Homenagem a Ary dos Santos, poeta da revolução deliberadamente esquecido
Poeta castrado não! (José Carlos Ary dos Santos)
Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
quarta-feira, março 21, 2007
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2 comentários:
somos poucos, e é uma pena, os que continuamos a gostar de Ary dos Santos. Valeu
É pena sim, caro amigo, que poucos são os que dele se lembram ...
Mas há que manter a sua chama viva e que quem se lembre o recorde aos vindouros.
Ainda hoje, postei um seu poema em meu blog, que desde já vos convido a visitar.
Melhores cumprimentos,
Ricardo Matos.
(http://camoesxxi.blogspot.com/)
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