domingo, abril 08, 2007

Ninguém acredita na mentira

O primeiro-ministro cavalgava lado a lado com o ministro da ciência, tecnologia e ensino superior.

- Ó Mariano, acredite em mim, era um canudo assim grande, está a ver? Eu é que não sei onde o enfiei…

- Ó Zé, diga-me lá só aqui a mim, mas afinal sempre era um canudo de Engenheiro ou você ficou-se só mesmo pela licenciatura? Sabe, é que estamos a chegar àquela ponte que se abre aos pés de um mentiroso e temos que a atravessar.

- (suores frios) Talvez não fosse um canudo tão grande assim, talvez fosse mais assim um canudinho, um comprovativo que enrolado ficava assim deste tamanho, está a ver?

De repente viu-se aparecer a ponte, bela e acidentada construção de engenharia atravessando o abismo.

- Refere-se ao papel que lhe passou a Independente, aquele assinado num Domingo?

- Disseram que certificava... eles à saída chamaram-me doutor engenheiro e eu acreditei que aquilo do curso estava despachado. Afinal de contas (ai, ai e que contas!), eu era licenciado. Os licenciados são doutores, logo esses doutores, sendo licenciados em engenharia civil, são engenheiros: “doutor engenheiro”, foi o que eu disse que era!

A ponte estava cada vez mais próxima. Pela escarpa abaixo ia-se parar à torrente do rio. Morte certa ou incapacidade, lá se ia a glória das corridas... (o corpo, o seu querido corpinho) O ministro da Tecnologia avançou pela ponte, confiante.

- Licenciado, diz você, meu caro. Tem a certeza disso, não seria bacharel?

O primeiro-ministro já nem o ouviu, adiantado que ele ia na ponte da mentira e da verdade. Tinha-se detido à entrada sem ousar avançar nem mais um passo.

- Então? Não vem?

- Talvez… se o Tratado de Bolonha disser que os meus três anos de curso lá na Independente valem como licenciatura, talvez eu ainda entre nessa ponte, não quer voltar para discutirmos o assunto num lugar mais calmo?

(versão do conto popular o amo e o criado mentiroso adaptando a raposa aos nossos tempos)

9 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Aqui, o mentiroso é o amo. O criado, uma raposa!

Boa malha! De rachar a tola!


um abraço

rendadebilros disse...

Não achas que este conto tem qualquer coicidência com uma realidade qualquer? Se calhar, estou confundida...
Belo humor...
Beijos.

Carlos Sério disse...

Coloquei "opafuncio" em Link no "classepoitica". Espero que não te importes.
abraço, ruy

Outsider disse...

Esta história é no mínimo surreal... Como vem sendo hábito o Sr, Sócrates e restante corja ministerial mentem para encobrir os seus rabos de palha. Não há problema nenhum em não ser licenciado, não é isso que o fará melhor ou pior PM e, só neste país é que se dá mais valor ao título académico do que ao que realmente interessa, a competência... O problema aqui é a mentira, mas a isso já este senhor nos habituou desde a campanha eleitoral...
Beijos.

Kaotica disse...

jpg

Bem, eu pensei que o criado fosse o Sócrates que esse agora é que está à nora! Mas se vamos por hierarquias governamentais, tens razão, não há-de ser por causa disso que se perde o essencial!
Abraço!

Kaotica disse...

Renda

É esse o mérito dos contos populares: estão sempre à disposição para serem reactualizados, reutilizados e remoralizados (mais uma regra dos 3 R's). As personagens-tipo cumprem muito bem a sua função seja em que época for! De figuras convertem-se em figurões!
Um grande abraço!

Kaotica disse...

Ruy

Só tenho a agradecer-te, sinto-me muito honrada com esse teu gesto. Tomei a liberdade de colocar o teu blog (que já visitei) nos blogs amigos, se não te importas!
Abraço

Kaotica disse...

Outsider

Embora concorde que a licenciatura é o que menos importa (já se foi ele a forçar a barra para aprovar a OTA contra todas as opiniões dos verdadeiros engenheiros civis, o caso muda um puco de figura!) - no entanto há mentiras que arranham o ouvido da populaça e o senhor andou para aí a alardoar competências, ai andou, andou. Agora, zás, caem-lhe em cima por esta gota d'água que extravasou o copo já demasiado cheio da nossa paciência! Não tenho pena!

Outsider disse...

Eu também não tenho pena nenhuma! Quantoa mim devia ser chicoteado em hasta pública por causa de todas as mentiras que diz!
Beijos.

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