terça-feira, julho 29, 2008

Força aí, galera!

Imagem daqui

Tive um professor na faculdade que contou que foi ao Brasil e não percebia nada do que se dizia na rua. Para mim isso é toleima, mas para ele “galera” não era senão aquele velho barco.

Pelo menos era um bom professor universitário, punha-nos a pensar primeiro pela nossa cabeça e só depois exibia a sua teoria. Mandava-nos ler os textos A e advertia-nos contra as ideias feitas dos textos B. Confrontava-nos com os poemas e depois discutiam-se as “teorias” de cada um que quisesse entrar no debate. Mas de português do Brasil não sabia nada, ou fingia que não sabia, por sua conveniência.

Claro que quando contava a história ele sabia muito bem de que galera se falava, a história era apenas um exempla para desconsiderar a língua popular e a cultura do Brasil. Os professores de teoria da literatura deviam ser menos virados para as literaturas europeias e conhecer um pouco mais as literaturas latino-hispano-americanas. E se estão a dar aulas a alunos dos Estudos Portugueses deviam obrigatoriamente ter um bom conhecimento de Literaturas Africanas. Mas o que lá vai, lá vai. Até se compreende, já que a sua formação era nitidamente nos anglo-saxónicos e na literatura norte-americana. Quanto à literatura portuguesa era dos cheios de gostos exclusivos e de preconceitos: não me lembro de ter dito claramente que apreciava este ou outro autor português, mas havia uma catrefada deles (a maior parte) que eram desqualificados até mais não. Importa dizer que Jorge de Sena foi discutido, e também matéria de teste um poema, complicado de saber quem diz o quê, como e de que género, do Ricardo Reis. Este foi uma pedra no sapato de muito boa gente… Provavelmente se tivesse prosseguido os estudos tentaria um mestrado em Teoria da Literatura para continuar com este professor, mas achei que não precisava assim tanto de buscar desesperadamente uma teoria para a Literatura. E ainda para mais ele afirmava que nenhum livro alguma vez pôde mudar o mundo. Eu não concordo.

Preferi deixar rolar a língua e não ocultar saber de que galera se fala.


6 comentários:

rendadebilros disse...

Eu , felizmente, tive Literatura Brasileira com um professor espectacular. Foi então que cantei Chico Buarque e conheci Vinicius , mas não era normal cantar-se em nenhuma das outras Literaturas ( Portuguesa , Francesa ou Espanhola), o sr. estava bem à frente... tenho que arranjar tempo para reler e ler as literaturas africanas que nos dizem/deviam dizer muito. Em vez de andarem com histórias de Acordos Ortográficos seria bem mais útil divulgarem os autores de Língua Portuguesa... eu pelo menos acho...

Curiosidade: já viste isto?
http://facaumblogueirofeliz.blogspot.com/

Achei a ideia interessante...

E férias, ainda nada?

Beijos.

Zorze disse...

Olha eu que tive uma brasileirinha a viver comigo durante 3 anos e de quem continuo grande amigo, "acho uma graça" a maneira de falar "brázilero".
Uns exemplos:
- lixívia, água sanitária.
- vigarista/falsificador, estério-natário.
- fotocópia, xerox.
- fotocópia autenticada, xerox autenticada.
- toalha de praia, canga.
- carapinha, cabelo sarará.
- foder, transar.
- beber uma cerveja, beber um chopi.
- fazer um scan, escanear.
- puto, moleque.
- miúda, guria.
etc...

É uma graça, esses caras, né! O melhor é tomarmos um drinke.

Beijão legau,
Zorze

Kaotica disse...

renda

Bem, eu estou realmente de férias. Daí o tempo para as memórias do tempo da faculdade e para passar pelos blogues mais queridos, mesmo quando não me dá para deixar um comentário. Li o post do link que enviaste e é verdade. Sabe muito bem receber comentários. Mas por vezes já é bom saber que fomos visitados por aqueles que mais prezamos, não é?
Muitas das vezes vou ao teu blogue e leio os teus poemas e fico sem palavras porque eles são tão simples e dizem tudo sem nada a mais, para quê estragá-los com comentários?
É tão bom estar assim de férias, meio no campo, meio na praia, com a família... mas acima de tudo adoro esta liberdade de fazer o que me apetece, quando me apetece.

Um enorme abraço

Kaotica disse...

zorze

Pois é amigo, o meu irmão tomou isso a seu cargo, arranjar-me uma excelente cunhada brasileira que fala dessa forma. Adoro o sotaque e principalmente adoro as palavras diferentes. Sabes por que nunca forcei muito a barra para ir ao Brasil? Porque a minha família materna foi emigrante no Brasil e a minha avó nasceu lá e veio para cá apenas com meses. Nunca mais lá voltou. Se eu lá fosse tenho quase a certeza que ficaria por lá... é um feeling que eu tenho, por isso tenho evitado.

Abraços

Moacy Cirne disse...

Oi, sou brasileiro do Nordeste (Rio Grande do Norte), mas moro no Rio há bastante tempo. Aqui mesmo há expressões regionais diferenciadas. Possivelmente, eu também encontraria dificuldades em entendê-los plenamente no dia-a-dia, até porque vocês me parecem muito "cartesianos" na fala. Mas adoro essas diferenças; algumas, para nós, são até mesmo engraçadas. (O contrário também deve acontecer, claro,) No futebol, por exemplo, camisa de um clube é camisa; camisola é uma roupa íntima de mulher, normalmente usada (quando a usam) na hora de se adormir. Um abraço.

Kaotica disse...

moacy cirne

Bem e ainda há diferenças em "camisinha", que aqui é uma camisa pequena e aí é um tabu da igreja católica! (LOL!)

Gostei de conhecer teus blogues e hei-de lá voltar para os ver melhor.

Um abraço

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