Dona Dondoca não deixou de comparecer no encontro de um partido que não é o dela e que poucos conhecem para se discutir a ex- U.R.S.S. A primeira coisa que estranhou ouvir foi que as massas foram expropriadas do poder político. Perguntou: mas, mesmo na U.R.S.S. alguma vez as massas detiveram realmente o poder político?
É que Dona Dondoca não é uma pessoa muito estudiosa, é até um pouco ignorante, por exemplo não gosta nada de ler livros de instruções e coisas dessas. E depois faz assim perguntas dessas, não é por maldade, é mesmo de quem quer saber… E nem é que Dona Dondoca não acredite no poder das massas, só que ela acha que “massas” é assim uma coisa muito geral, muito pouco concreta, como as massas da cozinha que tanto podem ser esparguete como espirais ou talharim… E por isso ela nem consegue imaginar as massas deambulando pelos ministérios como ministros, até porque não caberiam todas lá. De o que Dona Dondoca desconfia sempre é que há sempre uns poucos que estão prontos a ocupar esses lugares, em representação das tais massas e esses, mais cedo ou mais tarde estão a abotoar-se eles mesmos, como faziam os que lá estavam antes.
Ela ficou a saber em que descambou a Revolução Russa, um longo e metódico processo que viria a resultar na desindustrialização, privatização e desmantelamento da propriedade estatal e que hoje em dia cinco dos homens mais ricos do mundo são russos. Ela ouvindo aquelas coisas e sempre a lembrar-se do Triunfo dos Porcos (Animal Farm) e também do seu pequeno país onde uma pequena revolução também descambou em algo semelhante: desindustrialização metódica, privatizações e vendas de património e muito poucos muito endinheirados a mexer os cordelinhos.
Eis que surgiu a questão de como tudo isso aconteceu: como um país que parecia próspero, que chegou a ser a segunda grande potência mundial, chegou a esse desmembramento, a um salve-se quem puder no meio de tanta corrupção, máfia, droga e prostituição. E não deixou de achar interessante ouvir que hoje grandes nomes de economistas teóricos de tendência neo-liberalista, se debruçam sobre o caso da ex-U.R.S.S. não sabendo explicar o como e o porquê do capitalismo não se desenvolver por lá. Mas então, pensou Dona Dondoca, se todas essas coisas existem: redes de droga e prostituição, máfias e miséria de um povo que se vê obrigado a emigrar para países quase miseráveis como o nosso, então é porque o capitalismo pegou mesmo por lá! E quando se disse que o socialismo falhou por lá porque quando for para não falhar tem que chegar em simultâneo a todos os países, Dona Dondoca ainda advertiu que era preciso ter cuidado para não querer impor o socialismo a quem não o queira, não se vá fazer como o idiota do Bush que quer impingir à força o seu modelo pseudo-democrático ao mundo árabe, insistindo em não entender que por ali não o querem comprar.
Dona Dondoca falou demais e a reunião teve que se desdobrar em duas, por falta de tempo. A próxima ainda vai acontecer. E Dona Dondoca ficou interessada em saber mais. Veio de lá visivelmente interessada, vejam lá, em ler uns excertos de A Revolução Traída, de Trotsky. Ai, ai esta Dona Dondoca que não se enxerga, devia estar a limpar a marquise como a primeira dama e, em vez disso, anda metida nestas politiquices. Não tens emenda, Dona Dondoca? Vai mas é para casa coser meias e fazer o jantar, ó m’lher!
Será que vai?
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