A Fátima Campos Ferreira é uma trabalhadora que não está abrangida pelas novas regras que regem a avaliação da função pública. No entanto ela é funcionária de um serviço público da televisão. Mas a ela basta-lhe fazer uma auto-avaliação dizendo aos telespectadores o quão grande era o desafio daquele difícil programa com treze candidatos e como ela própria conseguiu ultrapassar esse objectivo com sucesso, tendo o programa afinal chegado a bom termo.
Mas nós, que vimos o programa sentimos que ali as regras não foram justas e que a Fátima dera as cartas marcadas. Houve ali gente a quem impôs disciplina mesmo antes de começar a falar e houve outra gente que teve o direito à vozearia, e ao diálogo com privilégios de imagem em detaque lado a lado, como uma bela competição entre candidatos. O formato já estava pensado.
Afinal de contas o programa Prós e Contras não é propriamente um exemplo de democracia: aquilo ali é o quintal da Fátima, é ela que põe e dispõe. E ora se interessa mais ora se interessa menos pelos assuntos e por lhes dar continuidade ou não. Um programa de informação pode pois hoje em dia ter esta liberdade na aplicação de critérios para os quais há sempre uma Fátima disposta a executar. E se executa não precisa de mais avaliação. O programa é anti-democrático. Também ela!
Uns participantes tiveram as deixas todas; outros tiveram que se despachar, porque a Fátima tinha pressa de ouvir estes para ouvir os outros, os que diziam coisas que ela queria deixar passar. Paulo Rangel teve todo o tempo para estender o seu guardanapo, foi o que mais falou; Vital Moreira esmifrava-se a procurar coisas para dizer, não tendo nada para dizer e tanto tempo para falar. Já os partidos menos radicais tiveram tempo para trocar em miúdos a sua falta de conteúdos programáticos: Laurinda Alves com a Europa do toma lá dá cá estamos todos no abismo cor-de-rosa, me dá um dinheiro aí que eu também vou… o MMS tão fraco de intenção. O PPM não se sentiu à vontade com tão curtos tempos de intervenção. Precisava de mais tempo para explicar como pode uma monarquia vir resolver os problemas da União Europeia, sendo o seu rei apenas uma figura decorativa.
O Nuno Melo falou o mais que pôde alegando a sua rouquidão não o deixar competir com o Vital que o interrompia sempre que podia.
O Miguel Portas safou-se, saiu-se bem na oposição que fez ao modo de governação generalizado. Mas estando dentro da União Europeia como executar essas políticas? Como as compatibilizar aceitando as leis da União Europeia que se colocam acima das nossas? Mesmo que haja um governo a querer impor uma lei que proíba os despedimentos, terá uma directiva por cima a liberalizá-lo e um código do trabalho a jeito que permita despedir sem justa causa. A Ilda Figueiredo a mesma coisa: conseguiu dizer quase tudo que levava para dizer, de forma esquematizada, por pontos; mas no fim mostrou o trabalho de casa feito na União Europeia, como estando a trabalhar em coisas muito importantes. Só que ela e o Miguel estão lá e a UE continua a praticar as mesmas políticas sem que se veja por cá o seu efeito.
O Partido da Terra, um nítido projecto de um partido europeu espalhando os seus tentáculos, o Libertas, com os dinheiros estrangeiros para colocar no Parlamento Europeu um grupo de deputados dos partidos de cada país ligado ao Libertas. Que defenderão eles lá em conjunto quando for o país de cada um que estiver em causa? E o PS e o PSD não têm eles também já lá os seus partidos europeus?
Ainda está para se ver os resultados, mas seja como for cada vez mais todos concordam em fazer as coisa por cima da nossa cabeça, a partir de órgãos de decisão política que estão lá na União Europeia, em Estrasburgo, e que nem sequer sabemos ao certo o que eles por lá dizem nas discussões. A União Europeia é assim uma espécie de cabecilha, com decisões que emanam de cima, de uns que não foram eleitos mas nomeados e de mais uns quantos cérebros em quem votamos para lá irem receber instruções para vir pôr em prática. E mesmo as nossas organizações sindicais não passam de marionetas na mão de uma concertação que se passa na Europa ao nível da CES (Confederação Europeia de Sindicatos) e cada vez menos perto dos trabalhadores com os seus sindicatos.
Os mais extremistas: um PNR xenófobo com as ideias no lugar quanto à farsa que é a União Europeia; o POUS que é o único que está ali para lançar uma campanha que exija a proibição dos despedimentos e que diz que para isso poder acontecer é preciso romper com as leis dos tratados da União Europeia, pelo que só com a ruptura com a União Europeia se torna possível.
O POUS foi especialmente desprezado pela Fátima. Sempre que a Carmelinda Pereira ia acabar de completar uma ideia ela interrompia e apressava. Já não é a primeira vez que vemos a Fátima a tirar as conclusões em vez de deixar falar. Como quem diz: já percebi onde queres chegar mas não é por aí que eu quero que o programa vá.
Resta saber se à Fátima Campos Ferreira basta fazer a sua auto-avaliação ou se tem que prestar contas a alguém ou seja, se os objectivos já vêm traçados de cima ou se saem da sua cabeça.: tens que deixar o bloco central falar o mais possível: esses é que são os defensores da UE; deixas falar um bocadinho aos que disserem que querem a UE, mas aqueles que a põem em causa é a despachar, são pequenos, ninguém vai notar que falaram menos, falaram de um modo proporcional ao seu tamanho. O actual estado da democracia permite estas coisas à Fátima Campos Ferreira. Uns são partidos maiores, falam mais, têm mais programas para falar; os partidos mais pequenos, falam menos. E pouco de cada vez para não poderem relacionar as coisas e denunciar o que é a União Europeia, que espécie de interesses serve, defende e perpectua, a avaliar até pela forma como gera e responde à crise.
No final a Fátima Campos Ferreira disse que o importante era ir votar. The show must go on.
Não gostei mesmo nada do programa, aliás não esperava outra coisa. O Prós e Contras sempre foi um programa anti-democrático, não é novidade para mim. Por isso todos lhe chamam na rua o Prós e Prós.
4 comentários:
Nos 'entretantos' tentei falar contigo e não consegui. A Carmelinda esteve muito bem.
Como sabes, não sou filiada em qquer partido.
abraço,
M.
O nome Prós e Prós já se lhes colou. Há muito que não via o programa, ontem viu-o para chegar a conclusão idêntica à deste poste. Mais grave do que termos esta europa, é termos um país onde existem programas destes.
Um abraço rodeando o quintal de Fátima nos fins de semana em que ela frequenta outras mansões
(Kaótica, este comentário é para ti embora já o tenha deixado em dois blogs - num deles o texto era o teu)
A Fatinha n�o merece o cr�dito de um segundo de aten�o pois o programa dela n�o � honesto.
O trabalho dela � um atentado � deontologia dos jornalistas.
O nome do programa "Pr�s & Contras" feito por ela � um equ�voco.
Mais palavras para qu� ? � uma artista portuguesa
Apesar de não concordar com a presença do tipo neo-fascista no "debate", sempre digo que só vi até todos terem feito a primeira intervenção, depois calculei como se iria processar o restante e mudei de canal, olha fui até à TVE onde estava uma coisa idêntica, e claro não tem comparação, quer ao nível dos entrevistados como dos entrevistadores.
Não seria mais útil fazerem uma entrevista individual de uma hora a todos os intervenientes (menos o tipo fascista, porra de fascistas ficamos fartos) era mais justo pois todos teriam o mesmo tempo de antena.
O que dizes é correcto, a única intervenção de rotura completa com a UE e colocar um travão aos despedimentos foi sem dúvida a Carmelinda Pereira, os outros nomeadamente os partidos do sistema nem uma palavra concreta, os outros blá, blá, blá,nem dizem o que sabem, nem sabem o que dizem.
BJS
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