domingo, fevereiro 17, 2008

OS SOCIALICIDAS

«Vai por aí algum alvoroço com as declarações de Manuel Alegre sobre as derivas do PS. O PS já nasceu com derivas: basta atentar nos seus fundadores. Provinham, quase todos, do antifascismo, mas ética e ideologicamente eram diferentes. De católicos "progressistas" a ex-comunistas, até republicanos de traça jacobina, o PS foi, quase, um trâmite freudiano de adolescentes contra os pais. O que os impediu de compreender as mitologias da social-democracia, esta mesma diversamente interpretada e opostamente aplicada nos países escandinavos. Provinham de uma leitura catequista do marxismo, caldeada na experiência da República de Weimar. Quando, no PREC, se gritava: "Partido Socialista, partido marxista!" - a exclamação estava a mais. A interrogação seria mais apropriada. O estribilho ficou mudo, quando Willy Brandt mandou dizer que as estentóricas frases eram estranhas à teologia do "socialismo democrático". Por essa época, Manuel Alegre, numa entrevista que lhe fiz, disse, dramático, que "a social-democracia era a grande gestora do capitalismo". Goste-se ou não dele, a verdade é que nunca foi ambidextro na forma de protestar. Na realidade, há muitíssimo poucos socialistas no PS; no Governo, parece-me que nenhum. Observo aquelas figuras, marcadas por uma espécie de misticismo barroco, e pergunto-me: que tem feito pelo País esta gente de manejos burocráticos e de cerviz dobrada ante o Príncipe? Nada. Pior: tem cometido o mais condenável de todos os crimes - o socialicídio. Não é de agora, o delito. Com José Sócrates, socialista de ocasião, propagandeou-se a "esquerda moderna" como justificação de todas as malfeitorias ideológicas, sociais, morais e éticas. Mas ele resulta de uma génese política malformada. As "tendências" no PS, desenvolvem-se, exclusivamente, com palavras e frases protocolares. E os poucos que pertencem a uma genealogia oposta são marginalizados ou tidos como anacronismos. Há, nesta gente, falta de garra, de honra, de competência, de credibilidade, de integridade, de vergonha. Trabalhadores precários: 1 700 000. População empregada: 5,2 milhões de pessoas. Desempregada: cerca de meio milhão. Dois milhões de portugueses na faixa da pobreza. São conhecidos os vencimentos escandalosos, as mordomias, as pensões de reforma não apenas no "privado" como no "público". O regabofe na sociedade portuguesa é mais do que revoltante. O PS é uma desgraça. O Governo "socialista" uma miséria. E ambos têm de saciar imensos e sôfregos apetites. Manuel Alegre repetiu o que se sabe - e que só o não sabe quem o não quer saber. Afinal, pouco se ambiciona do PS: apenas um bocadinho de socialismo.»

Baptista-Bastos
escritor e jornalista

b.bastos@netcabo.pt


http://dn.sapo.pt/2008/02/13/opiniao/os_socialicidas.html

2 comentários:

Pata Negra disse...

De PS, trágico, triste ou Alegre, já estamos conversados: PS nem vê-los!!!
Quanto à farra, nem corpo presente nem miragem: gostaria de estar, é-me difícil, parece-me um grupo de selecção, não vou estar mas faz de conta que estarei, não bebam a minha parte porque se iriam exceder...
Um abraço de leitão

Kaotica disse...

pata negra

Por mim vou beber a minha parte da tua parte e se os outros não quiserem não se há-de desperdiçar que o custo de vida não está para brincadeiras. PS nunca mais! Quantos eleitores se lembrarão do grito de ordem? Quantos desses mais depressa irá canalizar o seu voto para o PSD e lá volta aquela corja do vómito laranja. Já estou como o Saramago, se todos a quem não agradam os partidos de alterne votassem branco alguém havia de ter que explicar esse estrondoso resultado. Falta é pessoas conscientes que acreditem que é possível fazer seja o que for para impedir essas corjas de reinarem.

Bjos

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