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A vida nas sociedades contemporâneas é doravante governada por uma nova estratégia. Ela destrona o primado das relações de produção em proveito das relações de sedução.
A indiferença cresce. Em lado algum é tão visível como no ensino. Aqui, em poucos anos, com a velocidade de um relâmpago, o prestígio e a autoridade dos docentes desapareceram quase por completo.
Hoje, o discursos do Mestre encontra-se banalizado, dessacralizado, em pé de igualdade com o dos média. O ensino é uma máquina neutralizada pela apatia escolar, feita de atenção dispersa e de cepticismo desenvolto face ao saber.
Grande desapontamento dos Mestres. É esta desafectação do saber que é significativa. Muito mais do que o tédio, de resto variável, que tomou conta dos alunos das escolas.
Agora a escola é menos parecida com uma caserna e mais parecida com um deserto (ressalvando-se o facto de toda a caserna ser um deserto), onde os jovens vegetam sem grande motivação ou interesse. Perante este desinteresse as autoridades reagem propondo mais do mesmo. Dizem ser necessário inovar a todo o custo: mais liberalismo, participação, investigação pedagógica… E o escândalo está nisso mesmo, porque, quanto mais a escola se põe a ouvir os pais e os alunos mais estes últimos desabitam sem ruído nem convulsões esse lugar vazio.
As lutas, os movimentos, o associativismo pujante e as greves estudantis do pós-68 desapareceram. Os estudantes são agora seres inertes. Vivem a moda, o efémero, o absolutamente transitório, a imitação. Mais do que agir só importa macaquear os «produtos» vendidos pelos media. O debate e a contestação social e política extinguiu-se. A escola é um corpo mumificado e os docentes corpos fatigados, incapazes de lhe devolver a vida.
Não se trata, para falar com propriedade, de «despolitização». Os partidos, as eleições, continuam a «interessar» a maioria dos cidadãos. Mas interessam-lhe do mesmo modo (e até em menor medida) que as apostas no totoloto ou no euromilhões, a meteorologia, a vida dos «famosos» ou os resultados desportivos. A política entrou na era do espectáculo…
Nos noticiários passa-se, com naturalidade, da política às variedades. O relevo e o tempo dado a cada notícia é determinado pela capacidade de entretenimento que esta tem. A sociedade actual não conhece a hierarquia, as codificações definitivas, o centro e a periferia. Nada mais lhe interessa do que estimulações e opções equivalentes em cadeia… Daqui resulta a indiferença pós-moderna. Indiferença por excesso, não por defeito, por hiper socialização, não por privação.
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Gilles Lipovetsky
(José Paulo Serralheiro; Jornal "a Página" , ano 14, nº 149, Outubro 2005, p. 48)
in A Página da Educação (todo o artigo para ler AQUI)
A vida nas sociedades contemporâneas é doravante governada por uma nova estratégia. Ela destrona o primado das relações de produção em proveito das relações de sedução.
A indiferença cresce. Em lado algum é tão visível como no ensino. Aqui, em poucos anos, com a velocidade de um relâmpago, o prestígio e a autoridade dos docentes desapareceram quase por completo.
Hoje, o discursos do Mestre encontra-se banalizado, dessacralizado, em pé de igualdade com o dos média. O ensino é uma máquina neutralizada pela apatia escolar, feita de atenção dispersa e de cepticismo desenvolto face ao saber.
Grande desapontamento dos Mestres. É esta desafectação do saber que é significativa. Muito mais do que o tédio, de resto variável, que tomou conta dos alunos das escolas.
Agora a escola é menos parecida com uma caserna e mais parecida com um deserto (ressalvando-se o facto de toda a caserna ser um deserto), onde os jovens vegetam sem grande motivação ou interesse. Perante este desinteresse as autoridades reagem propondo mais do mesmo. Dizem ser necessário inovar a todo o custo: mais liberalismo, participação, investigação pedagógica… E o escândalo está nisso mesmo, porque, quanto mais a escola se põe a ouvir os pais e os alunos mais estes últimos desabitam sem ruído nem convulsões esse lugar vazio.
As lutas, os movimentos, o associativismo pujante e as greves estudantis do pós-68 desapareceram. Os estudantes são agora seres inertes. Vivem a moda, o efémero, o absolutamente transitório, a imitação. Mais do que agir só importa macaquear os «produtos» vendidos pelos media. O debate e a contestação social e política extinguiu-se. A escola é um corpo mumificado e os docentes corpos fatigados, incapazes de lhe devolver a vida.
Não se trata, para falar com propriedade, de «despolitização». Os partidos, as eleições, continuam a «interessar» a maioria dos cidadãos. Mas interessam-lhe do mesmo modo (e até em menor medida) que as apostas no totoloto ou no euromilhões, a meteorologia, a vida dos «famosos» ou os resultados desportivos. A política entrou na era do espectáculo…
Nos noticiários passa-se, com naturalidade, da política às variedades. O relevo e o tempo dado a cada notícia é determinado pela capacidade de entretenimento que esta tem. A sociedade actual não conhece a hierarquia, as codificações definitivas, o centro e a periferia. Nada mais lhe interessa do que estimulações e opções equivalentes em cadeia… Daqui resulta a indiferença pós-moderna. Indiferença por excesso, não por defeito, por hiper socialização, não por privação.
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Gilles Lipovetsky
(José Paulo Serralheiro; Jornal "a Página" , ano 14, nº 149, Outubro 2005, p. 48)
in A Página da Educação (todo o artigo para ler AQUI)
1 comentário:
Uma análise bem "caçada". "A indiferença cresce".
Um abraço com diferença
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