Ai eu ando tão sem inspiração para este Pafúncio que ontem tive mesmo que recorrer ao Chico, como sempre faço nos momentos de maior crise de inspiração. Assim como o Camões recorria às suas ninfas, também eu me contento em evocar a presença do Chico Buarque porque me sinto logo melhor. Desta feita veio acompanhado do Caetano dos tempos em que era o moço baiano, espécie ancestral de oi bicho a bancar o despojado. O Caetano faz-me lembrar aquela nova geração que andou por aí a praticar o budismo em plena sociedade de consumo. Comprando acessórios da Nike made in Indochina para entrar em nirvana numa espécie de onanismo transcendental. Depois abandonavam a aula de yôga ayuvérdico sentindo-se mais leves no corpo musculado moldado por acessos de individualismo e auto-contemplação. Lá fora prosseguia a falta de paz universal, mas eles seguiam em paz consigo mesmos - e com a Nike - sentindo-se evoluir acima da espécie.
Tenho mais um gato. Dá para acreditar? Nem vos contei a história...
Um gato minúsculo entrou para o motor do carro e a família partiu de volta. O gato não se queixou na viagem de apavorado. Mas depois do jantar aproximando do carro já dava para ouvir os miados que outros já tinha ouvido, como provava o leite deixado por baixo.
Os miados eram muitos e sonoros, a operação de salvamento começou mas nada de gato. Depois de muitas tentativas localizou-se o animal e a heroína prontificou-se a deitar-se por debaixo da viatura de blusa ainda branca.
Finalmente apanhou-lhe as pata, começando a puxar lentamente mas sem largar. O parto deu-o à luz: minúsculo, para aí um mês e pouco. Onde era branco estava preto do óleo. Assustadíssimo só acalmou conta o peito, bebé que era.
Claro que as crianças não abdicaram dele, já era seu. E lá foi mais um parar a casa. Uma ayuvérdica diz que é a nossa energia que atrai os gatos. Também as melgas!
Depois de removidos todos os carrapatos das orelhas fez-se guerra química ao pulguedo e desparasitou-se o animal. Está agora quase o dobro do que era e oatrevido já se relaciona com os outros bichos, inclusivamente com o cão negro que lhe determinou a viagem imprevista de Alcácer a Lisboa. Este gato conquistou-nos, já não sabemos viver sem ele. Cada coisa que faz faz um intervalo e vai comer. Tem barriga redonda, como se tivesse engolido uma bola de ténis. Mas é esticadote de patas. Tem orelhas grandes como as que os chineses gostam, sinal de boa sorte. O sobrevivente podia ter ficado estraçalhado ou cair na auto-estrada. Mas agarrou-se com unhas e dentes e começou novo destino. Não tarda nada voltará à sua terra natal, de férias.
Adorei hoje andar a visitar alguns blogues. Estava mesmo para passar a noite hoje a fazer visitas, mas estava a ficar tipo chata a deixar comentários de meio metro e então apeteceu-me vir aqui dizer-vos coisas à toa.
Sabem quando se reencontra uma pessoa daquelas a quem não dizemos "então tudo bem?"
Volta Chico, lá se foi de novo a inspiração!
Ah! E as crianças estão de férias! Ah, e ontem subimos ao Castelo de São Jorge! Ah, e hoje houve uma revolução no meu quintal! (Ai se todos estivessem fazendo revoluções nem que fosse nos seus quintalinhos!). Tanta coisa para vos contar e chega à noite e é este cansaço. Merecem mesmo que eu vá de féria rapidamente.
Custa tanto mandar abater um cão velho e cego que foi atropelado e que dura. Mas hoje abateram-se três árvores velhas e não custou nada vê-las caídas. Será por não terem olhinhos?
3 comentários:
Pois...
Será karma.
Em breve visitarei o novo elemento.
Gandas malucos!
Digo sempre isto:
gosto mais de gatos do que de cães, não há gatos polícias!
Um abraço: Me! How?!
Kaotica,
também , às vezes, gosto de escrever coisas sem nexo, só que incoerente que sou, muitas vezes apago. Isto de plasmar os pensamentos na net, assusta-me um pouco. Escrevemos por vezes com um determinado estado de espírito e quando lemos uns dias mais tarde, já com outra cabeça soa completamente diferente. Mas eu gosto, às vezes, de ser incoerente, nem que seja para não dizer Mé.
Fizeste-me lembrar o meu gato Pélé, que era de uma inteligência incrível e de quem tenho muitas saudades. Aplica-se a frase «Só lhe faltava falar». Foi para casa de meus Pais, ainda cabia na palma da minha mão. São animais que vêm a outra dimensão, é normal vê-los a olhar para o vazio como quem olha uma pessoa.
Beijos,
Zorze
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