quinta-feira, janeiro 04, 2007

Era uma vez um país...

Era uma vez um país onde todos queriam mamar mas que nenhum queria governar. Sucessivos Ministros foram-se sucedendo mas nenhum ficou, todos desmamaram mas continuaram a mamar no país fora do país. Um dia veio um candidatar-se e disse neste país onde todos os homens mentem todos os políticos dizem as verdades. Ninguém acreditou e todos votaram nele. Eu não. O Ministro tornou-se mais ministro do que nunca. Um verdadeiro executivo para melhor gerir o tratamento da saúde aos desempregados e ao resto do país. Criou novas políticas de deseducação, de insegurança social e de desemprego, tudo em nome da União. Por lá o mesmo se desfazia. Encomendou todos os estudos no estrangeiro para que a crise de gerisse de fora para dentro e não se correr o risco de dar dinheiro aos nossos. A União era uma senhora insaciável ninfomaníaca que nos fodia a torto e a direito mas sem a qual todos achávamos que não se podia viver. Eu não. Mas nós portugueses masoquistas e amorosos só queríamos essa mulher viciosa nem que fosse por apenas mais um Natal. Vivendo na perdição dessa paixão era preciso pagar a factura e empenhávamo-nos empenhavamo-nos enredando-nos cada vez mais na teia do consumo que nos urdia. Atordoados mas infelizes apaixonados mas miseráveis rendíamo-nos aos encantos da feiticeira que nos surripiava e secava tudo de nosso. Por fim, áridos e derrotados, queríamos por fim descansar, deixarmo-nos levar pelas iniciativas firmes de um governo determinado em nos conduzir a uma ruína mais absoluta. Com eficácia o tal ministro ganhador por maioria nos vinha conduzindo mais competentemente à nossa própria perdição. Era a vertigem de um país que importava: futebol por apito dourado, crianças protegidas por pedófilos protegidos, juízes condenadores de pistas em vez dos criminosos, lobbies gays, putas colunáveis, colunáveis putas, pessoas ilustres de filmes pornográficos e de telenovelas, estilistas usando peles de marta, martas usando peles de puta, ginásios para enrabadores e enrabados em cura de emagrecimento para tirar as rugas e retocar a cosmética, spas spas e mais spas.Desespero. O país nunca deixara de meter água mas agora era uma coisa por demais. O povo já não se podia enrolar nas dunas porque não havia dunas. A erosão estava tomando conta do país como a desilusão. E para os jovens o futuro era um porco do Bes interessar-se por eles. Os mais atentos à situação passaram a ser surfistas mas muitos partiram o porco dos ovos de ouro e não tinha lá nada senão papel que se gastou num ápice. Outros iam para polícias, outros para ladrões, outros para fora, outros para dentro. Os que deviam estar dentro estavam fora e vice versa. As ruas encheram-se de gente sem abrigo. Andrajosos, piolhentos e famintos tinham sido em tempos donos de empresas prósperas diziam elas. Outras multinacionais surgiram. Duas opas se encontraram num caminho estreito e comeram-se uma à outra. O presidente do banco nacional disse que assim não havia mais dinheiro e que era preciso vender o país. Mas com tantos países que havia à venda ninguém se interessou pela oferta, em rebaja. Ainda havemos de pagar muito dinheiro para nos ficarem com ele. E o pior ainda está para vir disse ela.

4 comentários:

Outsider disse...

Que fantástica, iluminada e eloquente descrição. Muito bom mesmo. Adorei este texto, minha amiga.
Beijos.

Anónimo disse...

Todos votaram? Eu também não!

Escreveste um texto de arrasar, disparando sobre a mediocridade de quem nos vai sugando os bolsos e as almas, de quem nos vende sem piedade como um produto de refugo em 3ºs saldos de fim de estação.

Eles merecem este tratamento.

Um abraço.
jorge sineiro

Anónimo disse...

KAÓTICA AMIGA:

Sou eu de novo, porque não há caixinha para comentar no NOSSO ZECA AFONSO.

Que maravilha é ouvi-lo, sempre, sempre, cada vez mais!
Agradeço a ligação directa para o meu Sino da Aldeia, onde o Vitorino entoa o Hino da Maria da Fonte introduzindo uma longa publicação sobre a mesma, felizmente comentada por mais amigos do que eu imaginava.
E, já agora, no "Lugar ao Som", ainda está na página principal um longo artigo sobre o Zeca. A música é que não dá porque o Filelodge parece ter morrido. Mas vou corrigir essa falha quando tiver uma abertura no tempo.

Um abraço e ViVa o ZECA!

jorge sineiro

Anónimo disse...

Querida amiga
Onde foste buscar tais ideias? Passa-se em algum país que tu conheces ? ( ahahahah estou muito engraçada!!!) Fizeste aqui um retrato nu e cru deste rectângulo à beira-mar plantado... plantado por outros ( os espanhóis até já andam a colher azeitona e a fazer azeite das oliveirinhas que plantaram lá para os Alentejos!!!) e por eles colhido e comido...
Um abraço.

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