E com um búzio nos olhos claros
Vinham do cais, da outra margem
Vinham do campo e da cidade
Qual a canção? Qual a viagem?
Vinham p’rá escola. Que desejavam?
De face suja, iluminada?
Traziam sonhos e pesadelos.
Eram a noite e a madrugada.
Vinham sozinhos com o seu destino.
Ali chegavam. Ali estavam.
Eram já velhos? Eram meninos?
Vinham p’rá escola. O que esperavam?
Vinham de longe. Vinham sozinhos.
Lá da planície. Lá da cidade.
Das casas pobres. Dos bairros tristes.
Vinham p’rá escola: a novidade.
E com uma estrela na mão direita
E os olhos grandes e voz macia
Ali chegaram para aprender
O sonho a vida a poesia.
Maria Rosa Colaço
(poema musicado pelos Trovante no álbum «Baile no Bosque», 1981)
8 comentários:
Belo texto para iniciar uma carreira e ainda por cima não dá pontos!
abraço
As Letras não estão a dar, não são rentáveis (excepto certas "sumidades" nos tops das vendas da nossa literatura, sei lá!) Por isso cada vez os textos dos autores portugueses são cada vez mais substituídos nos programas escolares pelas tabelas dos horários dos comboios e etc.
Se fosse hoje começaria a analisar o texto da receita do hamburguer com ketchup!
opafuncio foi nomeado pelo classepolitica na correntedeamizade,
abraço,
ruy
Que bonita aula deve ter sido!!! Que os meninos e meninas encontrem alguém com quem aprender e a quem ensinar coisas da vida, que computadores há muitos...
Bom fim de semana.
E como os nossos jovens, e não só,
precisam de formação em Letras.
Porque a ignorância é de tal forma aflitiva hoje numa certa juventude!
Parabéns pelo poema e pelo gesto.
Um abraço
ruy
Muito obrigada pelo voto de confiança. Brindo a toda a amizade!
Um abraço
renda
Não sei se foi bonita. Foi uma aula de primeira vez. Eu gostei do poema e talvez alguns tenham prestado atenção e gostado também. Educar é docilizar e conduzir e eu não sei se teria a vocação que considero necessária. Só se pode ensinar o que se conhece muito bem. Infelizmente docência e investigação são tornadas incompatíveis pelo próprio sistema de ensino e sobrecarga profissional dos educadores.
Um abraço
Meg
Tenho o privilégio de conhecer uma professora que defende o ensino da Literatura e se revolta contra os manuais que por aí circulam. Este ano vou estar mais atenta aos textos que andam agora a dar aos nossos filhos (e aos que davam e já não dão!) Os professores nesse campo têm muito a fazer; podem sempre mostrar aos alunos outros textos e romper o espartilho...
Receio os que são agora professores e que conheci na faculdade de letras a gabarem-se não gostar de literatura.
Um abraço!
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