terça-feira, dezembro 02, 2008

Das teses à praxis

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Kaótica

Este fim de semana estive praticamente sem internet. Estava tão lenta a abrir fosse o que fosse que depressa desisti e me entreguei a outros passatempos. Tinha levado comigo as teses para o Congresso do PCP, não porque seja do partido - se fosse provavelmente teria lá estado - mas porque acho interessante conhecer as actuais propostas do maior partido de esquerda, já que o PS actualmente não conta (já contou?). Concentrei-me mais na leitura de certas partes que me interessavam mais, por exemplo saber como encara o PCP a União Europeia e que desafios lança à restante esquerda no sentido de realizar uma unidade contra estas políticas do capitalismo global que atentam contra os direitos conquistados ao longo de séculos pelos trabalhadores.

No que respeita à União Europeia, as teses detectam a peçonha, apontando a tendência capitalista que a UE assume e impõe como regra geral. As teses referem que a UE já há mais de duas décadas que põe em prática o plano neoliberalista em sintonia com o imperialismo americano e com a globalização, primeiro desmatelando metodicamente os recursos nacionais e, mais recentemente, com a Estratégia de Lisboa e a sua agenda, disprover os serviços públicos e privatizá-los, entre outras artimanhas que desprotegem os mais desfavorecidos, em favor de uns quantos. Vamos ver como na prática se propõe o PCP a denunciar as nefastas estratégias da UE, levando os trabalhadores a unirem-se contra as suas consequências. Pelo menos já se ouve falar da possibilidade de ruptura (conf. 2.1.8.2. das teses).

Já no que respeita à abertura ao diálogo com outras forças políticas de esquerda, e mesmo "progressistas", existem contradições: nas teses lança-se o êngodo (ver 1.3.27. e 1.3.28), mas depois deita-se tudo a perder na falta de tacto (deliberada?) como se (des)considera essas outras forças, mais afastando do que unindo, o que faz com que na prática a divisão da esquerda volte à estaca zero, o que no momento é muito grave pois é uma forma de deixar que tudo fique na mesma, cada esquerda impotente a lutar no seu quintal, de costas viradas.

Já a luta dos professores é um exemplo. Conseguiram unir-se na luta pelas mesmas causas (mesmo se a avaliação é a causa que mais os une, embora muitos não se apercebam que o que está aqui em jogo é a escola pública e o perigo que os professores correm arrastados na sua destruição). Mas serão só os professores que lutam pelos seus direitos? E as outras classes profissionais, todas afrontadas por estas políticas? Por que não unir as suas lutas numa mesma luta? Com a força da manifestação de 100 000 de 8 de Março, agora reforçada, não tinha sido a altura certa para unir essa força à dos outros trabalhadores, antes da aprovação do código do trabalho? Por que foram os professores logo a seguir desmobilizados pelos próprios sindicatos através do fatídico memorando de entendimento com o ME, para não deixar cair a ministra nem o governo. Por que é que os sindicatos não convocam agora uma greve geral nacional? Ou uma mobilização geral dos trabalhadores de todos os sectores? Não será a luta dos professores comum à dos restantes trabalhadores e cidadãos? Se o momento é de mobilização, por que não fazer já uma mobilização unida, contra as políticas preconizadas pela Agenda de Lisboa da UE, contra a forma como os Estados optam por salvar os que nas suas negociatas inconsequentes provocaram a crise em lugar de proteger os trabalhadores, cujo trabalho gera a riqueza das nações. Ou a riqueza já não precisa dos trabalhadores para ser gerada, bastando-lhe as operações obscuras executadas pelo capital financeiro onde não há trabalho, nem dinheiro, nem impostos, onde tudo é virtual ou falso, como num jogo de Monopólio.

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