segunda-feira, maio 21, 2007

Imprensa obscena


Agregados de um casal com filhos desceram abaixo dos 50 por cento

Portugueses não querem ter mais tempo para a família, ao contrário da maioria dos europeus

20.05.2007 - 08h37 Clara Viana Ler toda a notícia aqui

Estas “gordas” da primeira página do jornal Público de ontem são uma obscenidade. A grande maioria dos portugueses que passam pelas bancas e olham os jornais de soslaio vai pensar: “Grandes malandros (os outros) essa malta agora não quer é passar tempo com a família!”. Mas se olharmos mais atentamente para esta notícia, veremos que analisa um estudo do INE que aponta para um novo dado – os tradicionais “casais com filhos” pela primeira vez descem abaixo dos 50% (46,8% em 2006). O resto é, segundo o Público, malandragem que não quer passar tempo com a família.

Será mesmo assim, ou este título da edição impressa do Público tenciona mesmo esconder os verdadeiros motivos para estes números? Não querer é uma vontade pessoal, individual e independente de cidadãos livres e tem toda a legitimidade. Cada um está no seu direito de querer ou não passar mais tempo com a família. O problema aqui é que eu duvido que sejam essas as motivações de existirem cada vez menos casais a terem filhos. Os portugueses não têm filhos porque não têm confiança no Futuro. Mesmo não lendo para além dos cabeçalhos, eles sentem que isto não vai nada bem. Perdem-se empregos, os euros nas mãos dos portugueses desvalorizam, não há dinheiro para pagar os empréstimos, pedem-se mais empréstimos, o ensino não está bom para crianças, a vida também não… os portugueses têm cada vez menos filhos porque têm cada vez menos segurança e confiança no futuro. Pois se eles nem sequer têm confiança no presente...

Desta forma, ficam escondidas por detrás do conteúdo explícito da manchete, todas estas causas. Estas ninguém faz por apurar. Permanece a perigosa ideia geral de que os portugueses têm uma fraca vontade de dispender o seu tempo com a família. E nada mais por detrás dessa falta de querer. São eles os responsáveis, são eles os que não querem!

Quantos portugueses hoje vivem em condições precárias? Quantos estão endividados? Quantos estão desempregados ou mal empregados? Quantos têm contrato de trabalho que lhes dê garantias de emprego futuro? Quantos em idade de constituir família dispõem de casa, de emprego, de um futuro?

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