segunda-feira, dezembro 18, 2006

A quadra de todos os peditórios

«Todos charlatães» - proclamava o budista em dia de peditório

Quando se fechar o círculo
sentir-te-ás agradecido por ali estar
Recolher-te-ás à Índia mãe de todos os budistas
Ciente de que cumpriste a tua missão
Deixarás as obras que ajudaste a erguer
E outros seguirão o teu percurso
Que afinal só a eles já pertence
Passaste o teu ensinamento
A outros que o prosseguirão
Dando seguimento bancário
A todos os cartões de crédito
Aliviadas as almas presas por um fio
Como outras que também ajudaste
Corpos leprosos tuberculosos
Corpos acometidos de doenças terminais
Tudo vos pagarão para partir mais leves
Envoltos nos persistentes odores do incenso
Entorpecidos no seu último espasmo
Em sonolências dormentes
De ervas inócuas
Pegarás então uma última vez
Na moldável substância
Que representa a tua alma
E a tua mão estará fechada
Num último gesto de posse
Querendo guardar para si
O que julga ainda lhe restar

Libertaste os outros
Mas não te libertaste

4 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Excelente! E aplicável a outros charlatães, de todas as sete partidas.
Felizmente ainda há gente que sabe escrever...

Um abraço.

jorge g

José Pires F. disse...

Os charlatões assim como os vendilhões do templo sempre existirão e tentarão no fim comprar os favores dos deuses.
Gostei da forma como desenvolveste a ideia.

Abraço.

Jorge P. Guedes disse...

P. lá te coloquei mais um pequeno e simples conto : "Meditações de uma gata". É o que se pode arranjar com esta falta de tempo, amiga. Espero que alguém goste um pouco.

um abraço.
Jorge P.G.

Kaotica disse...

Obrigada amigos. É sempre uma surpresa boa e um prazer saber que gostam de algo que eu escrevi num dia de ira por ver um programa de televisão uma entrevista com alguém de carne e osso a fazer-se passar por encomendador de almas.

Um abraço especial ao amigo Jorge P.G. por me ter dado mais este presente de Natal.

Abraços a todos!

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