domingo, dezembro 17, 2006

De um outro livro, para aguçar o apetite...

PROCURA

procuro o teu olhar 
  redondo
na fresta estreita
  do meu corpo
janela-abrigo no limite da insónia

varro o espaço vazio
da escuridão nocturna
noctívago voo
na vã decisão de seguir-te
do parapeito ao divã
do divã
  ao centro do mundo
   obscuro
desta cegueira de não ver-te

seguro-te talismã
sonho-te amor
neste desastre de ser
   invisível
neste pesadelo de soletrar-me 
   real 
tão improvavelmente real
que me escapo por entre os dedos
de quem me queira
   guardar
 espólio
 relíquia
 tempo passado
                  adiante
 página em branco
   por descuido
   ou improviso 
como um poema desinspirado
que se força ao papel
só pela violência de alinhar palavras
ordenar sílabas
  sem sentido
que não seja este bruto impulso de escrever
como quem de tinta faz sons
por não suportar o silêncio 
   de estar aqui
tão derramadamente só

sem saber
se o que procuro
é ainda
            o teu olhar
 
     
Jorge Casimiro

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