quinta-feira, maio 01, 2008

Catástrofe (anti)natural da Globalização


Cartoon by Khalil Bendib

«Ramo após ramo, profissão após profissão, uma revolução convulsiona o mundo do trabalho, no qual quase ninguém será poupado. É em vão que políticos e economistas procuram ainda substitutos para os empregos de fato-macaco que vão sendo extintos na construção de navios da Vulkan, nos estaleiros de aviões da Dasa ou nas linhas de montagem da Volkswagen. O medo de perder o posto de trabalho há muito que penetrou nas salas dos empregados de escritório e alcançou os sectores que, até aqui, eram os mais seguros da economia. Os empregos de uma vida inteira tornaram-se biscates, e quem ainda ontem tinha uma profissão de futuro pode ver agora as suas capacidades transformadas em saber inútil.

Não se vislumbra o fim da crise do emprego. Muito pelo contrário: após avaliação dos levantamentos por parte do Banco Mundial da OCDE, do McKinsey Global Institute, do Grupo de Pesquisa dos Líderes do Mercado Mundial para o Aconselhamento de Empresas, assim como de numerosos ramos de serviços e de relatórios de negócios, os autores deste livro chegam à conclusão de que nos próximos anos adicionais 15 milhões de trabalhadores e funcionários da União Europeia irão temer pelos seus empregos a tempo inteiro, quase o dobro do que no Verão de 1996 já estavam inscritos no fundo de desemprego.

Os beneficiários da economia sem fronteiras gostam de explicar a crise como se fosse uma espécie de processo natural. «A competição na aldeia global é como uma grande cheia:ninguém lhe consegue escapar», profetizou em 1993 o então director da Daimler-Benz Edward Reuter. Após três anos e a extinção de um milhão de postos de trabalho, Heinrich von Pierer, timoneiro do grupo Siemens, repete a mesma mensagem com as mesmas palavras: «O vento da competição transformou-se numa tempestade e o verdadeiro furacão está para chegar.» A integração da economia para além de todas as fronteiras não é, de forma alguma, determinada por um progresso técnico linear que irrompe e ao qual não há qualquer alternativa. Ela é, sim, o resultado de uma política governamental conduzida conscientemente durante décadas pelas nações ocidentais industrializadas, à qual se dá continuidade até aos dias de hoje.»


(excertos de A Lei dos Lobos, in A Armadilha da Globalização - O Assalto à Democracia e ao Bem-Estar Social, Hans-Peter Martin e Harald Schumann, Alemanha, 1996, Terramar)

Sem comentários:

Blog Widget by LinkWithin