De manhã um encontro dentro da escola com uma professora para combinarmos em conjunto articular os conteúdos sobre sexualidade com uma sessão para os pais. Claro que a conversa depressa seguiu rumo livre para outros assuntos muito menos naturais: as palavras são como as cerejas e, quando se começa a falar das coisas uma mão lava a outra. Uma professora atenta, que também é mãe a falar com uma mãe atenta que também já deu aulas. Fizemos como a ministra aconselhou: simplificámos ou seja, descomplicámos o que se queria complicado. Quando duas pessoas dentro destes assuntos das novas políticas educativas se põem a conversar, depressa chegam às mesmas conclusões: estão a destruir a escola, os professores não estão a aguentar aplicar as normas absurdas que chegam às escolas em catadupas a meio do ano lectivo, os alunos estão a ser prejudicados. E isto diz respeito aos professores e diz respeito aos pais porque é sem respeito pelos alunos. Os conselhos executivos de algumas escolas já estão a aplicar as directivas, se forem dos cumpridores. Os representantes dos pais não foram convocados para um Conselho Pedagógico sobre avaliação do desempenho e atribuição de competências e, no Conselho Pedagógico seguinte já tudo mudou: o conselho está diferente; sairam uns, entraram outros: as competências foram atribuídas; a futura directora já tem tudo na mão: ali não haverá avaliação feita pelos pais, nenhum professor irá autorizar. A professora tenta pôr paninhos quentes: deve ter sido por esquecimento os pais não terem sido convocados, desculpa. É uma boa pessoa, conciliadora, disse que tinha compreendido muito bem as posições assumidas por quem representa os pais.
Tenho tanto receio de quem se diz "representante dos pais". Hoje comprei um livro, cujo título vai mal-impressionar muito boa gente: Pais Contra Professores, de Maurice T. Maschino. É muito útil, porque começa logo por definir gente da laia do Albino Almeida, para quem ainda não está advertido contra esta praga de malfeitores que se apossaram de uma estrutura democrática como era a CONFAP: «A escola será doravante um lugar em que são os pais a fazer a lei? Na maioria dos casos, sem dúvida não, mesmo que muitos deles, no ambiente actual, se sintam cada vez mais tentados a intervir ao arrepio de quaisquer normas, e de forma anárquica. O que seria certamente desagradável, e perfeitamente inadmissível, mas não traria grandes danos à instituição, se estas reacções individuais não fossem encorajadas, retomadas e amplificadas por grupos que se arrogam o direito de falar e de agir em nome de todas as famílias. Esta impostura -- de que a maioria dos pais nem sequer suspeita, mas que os poderes públicos encorajam -- contribui em grande medida para desqualificar a escola enquanto lugar de estudo e de aprendizagem de saberes. Na verdade é um abuso de linguagem falar dos pais. E abuso de poder ao pretender manifestar-se em seu nome."
Confesso que mais lá para a tarde só me apetecia ser feliz. Por isso lá fui eu participar num colóquio sob o tema "Educação para a felicidade" e não é que lá fui encontrar uma sala cheia de professores, perdão, professoras, que a quota masculina só se reduzia a um -- será que os homens não acreditam na felicidade? E os professores ainda acreditam ou são levados a acreditar? Pensei: bela acção esta, mesmo a propósito, logo no dia a seguir à entrevista da ministra... vamos lá a contar as boas experiências, ajustemos o foco de mineiro e iluminemos apenas o que bem que queremos ver. Mas não será uma visão tubular, redutora? E o que está mesmo mal? Não nos devemos centrar no que está mal, devemos pensar no que está pior para nos sentirmos felizes com o mal que temos. Aleluia, meu irmão. Até havia umas rezas para o dia a dia ( e contra a ministra, nada?). No final terapia do riso para aliviar tensões e partir para casa bem disposto, expurgado de todo o mal, pronto para enfrentar a burocracia da escola com um sorriso nos lábios (Sorria, está a ser avaliado!). Mas quem disse que queremos nos livrar das tensões agora? Para isso já bastam certas manifestações que só servem para tirar a pressão da panela... Vim embora antes da terapia: agora queremos estar em tensão, reunir toda a tensão para gritar bem alto, unidos, nas manifestações que aí vêm e não deixar que a pressão se escape da panela. Cerrar fileiras e só parar depois da retirada absoluta das políticas educativas mais absurdas que o capitalismo internacional em desespero alguma vez forjou. Não queremos esta ministra porque não queremos estas políticas porque não queremos obedecer aos prazos da união europeia para destruir a escola pública, porque não queremos este sistema. Cumprir é pactuar com a estratégia internacional capitalista de destruir a escola pública. Portugal romper com esse sistema: isso sim me deixaria muito feliz, senhores psicólogos educacionais.
À noite, reunião política, para discutir... política e educação, pois, meus caros amigos, quer queiramos quer não isto anda tudo ligado.
Tenho tanto receio de quem se diz "representante dos pais". Hoje comprei um livro, cujo título vai mal-impressionar muito boa gente: Pais Contra Professores, de Maurice T. Maschino. É muito útil, porque começa logo por definir gente da laia do Albino Almeida, para quem ainda não está advertido contra esta praga de malfeitores que se apossaram de uma estrutura democrática como era a CONFAP: «A escola será doravante um lugar em que são os pais a fazer a lei? Na maioria dos casos, sem dúvida não, mesmo que muitos deles, no ambiente actual, se sintam cada vez mais tentados a intervir ao arrepio de quaisquer normas, e de forma anárquica. O que seria certamente desagradável, e perfeitamente inadmissível, mas não traria grandes danos à instituição, se estas reacções individuais não fossem encorajadas, retomadas e amplificadas por grupos que se arrogam o direito de falar e de agir em nome de todas as famílias. Esta impostura -- de que a maioria dos pais nem sequer suspeita, mas que os poderes públicos encorajam -- contribui em grande medida para desqualificar a escola enquanto lugar de estudo e de aprendizagem de saberes. Na verdade é um abuso de linguagem falar dos pais. E abuso de poder ao pretender manifestar-se em seu nome."
Confesso que mais lá para a tarde só me apetecia ser feliz. Por isso lá fui eu participar num colóquio sob o tema "Educação para a felicidade" e não é que lá fui encontrar uma sala cheia de professores, perdão, professoras, que a quota masculina só se reduzia a um -- será que os homens não acreditam na felicidade? E os professores ainda acreditam ou são levados a acreditar? Pensei: bela acção esta, mesmo a propósito, logo no dia a seguir à entrevista da ministra... vamos lá a contar as boas experiências, ajustemos o foco de mineiro e iluminemos apenas o que bem que queremos ver. Mas não será uma visão tubular, redutora? E o que está mesmo mal? Não nos devemos centrar no que está mal, devemos pensar no que está pior para nos sentirmos felizes com o mal que temos. Aleluia, meu irmão. Até havia umas rezas para o dia a dia ( e contra a ministra, nada?). No final terapia do riso para aliviar tensões e partir para casa bem disposto, expurgado de todo o mal, pronto para enfrentar a burocracia da escola com um sorriso nos lábios (Sorria, está a ser avaliado!). Mas quem disse que queremos nos livrar das tensões agora? Para isso já bastam certas manifestações que só servem para tirar a pressão da panela... Vim embora antes da terapia: agora queremos estar em tensão, reunir toda a tensão para gritar bem alto, unidos, nas manifestações que aí vêm e não deixar que a pressão se escape da panela. Cerrar fileiras e só parar depois da retirada absoluta das políticas educativas mais absurdas que o capitalismo internacional em desespero alguma vez forjou. Não queremos esta ministra porque não queremos estas políticas porque não queremos obedecer aos prazos da união europeia para destruir a escola pública, porque não queremos este sistema. Cumprir é pactuar com a estratégia internacional capitalista de destruir a escola pública. Portugal romper com esse sistema: isso sim me deixaria muito feliz, senhores psicólogos educacionais.
À noite, reunião política, para discutir... política e educação, pois, meus caros amigos, quer queiramos quer não isto anda tudo ligado.
2 comentários:
Também sou pai. Não compreendo a legitimidade desse sr. Albino Almeida (pela primeira vez fixo o seu nome - será pessoa importante?) e não aprovo nem o tom nem o teor do seu discurso - a TV da ministra gosta dele, logo, não me cheira! Se queremos de facto alguém que nos represente não podemos permitir que seja esse o rosto - um desastre!
Também sou professor, esforço-me por não confundir os papéis mas dia 8 vou ser dois em um: é o sistema educativo que está em causa!...
Devemos combater as políticas mas, no caso presente e antes de mais nada, é a ministra e os seus capangas que estão em causa.
Um abraço Eduardo VII
A ministra e os capangas também não me agrada nada, nem o engenheiro, nem o do outro partido, nem ver a escola pública a ser destruída por todos eles. E muito menos me agrada saber que isto vem mais de cima, das directivas das políticas educativas das instituições europeias, inspiradas nos modelos norte-americanos e ingleses que por sua vez obedecem às leis do capitalismo global, predador e desenfreado.
Dia 8 há que marchar unidos, pais, professores e toda a sociedade cívil na defesa da Lei de Bases, na defesa da educação, na defesa dos alunos e dos professores, na defesa da Escola Pública dizendo BASTA! à mediocridade reinante.
Kaotica, presente!
Enviar um comentário