Nunca em outra altura me lembro de ter tido um dilema tão grande entre votar e não votar. Se não votasse seria a primeira vez que podendo fazê-lo não o faria. Já deixei de votar mas foi por estar ausente do local de voto. Mas desta vez foi uma tentação diferente: de cada vez que um demónio me dizia para ir votar, outro demónio me aparecia dizendo-me para não ir. E o pior é que dei voltas à cabeça e cheguei mesmo a estar decidida a não votar. Mas houve especialmente 3 coisas que me fizeram decidir-me a ir: uma foi um amigo libertário que me disse que ia dar o seu voto de simpatia; outra foi outro amigo deslibertário que me disse assim: "estes senhores sabem que quando apelam ao voto, na realidade o que estão a fazer é provocar abstenção: existem eleitores que exercitam o seu descontentamento fazendo o contrário daquilo que eles pedem.” Ora era tudo o que eu menos queria era acabar fazendo o jeito a senhores destes. O terceiro motivo e motivação foi que a campanha da Lista do POUS/RUE valeu realmente a pena. Foi duro andar a fazer campanha pelos nossos próprios meios, não sem sacrifício, mas no final é gratificante alguém dizer assim:
Muito Boa Tarde !
É com alegria que descobri um partido em Portugal que defende o emprego e que é contra esta União Europeia. Uma UE que ajudou a fechar as nossas empresas e deslocalizou-as para fora de Portugal.
Por este motivo e outros que li no vosso site, no domingo o meu voto será POUS. Podem contar com pelo menos um voto na Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, concelho do Entroncamento, distrito de Santarém.»
Quem poderia ficar indiferente a este voto de esperança, vindo como um fenómeno do Entroncamento? Um voto em plena consciência dos efeitos da União Europeia, um voto com conhecimento de causa. Um voto esclarecido.
E no entanto não se fizeram bancas nem campanha no Entroncamento, porém a campanha da lista do POUS chegou ao Entroncamento e há-de ter chegado à consciência e ao reconhecimento de muito boa gente.
Estas três coisas, postas na balança, foram na verdade bem mais fortes do que os discursos ignóbeis do senhor silva que ontem quase me viraram do avesso. Cada vez que afirmava a mim própria que desta vez teria que seguir a razão e não o coração e ir lá votar naquilo que todo este tempo defendi, logo vinha um Cavaco ou um Sócrates ou mesmo os outros dos partidos todos dizendo como era importante votar. Já não vou lá, pensava eu, agora é que não me apanham. Até me fui valer do António Gedeão e da Bethânia…
Hoje fui votar. Vi um a votar em branco à minha frente, querendo mostrar para toda a gente que o voto dele era para ser visto, apesar de branco. Obrigaram-no a votar em branco escondido e só depois entregar. Mas ele queria mesmo era um voto expresso e assumido perante todos.
Os resultados em nada diluem a determinação do nosso primeiro-ministro. Apesar de todas as derrotas eleitorais desde que obteve aquela enganadora maioria.
Todos ganharam, até a Laurindinha, só o PS foi derrotado, como o povo quis. Mas ele continua a usufruir da maioria que obteve, até ao último dia do seu mandato para continuar no mesmo caminho. O PS de Sócrates se for obstinado em manter certas ministras não vai ter que penar pela vitória, quanto mais pela maioria. O quadro actual não lhe é favorável, mas ele faz como se fosse, mesmo reconhecendo a derrota.
Ganhou o PSD, o que não torna nada melhor, nem muda nada. Continua-se a manter uma absurda alternância. A direita sai fortalecida, com o reforço do CDS. O velho bloco ainda mexe e está desesperado por voltar ao poder.
Entretanto o Bloco e o PCP vão engordando, em tempos de crise, com os trabalhadores procurando alternativas e soluções para os seus problemas junto daqueles que se dizem partidos de esquerda, partidos dos trabalhadores, partidos que desejam substituir o sistema capitalista pelo socialismo. As pessoas vão querer ver os efeitos da sua intervenção.
Veremos o que uns e outros fazem com os resultados.
Já agora, como nota de rodapé:
Houve muito quem votasse no MEP, o que é talvez dos dados mais tristes sobre a falta de perspectivas políticas do nosso povo. E da sua ignorância. A União Europeia como um barco cor-de-rosa onde todos vamos de mãos dadas direitos ao abismo, mantendo-nos optimistas, todos empresários de nós próprios, todos acreditando que tudo vai melhorar com a Laurinda no Parlamento Europeu. Uma alegoria que ainda conseguiu que uns quantos embarcassem. Ma não foi desta que nos livrámos da Laurinda. Como diz uma amiga, "tudo o que é mau que vá para a União Europeia".
6 comentários:
O "meu" candidato favorito para estas eleições ganhou com 62%.
VIVA !!!!!!
Beijokas
Parabéns, Mariazinha. Cheguei a pensar muito em "votar" nele. Resta saber se, quando chegar a hora da verdade, esse candidato estará pronto a não se abster!
Beijos e abraços
O Povo nunca se engana, o Povo é sábio.
BJS
Ferroadas
Já deixei há muito de acreditar nessa frase: como puderam os portugueses escolher tal pessoa para presidente da república depois de já ter passado pelo período negro do cavaquismo? Podes até dizer-me que o mal foi não ter alternativas (Soares? Alegre? Jerónimos?)mas ainda assim não deixo de achar que este povo prefere Fátimas Felgueiras,Valentins Loureiros e Isaltinos, que roubam mas fazem obra, do que se mexerem para os pôr a mexer. Votam neles. Podem não votar neles e votam!Mesmo o Sócrates: são até capazes de o deixar lá outra vez, se ele mudar algumas moscas e piar fininho.Não vês que o povo quer que sejam os PSD's a tomar em mãos os destinos do país? Mas estão mesmo na merda com este governo, lá isso estão!Só ainda não perceberam que as políticas são iguais e que são dão novas oportunidades de poleiro a outros parecidos com os que lá estão.
Olá Kamarada
Mais 22 apátridas vão fazer as malas e partir, tenho pena que outros não tenham sido eleitos, que este país fica bem melhor.
Abraço
Kaótica
Quis-me referir aos 63% de abstenção. Claro que de vez em quando também comete erros.
Sabes, o 25 de Abril ainda foi à pouco tempo, a nossa democracia é ainda bebé, ainda não tiramos a chucha, e é por causa disso que estes paspalhos nos enganam, somos ainda demasiado tenrinhos, talvez ingénuos.
Só lamento a desfaçatez e a hipocrisia dos nossos políticos profissionais, não nos merecem qualquer tipo de consideração, para além de incompetentes são medíocres.
Resta-nos alertar as novas gerações para os malefícios da democracia burguesa, fazer a luta diariamente e nunca embarcarmos na prosápia dos falsos profetas defensores da plebe.
BJS
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