quarta-feira, abril 25, 2007

25 de Abril, SEMPRE!


Abril de1974 foi há… 33 anos e eu tive a grande sorte de nessa altura já ter entendimento suficiente para apreciar a grande felicidade que essa revolução trouxe subitamente aos rostos das pessoas. Vivi esses momentos e os que se seguiram com o espanto disponível para a novidade que há nos olhos das crianças. Vi os retratos cinzentos de Américo Tomás e Marcelo Caetano a serem retirados da parede da minha sala de aula e de repente tudo ganhar côr. O país encheu-se de bandeiras cinco dias depois, no primeiro 1º. de Maio, e eu relembro desse dia a euforia dos milhares de pessoas que enchiam a Alameda e que se olhavam nos olhos e se abraçavam experimentando a nova sensação da liberdade. Na minha casa viveu-se Abril intensamente, apaixonadamente. E o Maio, maduro Maio. E o Verão quente de 75. Estava-se ainda muito longe de imaginar que os ratos continuavam a roer… Os cravos foram belas flores de paz e liberdade mas não fizeram a limpeza necessária. No velho país dos bufos e dos generais os bufos e os generais continuaram a minar os alicerces da revolução. “Já murcharam tua festa, pá, mas certamente esqueceram uma semente nalgum canto do jardim/ Manda novamente algum cheirinho de alecrim”, cantava Chico Buarque em 1978, lançando já então a sua mensagem de alerta e de esperança. De Abril resta-nos principalmente a liberdade de expressão e uma aguda consciência de não querermos que o tempo volte para trás, jamais. Mesmo as saudades que tenho desses dias, não são saudades do passado mas sim saudades de um futuro em que a semente da esperança ainda florirá. Na minha querida concepção de utopia como possibilidade real sinto esse germinar cada vez mais urgente, pois cada dia que passa maiores e inadiáveis vão sendo os motivos que nos dão. Toda a revolução eclode do bater no fundo. Temos essa consciência? Podemos nós esperar por mais essa descida aos infernos?

O povo saiu à rua num dia assim. Todos eram povo. Velhos, jovens, militares, professores, estudantes, operários todos. Um cravo era igual à arma. O fim da guerra, a nossa flor vermelha à paz e à liberdade de a empunhar. Por um país melhor, nessa renovada primavera de Abril.

Depois foi isto que aconteceu, muito rapidamente, para o nosso mal.

Hoje estamos aqui, pior?, saudosos de um outro Abril que só ainda não aconteceu.

1 comentário:

Jorge P. Guedes disse...

Belo texto!

Acho que, apesar de tudo, uma sementezinha ficou.

O texto do JMB é um marco! De estrondo!

VIVA A LIBERDADE!

UM ABRAÇO.

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