Ontem bem que eu própria me senti meio-pafuncia no concerto do Lenine
Só "meio" porquê? - perguntam vocês, sempre tão sedentos de respostas concretas. Pois reparem que eu estava ali vendo e ouvindo aquela música toda sentada. Normal, não acham? Mas eu não acho! Eu digo "meio" porque eu me sent(e)i ali paraplégica sambando só da cintura para cima. Isto de assistir a concertos destes civilizadamente (!) dá-me volta ao estômago e ao miolo. Tudo ali se contendo, a excitação do som se alastrando e cada macaco no seu galho, a segurar-se. Os músicos ali dando o seu melhor que bom e tudo ali discreto e ordenado. Pareciamos mesmo o tal povinho dos brandos costumes em ressaca de mais uma vitória salazarenta, pegajosa. A mim não se me pegou, que eu não deixei. Às tantas disparei para o escuro da lateral, mas cadê a união? Onde pára a alegria da festa (Foi bonita a festa, pá)? Mas que gente esta, tão pafúncia, tão pafúncia... Um encore ou dois, palminhas olaré e vamos mas é colocar a pantufa no pé que se faz tarde e amanhã é dia de trabalhinho porreirinho da silva. O medo. O medo isto, o medo aquilo, a canção que eu não conhecia do Lenine. Tão apropriada para atirar a um povo que tem medo de sentir a alegria que dá estar vivo. VIVA LENINE.
Dantes era preciso ir à Rússia para ver o Lenine, comentou o meu pai, no dia seguinte. Que Lenine esse, que nada. Este está vivo, VIVO!, ouviram? O que terá o próprio pensado desta coisa da globalização que já o fez ver chineses amarelos em pé a curtir a dança para a qual aquela música convida e portugueses moreno-amarelentos de fim de Inverno sentados e trauteantes, como se assistissem a um faduncho deprimente? Puta globalização!
Parece que já não há bichas a visitarem o Lenine no túmulo da Praça Vermelha. Felizmente alguém pôs cá este outro em substituição. Talvez, quem sabe, um dia possamos voltar a vê-lo de pé, ó vítimas da fome de alegria e de libertação do corpo e do espírito. Estava cheio o Teatro. Cheio de bolor e de caruncho, um dia o tecto ainda cai e o Tivoli vai abaixo com tamanho aplauso. Felizmente ainda que não foi desta. Mas ao mesmo tempo, pena que não veio abaixo. Um dia ou vai ou racha! Porque ela fere rente!
Só "meio" porquê? - perguntam vocês, sempre tão sedentos de respostas concretas. Pois reparem que eu estava ali vendo e ouvindo aquela música toda sentada. Normal, não acham? Mas eu não acho! Eu digo "meio" porque eu me sent(e)i ali paraplégica sambando só da cintura para cima. Isto de assistir a concertos destes civilizadamente (!) dá-me volta ao estômago e ao miolo. Tudo ali se contendo, a excitação do som se alastrando e cada macaco no seu galho, a segurar-se. Os músicos ali dando o seu melhor que bom e tudo ali discreto e ordenado. Pareciamos mesmo o tal povinho dos brandos costumes em ressaca de mais uma vitória salazarenta, pegajosa. A mim não se me pegou, que eu não deixei. Às tantas disparei para o escuro da lateral, mas cadê a união? Onde pára a alegria da festa (Foi bonita a festa, pá)? Mas que gente esta, tão pafúncia, tão pafúncia... Um encore ou dois, palminhas olaré e vamos mas é colocar a pantufa no pé que se faz tarde e amanhã é dia de trabalhinho porreirinho da silva. O medo. O medo isto, o medo aquilo, a canção que eu não conhecia do Lenine. Tão apropriada para atirar a um povo que tem medo de sentir a alegria que dá estar vivo. VIVA LENINE.
Dantes era preciso ir à Rússia para ver o Lenine, comentou o meu pai, no dia seguinte. Que Lenine esse, que nada. Este está vivo, VIVO!, ouviram? O que terá o próprio pensado desta coisa da globalização que já o fez ver chineses amarelos em pé a curtir a dança para a qual aquela música convida e portugueses moreno-amarelentos de fim de Inverno sentados e trauteantes, como se assistissem a um faduncho deprimente? Puta globalização!
Parece que já não há bichas a visitarem o Lenine no túmulo da Praça Vermelha. Felizmente alguém pôs cá este outro em substituição. Talvez, quem sabe, um dia possamos voltar a vê-lo de pé, ó vítimas da fome de alegria e de libertação do corpo e do espírito. Estava cheio o Teatro. Cheio de bolor e de caruncho, um dia o tecto ainda cai e o Tivoli vai abaixo com tamanho aplauso. Felizmente ainda que não foi desta. Mas ao mesmo tempo, pena que não veio abaixo. Um dia ou vai ou racha! Porque ela fere rente!
Lenine - A Balada Do Cachorro Louco
(Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves)
(Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves)
eu não alimento nada duvidoso
eu não dou de comer a cachorro raivoso
eu não morro de raiva
eu não mordo no nervo dormente
eu posso até não achar o seu coração
e talvez esquecer o porquê da missão
que me faz nessa hora aqui presente
e se a minha balada na hora H
atirar para o alvo cegamente
ela é pontiaguda
ela tem direção
ela fere rente
ela é surda, ela é muda
a minha bala, ela fere rente
eu não alimento nenhuma ilusão
eu não sou como o meu semelhante
eu não quero entender
não preciso entender sua mente
sou somente uma alma em tentação
em rota de colisão
deslocada, estranha e aqui presente
e se a minha balada na hora então
errar o alvo na minha frente
ela é cega, ela é burra
ela é explosão
ela fere rente
ela vai, ela fica
a minha bala ela fere rente
2 comentários:
É realmente triste que os espectáculos, independentemente da musica que lá toque se estejam a tornar em algo parado e amorfo. Por mais que os musicos trabalhem em palco, por mais que façam ~têm uma plateia de gente sentada e atenta como se estivessem a ouvir uma sinfonia ou uma opera. A musica não é para ver, é para ser ouvida e sentida. Há que deixar que ela interaja com o corpo e com a alma e que possamos soltar as nossas emoções.
Um belo post para este novo ano do pafuncio.
bjs
Kaos
Obrigada, amigo Kaos, é muita gentileza tua esse elogio. É por estas e por outras que vale a pena empurrar o Pafuncio para a frente.
Abraço!
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