Pedagogo e intérprete da nobreza da pedagogia, o grande maestro e violinista Yehudi Menuhin salientou a importância da Cultura e da Arte no Ensino, dirigido a todos sem excepção, referindo a Escola como o lugar privilegiado para o fazer. Não se concretizando este objectivo fundamental, continua Menuhin, estaremos «a criar monstros», ou seja, pessoas insensíveis à sua própria condição humana.
Somos todos conhecedores da violência que grassa na Escola, denunciando a irresponsabilidade de quem pratica esses actos, a que se associa a ausência de valores humanistas. Na minha Escola, por exemplo, um aluno justificou candidamente que «só atirara a cabeça do colega contra a parede», quase indiferente às consequências do seu gesto brutal, de que resultou um traumatismo craniano para o seu companheiro.
A par da violência na Escola caminha a falta de exigência, com a agravante da última ser veiculada pelo próprio Ministério da Educação, cujas orientações vão no sentido do facilitismo lúdico e do recreio na sala de aula, transformando-se o professor no camarada, que sabe tanto quanto o aluno. Ao desvirtuar-se a relação Ensinar – Aprender, esquece-se a missão de um professor e o belíssimo significado da palavra «aprender», ou seja, «prender a si próprio». O que se passa com a disciplina de Português, que lecciono, é bem exemplo dessa situação. A Literatura, que é uma Arte e não um mero tipo de texto, e associada a outras expressões artísticas nos ajuda a descobrir o mistério que somos, mistério que é também a palavra-chave em toda a ciência, é agora perversamente subestimada, tendo sido ultrapassada pelos textos dos MEDIA e pelos textos normativos. De referir ainda a estratégia da cruz e do verdadeiro e falso utilizada vergonhosamente na interpretação dos textos literários e nos próprios exames. É óbvio que isto só se consegue com a cumplicidade dos professores que aceitam obedientemente estas directrizes, não as questionando sequer.
Há uma frase sublime de Henri Thoreau que me acompanha e que nos aconselha a resistir e a desobedecer. Ei-la: «Resiste muito. Obedece pouco». Esta é uma das mensagens que desejo deixar-vos, a par do texto poético de Álvaro de Campos e da história de Demógenes e do seu prato de lentilhas.
Maria do Carmo Vieira
Abril 2007
4 comentários:
Fizeste muito bem em partilhar esta interveção connosco... para reflectirmos , pelo menos.
Beijos.
O Thoreau está definitivamente na "moda". Resistência passiva, desobediência civil... pistas para um caminho possível.
http://cidadaniapt.blogspot.com/2007/04/henry-thoreau.html
LBR
Renda
Gostei muito desta intervenção e também da professora Maria do Carmo Vieira, por isso achei que valia mesmo a pena divulgá-la o mais possível. Espero que gostem tanto como eu!
Um abraço!
lbr
Agradeço-te a visita e também o link do Henri Thoreau que me possibilitou enriquecer mais um pouco a já de si esclarecedora intervenção da professora Maria do Carmo Vieira, uma Professora com "P".
Um abraço!
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