sexta-feira, novembro 02, 2007

Novo estatuto do aluno ou os cenários strombólicos do Ensino?


É um volte-face inesperado. O Governo decidiu voltar atrás num dos pontos mais polémicos do novo estatuto do aluno do ensino básico e secundário. Os socialistas apresentaram ontem uma nova proposta de alteração ao artigo 22 que estabelecia a realização de uma «prova de recuperação» para os alunos que excedessem o limite de faltas.

A novidade surge em relação aos alunos que não obtenham aprovação na referida prova. Nesse caso, e segundo a proposta do PS, o conselho pedagógico de cada escola tem autonomia para ponderar a natureza das faltas e decidir o que fazer.

Há vários cenários possíveis. O aluno pode simplesmente chumbar ou ser excluído da disciplina em causa, ou a escola pode ainda optar pela realização de uma nova prova ou de um plano de trabalhos acrescido.

O PS apresentou estas alterações à proposta inicial, ontem, na comissão parlamentar de educação. Os partidos da oposição não esconderam a surpresa.

O PSD pediu o adiamento da votação que deverá acontecer na próxima terça-feira. O novo estatuto do aluno deverá chegar à votação na generalidade no início do próximo mês.

TV

http://www.tvi.iol.pt/informacao/noticia.php?id=873929

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Para Paulo Portas, a ministra teve um comportamento «irresponsável» e foi «desautorizada» pelos deputados da maioria socialista. «Não se pode tratar da mesma forma um aluno que falta porque vai ao funeral de um familiar e um aluno que falta para ficar no café a fumar um cigarro», acrescentou hoje Portas, em conferência de imprensa. Portugal Diário

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Ficámos a saber que a maioria parlamentar do Ps na Assembleia existe e ainda mexe. Não podem impedir mas podem fazer alterações, o que já é qualquer coisa. Só não percebemos porque não exercem mais vezes este seu direito de fazer alterações, pois esta não é a primeira vez que é preciso fazer alterações às barbaridades que pretendem decretar. Mas será suficiente fazer alterações?

Sobre a lei e como vai ficar, o que há a dizer? Que é mais uma lei dúbia que deixa lacunas que permitem que não haja igualdade de oportunidades? Mas eu julgo ter ouvido que estamos precisamente no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades! É com leis destas que Portugal se torna mais Europeu?

Não me esqueço daquelas palavras crápulas: "hoje em dia em Portugal todos os alunos têm explicador!" (Valter de Lemos -- até o nome é bezuntoso, valha-me Deus, como diz uma amiga). O estatuto já era dúbio e agora os critérios continuam dúbios, ainda que menos dúbios, mas ainda assim dúbios. Um pé em ramo verde e logo aparece todo um séquito a apoiar a Rainha de Copas e a dizer que estava tudo previsto, niguém foi desautorizado, muito menos Ela. A sinistra tem aparecido sempre nos telejornais a defender-se como pode, com aquela voz melosa. Estará a adivinhar que aquela lei mesmo assim filtrada e tudo ainda há-de favorecer "muito boa gente". Já estou a ver naquelas longas reuniões de conselho pedagógico a combinar-se que filho de algo vai passar e que filho de zé ninguém vai ficar retido. Igualdade de oportunidades? Só se for no mundo cor de rosa do Valter: todos a ter explicações, indiscriminadamente.

Vocês vão ver se eu não tenho razão. A próxima classe de pessoas a serem espremidas vão ser os pais. Se os filhos estiveram mesmo doentes e não passarem no exame é porque vocês não lhes facultaram explicações como fizeram os pais todos . Não tem dinheiro para isso? Que vá à banca, peça um empréstimo. Já houve um tempo em que se atiraram os pais contra os professores. Os próximos a sair na rifa são os pais, responsabilizados por tudo o que vai mal no ensino. Acusados de depositar os seus filhos na escola; em vez de, como antes, confiarem os filhos à Escola. Os pais vão ser indiscriminadamente acusados de não cuidarem da educação dos filhos, de não terem tempo para eles. E o pior é que muitas das vezes é isso mesmo que acontece, mas não necessariamente por mera incúria. Seria uma altura boa de os pais se voltarem contra a exploração dos seus horários de trabalho, de exigirem mais tempo para seguirem com atenção o processo educativo dos filhos, tomando uma posição de força e invertendo o curso da flexigurança.

As escola estão a transformar-se em gigantescas prisões de crianças, onde Strombolli, um perverso e strombólico director de teatro de fantoches, travestido em ministra, as vai transformando em burros, enquanto a um certo boneco de pau lhe cresce o nariz e um rabo de burro por dizer mentiras e se ter baldado às aulas da Independente.

Os pais seriam neste quadro uma espécie de parelhas de ratos e raposas que entregam os seus filhos nas mãos do dono do teatro por uma tuta e meia de salário. Ao velho Gepetto já não restará senão um papel secundário, será uma espécie de mito, personagem inverosímil de uma história infantil muito velha, com barbas.

E ainda faltava vir o Paulo Portas, como se fosse um desajustado Grilo Falante. Observe-se os exempla da argumentação: não é o mesmo chumbar por faltas para ir a funerais de familiares como chumbar por ir fumar para o café. Um exemplo espatafúrdio e exagerado, mesmo strombólico, como as suas propostas. Demitir a ministra por isto depois de não a terem demitido por tantas outras coisas... Uma oposição destas descredibiliza a necessidade efectiva de exigir a mudança das políticas.

Até o Cavaco já apareceu a chegar os pais à frente, com aquelas falinhas mansas a dizer que têm que participar mais. A que tipo de participação se referia? Esta gente não é de fiar, basta encomendar uma sondagem ao Roberto Carneiro e lá aparecem os pais a dizer que o ensino privatizado é que era bom. Os pais têm é que estar mais atentos e, enquanto professores e pais acossados não se unirem, os objectivos da ofensiva à escola pública herdada de Abril vão continuar sendo metodicamente levados a cabo, com o governo apontando culpas ora a uns ora a outros, colocando interminavelmente uns contra os outros. Entretanto o que mais lhe importará são os números, com que acenará ao povo e aos seus parceiros europeus. Números que cada vez mais apontam para que tudo está melhorando no Ensino em Portugal.



14 comentários:

Anónimo disse...

Estamos no tempo de nivelar por baixo. Com esta das igualdades estamos é a criar desiguldades. Os alunos menos produtivos têm toda a atenção e apoio nas aulas. São colocados à frente e os melhores vão para os últimos lugares, como se fosse aplicado um castigo pelo seu bom aproveitamento. Esquecem-se é que, por um lado, estamos a tentar puxar pelos que não querem aprender, por outro, estamos a mandar aqueles que queriam aprender para o insucesso devido ao desacompanhamento ao tratamento. Nunca gostei muito das escolas privadas mas,começo a achar que quem tem dinheiro deve procurar esses estabelecimentos de ensino. A escola pública está-se a transformar num laboratório mal cheiroso e sem futuro.

Anónimo disse...

Como hoje se encontra a escola seria o mesmo que, estarmos sempre a treinar os atletas com menos capacidades e pôr de lado aqueles que estão a obter as melhores marcas. Passado algum tempo a equipa não passará de um bando de falhados. Tenham juízo! Não se consegue ensinar à martelada. Como não se pode pôr a correr um atleta que não gosta de atletismo ou não tem capacidades para correr.

Anónimo disse...

Vejo que há pais que estão a sentir-se acossados e até já querem unir-se aos professores para lutar contra a sinistra. Sendo professora, sinto- me ofendida pelo facto de a grande maioria dos pais ter alinhado, ao longo destes anos, com as malvadezas da triste figura, no entanto, também acredito que " tarde é o que nunca chega". Assim sendo, pais, sejam bem vindos ao grupo dos espoliados da sua honra, da sua dignidade e dos seus direitos fundamentais.

Pata Negra disse...

Feche as escolas e acabe com o ensino de vez! Pare de matar a Educação aos pouquinhos, sádica!

Anónimo disse...

Anónimo 1

Em última análise cabe aos professores dentro da sala de aula mostrar aos alunos as possibilidade da justiça. Fazendo-os sentir que não serão abandonados à sua sorte caso se defrontem com dificuldades e dar asas aos mais aptos para serem ainda melhores. O problema dos professores, quanto a mim é que estão atascados de trabalho sem o devido tempo para pensarem em conjunto nas formas de recuperar e cativar os alunos.
Mas cuidado, é precisamente assim que nos querem levar a pensar: se tens dinheiro arranja uma escola privada, se não tens paciência. Isso é abandonar a Escola Pública que já demonstrou ser possível.

Kaotica disse...

anónimo 2

Um aluno que não gosta de aprender... por que será? Um aluno que não pode aprender... mas as crianças e os jovens são ávidos de aprender novas coisas, desde que encontrem nelas a satisfação da sua natural curiosidade! Se me disser que alunos mais velhos não vêm grandes expectativas à sua frente, ainda se compreende.

Se é professor deve ter uma enorme amargura. Porque aqui ninguém pretende que os alunos aprendam à martelada. Nem que os professores sejam professores à martelada. Aqui respeitam-se as raízes da palavra docente (docere = docilizar). Os alunos não podem ser os culpados pelas suas desigualdades, eles têm que sentir que ao menos na escola são tratados de igual modo, com dignidade, sem pre-conceitos a seu respeito.

Kaotica disse...

Anónimo 3

É verdade que muitos pais preferiram alinhar-se com a ministra que aparentemente punha os professores na linha e os queria avaliar. Infelizmente a maior parte dos portugueses sempre mostraram tendências para desconsiderar quem tem mais estudos que eles. Mas nem todos os pais são assim. Essa é a ideia que se pretende dar: a classe dos pais contra os professores ou a classe dos professores contra os pais -- dividir para reinar! Acredito já há muito tempo, não é de agora, que só quando pais e professores se unirem contra a destruição da escola pública, o governo recuará. Existe uma maioria na assembleia que tem um mandato dado pela maioria do povo português contra as políticas anteriormente praticadas pelos governos de Barroso e Santana Lopes.Se se continuam a praticar o mesmo tipo de políticas é porque as medidas vêm mais de cima, das directivas da UE cumpridas à risca pelo governo. Pais e professores podem unir-se para dar o seu apoio a estes deputados, para que rompam com as medidas destrutivas da escola pública, da saúde, dos serviços sociais e dos serviços públicos em geral. Quando tudo tiver passado para as mãos dos privados , já não haverá alternativa para os que não podem pagar. Que garantias temos de poder um dia pagar os custos da privatização? Chama-se a isso igualdade de oportunidades?

Kaotica disse...

As políticas da Lurdinhas são uma morte lenta e anunciada. Há que rejeitá-las e é para já!

Kaotica disse...

A todos...

Não sei se se deram conta, mas hoje lá estava no jornal Público o estudozinho dos portugueses a dizer que o ensino privado é que é bom! Só não adivinho os números do euromilhões!

José Carrancudo disse...

Consideramos este mais um não assunto, que não vai alterar a situação do abandono escolar, que se cifra em 40%, nem o insucesso escolar, cuja medida quantitativa ascende aos 80%. O que está a fazer no Parlamento, unicamente cria o ruído informativo nos meios de comunicação social, mostrando que o Governo está a fazer alguma coisa.

Na verdade, já que a Escola foi transformada num passatempo inútil, qualquer aluno que consegue estudar em casa, com aproveitamento, merece todo o crédito e apoio.

O que o M.E., o P.S. e o Parlamento deviam ter feito, e desde logo, é abandonar as práticas pedagógicas disparatadas que aleijaram o nosso Ensino desde há 30 anos. Para saber mais, leia o nosso blogue.

Kaotica disse...

josé carrancudo

E como ignorar o aqui e agora das práticas anti-pedagógicas disparatadas que hoje aleijam mais do que nunca o Ensino? Eu posso achar que a educação já há anos vem padecendo de alguns males pois também eu passei por ela durante esse tempo. Mas o que se está a passar agora é diferente. Não é construção problemática; é destruição metódica, a destruição da Escola Pública, querer entregar o ensino nas mãos dos privados. Aí não há métodos científicos que resistam a uma palmada nas costas e uma troca de favores. Óptimos resultados garantidos, um fato às riscas e um emprego garantido desde logo. Os professores não podem tornar-se em mais uma classe de burocratas!
Vou ver o blog, com atenção.

José Carrancudo disse...

Está-se a fazer a mesma coisa com o ensino superior, fechando os cursos por imperativos económicos; embora os próprios critérios de financiamento estabelecidos há 10 anos são nivelados muito abaixo dos países, com, por exemplo, Alemanha, onde apenas contam os professores do quadro (equivalente aos nossos associados e catedráticos), enquanto cá contam igualmente os assistentes não doutorados e monitores.

Entretanto, o maior problema do superior na situação corrente está na falta dos alunos competentes, os quais o secundário não consegue preparar.

Blueminerva disse...

E que tal um estatuto para os encarregados de educação que tantas e tantas vezes se esquivam.
Um abraço

José Carrancudo disse...

Cara Blueminerva, não podemos esperar que uma família média possa superar as deficiências inerentes ao ensino escolar - veja o nosso primeiro comentário; a atitude dos alunos para com os estudos é sempre muito positiva no início do 1º ano, mas degrada-se muito rapidamente, em muitos casos, quando a Escola não consegue fazer com que estes alunos aprendam e continuem interessados no prosseguimento dos estudos. Uma vez que o aluno perdeu o interesse nos estudos, uma família média já nada consegue fazer. As medidas disciplinares não conseguem recriar o interesse do aluno. Devemos é fazer com que o aluno não falhe na aprendizagem!

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