quarta-feira, julho 23, 2008

Fanática por praia

Imagem daqui

A praia hoje estava diferente. O mar estava com ondas cavas, grandes massas de água que vão cavando a areia provocando um desnível entre o mar e a terra. Fartei-me de desabar declives de areia, como fazia quando era miúda. Como o mar não estava de feição para se ir a banhos, caminhámos pela praia até não haver ninguém. Afinal lá muito ao longe havia um casal talvez acasalando. Como diz o Abrunhosa: e tu e eu que é que vamos fazer? - Talvez foder. Talvez foder. Estavam no seu direito e em plena liberdade, com céu, terra e mar como seu testemunho. Quem havia de desejar melhor casamento?
Meia volta volver, afinal tínhamos andado um bom bocado e ensinado às crianças que não se deve interromper casais namorando e também como lidar com a decepção: chegar à praia no primeiro dia de férias e não poder tomar banho... Qual é a primeira reacção de uma criança? A decepção. Por isso havia que lidar com a decepção e tornar o momento divertido. O passeio à beira mar afastou a tempestade. Se fossem os românticos ficavam logo com a alma em sobressalto como o mar, a prever a tragédia do fosso que se está a criar entre o mar e a terra, colocando o seu espírito em comunhão com a natureza. Connosco não foi assim, andar a pé foi um exercício revigorante. Há que enfrentar os contratempos, eis o que se aprende com a idade... e com os contratempos. Aquilo nem sequer era uma tempestade. Adoro ver o mar revoltado. Mas é só porque não sou pescadora. No entanto, como diz Amos Oz, para não cedermos a fanatismos temos sempre que nos saber colocar no lugar do outro e saber ver todas as partes.
O fanatismo, quanto a mim começa muitas das vezes por uma simples teimosia intelectual, do tipo: não gosto de amarelo, só gosto de azul ou verde. Pois eu gosto de canários amarelos e não gosto de sindicalistas amarelos. Mas há pessoas que formam uma série de pré-conceitos, segundo os quais se regem e apoiando-se neles como numa tábua de salvação dizem para a esquerda e para a direita: gosto disto, aquilo não presta. Não gosto disto, só gosto de aquilo. Só gosto disto e só isto é que é bom. E, limitando o seu próprio horizonte de expectativas, é como se pusessem uma espécie de palas que não lhes permite apreciar muitas outras coisas para além do seu estreito campo de visão. Geralmente estas pessoas aparecem aos olhos dos outros como sendo pessoas muito seguras de si, muito cheias de convicções, muito determinadas e com objectivos muito concretos. A meu ver não passam de potenciais fanáticos.


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