Ontem senti um enorme prazer em andar à chuva. Olhando lá para fora, pela manhã, vi logo que seria ridículo tentar levar um guarda-chuva. Para isso valeu-me a experiência de viver dez anos numa ilha dos Açores, onde havia dias que era impensável sair de guarda-chuva porque o vento era tanto que esse objecto se tornava um empecilho. Munida de botas e de impermeável com capuz, saí várias vezes à rua sentindo um enorme prazer em caminhar à chuva. Pelas ruas vi incontáveis guarda-chuvas despedaçados e atirados para o chão em gestos de raiva e desespero. O mesmo mal-estar se via nas caras das pessoas por quem passava. Gente de sobrolho franzido, a correr para se abrigar ou chegar ao seu destino, pessoas lutando contra a inevitabilidade do vento ganhar ao mecanismo do guarda-chuva chinês, outros encolhendo-se tentando em vão passar pelos intervalos da chuva. E eu avançando calmamente, sem me molhar, sentindo apenas deliciosos salpicos no rosto, nas pestanas, nas mãos livres de guarda-chuvas impotentes. Pensei em Santa Maria , não na santa que de nada me valeria, mas na ilha onde aprendi a ser feliz mesmo com ventos fortes e chuvas intensas. Aí me tornei mais forte para enfrentar esta e outras coisas que geralmente apoquentam os transeuntes mas que a mim me fazem agora sentir mais viva, o que já não é pouco.
sábado, novembro 25, 2006
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