quarta-feira, março 11, 2009

Queremos uma escola dos pais e dos parceiros?


CONFAP: XXXIV Encontro Nacional - Mira 2009


«A Confap realiza o seu XXXIV Encontro Nacional em Mira a 14 de Março, sob o tema "Confiança nos Pais, na Escola e nos Parceiros". No dia 15 terá lugar a Assembleia Geral. Consulte a informação actualizada já disponível: Ver »



Para os professores, nem uma palavra. Como fazer uma escola sem os professores? A escola murada de muitas horas, a escola das negociatas dos pais e dos parceiros, a escola que pouco pensa na felicidade e na realização dos filhos e dos alunos.

Alguém muito conhecedor do assunto me disse: enquanto os pais tomarem a seu cargo negociatas dentro das escolas o movimento associativo dos pais morreu. O movimento associativo dos pais foi tomado de assalto, que é o que acontece às organizações em democracia enquanto os cidadãos conscientes se furtam à responsabilidade deixando os piores elementos decidir e comandar, gerir a situação.

No movimento associativo verdadeiramente democrático as confederações recebem dinheiro que deve distribuir pela estrutura; deviam formular o seu discurso ouvindo o que as bases (associações de pais, concelhias) têm para defender ou exigir; mas estas acabam por se conformar com aquilo que escolhem e permitem, sofrendo Albinos e afins. Uma eleição pode ser uma ditadura de quatro anos. Não há nenhuma razão para que em verdadeira democracia não sejam dados meios ao povo para decidir na hora se um qualquer dirigente se está a portar mal, obrigando-o de imediato a saltar para fora do poder, antes que cause mais estragos.


Mas não vivemos numa verdadeira democracia porque tudo é previamente forjado e intencionalmente logo à partida viciado : há formas veladas ou explícitas de entendimento e tráficos de influências que minam a vontade do povo da escola aos tribunais. Grupos instalam-se e protegem-se, não cuidando mais do bem comum, antes prevenindo o seu futuro e o dos seus. Quantas vezes jogando e arriscando o que não lhes pertence, tomando a palavra em nome dos outros para se apropriar do título da representatividade. Quantas vezes não é aquela pessoa que se quer naquele lugar e ela permanece lá intocável até ao final do mandato.

O abominável pai dos pais, figuração suprema desse enredo em que se tornou a escola pública só pode constituir um pequeno exemplo. Como ele há outros que não hesitam nem por uma momento em trair tudo o que representam para serem a voz do dono. Fazem de tudo para estarem bem com o sistema, dentro do esquema, topando a parada, prestando-se às baixarias: fazer parte e cumprir, ainda que colaborando para destruir e desqualificar a escola pública e o ensino de qualidade. Quer-se a escola do povo o mais parecida com a escola privada possível mas sem exigências de qualidade: afinal esta é a escola destinada aos filhos das classes trabalhadoras, futuros trabalhadores desqualificados e desprovidos de ferramentas sólidas que lhes garantam a capacidade crítica. Tudo correrá bem desde que vão passando e que a escola não falhe os almoços nas cantinas e a oferta de horários cada vez mais prolongados. Se aprendem ou não é o que menos importa. O papá (neste momento já deve ser o avô) Albino nunca se refere à qualidade do ensino nem aos professores. Na confluência da escola pública onde se cruzam alunos, professores e pais, o conhecimento e a transmissão da cultura deixaram de fazer falta: por isso se reduzem conteúdos e professores. A escola pública é pois um problema que não se restringe à classe dos professores e educadores mas a toda a classe trabalhadora.

Entretanto os meios de comunicação social dão voz a Albinos fazendo crer que os pais estão coniventes com as presidentas e com os professores sabujos, aqueles que também se querem integrar no sistema, cumprindo sem questão as ordens absurdas do ministério, da presidenta, da colega avaliadora mais nova que lhe passou à frente por ter feito certos serviços administrativos que nada têm a ver com ensinar na sala de aula.

Os alunos são os que mais sofrem calados tudo isto e só já se exprimem no limite, com ovos e tomates como os que se atiram aos maus comediantes. Aparece logo o Albino a acenar com o policiamento das escolas, os que apelam ao voluntariado para patrulhar as escolas, os que pedem mais horas ainda de permanência dos filhos nas escolas.

Sou mãe e recuso-me a acreditar que nenhum representante dos pais se indignou por ver ser defendida a ideia de que é preciso ocupar mais tempo os filhos nas escolas para que homens e mulheres possam ir cada vez trabalhar mais horas, como se isto traduzisse uma vitória, uma conquista.

Tudo aparece subvertido, nesta democracia. A realidade dos factos de que hoje é difícil para a maioria dos casais sobreviver sem os dois trabalharem por cada vez mais tempo, convertida numa aparência de direitos. Quando o que se exigia era mais tempo para estar com os filhos para os homens e mulheres trabalhadores.

O Encontro de Pais de Mira resume-se a uma espécie de programa turístico para debater a confiança nas escolas e deixar os mesmos à frente do Movimento Associativo dos Pais. Porém como confiar em gente desta, que está comprometida com o Ministério da Educação, metida em negociatas, sem as mãos livres para defender o direito dos estudantes a uma escola digna e a um ensino qualificado? Como confiar numa escola onde mandam pais e parceiros e na qual se ignora totalmente o papel dos professores e o futuro dos alunos?

2 comentários:

Anónimo disse...

Não se pode por todas as Associações de Pais na mesma Balança...é bom olhar para o historial de algumas e actividades apresentadas ao longo do ano e meio de capacidade de cada uma !
Na maneira que se declara no seu comentario está a ofender muitos Pais, E/E e Associações e muitos elementos que perdem horas da sua vida profissional e familiar que deixam de dar tempo aos seus proprios filhos em prol de outros para contribuir na educação e muitas das Associações neste momento tem um bom relacionamento com Agrupamentos de Escolas.
É sempre bom refletir e pensar o que escreve.

Kaotica disse...

caro anónimo

Não imagina como reflecti e como senti na pele ter defendido a independência dos orgãos de gestão como princípio inabalável. Não sei se tem conhecimento que em muitas escolas hoje em dia não se cumprem as regras da Democracia, antes se subvertem por dentro usando as próprias estruturas. Não estou a pôr todas as associações de pais no mesmo saco, apenas aquelas que actuam da forma como indico - e pode crer que as há.
Cada um fala da sua experiência ou daquilo que tem conhecimento.
Mas responda-me a uma questão: se as associações de pais estão representadas nos conselhos gerais transitórios (em breve definitivos), como poderá defender os alunos e os pais, ou mesmo os professores, por que não, em caso de conflito com os orgãos de gestão/administração da escolas? Como se pode estar simultaneamente de dentro e de fora da escola? Como agradar a gregos e a troianos em caso de conflitualidades? Ex. prático: como defender a qualidade e a existência do ensino especial se o orgão de gestão anuncia que vai haver reduções e cortes pois o objectivo do ME para 2013 é pura e simplesmente extinguir o Ensino Especial da Escola Pública? Não é certamente porque os meninos deixaram de ter necessidades educativas especiais (a redução destas ao CIF já é só por si um crime!)

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