terça-feira, setembro 26, 2006

Baby Blues

Hoje descobri o motivo por que os veterinários são, regra geral, melhores médicos que os médicos. É que os veterinários amam de facto os seus pacientes, enquanto que um médico se limita a observar a doença do seu doente, desapaixonadamente, clinicamente, sem festas. E isto pode ser explicado a outro nível: é que enquanto que os animais são indefesos e amáveis, amorosos como crianças inocentes; os doentes humanos, esses são irascíveis e cobardes e tendem a piorar quando se sentem mal. Temem pela própria vida, têm medo de desaparecer, sofrem pelo seu umbigo e fazem por despertar nos outros a piedade pela sua doença. Os gatos rebeldemente acabam por confiar porque sentem que é para o seu bem que os espetam, sentem que estão a cuidar deles; os homens desesperam e chegam a desmaiar perante o espectáculo do seu próprio sangue. Subornam o senhor doutor para serem mais bem tratados do que os outros, recomendam que o senhor doutor se compadeça do seu caso. Mas o senhor doutor tem mais que fazer e segue jogo, entra outro paciente, o próximo…

Eu, que tenho gatos há tantos anos apercebi-me agora mais nitidamente que os gatos podem sofrer de sintomas patológicos causados pelo stress. Trata-se de uma gata muito nova (pouco menos de um ano) que à primeira escapadela ficou prenha. Teve os gatinhos à minha vista e portou-se sempre à altura da maternidade. Como diz o veterinário é uma gatinha “5 estrelas”. Já viu desaparecer um filho e neste momento vê-se confrontada com as tropelias dos outros 3 safadinhos… e eu também. Logo a seguir a ficar sem o filho que lhe foi tirado para dar, entrou em stress e desatou a fazer porcarias líquidas pela casa toda, enquanto os gatinhos frequentam há muito o caixote. A gata vê-se arredada da vida familiar, do tempo em que se abandonava por cima das mesas ou se espreguiçava nos sofás. Arredada desse tempo de boa vida, a mamã entrou em stress e agora está-se a cagar para tudo.

Tem sangue nas fezes, uma colite igualzinha à de certas pessoas que ficam a remoer lá por dentro até arranjarem uma colite, ou desenvolverem uma úlcera. A gata está ressentida e quer ser notada, deseja receber mimos e festas; ainda há pouco tempo lhe afagavam a barriga e lhe davam apaparicos. Agora está longe dos afagos, tem que ser ela a lavar as suas crias. Deixou há pouco tempo demais de ser a eleita, a rainha das festas. Mãe prematura está a passar pelo seu baby blues, como acontece a muitas mulheres que, apesar de terem filhos ainda lhes sobra tempo para pensar nos seus blues. Eu, felizmente, não sei o que isso é. Mas compreendi perfeitamente que a minha gata tenha entrado em algo semelhante ao stress, embora haja muita gente que não acredita que os animais se possam assemelhar aos humanos nessas coisas do espírito e da alma. Eu, pelo contrário, acredito que sejam os humanos a se lhes assemelhar, só que não o querem admitir por se sentirem de uma raça superior, inteligente.

2 comentários:

Kaos disse...

É por essas e por outras (bem piores) que cada vez gosto mais de animais e menos dos humanos. Pelo menos de alguns.
bjos

Anónimo disse...

Essa separação entre humanos e animais só mesmo de quem se julga superior. Devo lembrar-lhe que animais somos todos nós. Os gatinhos queridos que entre outras coisas matam as crias para que as fêmeas fiquem com o cio mais cedo e nós por exemplos que me escuso de citar. Eu só gosto de gatos porque não há gatos polícia.

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