NÃO HÁ VAGAS
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás,
a luz, o telefone,
a sonegação
do leite
da carne,
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome,
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras.
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Porque o poema senhores,
está fechado:
"não há vagas".
Só cabe no poema
o homem sem estômago,
a mulher de nuvens,
a fruta sem preço.
O poema senhores,
não fede,
nem cheira.
Ferreira Gullar
(página oficial)
2 comentários:
Que bom colocares aqui estes poemas fantásticos para reflexão!!!
( o meu local de trabalho não é assim tão fantástico, mas há sempre uma ilha... pequenina, pequenina, porque, de resto, o comodismo impera!!!)
Beijos. Bom fim de semana...
Um bom poema de autor para mim, até agora, desconhecido.
Uma manifestação de anti-servilismo, uma verdade chapada num poder sem rosto (que não precisa de ter pois são todos iguais)
Aproveito para te avisar(já o fiz antes por mail)que "reapareci" no CONTO LIVRE, desta vez com um anarconto.
Eu avisei-te, Kaótica amiga, a minha produção ia ser muito pequena e esparsa!
Um abraço e bom fds.
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