Tóxico -- Al Berto


Volto ao quarto de pensão, fumo até ao vómito
isto é : drogo-me.........
abro a caixa de papelão, aparentemente cheia de sonhos
escolho um, fumo mais erva, nenhum sonho me serve,
abro a caixa dos pesadelos.....
o silencio ocupa-me e da caixa libertam-se corpos
cores violentas, olhares cúbicos, pássaros filiformes
cadeiras agressivas
limo as arestas fibrosas dos objectos
arrumo-os pelo quarto, de preferencia nos cantos
dou-lhes novos nomes, novas funções, suspiro extenuado
embora a sonolenta tarefa não tenha sido demorada


....outra caixa, azulada, abro-a
entro nela e fecho-a, o escuro solidifica-se na boca
tenho medo durante a noite
alguém se lembrou de atirar fora a caixa
..........luzes, umbigos obscurecidos pelas etiquetas
dos pequenos produtos de consumo, tóxicos

FRAGIL - MANTER ESTE LADO PARA CIMA
NÃO INCLINAR
TIME TO BUY ANOTHER PACKET

O quarto está completamente mobilado de corpos
explodem caixas, o sangue alastra
estampa-se nas paredes sujas de calendários e cromos
de pin-ups obscenas.
...fendas de bolor no espelho
o reflexo do corpo arde como uma decalcomania

TIME TO BUY ANOTHER PACKET

todos dormem dentro de caixas, uma serpente flutua
falamos baixinho
não se ouvem mais barulhos de cidade
o sono e o cansaço subiram-me á boca
....movemo-nos lentamente para fora de nossos corpos
e devastamos, devastamos.....

2 comentários:

Alien David Sousa disse...

Meu Deus, aonde foste tu buscar essas caixas? Até me arrepiei quando começaste a descrever a dos pesadelos. Espero que isto não passe de uma divagação tua...as caixas não existem realmente, pois não?

Kaotica disse...

Tenho dois quartos da casa cheia delas, não achas isso um pesadelo?

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