segunda-feira, dezembro 03, 2007

Marocas Mediático

1976
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Não sei se viram o programa “O Caminho Faz-se Caminhando” com o Mário Soares e a Clara Ferreira Alves a caminhar por Paris e Lisboa (tantas horas! Ainda bem que ambos ainda usam rexina!) e a falar com a malta em Malta. Não sei se viam um programa com o Maestro Vitorino de Almeida e com uma menina com ar de universitária burra (mas não tão loura como a Clarinha), julgo que era a Bárbara Guimarães mas posso estar enganada pois para o caso tanto faz.

Agora ligo para o segundo canal e lá está o marocas num programa cultural, Câmara Clara -- que raramente vejo.

Sim senhor, o Mário Soares voltou à ribalta, agora farta-se de aparecer na televisão, qualquer dia está como o Hermano Saraiva a continuar caquético a aparecer. Por enquanto ainda não, pois na entrevista que deu à TSF, o alzheimer ainda não o impediu de afirmar que ai isso sim senhor, sem dúvida, meteu mesmo o “socialismo comunista” na gaveta, ora essa, pois claro. E foi dizendo que o Socas era melhor do que ele pensara nos tempos em que andava lá pelo partido a ver se trepava – certamente atendendo ao facto deste último ter mesmo feito arder o verdadeiro socialismo.

Ai este Só Ares, como sempre se lhe chamou cá por casa! Se há gente que o meu pai abominava era este senhor Mário Soares que, do baixo da sua arrogância, lia os jornais estrangeiros (ou escondia-se atrás deles? Pois se ele em línguas é uma negação! Nem o Inglês técnico lá ia!) em pleno Conselho de Ministros, fingindo não se interessar nada pelos assuntos postos na mesa da discussão política nos tempos em que Vasco Gonçalves governava. Ficava ali durante todo o tempo e ler os seus jornais que tirava da pasta à diplomata, enquanto os outros falavam, assumindo uma postura mal-educada numa total atitude de desprezo desprezível.

O Mário Soares mostrou à Clara a sua apetência por Vítor Hugo e por choucrute. E abominou Becket, e há quem lhe lave as meias, e teve quem o reconhecesse e cumprimentasse na rua de todos os lugares do mundo onde ou já esteve ou vai estar. Havia uma anedota que comparava o Mário Soares a uma abelha, lembram-se? Concluia que ambos ou estão a voar ou a fazer cera.

E o que o meu avô, pai do meu pai, gostava de pranchar o marocas! Passava horas a fazer recortes das caricaturas dos jornais da época e a pintá-las e às vezes acrescentava-lhes comentários ou falas, fazia com eles albuns. Era a sua forma de blogar, agora entendo eu. Queixava-se que a cola se lhe pegava aos dedos e que chegava a ficar com pedaços do papel mas mãos mas isso nunca o impediu de continuar. Tinha um Zé Povinho a fazer um manguito em cartão, em cima do televisor e aquele objecto era muito útil para exercer o seu direito à opinião, recentemente conquistado, e expressar o que pensava das pessoas que via aparecerem na televisão: aparecia o marocas, levava logo com o manguito; aparecia o Easno, levava com ele; aparecia o Carneiro, dá-lhe! Como ele dizia, carregava-lhes no umbigo (o botão da TV) e eles desapareciam. Divertia-se com aquilo, mesmo amargurado com o que ia vendo o Mário Soares fazer ao país e ao que tinha sido a utopia que o 25 de Abril por momentos tornou realidade, a revolução que ele ainda viu, que ele tanto gostou de ter podido assistir! Mesmo amargurado ria-se daquela fantochada e fazia-me lembrar a ideia que eu tinha do Eça, quando lhes aplicava a sua ironia, umas vezes fina, outras vezes mordaz. Partilho-a convosco. Já que anda tão mediático...

Precursor da Flexigurança?
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2 comentários:

rendadebilros disse...

Estas caricaturas são demais... os portugueses sempre se arrimaram ao humor e rir para não chorar...
Beijos.

Pata Negra disse...

Nunca, desde que me conheço gostei desse Só Ares! Nunca me agradou, nunca me enganou, nunca me entusiasmou, nunca me seduziu.
(reconheço agora que se tivesse votado no Freitas, teria votado mais à esquerda).
Gosto destas crónicas que falam sobre nós mesmos. Já lá tens escarrapachadas na corte 10 coisitas que não eram para contar.

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