quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Coaching the train

Hoje conheci uma profissão que até agora me era totalmente desconhecida. Chama-se coaching e curiosamente parece que está outra vez na moda, até mesmo cá em Portugal. O nome deve ter-se mantido por cá em inglês pela polissemia que o vocábulo transporta consigo (coach é simultaneamente “carruagem” – de um comboio – e “treinador”). Estes significados ligados a uma profissão podem soar bem estranhos, mas, obviamente existe uma explicação. O profissional de “coaching” entrevistado explicou que as suas funções são basicamente ouvir e fazer perguntas, nunca falar e muito menos dar respostas, isso já faz parte de outros pelouros. É uma espécie de psicólogo com conhecimentos de economia e de investimento. Como uma carruagem que apenas faz parte de um todo, ele ocupa um lugar intermédio entre quem tem dinheiro e não sabe exactamente o que lhe fazer, mas quer saber, e quem tem dinheiro mas está disposto a fazer ainda muito mais dinheiro. Pelo que entendi, o coaching não lhe diz claramente como investir o seu dinheiro da melhor maneira. Ele apenas se limita a estudar muito bem a sua psicologia e a perceber que tipo de pessoa realmente é e qual a sua atitude em relação a todo esse dinheiro que subitamente tem nas mãos. Depois, ao que parece faz-lhe um acompanhamento cerrado passando à fase das perguntas tipo: deseja investir o seu dinheiro na bolsa ou na banca? Donde se conclui que passa a ser um dado adquirido que você quer realmente investir o seu dinheiro. A pessoa que está na posse desse enorme capital disponível, sente ter o magnífico poder da escolha. Sente que a sua vontade impera. Ele é o dono do dinheiro, ele escolhe onde o investir. O coaching não lhe faz sombra, você continua convencido que é você quem manda no seu dinheiro. O coaching é uma espécie de treinador pessoal que, ao lhe fazer perguntas de escolha provavelmente pouco múltipla, o obriga a pensar, treinando assim a sua mente investidora que, com todo esse dinheiro, só pensa em formas depravadas de com esse dinheiro gerar mais dinheiro. Experiente, conhecedor dos mercados mas fingindo-se pouco agressivo, o coatching funciona como um orientador desinteressado, ou melhor, que o procura convencer que ele só está interessado e empenhado no sucesso do investidor e nada mais. O bom coaching é aquele que fica feliz com os seus sucessos, ou seja, o dinheiro de uns é a felicidade de outros que vivem como moscardos à volta dos que têm tanto dinheiro que não sabem o que lhe fazer. Pelo que eu entendi, ou me foi dado entender pela versão da entrevista com este coaching, ele não diz ao investidor exactamente o que ele há-de fazer com o dinheiro, ele faz, como o Sócrates filósofo, apenas perguntas que, suponho que da mesma forma socrática, levam o investidor a julgar que é ele quem chega às conclusões, o que requer um grande treino e muita lábia inquisitiva. Suponho também eu que, além de trabalharem para o investidor nessa espécie de aconselhamento psicológico de pendor economicista, muito provavelmente trabalham para várias instituições bancárias, companhias de seguro, empresas à cata de investidores, etc, que depois do investimento feito o devem compensar pelos bons serviços prestados, talvez receba a sua maquia no negócio. A mim parece-me que estamos em presença de mais uma nova casta de mamões de várias tetas, uma profissão que nasceu nos EUA (de que outra puta podia ter nascido?) e que agora volta a estar em grande revlevo aqui em Portugal, país falido mas florescente em novos-riquismos, concentrações de capitais e lavagens de dinheiro. Temos operariado!

3 comentários:

rendadebilros disse...

Não conhecia tal profissão.Então, se está a "florescer" tal profissão deve andar realmente por aí muito dinheirinho... onde estará? De onde virá?
Beijos.

Kaotica disse...

Renda
Será dos nossos bolsos cada vez mais vazios?
Esse é um dos mistérios e das maravilhas deste capitalismo nosso contemporâneo gerado principalmente pelo capital financeiro, o tal que não tem pátria. Tudo preso por fios, a sua prosperidade resulta do desespero e da destruição. Como o Kaos tão bem diz, o capitalismo é como o fogo, quanto mais consome e destrói a fonte que o alimenta, mais brilhante e imponente... mas também ais depressa do que se julga ele se extinguirá. Nós é que não podemos esperar muito tempo!
Bjos

Luiz Carlos Reis disse...

Uma profissão criada num momento em que o capitalismo áustero e espoliativo sustenta-se na corrupção e malandragem. Mudam-se as moscas a merda continua a mesma, infelizmente.
Abraços aqui do outro lado do oceano!

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