domingo, março 30, 2008

Quem ensinou os alunos a fazer abaixo-assinados?



Abaixo-Assinado (#11): queremos a professora de português fora da escola:

Destinatário: Estudantes

Nós queremos que a professora Maria Inês pare de dar aula na nossa escola(CEU CIDADE DUTRA),porque ja vai fazer 2 anos que ela ensina a mesma lição! Se ela não sair não entraremos mais na sala de aula, quando for aula dela!!! Obrigado(a)!

Dados adicionais:

Encontrei este abaixo-assinado por mero acaso no meio de tantos outros sob o tema da Educação. Fiquei a pensar que se fala muito pouco dos alunos quando se debate o Ensino e a Escola Pública. Chega-se a pensar que a escola só é feita de professores do Ministério da Educação. Chega um dia em que o ME apaga a luz e bate com a porta e o que restam são professores ao Deus-dará. Então e nos alunos, não se fala? Que opinião terão eles sobre as suas aulas? Que terão eles a dizer em relação aos professores, ao modo como funciona a escola, sobre as matérias que aprendem e da forma como querem que eles as aprendam. Já alguém se lembrou de perguntar aos alunos como quereriam eles que fosse a escola, o que gostariam de saber, de aprender a fazer, que interesses têm, se é que os têm.
Se o Pafúncio fosse um blogue muito visitados, já sei que teria aqui muitos professores dizendo em uníssono que o desinteresse é total e absoluto, que os pais são os que menos querem saber desde que os filhos vão passando, que já se matam a trabalhar e não querem ser amas secas nem palhaços de circo. Têm toda a razão, mas hoje, não sei porquê estou farta de professores. Farta de escutar sempre as mesmas queixas e depois vir a saber que toda a casta de decretos ministeriais ridículos e absurdos acabaram afinal por entrar nas escolas, sendo postos em prática por esses mesmos professores que sairam à rua justamente indignados a 8 de Março.
Desculpem, meus amigos, dizer que estou farta de professores. Estive a consultar a lista dos meus amigos e a maior parte deles são professores, não vi lá na lista um único ministro, um único deputado, nenhum provedor, nem bastonários. Mas tenho dois filhos na escola pública e estou habituada a deparar com as situações caricatas que de lá vêm. Por enquanto ainda os pais se vão dando conta mas já se anuncia o dia em que tudo estará sobre controlo. Os pais julgam que vão estar mais presentes mas como estão enganados. Na pior das hipóteses, terão lá representando-os algum Albino Almeida que lá estará para negociar a melhor forma de tirar proveito disso para si e para os seus. Se os pais não se organizarem em Associações de Pais que realmente se preocupem com a educação e com o estado do ensino, se não forem eles mesmos a se organizarem e a encontrar meios de poderem questionar os Conselhos Executivos do que se passa nas escolas, eles nunca vão saber realmente porque da parte dos professores ninguém virá alertá-los. O único veículo de comunicação ainda são os alunos. Não aqueles que nada dizem ou que sempre respondem que está tudo bem. Mas sim os chamados alunos problemáticos, aqueles que problematizam o ensino, que dizem que não gostam daquela escola, daquela professora, que sentem que estão a perder o seu tempo, que a escola é um lugar inóspito, que reclamam que os professores não os ouvem, que são caretas, que não se interessam por nada que venha da sua geração, dos seus gostos, dos seus interesses. Os pais pouco podem fazer em relação a isso, a não ser que se unam exigindo uma maior qualidade. Verdade seja dita que muitos professores já dão tudo por tudo mas, caros professores, quantos dos vossos colegas são assim, como essa professora que em dois anos deu sempre as mesmas aulas. Quantos conhecem assim, sem criatividade, sem empenho, sem psicologia, sem informação, sem conversa, sem capacidade de relacionar os acontecimentos, sem humor, sem capacidade crítica.
Que mau momento eu fui escolher para atacar os professores! Olhem que não é geral, é mesmo muito particular, como esse abaixo-assinado feito em relação a uma pessoa em particular, devidamente identificada. Não me levem a mal, mas de entre os meus amigos professores já ouvi tantos falar de gente assim que se move nas escolas. Coitados dos alunos!
Depois do video da miúda histérica que queria o telemóvel, andam todos a atacar alunos e pais (já antes os pais se tinham convertido na vítima preferencial, logo a seguir à Ministra e seus muchachos). Agora todos se voltam contra os alunos como se de um bando de delinquentes se tratasse. Todos virão defender que as crianças precisarão de ser contidas, disciplinadas, vigiadas e até mesmo policiadas. Adivinho que isso vai fazer um grande favor ao governo pois lhe dará os pretextos necessários para converter o que restar da escola pública (aquela que entretanto continuar sem ser total ou parcialmente privatizada), em grandes presídios de futuros trabalhadores precários instruídos de acordo com as exigências dos mercados económicos.

Sem comentários:

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